Contradição insanável
Por Luís Rosa
publicado em 9
Set 2014 in
(jornal) i online
Seguro e Costa devem explicar hoje no debate na TVI como repõem salários e
pensões ao mesmo tempo que renegoceiam o Tratado Orçamental
Os debates das
primárias do PS iniciam-se hoje na TVI, com o partido mais dividido do que
nunca. António Costa ganhou a batalha das federações com uma ligeira vantagem
(10 contra 9) enquanto António José Seguro teve mais 1200 votos e mais
delegados aos congressos federativos. Esta divisão é agravada com outro facto:
as escolhas para as distritais foram feitas apenas por 20% do universo das
primárias.
Apenas 30 mil
militantes participaram no escrutínio quando daqui a 19 dias o número de
pessoas que podem votar sobe para 145 mil eleitores. São universos totalmente
diferentes, particularmente em termos qualitativos. Os simpatizantes inscritos
para votar vão determinar o novo líder do PS, mas muito dificilmente as
sondagens conseguirão captar o sentido de voto destes eleitores. Ou seja, é
muito difícil prever os resultados do escrutínio de 28 de Setembro.
Esta indefinição
é agravada com uma agenda eleitoral dos dois candidatos muito semelhante – o
que aumenta exponencialmente a importância do debate de hoje e dos seguintes. Praticamente
não existem diferenças entre as propostas de Seguro e Costa. É por isso
fundamental que ambos expliquem o mais pormenorizadamente possível as suas
propostas sob pena de a actual campanha ser apenas uma espécie de luta de galos
em que a percepção dos eleitores da personalidade do candidato – e não as suas
ideias – definem a vitória.
A contradição
insanável entre o aumento da despesa pública explícita em muitas das promessas
dos dois candidatos e a recusa de ambos os candidatos de aumentar os impostos é
uma das matérias que têm de ser esclarecidas nos debates televisivos. Seguro e
Costa não podem prometer aumentar o salário mínimo, repor salários dos
funcionários públicos e pensões da Caixa Geral de Aposentações e da Segurança
Social, injectar fundos na economia para combater o desemprego ou até reabrir
tribunais sem ter propostas concretas de aumento de receita.
O Tratado
Orçamental, mais que qualquer outra questão, é essencial para aferir a
credibilidade das propostas dos candidatos. Seguro aprovou-o, Costa quer
renegociar com os parceiros europeus as mesmas regras mas não explica como. Certo
é que as regras continuam em vigor e o país está obrigado a reduzir a dívida
para 60% do PIB e o défice para 0,5% do produto. Ocumprimento destas metas é
incompatível com praticamente todas as promessas dos dois candidatos que
implicam aumento da despesa pública. Enquanto as regras não forem alteradas – e
nada diz no plano europeu que venham a ser –, a contenção orçamental ainda deve
ser a principal preocupação. Essa é a realidade que Seguro e Costa não podem
ignorar.
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