Fecho de
hospitais e Maria Matos motivam protestos de cidadãos
O encerramento de
hospitais no centro da cidade e a concessão do Maria Matos a privados levou
cidadãos indignados à Assembleia Municipal
JOÃO PEDRO PINCHA
23 de Janeiro de 2018, 20:11
Não é muito
frequente haver um público numeroso nas bancadas da Assembleia Municipal de
Lisboa. Menos frequente é haver manifestações desse público. Acontecimento
extraordinário é haver duas manifestações no mesmo dia. Foi o que aconteceu
esta terça-feira, depois de duas intervenções inflamadas de cidadãos logo no
início da reunião.
A primeira foi de
Fátima Amaral, que se apresentou em nome da Plataforma Lisboa em Defesa do
Serviço Nacional de Saúde para pedir aos deputados que “sensibilizem os órgãos
de soberania, designadamente a Assembleia da República e o Governo, para a
necessidade de anular o processo de encerramento dos hospitais do Centro
Hospitalar de Lisboa Central”.
A construção do
novo Hospital de Lisboa Oriental, em Chelas, vai levar ao encerramento ou à
modificação de uso dos hospitais de São José, Santa Marta, Curry Cabral,
Capuchos, Dona Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa. A Plataforma, composta
por comissões de utentes e sindicatos, está contra. “Para nós, a construção do
novo hospital não pode servir de desculpa para destruir seis hospitais
públicos”, disse Fátima Amaral, que alegou estar prevista uma “redução de 400
camas, de 40% dos blocos operatórios e gabinetes de consulta médica e
eliminação de cerca de dois mil postos de trabalho” com a abertura do futuro
hospital.
A Plataforma quer
que o novo equipamento seja construído e posto a funcionar (exclusivamente com
dinheiro público e não através de uma PPP, como está previsto), mas diz que os
seis hospitais do centro “garantem, dada a sua boa localização geográfica, o
melhor acesso dos utentes destas zonas da cidade, tendo em atenção o
progressivo aumento do envelhecimento da população”.
Ainda Fátima
Amaral não tinha acabado de falar e já uma parte do público se levantava em
protesto, gritando “A saúde é um direito, não é um negócio!”. Rui Paulo
Figueiredo, deputado do PS que presidiu aos trabalhos desta terça, esperou que
o clamor abrandasse para advertir que teria de mandar esvaziar a bancada caso a
manifestação se prolongasse.
Logo de seguida
interveio o munícipe Rui Mourão, que acusou a câmara de querer fazer “uma
negociata” com “a privatização do Maria Matos”. Para ele, a concessão que a
autarquia idealizou, focada num teatro para o grande público, é uma manobra de
“travestismo político”. “A estupidificação geral da cultura não tem espaço
suficiente na televisão, ainda é preciso ir tomar um dos únicos espaços nobres
da cidade”, ironizou. “Dizem que é para diversificar a oferta, mas acabam com a
diversidade”, disse ainda.
Mais uma vez se
ouviram vozes de contestação da bancada do público, desta vez a gritar “Negociatas
não, não passarão!” repetidas vezes. Rui Paulo Figueiredo ameaçou pedir à
polícia que interviesse, o protesto parou pouco depois. E os trabalhos
continuaram.
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