Rui Rio ganhou… a
pensar na derrota de 2019
Por mais ideias
que Rio tenha para o futuro do país e do seu partido, ele precisa de permanecer
na liderança para as implementar. A sua prioridade até ao final de 2019 será só
uma: sobreviver.
João Miguel
Tavares
16 de Janeiro de
2018, 6:23
Há muita gente
espantada com o facto de Rui Rio ter anunciado durante a campanha para a
liderança do PSD a sua disponibilidade para se aliar com António Costa em caso
de derrota nas eleições de 2019. Nos debates com Santana Lopes, Rio não
recorreu às habituais evasivas sobre o tema – “não é o momento para discutir
esse assunto”, “não admito à partida a hipótese de derrota”, e outras
banalidades –, preferindo assumir a possibilidade de perder as próximas
legislativas e a abertura para formar um novo Bloco Central. Muita gente não
percebeu esta opção e achou mesmo que ela iria beneficiar Santana – e pode, de
facto, ter reduzido a margem da sua vitória. Mas, se pensarmos um bocadinho, o
que Rui Rio fez é perfeitamente compreensível, e até avisado: o novo presidente
do PSD tem menos de dois anos para se preparar para a derrota nas próximas
legislativas, e por isso começou em Janeiro de 2018 a construir o caminho para
a sua sobrevivência política após Outubro de 2019.
A não ser que o
desacreditado diabo sempre acabe por aparecer, o que nesta altura ninguém
prevê, António Costa vai ganhar as próximas eleições com facilidade, por mais
intervenções vistosas que Rui Rio faça. A razão é simples: os governos caem por
demérito próprio ou cansaço dos eleitores, e não pelo brilhantismo da oposição.
Ora, o país não está cansado de Costa e do seu Governo. E Rio não esteve tanto
tempo à espera de chegar à liderança do PSD para o seu mandato durar um ano e
nove meses, e de seguida ser corrido por um qualquer Montenegro. A sua
estratégia não pode, portanto, passar por imitar Santana Lopes, com um discurso
exageradamente optimista e um voluntarismo inversamente proporcional à sua
eficácia, mas sim de cautelosamente gizar uma estratégia que lhe dê
alternativas para se aguentar na São Caetano à Lapa após uma vitória por
maioria relativa do PS.
Claro que se
Costa ganhar por maioria absoluta Rui Rio está condenado. Mas se o PSD encurtar
distâncias para o PS e conseguir uma derrota honrosa, ele pode ter hipóteses de
se manter no lugar. Se o PS aceitar a criação de um novo Bloco Central com o
argumento das reformas de que o país precisa, o PSD acabará por regressar ao
poder. E se o PS não aceitar – como, no fundo, penso que Rio pretenderá –, ele
poderá então argumentar que o PS se encostou, por vontade própria, à
extrema-esquerda, solidificando a posição do PSD como alternativa moderada a
uma segunda “geringonça”, que certamente não terá a estâmina da primeira.
Não vale a pena
estar aqui a argumentar com a imprevisibilidade da política. Sim, tudo isto
pode correr mal. Mas, em cada momento, é necessário ter um plano para o futuro,
e, se este for o de Rui Rio, não me parece mal construído – até porque Rio terá
em Marcelo um aliado, por mais desentendimentos que possam ter tido no passado.
Marcelo é pragmático e está pouco interessado em que os portugueses ofereçam
uma maioria absoluta ao PS, desde logo porque isso iria diminuir o seu próprio
poder. Visto desta perspectiva, a ideia de assumir à partida a possibilidade de
um Bloco Central é a estratégia mais interessante para Rui Rio não ser um
simples líder a dois anos. É evidente que aquilo que é bom para Rui Rio não é
necessariamente bom para o PSD. Mas essa é uma outra conversa. Por mais ideias
que Rio tenha para o futuro do país e do seu partido, ele precisa de permanecer
na liderança para as implementar. A sua prioridade até ao final de 2019 será só
uma: sobreviver.
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