O Curriculo
Modelo de ascenção meteórica no “Nouveau Regime”
“Meritocracia” ou
"prise du pouvoir par la
'canaille'" !?
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FACE OCULTA
A(s) “circunstância(s)” que terão condenado Armando Vara
SÓNIA SIMÕES - 6/9/2014, 19:30 /
OBSERVADOR
O socialista
condenado a cinco anos de cadeia passou de bancário a banqueiro na CGD. Pelo
caminho, foi secretário de Estado e ministro de António Guterres.
Saiu combalido do
Tribunal de Aveiro e disse estar em estado de choque. Armando Vara atirou,
depois, uma justificação para a pena de cinco anos de prisão que acabava de lhe
ser aplicada: “Acho que tem muito a ver com a minha circunstância”. Que
circunstâncias são essas? Perguntaram-lhe. O ex-governante não respondeu mais e
abandonou o tribunal.
Nascido em
Vinhais, Bragança, em 1954, o contacto de Armando António Martins Vara com os
números começou aos 17 anos com meia dúzia de oficinas de automóveis a quem
fazia a contabilidade. Ambicioso, Vara conseguiu chegar ao serviço de
atendimento da Caixa Geral de Depósitos de Mogadouro. O início de um percurso
que o iria fazer ascender. E não demorou muito.
25 de abril de
1974. Liberdade. Mário Soares vai a Bragança e faz um discurso que incendeia a
cabeça de Vara. De tal forma que Armando Vara corre para filiar-se no Partido
Socialista. Chegou a secretário coordenador da Federação Distrital de Bragança
e, até, fundou um jornal local com o apoio partidário. Começa a subir os
degraus da carreira política. E a prova é que em 1985, com 31 anos, já estava a
sentar-se na bancada socialista da Assembleia da República, em Lisboa, como
deputado. Tinha apenas o 12º ano, mas era um homem organizado e com grande
capacidade de trabalho – diz quem o conhece. E depressa chegou a líder da
bancada socialista.
Em 1989, Vara
abre uma empresa com o amigo José Sócrates. A Sovenco (Sociedade de Venda de
Combustíveis) foi criada na sede de uma das empresas de José Guilherme, o
empresário que já deu milhões de euros como prenda ao banqueiro Ricardo
Salgado. Dois anos depois, a sua ligação à Amadora leva-o a candidatar-se a
presidente da câmara. Perdeu e ficou como vereador.
Chega o ano de
1995 e quando António Guterres é eleito primeiro-ministro convida-o para
secretário de estado da Administração Interna. Para o seu amigo José Sócrates –
com quem foi apanhado a falar nas escutas do processo “Face Oculta”- Guterres
escolhe a secretaria de estado do Ambiente.
E foi na
secretaria de estado da Administração Interna, segundo o Público, que Armando Vara, recorreu ao diretor-geral
do GEPI (Gabinete de Estudos e Planeamento de Instalações do MAI) e a
engenheiros que dele dependiam para projetar a moradia que construiu perto de
Montemor-o-Novo. O engenheiro António José Morais tinha já sido seu assessor e
foi Vara quem escolheu promovê-lo. Ali ficou até 2002.
Na equipa que
planeou casa do então governante também trabalhou a companheira do engenheiro,
a arquiteta Ana Simões, na altura companheira de António José Morais. Os dois
acabariam por sentar-se no banco dos réus, depois de acusados de corrupção e
branqueamento de capitais na construção de uma estação de tratamento de lixo na
Cova da Beira. Acabaram absolvidos.
Antes desta
acusação, António José Morais chegou a dar aulas na Universidade Independente. Foi
professor de José Sócrates em quatro disciplinas. Em 2005, quando Sócrates
chegou ao poder como primeiro-ministro, o engenheiro António José Morais foi
nomeado para o Instituto de Gestão Financeira e Infraestruturas do Ministério
da Justiça. Saiu ao fim de nove meses.
Corria o ano 2000
quando Vara é nomeado ministro da Juventude e Desporto. Não por muito tempo.
Uma polémica em torno da Fundação para a Prevenção Rodoviária, que criara sob
dependência do Ministério da Administração Interna (MAI), conduziu à sua
demissão.
A Fundação tinha
sido criada para fazer cumprir os objetivos do MAI. E, ao contrário do que a
lei obriga, não dispunha de qualquer património. Vivia da receita transferida
pelo MAI, para campanhas de prevenção rodoviária, por exemplo. O Tribunal de
Contas ainda fez uma auditoria à Fundação. Comissões parlamentares sobre o tema
tentaram perceber se havia irregularidades. Acabou tudo arquivado em 2005. A Procuradoria-Geral
da República justificou que Vara não tinha cometido qualquer irregularidade.
Vara demitiu-se
de funções, mas o seu caminho profissional continuava no sentido ascendente. Chegou
a presidir à comissão para as eleições autárquicas. E aproveitou a altura para
frequentar uma pós-graduação em Gestão Empresarial. Também aqui as suas
habilitações já levantavam questões. Sempre disse no seu currículo que tinha
frequentado a licenciatura de Filosofia na Universidade Nova de Lisboa, mas que
não tinha terminado. No currículo que tornou público colocava sempre a
informação:
- 2004:
Pós-Gradução em Gestão Empresarial
- 2005:
Licenciatura em Relações Internacionais na Universidade Independente.
Nada que afetasse a sua ascensão profissional.
Em 2005, o então ministro Teixeira dos Santos convida-o para voltar à casa onde
começou, a Caixa Geral de Depósitos. Mas desta vez não era para o atendimento
ao balcão. Vara progrediu de tal forma que se tornou num banqueiro. Integra
como vogal o conselho de administração. Três anos depois transita para o
Millenium BCP.
É em 2009 que o
então vice-presidente do Millennium BCP, Armando Vara, é constituído arguido no
âmbito do processo Face Oculta. Suspeito de ter sido contactado pelo empresário
Manuel Godinho a troco de vantagens patrimoniais ou não patrimoniais para
angariar negócios junto de empresas do setor empresarial do Estado, na área dos
resíduos industriais.
Vara suspende
funções (embora continue a receber ordenado) e acaba por demitir-se quando é
formalmente acusado, já em 2010. Três meses depois, é nomeado presidente do
conselho de administração da cimenteira Camargo Correa para África, onde se
mantém. Ainda recebe 2 mil euros de pensão vitalícia pelos cargos políticos que
desempenhou.
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