|
APCT: QUEBRAS NO PAPEL CONTINUAM A FUSTIGAR IMPRENSA DE INFORMAÇÃO
GERAL
Por Pedro Durães a 29 de Dezembro de 2017
JornaisCorreio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal de
Notícias e Público, os quatro diários generalistas auditados pela APCT,
venderam em média menos 16.284 exemplares por dia ao longo dos primeiros 10
meses de 2017. Os 162.431 exemplares vendidos pelos quatro títulos juntos entre
Janeiro e Outubro representam uma quebra na ordem dos 9,1% face aos 178.715
exemplares de circulação impressa paga registados em conjunto no período
homólogo em 2016, mantendo a tendência de quebra no papel que continua a não
dar tréguas à imprensa de informação geral.
Tal como nos dados relativos aos primeiros oito meses do
ano, no balanço do período de Janeiro a Outubro nenhum dos títulos de
informação geral diária e semanal, incluindo ainda o semanário Expresso e as
newsmagazines Sábado e Visão, escapou às quebras na circulação impressa paga.
No digital os resultados são mais positivos uma vez que todos os títulos do
segmento registam crescimentos na circulação digital paga. No entanto, o
balanço final continua a dar poucos motivos para sorrir aos grupos de media
nacionais já que esse crescimento no digital mantém a incapacidade para
compensar as quebras no papel. A única excepção continua a ser o Público, que
volta uma vez mais a surgir como o único entre todos os títulos de informação
geral a encerrar os primeiros 10 meses do ano com saldo positivo já que o
diário da Sonaecom cresce 6,24% na circulação total paga (circulação impressa
paga + circulação digital paga).
O Correio da Manhã permanece o líder destacado no papel com
uma circulação impressa paga de 88.195 exemplares, número que representa no
entanto a maior quebra em volume já que entre Janeiro e Outubro deste ano o
diário do grupo Cofina Media vendeu em média menos 10.210 exemplares por dia
(-10,38%) comparativamente à média de 98.405 exemplares diários vendidos em
igual período de 2016. Ainda assim, a maior quebra em termos percentuais
pertenceu ao Diário de Notícias uma vez que o título detido pelo Global Media Group
viu a sua circulação impressa paga cair 16,05%, de 12.015 exemplares nos
primeiros 10 meses de 2016 para 10.087 exemplares entre Janeiro e Outubro deste
ano. No mesmo grupo, o Jornal de Notícias continua a ser o segundo diário
generalista mais vendido mas desceu 7,97%, de 50.046 exemplares para 46.059
exemplares. O terceiro mais vendido continua a ser o Público, que regista a
quebra menos acentuada ao descer de 18.249 exemplares para 18.090 exemplares,
uma descida de apenas 0,87%.
Alargando a análise ao Expresso, o único jornal semanário de
informação geral com números auditados pela Associação Portuguesa para o
Controle de Tiragem e Circulação (APCT), a tendência de quebra mantém-se. O
semanário da Impresa registou entre Janeiro e Outubro deste ano vendas em papel
na casa dos 67.592 exemplares, uma quebra de 7.477 exemplares (-9,96%) face ao
período homólogo, altura em que contava com vendas na ordem dos 75.069
exemplares por edição. Nas newsmagazines mantém-se a liderança da Visão, com
57.093 exemplares (-6,83%), enquanto a Sábado registou 40.814 (-6,32%).
No que diz respeito à circulação digital paga, o Expresso
lidera destacado com 22.557, um crescimento de 4,45% comparativamente aos
primeiros 10 meses de 2016. Na segunda posição surge o Público, que é líder no
digital entre os diários, com uma circulação digital paga de 14.352, uma subida
de 16,81%. Seguem-se o JN com 5.423 (+37,12%), o DN com 3.474 (+32,34%) e o
Correio da Manhã com 1.098 (+0,73%). Entre as newsmagazines, a Visão lidera com
uma circulação digital paga de 6.306 (+6,14%), seguindo-se a Sábado com 1.801
(+31,56%).
Fechada a contabilidade que soma a circulação impressa paga
e a circulação digital paga, o Expresso mantém a posição jornal de informação
geral com maior circulação paga total com 90.149 exemplares, número que, no
entanto, representa uma quebra de 6,74% face ao período de Janeiro a Outubro de
2016. Seguem-se o Correio da Manhã com 89.293 (-10,25%), o JN com 51.482
(-4,66%), o Público com 32.442 (+6,24%) e o DN com 13.561 (-7,37%).
|
O jornalismo está melhor – e isso é
óptimo
O jornalismo português não se tornou
de repente o melhor do mundo. Mas parece-me, com todas as suas limitações, que
respira mais liberdade, tem maior consciência do seu dever e o público responde
em conformidade.
João Miguel Tavares
2 de Janeiro de 2018, 6:30
Eu tenho a minha quota parte de textos profundamente
desiludidos com o estado da comunicação social portuguesa. A desgraça de
2005-2011 é culpa dos políticos, em primeiro lugar, mas também da comunicação
social e do sistema de justiça, que se portaram miseravelmente ao longo de toda
a primeira década do século XXI. Com ilustres excepções, foram demasiadas vezes
moles, mornos e cobardes. Não desempenharam o seu papel. Prejudicaram o país.
Estranhamente, em 2017, apesar de todas as dificuldades económicas e do estado
preocupante dos grandes grupos de media, senti, pela primeira vez em muito
tempo, que alguma coisa de significativo aconteceu. A maior parte dos jornais e
das televisões começaram a fazer jornalismo com mais acutilância e sentido de
dever. E obrigaram o poder político a dar resposta às suas notícias e às suas
investigações.
Foi, por isso, com grande espanto que li, no último texto de
Pacheco Pereira, homem sempre atento à comunicação social, uma crítica ao
governo de António Costa e ao PS por se ter deixado desgastar em 2017 “ao
aceitar haver algum mérito em questões casuísticas e anedóticas, mas
mediáticas, que a oposição usa bem”. Pacheco Pereira não esclarece exactamente
que “questões casuísticas e anedóticas” são essas, mas aproveita o embalo para
dar o costumeiro pontapé nas canelas dos media: “A questão é que à falta de
questões de fundo e com uma comunicação social muito limitada ao ‘caso’ da
semana, explorado ad nauseam, seja ou não importante, o Governo desgasta-se ao
actuar ao ritmo dos jornais e televisões, ou, ainda pior, das chamadas ‘redes
sociais’.”
Esta frase incomoda-me porque ela facilmente se confunde com
a conversa do terrível jornalismo populista (que nunca foi o principal problema
do jornalismo português) e das maldosas redes sociais, que também têm, como
qualquer ferramenta, para além dos abusos que todos conhecemos, inúmeras
vantagens que os apocalípticos preferem não ver. Dos incêndios de Verão ao
roubo de Tancos, passando por casos mais pequenos, mas muito significativos,
como o da Raríssimas, aquilo que assistimos em 2017 foi aos jornalistas a fazerem
o seu trabalho, impedindo em cada um desses casos, e em muitos outros, o
Governo de assobiar para o ar. A proliferação do fact-checking; as explicações
de temas complexos, seja a confusão na Catalunha ou o funcionamento do Montepio
Geral; a não-limitação de espaço do jornalismo online, que permite aprofundar
os assuntos; a amplificação dos casos nas redes sociais de uma forma positiva,
ou seja, gerando uma justa indignação pública em casos que são efectivamente
indignos (como ainda agora se viu com o financiamento partidário); tudo isto
tem feito bem ao país e à qualidade da nossa democracia.
Tenho dificuldade em perceber o que quer Pacheco Pereira
dizer com o seu lamento de um governo a “actuar ao ritmo dos jornais e
televisões”, porque a maior parte das vezes esse ritmo de actuação significa
apenas ter de responder publicamente às questões que são levantadas pelos media
no exercício do seu escrutínio – e esse, de facto, é o dever tanto dos media
como do poder político. O jornalismo português não se tornou de repente o
melhor do mundo. Mas parece-me, com todas as suas limitações, que respira mais
liberdade, tem maior consciência do seu dever e o público responde em
conformidade: sempre que há bom jornalismo, há leitores e espectadores para
ele. Que assim continue são os meus sinceros votos para 2018.
Sem comentários:
Enviar um comentário