Um comentador do OBSERVADOR
irónicamente referindo-se ao título do dia ( Vara em estado de choque ) afirmava que Armando Vara se encontrava sim,
em “estado de cheque”...
|
Armando Vara "em
choque" após ser condenado a cinco anos de prisão efectiva
PEDRO SALES DIAS
05/09/2014 - 13:40 (actualizado às 17:40) / PÚBLICO
Manuel Godinho, principal arguido, punido com 17 anos e meio de prisão.
José Penedos e o filho igualmente condenados.
O antigo ministro
Armando Vara foi nesta sexta-feira condenado a cinco anos de prisão efectiva,
depois de ter sido considerado culpado por três crimes de tráfico de
influências, no âmbito do processo Face Oculta. À saída do tribunal, disse
estar em "choque".
“Estou em choque,
confesso. A sentença não é sobre as acusações. A sentença tem muito a ver com a
minha circunstância. Não apenas com isso [ter sido governante] mas com a minha
circunstância”, afirmou Armando Vara, visivelmente abatido, depois de ter
ouvido a leitura do acórdão.
Dos 36 arguidos
que foram a julgamento, nenhum foi absolvido e 11 foram mesmo condenados a
prisão efectiva. A pena mais pesada foi aplicada ao principal rosto do processo
Face Oculta, o empresário Manuel Godinho, que foi condenado a 17 anos e seis
meses de prisão efectiva por 49 crimes de associação criminosa, corrupção
activa, tráfico de influências, burla qualificada, perturbação de arrematação
pública e furto qualificado.
O sucateiro
estava acusado de formar uma rede de corrupção que tinha como objectivo o
favorecimento do seu grupo empresarial
nos negócios com o Estado e outras entidades privadas.
Manuel Godinho
saiu da sala de audiências cabisbaixo. Não falou, embora tenha sido interpelado
sucessivamente pelos jornalistas. Desceu as escadas visivelmente debilitado e
saiu de imediato do tribunal.
O seu advogado,
Artur Marques, anunciou de imediato a intenção de recorrer. "Não há uma
única absolvição neste processo. Acho que isso é sintomático. A pena pedida
tinha sido de 16 anos. Nunca tive dúvidas de que a pena decidida seria
superior. Obviamente recorro", disse aos jornalistas.
José Penedos e o
filho condenados
O ex-presidente
da REN José Penedos foi igualmente condenado a cinco anos de prisão efectiva,
por crimes de corrupção passiva, activa e participação económica em negócio.
"Estou
desapontado. Cinco anos neste processo é o mesmo que cinco dias. Qualquer
condenação para mim seria muito. Já falei com o meu cliente. Transmitiu-me o
mesmo sentimento com a agravante de ser a pessoa que foi alvo do erro que o
tribunal cometeu. Comentarei isso no recurso. Discordamos em absoluto da
decisão", reagiu Rui Patrício, advogado do antigo presidente da REN.
O filho de José
Penedos, o advogado Paulo Penedos, foi condenado a quatro anos de prisão
efectiva por tráfico de influências. "A actividade criminosa prolongou-se
muito no tempo", disse o juiz.
"Hoje não é
o dia para prestar qualquer tipo de declaração. Sou advogado. Respeito a
Justiça e o que muitas vezes tenho de dizer aos meus clientes é de que têm de
respeitar a decisão dos tribunais. Eu respeito, embora não concorde",
disse Paulo Penedos, depois da leitura do acórdão.
Ricardo Sá
Fernandes, advogado de Paulo Penedos, também anunciou de imediato a intenção de
recorrer: "Nós respeitamos esta decisão que é extensa e que, presumo, é
bem fundamentada. Não estamos de acordo. Vamos interpor recurso e aguardar com
toda a serenidade".
"Não estava
à espera de uma pena efectiva de prisão, mas era uma das possibilidades que
estavam em aberto. Encaro este resultado com respeito, mas com
discordância", acrescentou Sá Fernandes, recusando fazer " juízos de
valor" sobre as ligações políticas deste caso e mostrando-se convencido de
que "esta decisão não é definitiva".
Já Paiva Nunes,
ex-administrador da EDP imobiliária, foi condenado a cinco anos de prisão
efectiva por corrupção passiva. Entre os 11 arguidos punidos com prisão
efectiva, estão ainda Hugo Godinho, sobrinho de Manuel Godinho (cinco anos e
seis meses), e outros cinco arguidos (Silva Correia, Manuel Guiomar, João
Tavares, Manuel Gomes e Afonso Costa), todos com penas de prisão efectiva entre
os quatro anos e meio e os seis anos e meio.
Os restantes 25
arguidos foram condenados a penas de prisão suspensa, condicionadas ao
pagamento de quantias entre os 3000 e os 25 mil euros a instituições de
solidariedade social, na área da sua residência. Manuel Godinho e vários
arguidos terão ainda de pagar indemnizações cíveis à Refer, REN e Petrogal.
No leque de
arguidos estavam ainda duas empresas, a SCI e O2, do grupo empresarial de
Manuel Godinho, condenadas a pagar multas de 162.500 euros e 80.000 euros,
respectivamente.
Na sessão
realizada nesta sexta-feira no Tribunal de Aveiro, o tribunal recusou ainda o
pedido para não destruir as escutas ao ex-primeiro ministro José Sócrates,
recordando os limites do Estado de Direito na recolha de provas.
Sócrates foi
ouvido em conversas com Armando Vara. Mas parte das intercepções foi transcrita
para papel. Estão guardadas num cofre do tribunal e deverão ser efectivamente
destruídas após a leitura do acórdão.
O Face Oculta foi
um dos mais longos e mediáticos julgamentos em Portugal. O julgamento do caso
arrastou-se quase três anos durante os quais o Ministério Público (MP) procurou
demonstrar as ramificações entre o mundo da política e o mundo dos negócios.
Tudo numa sala cuja remodelação, para acolher os 36 arguidos, custou 80 mil
euros.
FACE OCULTA
Canetas “Mont Blanc”, garrafas de
uísque e relógios. O que o Estado ganha
Entre os bens apreendidos aos 36 arguidos, alguns vão cair nas mãos do
Estado. Manuel Godinho conseguiu "salvar" um Mercedes avaliado em
mais de 280 mil euros. Vara perde canetas de centenas de euros.
SÓNIA SIMÕES / 5-9-2014
/ OBSERVADOR
Entre os bens
apreendidos aos 36 arguidos condenados no processo “Face Oculta” há dinheiro,
carros de luxo, mas também relógios e canetas caras. Há, até, garrafas de vinho
e de uísque, máquinas de café Nespresso, baldes de gelo e… cabazes. O Tribunal
de Aveiro considerou, esta sexta-feira, perdidos a favor do Estado os bens que
terão sido adquiridos por vias ilícitas, mas devolveu aos legítimos
proprietários todos os outros que terão sido adquiridos legitimamente.
Na lista de bens
devolvidos aos arguidos está uma verdadeira frota de luxo: um Mercedes SL500
entregue ao arguido Paulo Pereira da Costa, condenado a três anos e três meses
de prisão por recetação e associação criminosa. Um BMW 525 TDS utilizado por
Manuel Nogueira da Costa, condenado a dois anos e seis meses de prisão pelos
mesmos crimes. Ou um Mercedes-Benz, CL65 AMG, cujo valor comercial é de 284 376
euros. Um carro que terá sido emprestado por Manuel Godinho, o sucateiro
condenado a 17 anos de cadeia, a António Paulo Costa e que será devolvido ao
dono.
Já a favor do Estado,
há um Audi A4 que tinha sido entregue a Mário Pinho, condenado a dois anos de
prisão por associação criminosa e corrupção. Ou um Mercedes- Benz SL 500,
avaliado em 32 050 euros que tinha sido entregue a Paiva Nunes, e que enfrenta
uma pena efetiva de cinco anos de cadeia.
José Penedos vai
ter que devolver um centro de mesa “Grand Lagoon” avaliado em 1432, 50 euros,
uma caneta “Dupon” de 260 euros, vários cantis e uma fruteira, cujo valor total
passa os mil euros. Se este material já não estiver na sua posse, terá que
pagar o respetivo valor ao Estado.
Também Armando
Vara vai ficar sem a sua caneta “Mont Blanc” de 240 euros, e a “Dupon” de 260
euros. Vara terá que entregar, ainda, um estojo com decantador “Herdade de
Prata” no valor de 685 euros e dois relógios, cujas marcas “não foram apuradas”
mas que custam um total de 6 288 euros. Se já não
existirem bens, o Estado aceita dinheiro.
Sem comentários:
Enviar um comentário