terça-feira, 1 de abril de 2014

História do BPN ainda não está contada. Constâncio não se recorda de ter sido convocado por Barroso sobre o BPN.


EDITORIAL
História do BPN ainda não está contada
DIRECÇÃO EDITORIAL 02/04/2014 - 00:12
A troca de palavras entre Barroso e Constâncio vem reavivar um caso há muito adormecido.

A comissão de inquérito ao caso BPN chegou à conclusão de que o banco tinha custado 3405 milhões aos cofres do Estado e que, no pior dos cenários, o custo poderia atingir os 6509 milhões. É a dimensão desta factura, que ainda hoje os portugueses estão a pagar com austeridade, que fez com que o caso BPN fosse alvo de um intenso escrutínio, não só por parte da opinião pública como também por parte do Parlamento, que realizou duas comissões de inquérito para tentar apurar o que falhou, nomeadamente ao nível da supervisão.

As conclusões das comissões não foram esclarecedoras e continua ainda muito por explicar. E mais há ainda a explicar quando aparece Durão Barroso a revelar que quando era primeiro-ministro chamou “três vezes o Vítor Constâncio a São Bento para saber se aquilo que se dizia do BPN era verdade”. O anterior governador do Banco de Portugal veio ontem responder, dizendo que não se recordava de ter sido convocado para falar “expressamente” sobre o caso BPN.

São revelações, de ambas as partes, que vêm acrescentar ainda mais dúvidas ao já de si duvidoso caso BPN. Mais do que dar resposta sobre o que se passou, o que disseram Constâncio e Barroso levanta novas interrogações. Tais como: por que é que só agora, passada uma década sobre o suposto encontro, é que Barroso se lembra de divulgar uma informação que, a ser verdadeira, poderia ser relevante para os trabalhos da comissão de inquérito? E depois de chamar Constâncio, as suas dúvidas ficaram esclarecidas? E Vítor Constâncio, se não se recorda dos encontros, o que veio acrescentar à discussão ao falar ontem com os jornalistas? E se Constâncio foi realmente a São Bento, que diligências fez ou deixou de fazer?

Infelizmente no caso BPN, passados todos estes anos, a única certeza é a conta que todos os meses chega aos contribuintes para pagarem.

Constâncio não se recorda de ter sido convocado por Barroso sobre o BPN
ISABEL ARRIAGA E CUNHA (em Atenas) 01/04/2014 – PÚBLICO

Ex-governador do Banco de Portugal reage a entrevista de Durão Barroso.

Vítor Constâncio, ex-governador do Banco de Portugal, desmentiu nesta terça-feira implicitamente Durão Barroso, ao afirmar que não se recorda de alguma vez ter sido chamado pelo ex-primeiro-ministro para explicar o que se passava no Banco Português de Negócios (BPN).

As declarações do actual vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) foram feitas em reacção à entrevista de Durão Barroso do passado fim-de-semana ao Expresso e à SIC, em que afirmou: “Eu, quando era primeiro-ministro, chamei três vezes o Vítor Constâncio a São Bento para saber se aquilo que se dizia do BPN era verdade”.

“Depois de tantos anos, não me recordo se alguma vez fui convocado expressamente sobre assuntos relativos ao BPN”, reagiu Constâncio aos jornalistas, à margem de uma reunião dos ministros europeus das Finanças, em Atenas. “Mas recordo que, numa conversa geral, se falou do BPN, em termos de preocupações com o BPN, mas sem nada de muito concreto”, acrescentou.

Convocado “alguma vez expressamente e exclusivamente para falar sobre o BPN, honestamente, não me recordo”, insistiu. “Mas estive várias vezes com o então primeiro-ministro e falámos de muitas coisas, e, como disse há pouco, também do BPN, embora, repito, sem qualquer evidência sobre irregularidades concretas que pudessem ser imediatamente investigadas”, vincou.

“Sobre esta questão, o mais importante é que nunca recebi qualquer informação sobre possíveis irregularidades concretas no BPN”, disse ainda Constâncio, considerando que este foi o banco “de todo o sistema mais vezes inspeccionado pelo Banco de Portugal”, o que conduziu, “ao longo dos anos, a impor aumentos de capital, a partir de certa altura acima dos mínimos regulamentares, a aumentar provisões e a impedir que o banco abrisse o capital na bolsa”. Ou seja, “houve actividade naquilo que é a supervisão, que, evidentemente, actua dentro de certos limites, que, por vezes, não são totalmente compreendidos”, frisou.


Ainda segundo o ex-governador, “só em 2008” o Banco de Portugal recebeu “uma carta anónima que permitiu uma investigação que conduziu, pouco tempo depois, à obtenção da confissão pela então recente gestão do banco de que existia uma dupla contabilidade no BPN, sendo que uma contabilidade era secreta, para esconder irregularidades e perdas”. Uma situação que constitui, “dada a fraude existente, um caso criminal”, sublinhou.

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