Transportes públicos começam a
travar fuga de passageiros
Metro de Lisboa protagonizou a maior subida na procura, em termos
absolutos, registando mais 1,7 milhões de passageiros
CP, Metro de Lisboa e Metro do Porto registaram um aumento do tráfego no
primeiro semestre, invertendo quedas do passado. Receitas do sector
acompanharam subida, mas os prejuízos voltam a crescer
Raquel Almeida
Correia / 3-9-2014 / PÚBLICO
A pouco e pouco, os transportes públicos
começam a travar a fuga em massa de passageiros. No primeiro semestre, CP,
Metro de Lisboa e Metro do Porto assistiram mesmo a aumentos nas validações. E,
no global, o sector reduziu significativamente as quebras registadas no
passado. Redução do desemprego, subidas dos preços ao nível da inflação e paz
laboral ajudam a explicar resultados.
Dados cedidos
pelas transportadoras do Estado mostram que, no primeiro semestre, houve 290,4
milhões de validações, o que significou uma redução de 1,1% face a igual
período de 2013, correspondente a quase 3,4 milhões de passageiros. A queda
foi, ainda assim, muito menor do que a verificada um ano antes. Entre o
primeiro semestre de 2012 e 2013,
a redução atingiu 10,9%, o que significou menos 35,8 milhões
de clientes.
Além disso, entre
Janeiro e Junho houve já três empresas em que a tendência foi de crescimento. Foi
o caso da CP, da Metro de Lisboa e da Metro do Porto, que já no ano passado
tinha sido a única a apresentar uma subida no tráfego. No caso da
transportadora ferroviária, verificou-se um aumento de 2,4% (quase mais 1,4
milhões de validações, para um total de 54,1 milhões). No serviço metropolitano
da capital, o incremento percentual foi o mesmo, mas o acréscimo em termos
absolutos foi maior, com mais 1,7 milhões de passageiros e um total de 71
milhões. Na Metro do Porto, o crescimento situou-se em 0,3% (de 28,3 para 28,4
milhões).
As restantes três
transportadoras continuaram a apresentar quebras, mas inferiores às verificadas
anteriormente. Na Transtejo, por exemplo, a redução foi de 1,8%, quando tinha
atingido 6,4% nos primeiros seis meses do ano passado. Na Carris, o número de
validações caiu 4,4%, contra os 7,9% do ano anterior. E, finalmente, na STCP, o
recuo foi de 5,3% – que compara com a diminuição significativa de 21% registada
em 2013.
As principais
causas
Há vários
factores que parecem estar a contribuir para esta melhoria. Fernando Nunes da
Silva, especialista no sector, destaca o facto de “a diminuição do desemprego
se repercutir no tráfego”, já que a redução da mobilidade das populações foi
uma das causas apontadas para a fuga de passageiros. O professor do Instituto
Superior Técnico referiu ainda que “as pessoas continuam a fazer a
transferência do transporte privado para o colectivo, por questões económicas
relacionadas com o custo do combustível, mas também do estacionamento e das
portagens”.
A pacificação
interna nas transportadoras públicas, que ao longo de 2011, 2012 e 2013
enfrentaram sucessivas greves, também tem impactos positivos. Assim como o
facto de, este ano, o aumento de tarifas se ter limitado à inflação, ao
contrário do que aconteceu no passado recente. Em 2012 e 2013, o Governo
decidiu rever os preços, que aumentaram, em média, 20% num curto espaço de
tempo. “É natural que já tenha havido uma acomodação às tarifas, depois das
expressivas subidas que aconteceram”, um dos factores que era apontado para as
quedas na procura, acrescentou Nunes da Silva.
Um dos argumentos
que o Governo foi usando para justificar a perda de passageiros era o aumento
da fraude nos transportes públicos. Para diminuir a sua incidência, foi
alterada a lei, atribuindo-se ao fisco a responsabilidade de cobrar multas para
tornar o procedimento mais célere e eficaz e para dissuadir potenciais
infractores. No entanto, se a medida estiver a ter algum efeito é mesmo só pelo
anúncio, já que nunca chegou a ser implementada. Desde 1 de Janeiro que se
esperava que a máquina fiscal estivesse a processar as infracções e a cobrar
coimas, mas o sistema ainda não está operacional.
Outra causa
apontada foi o ajustamento da oferta, que levou à redução de serviços em
praticamente todas as empresas. Neste ponto, nada mudou, mas há casos em que as
transportadoras souberam reagir. A CP, por exemplo, mudou a estratégia
comercial, aumentando o fretamento de comboios para eventos ou fazendo descontos
para as compras antecipadas, por exemplo.
Prejuízos de 195
milhões
A redução das
quedas na procura teve impactos positivos nas receitas do sector. Cinco das
empresas (a Metro do Porto não disponibilizou dados) registaram proveitos,
excluindo indemnizações compensatórias, de 265,2 milhões de euros, o que
significou uma subida de 4% face aos primeiros seis meses de 2013. Já os custos
caíram 7,2%, para 306,1 milhões. Ainda assim, a operação manteve-se deficitária
em quase todas elas, à excepção da Carris, que apresentou um resultado positivo
de 1,2 milhões.
O Governo tinha
acordado com a troika o reequilíbrio das contas do sector. Estes dados não
permitem, no entanto, perceber se a promessa está a ser cumprida, visto que, no
compromisso firmado com os credores internacionais, há custos que são
expurgados do resultado final, como é o caso das indemnizações.
Em termos de
resultado líquido (para o qual não há dados da Metro do Porto e da Transtejo),
os prejuízos agravaram-se 15,7% entre Janeiro e Junho, com as perdas a
fixarem-se em 194,9 milhões. Um valor que compara com 166,1 milhões do ano
passado. Foi a STCP que penalizou as contas, por causa do impacto negativo dos
derivados de cobertura de risco (conhecidos por swaps). A transportadora passou
de um lucro de 1,2 milhões para perdas de 30,8 milhões nos primeiros seis meses
deste ano.
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