Santana : Foi um bocado demagógico. Fez valer a sua
experiência de TV, de participante em reality show, debates, comentário, etc.
Não é fácil crer nas suas promessas. Está gasto.
Rio revelou limitação na comunicação, mais líder
contabilista do que líder com visão ampla da governação do país. Mas tem a
vantagem da novidade.
Edurado Cintra Torres / “O famoso e o contabilista”
Ler mais em: http://www.cmjornal.pt/opiniao/colunistas/eduardo-cintra-torres/detalhe/o-famoso-e-o-contabilista?utm_medium=Social
EDITORIAL
Este debate foi na RTP-Memória?
Para quem tanto fala de Sá Carneiro e da sua mais famosa
citação, Santana Lopes e Rui Rio fizeram exactamente o contrário.
David Dinis
5 de Janeiro de 2018, 6:29
Já Santana dizia para Marcelo, quando o desafiou em 1996:
estava escrito nas estrelas que ia ser assim. O primeiro debate entre Santana
Lopes e Rui Rio foi um debate pessoal. Foi um ajuste de contas sobre o passado
de cada um deles. Foi quase como se, por engano, tivéssemos ligado a televisão
não na RTP, mas na RTP-Memória (levando-nos para uma noite de má memória).
Rui Rio falou das “trapalhadas” do Governo de Santana, lá
atrás em 2004, mas não se preparou para lembrar algumas (e era fácil, porque eram
quase diárias). E lembrou-se da ideia de Santana de criar um outro partido, mas
enganou-se na data (sendo que até era divertido lembrar que foi em 1997, quando
Marcelo era líder do partido).
Já Santana Lopes, usou o ex-vice de Rui Rio na Câmara do Porto
(em quem, nas últimas presidenciais, votaram 1% dos portugueses), para lembrar
que ele já tinha sido acusado de ser cúmplice de corruptos. Lembrou as
conferências de Rio criticando o estado da democracia em pleno Governo Passos.
Mas sobretudo usou os apoiantes do seu adversário (Pacheco Pereira, Ferreira
Leite, António Capucho), como quem diz aos militantes “diz-me com quem andas,
dir-te-ei quem és”).
Se a ideia era ganhar o combate nesta guerra, Rui Rio perdeu
a primeira batalha. Não porque Santana Lopes é mestre na arte do contraditório,
não apenas porque não levou os recortes tão preparados. Mas sobretudo porque
não quis arriscar ir para o campo onde teria mais a ganhar: na consistência das
ideias. Na franqueza das propostas. No assumir de uma alternativa. Sem ideias,
Santana levou-o para o seu ringue. E, claro, ganhou o primeiro combate.
O problema é que, do resto debate, não sobrou nada. Rui Rio
e Santana Lopes concordam que é preciso baixar impostos, que é preciso
descentralizar, que é preciso ir baixando o défice. Os dois criticam Costa e a
maioria de esquerda. Um rejeita já o Bloco Central, o outro só não diz
“jamais”.
O que resulta daqui, é que pouco ou nada muda — a não ser um
triste espectáculo de acusações mútuas. Para quem tanto fala de Sá Carneiro e
da sua mais famosa citação (“primeiro o país, depois o partido”), os dois
candidatos fizeram exactamente o contrário: decidiram falar apenas para os
militantes do PSD, esquecendo-se da imagem que ficaria para o partido. Foi por
isto que o primeiro debate entre os candidatos à liderança do PSD teve um
vencedor, que assistiu a tudo tranquilo: António Costa.
Santana, o killer, encostou Rui Rio
às cordas
Se quiserem um killer político, os “laranjinhas"
indecisos podem ter esclarecido o seu sentido de voto. A sessão de socos de
Santana Lopes deixou Rui Rio à defesa. No essencial, estão de acordo.
Divergência notória: Rio não diz “jamais” a um Bloco Central
ÂNGELA SILVA
Em alguns momentos (que foram longos minutos para um debate
de uma hora), o primeiro frente a frente entre Rui Rio e Pedro Santana Lopes
pareceu um monólogo, com o ex-presidente da Câmara do Porto calado e
aparentemente embaraçado para responder à sessão de socos em que Santana tentou
transformar este debate.
Preparado para um combate de boxe e munido de toda a roupa
suja que encontrou em anos de jornais, Santana deixou Rui Rio – que não quis ou
não soube entrar no jogo – à defesa em quase todo o confronto televisivo na
RTP. Foi Rio, aliás, a assumir, logo a abrir, que a principal diferença entre
ambos é terem "personalidades completamente diferentes".-
Na parte substantiva do que cada um dos candidatos à
liderança do PSD pensa do partido e do país, as diferenças foram escassas.
Estão de acordo na necessidade de mudar o modelo de política económica para
puxar pela competitividade, no desígnio que encontram na descentralização do
país como forma de reformar o Estado, nas críticas a uma Justiça que permite
julgamentos na praça pública, na necessidade de baixar a carga fiscal às
empresas, na escolha do CDS como parceiro natural para uma coligação pós
eleitoral.
Divergem ligeiramente no financiamento dos partidos, Rio
(munido da experiência de ex-secretário-geral do PSD) mais pelos dinheiros
públicos e prevenido contra "os empreiteiros", Santana adepto de que
se confie na bondade humana, "as pessoas desonestas são a exceção". A
maior divergência passa por um eventual Bloco Central com o PS: Rio não diz
"jamais" e admite este cenário em "circunstâncias
extraordinárias", comparáveis a um novo resgate.
Mas a parte substantiva do que cada um pensa acabou por ser
resolvida à pressa numa quase nota de rodapé neste debate, que resultou dominado
pelas estratégias de destruição do adversário que cada um levava no bolso.
Santana Lopes foi quem marcou o ritmo, apostado em colar Rui Rio à imagem de
traidor dos valores do partido (a foto que levava de Rio ao lado de Vasco
Lourenço na Associação 25 de Abril foi agitada com requintes de malvadez:
"Não é bonita?"). E Rio apostado em destruir a credibilidade de
Santana como primeiro-ministro, cujas "trapalhadas" assumiu, chegando
a dar razão a Jorge Sampaio por o ter demitido: "O Pedro já teve uma
experiência que correu mal e escolher quem está em piores condições é dar um
passo atrás".
A parte das trapalhadas não correu bem a Rui Rio.
"Então e eras meu vice-presidente no partido e nunca me disseste
nada?", atirou-lhe Santana Lopes. "Eu estive do lado do interesse do
partido e também do país", respondeu Rio. "Mas olha que se há coisa
que os militantes acham é que o dr. Jorge Sampaio foi na altura um grande
adversário do partido". Rio tentou virar a agulha: "O que estamos a
escolher é um candidato a primeiro-ministro e contigo houve as trapalhadas
todas que nós sabemos". Santana foi buscar as munições seguintes: "Tu
e António Costa foram quase siameses, um Dupond e Dupont. Eu nunca assinei
cartas com ele".
Rui Rio outra vez obrigado a defender-se, explica que a
carta que coassinaram foi como ex-presidentes das Câmaras de Lisboa e Porto em
defesa da descentralização. E consegue passar ao ataque: "Eu nunca fui
nomeado por António Costa para nada, nada". O ex-provedor da Misericórdia
de Lisboa nomeado por Costa não desarma: "Os teus sinais são todos
equívocos relativamente ao Bloco Central". Rio acabaria a assumir que não
lhe diz "jamais".
E lá veio a foto do ex-autarca com Vasco Lourenço, somada à
ida de Pacheco Pereira à sessão das esquerdas na Aula Magna. Santana de novo ao
ataque: "O teu compagnon de route é o Pacheco. E a Manuela Ferreira Leite,
essa tua maravilha, que teve nas legislativas contra Sócrates só mais 0,2% do
que eu". Rui Rio já se mostrava farto da roupa suja: "Tu inventas umas
coisas ...".
No minuto final, Rio recuperou. Pedro Santana Lopes
propôs-se construir uma alternativa "moderada" ao António Costa
"apoiado por comunistas e bloquistas". E foi a vez de Rio lhe espetar
o ferrete: "O que está aqui em causa é escolher quem está em melhores condições
para chegar a primeiro-ministro. O Pedro Santana Lopes já teve uma experiência
governativa que correu mal, eu proponho-me dar um passo em frente e escolher
quem está em piores condições é dar um passo atrás".
As diretas são dia 13. Azar?
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