terça-feira, 2 de janeiro de 2018

O jornalismo está melhor – e isso é óptimo / APCT: QUEBRAS NO PAPEL CONTINUAM A FUSTIGAR IMPRENSA DE INFORMAÇÃO GERAL

APCT: QUEBRAS NO PAPEL CONTINUAM A FUSTIGAR IMPRENSA DE INFORMAÇÃO GERAL
Por Pedro Durães a 29 de Dezembro de 2017

JornaisCorreio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Público, os quatro diários generalistas auditados pela APCT, venderam em média menos 16.284 exemplares por dia ao longo dos primeiros 10 meses de 2017. Os 162.431 exemplares vendidos pelos quatro títulos juntos entre Janeiro e Outubro representam uma quebra na ordem dos 9,1% face aos 178.715 exemplares de circulação impressa paga registados em conjunto no período homólogo em 2016, mantendo a tendência de quebra no papel que continua a não dar tréguas à imprensa de informação geral.

Tal como nos dados relativos aos primeiros oito meses do ano, no balanço do período de Janeiro a Outubro nenhum dos títulos de informação geral diária e semanal, incluindo ainda o semanário Expresso e as newsmagazines Sábado e Visão, escapou às quebras na circulação impressa paga. No digital os resultados são mais positivos uma vez que todos os títulos do segmento registam crescimentos na circulação digital paga. No entanto, o balanço final continua a dar poucos motivos para sorrir aos grupos de media nacionais já que esse crescimento no digital mantém a incapacidade para compensar as quebras no papel. A única excepção continua a ser o Público, que volta uma vez mais a surgir como o único entre todos os títulos de informação geral a encerrar os primeiros 10 meses do ano com saldo positivo já que o diário da Sonaecom cresce 6,24% na circulação total paga (circulação impressa paga + circulação digital paga).

O Correio da Manhã permanece o líder destacado no papel com uma circulação impressa paga de 88.195 exemplares, número que representa no entanto a maior quebra em volume já que entre Janeiro e Outubro deste ano o diário do grupo Cofina Media vendeu em média menos 10.210 exemplares por dia (-10,38%) comparativamente à média de 98.405 exemplares diários vendidos em igual período de 2016. Ainda assim, a maior quebra em termos percentuais pertenceu ao Diário de Notícias uma vez que o título detido pelo Global Media Group viu a sua circulação impressa paga cair 16,05%, de 12.015 exemplares nos primeiros 10 meses de 2016 para 10.087 exemplares entre Janeiro e Outubro deste ano. No mesmo grupo, o Jornal de Notícias continua a ser o segundo diário generalista mais vendido mas desceu 7,97%, de 50.046 exemplares para 46.059 exemplares. O terceiro mais vendido continua a ser o Público, que regista a quebra menos acentuada ao descer de 18.249 exemplares para 18.090 exemplares, uma descida de apenas 0,87%.

Alargando a análise ao Expresso, o único jornal semanário de informação geral com números auditados pela Associação Portuguesa para o Controle de Tiragem e Circulação (APCT), a tendência de quebra mantém-se. O semanário da Impresa registou entre Janeiro e Outubro deste ano vendas em papel na casa dos 67.592 exemplares, uma quebra de 7.477 exemplares (-9,96%) face ao período homólogo, altura em que contava com vendas na ordem dos 75.069 exemplares por edição. Nas newsmagazines mantém-se a liderança da Visão, com 57.093 exemplares (-6,83%), enquanto a Sábado registou 40.814 (-6,32%).

No que diz respeito à circulação digital paga, o Expresso lidera destacado com 22.557, um crescimento de 4,45% comparativamente aos primeiros 10 meses de 2016. Na segunda posição surge o Público, que é líder no digital entre os diários, com uma circulação digital paga de 14.352, uma subida de 16,81%. Seguem-se o JN com 5.423 (+37,12%), o DN com 3.474 (+32,34%) e o Correio da Manhã com 1.098 (+0,73%). Entre as newsmagazines, a Visão lidera com uma circulação digital paga de 6.306 (+6,14%), seguindo-se a Sábado com 1.801 (+31,56%).

Fechada a contabilidade que soma a circulação impressa paga e a circulação digital paga, o Expresso mantém a posição jornal de informação geral com maior circulação paga total com 90.149 exemplares, número que, no entanto, representa uma quebra de 6,74% face ao período de Janeiro a Outubro de 2016. Seguem-se o Correio da Manhã com 89.293 (-10,25%), o JN com 51.482 (-4,66%), o Público com 32.442 (+6,24%) e o DN com 13.561 (-7,37%).

O jornalismo está melhor – e isso é óptimo

O jornalismo português não se tornou de repente o melhor do mundo. Mas parece-me, com todas as suas limitações, que respira mais liberdade, tem maior consciência do seu dever e o público responde em conformidade.

João Miguel Tavares
2 de Janeiro de 2018, 6:30

Eu tenho a minha quota parte de textos profundamente desiludidos com o estado da comunicação social portuguesa. A desgraça de 2005-2011 é culpa dos políticos, em primeiro lugar, mas também da comunicação social e do sistema de justiça, que se portaram miseravelmente ao longo de toda a primeira década do século XXI. Com ilustres excepções, foram demasiadas vezes moles, mornos e cobardes. Não desempenharam o seu papel. Prejudicaram o país. Estranhamente, em 2017, apesar de todas as dificuldades económicas e do estado preocupante dos grandes grupos de media, senti, pela primeira vez em muito tempo, que alguma coisa de significativo aconteceu. A maior parte dos jornais e das televisões começaram a fazer jornalismo com mais acutilância e sentido de dever. E obrigaram o poder político a dar resposta às suas notícias e às suas investigações.

Foi, por isso, com grande espanto que li, no último texto de Pacheco Pereira, homem sempre atento à comunicação social, uma crítica ao governo de António Costa e ao PS por se ter deixado desgastar em 2017 “ao aceitar haver algum mérito em questões casuísticas e anedóticas, mas mediáticas, que a oposição usa bem”. Pacheco Pereira não esclarece exactamente que “questões casuísticas e anedóticas” são essas, mas aproveita o embalo para dar o costumeiro pontapé nas canelas dos media: “A questão é que à falta de questões de fundo e com uma comunicação social muito limitada ao ‘caso’ da semana, explorado ad nauseam, seja ou não importante, o Governo desgasta-se ao actuar ao ritmo dos jornais e televisões, ou, ainda pior, das chamadas ‘redes sociais’.”

Esta frase incomoda-me porque ela facilmente se confunde com a conversa do terrível jornalismo populista (que nunca foi o principal problema do jornalismo português) e das maldosas redes sociais, que também têm, como qualquer ferramenta, para além dos abusos que todos conhecemos, inúmeras vantagens que os apocalípticos preferem não ver. Dos incêndios de Verão ao roubo de Tancos, passando por casos mais pequenos, mas muito significativos, como o da Raríssimas, aquilo que assistimos em 2017 foi aos jornalistas a fazerem o seu trabalho, impedindo em cada um desses casos, e em muitos outros, o Governo de assobiar para o ar. A proliferação do fact-checking; as explicações de temas complexos, seja a confusão na Catalunha ou o funcionamento do Montepio Geral; a não-limitação de espaço do jornalismo online, que permite aprofundar os assuntos; a amplificação dos casos nas redes sociais de uma forma positiva, ou seja, gerando uma justa indignação pública em casos que são efectivamente indignos (como ainda agora se viu com o financiamento partidário); tudo isto tem feito bem ao país e à qualidade da nossa democracia.


Tenho dificuldade em perceber o que quer Pacheco Pereira dizer com o seu lamento de um governo a “actuar ao ritmo dos jornais e televisões”, porque a maior parte das vezes esse ritmo de actuação significa apenas ter de responder publicamente às questões que são levantadas pelos media no exercício do seu escrutínio – e esse, de facto, é o dever tanto dos media como do poder político. O jornalismo português não se tornou de repente o melhor do mundo. Mas parece-me, com todas as suas limitações, que respira mais liberdade, tem maior consciência do seu dever e o público responde em conformidade: sempre que há bom jornalismo, há leitores e espectadores para ele. Que assim continue são os meus sinceros votos para 2018.

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