EDITORIAL
História do BPN ainda não está
contada
DIRECÇÃO
EDITORIAL 02/04/2014 - 00:12
A troca de palavras entre Barroso e Constâncio vem reavivar um caso há
muito adormecido.
A comissão de
inquérito ao caso BPN chegou à conclusão de que o banco tinha custado 3405
milhões aos cofres do Estado e que, no pior dos cenários, o custo poderia
atingir os 6509 milhões. É a dimensão desta factura, que ainda hoje os
portugueses estão a pagar com austeridade, que fez com que o caso BPN fosse
alvo de um intenso escrutínio, não só por parte da opinião pública como também
por parte do Parlamento, que realizou duas comissões de inquérito para tentar
apurar o que falhou, nomeadamente ao nível da supervisão.
As conclusões das
comissões não foram esclarecedoras e continua ainda muito por explicar. E mais
há ainda a explicar quando aparece Durão Barroso a revelar que quando era
primeiro-ministro chamou “três vezes o Vítor Constâncio a São Bento para saber
se aquilo que se dizia do BPN era verdade”. O anterior governador do Banco de
Portugal veio ontem responder, dizendo que não se recordava de ter sido
convocado para falar “expressamente” sobre o caso BPN.
São revelações,
de ambas as partes, que vêm acrescentar ainda mais dúvidas ao já de si duvidoso
caso BPN. Mais do que dar resposta sobre o que se passou, o que disseram
Constâncio e Barroso levanta novas interrogações. Tais como: por que é que só
agora, passada uma década sobre o suposto encontro, é que Barroso se lembra de
divulgar uma informação que, a ser verdadeira, poderia ser relevante para os
trabalhos da comissão de inquérito? E depois de chamar Constâncio, as suas
dúvidas ficaram esclarecidas? E Vítor Constâncio, se não se recorda dos
encontros, o que veio acrescentar à discussão ao falar ontem com os
jornalistas? E se Constâncio foi realmente a São Bento, que diligências fez ou
deixou de fazer?
Infelizmente no
caso BPN, passados todos estes anos, a única certeza é a conta que todos os
meses chega aos contribuintes para pagarem.
Constâncio não se recorda de ter
sido convocado por Barroso sobre o BPN
ISABEL ARRIAGA E
CUNHA (em Atenas) 01/04/2014 – PÚBLICO
Ex-governador do Banco de Portugal reage a entrevista de Durão Barroso.
Vítor Constâncio,
ex-governador do Banco de Portugal, desmentiu nesta terça-feira implicitamente
Durão Barroso, ao afirmar que não se recorda de alguma vez ter sido chamado
pelo ex-primeiro-ministro para explicar o que se passava no Banco Português de
Negócios (BPN).
As declarações do
actual vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) foram feitas em reacção à
entrevista de Durão Barroso do passado fim-de-semana ao Expresso e à SIC, em
que afirmou: “Eu, quando era primeiro-ministro, chamei três vezes o Vítor
Constâncio a São Bento para saber se aquilo que se dizia do BPN era verdade”.
“Depois de tantos
anos, não me recordo se alguma vez fui convocado expressamente sobre assuntos
relativos ao BPN”, reagiu Constâncio aos jornalistas, à margem de uma reunião
dos ministros europeus das Finanças, em Atenas. “Mas recordo que, numa conversa
geral, se falou do BPN, em termos de preocupações com o BPN, mas sem nada de
muito concreto”, acrescentou.
Convocado “alguma
vez expressamente e exclusivamente para falar sobre o BPN, honestamente, não me
recordo”, insistiu. “Mas estive várias vezes com o então primeiro-ministro e
falámos de muitas coisas, e, como disse há pouco, também do BPN, embora, repito,
sem qualquer evidência sobre irregularidades concretas que pudessem ser
imediatamente investigadas”, vincou.
“Sobre esta
questão, o mais importante é que nunca recebi qualquer informação sobre
possíveis irregularidades concretas no BPN”, disse ainda Constâncio,
considerando que este foi o banco “de todo o sistema mais vezes inspeccionado
pelo Banco de Portugal”, o que conduziu, “ao longo dos anos, a impor aumentos
de capital, a partir de certa altura acima dos mínimos regulamentares, a
aumentar provisões e a impedir que o banco abrisse o capital na bolsa”. Ou
seja, “houve actividade naquilo que é a supervisão, que, evidentemente, actua
dentro de certos limites, que, por vezes, não são totalmente compreendidos”,
frisou.
Ainda segundo o
ex-governador, “só em 2008”
o Banco de Portugal recebeu “uma carta anónima que permitiu uma investigação
que conduziu, pouco tempo depois, à obtenção da confissão pela então recente
gestão do banco de que existia uma dupla contabilidade no BPN, sendo que uma
contabilidade era secreta, para esconder irregularidades e perdas”. Uma
situação que constitui, “dada a fraude existente, um caso criminal”, sublinhou.
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