sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

O "Debate" ...

Imagem do Dia / OVOODOCORVO
O PSD implodiu e deixou apenas, suspensa e pairando, uma poeira de egos desinteressantes e sem significado para o País.
OVOODOCORVO
“O que resulta daqui, é que pouco ou nada muda — a não ser um triste espectáculo de acusações mútuas. Para quem tanto fala de Sá Carneiro e da sua mais famosa citação (“primeiro o país, depois o partido”), os dois candidatos fizeram exactamente o contrário: decidiram falar apenas para os militantes do PSD, esquecendo-se da imagem que ficaria para o partido. Foi por isto que o primeiro debate entre os candidatos à liderança do PSD teve um vencedor, que assistiu a tudo tranquilo: António Costa.”
David Dinis Editorial / Público/ Hoje.

Santana : Foi um bocado demagógico. Fez valer a sua experiência de TV, de participante em reality show, debates, comentário, etc. Não é fácil crer nas suas promessas. Está gasto.
Rio revelou limitação na comunicação, mais líder contabilista do que líder com visão ampla da governação do país. Mas tem a vantagem da novidade.
Edurado Cintra Torres / “O famoso e o contabilista”

EDITORIAL
Este debate foi na RTP-Memória?
Para quem tanto fala de Sá Carneiro e da sua mais famosa citação, Santana Lopes e Rui Rio fizeram exactamente o contrário.

David Dinis
5 de Janeiro de 2018, 6:29

Já Santana dizia para Marcelo, quando o desafiou em 1996: estava escrito nas estrelas que ia ser assim. O primeiro debate entre Santana Lopes e Rui Rio foi um debate pessoal. Foi um ajuste de contas sobre o passado de cada um deles. Foi quase como se, por engano, tivéssemos ligado a televisão não na RTP, mas na RTP-Memória (levando-nos para uma noite de má memória).

Rui Rio falou das “trapalhadas” do Governo de Santana, lá atrás em 2004, mas não se preparou para lembrar algumas (e era fácil, porque eram quase diárias). E lembrou-se da ideia de Santana de criar um outro partido, mas enganou-se na data (sendo que até era divertido lembrar que foi em 1997, quando Marcelo era líder do partido).

Já Santana Lopes, usou o ex-vice de Rui Rio na Câmara do Porto (em quem, nas últimas presidenciais, votaram 1% dos portugueses), para lembrar que ele já tinha sido acusado de ser cúmplice de corruptos. Lembrou as conferências de Rio criticando o estado da democracia em pleno Governo Passos. Mas sobretudo usou os apoiantes do seu adversário (Pacheco Pereira, Ferreira Leite, António Capucho), como quem diz aos militantes “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”).

Se a ideia era ganhar o combate nesta guerra, Rui Rio perdeu a primeira batalha. Não porque Santana Lopes é mestre na arte do contraditório, não apenas porque não levou os recortes tão preparados. Mas sobretudo porque não quis arriscar ir para o campo onde teria mais a ganhar: na consistência das ideias. Na franqueza das propostas. No assumir de uma alternativa. Sem ideias, Santana levou-o para o seu ringue. E, claro, ganhou o primeiro combate.

O problema é que, do resto debate, não sobrou nada. Rui Rio e Santana Lopes concordam que é preciso baixar impostos, que é preciso descentralizar, que é preciso ir baixando o défice. Os dois criticam Costa e a maioria de esquerda. Um rejeita já o Bloco Central, o outro só não diz “jamais”.

O que resulta daqui, é que pouco ou nada muda — a não ser um triste espectáculo de acusações mútuas. Para quem tanto fala de Sá Carneiro e da sua mais famosa citação (“primeiro o país, depois o partido”), os dois candidatos fizeram exactamente o contrário: decidiram falar apenas para os militantes do PSD, esquecendo-se da imagem que ficaria para o partido. Foi por isto que o primeiro debate entre os candidatos à liderança do PSD teve um vencedor, que assistiu a tudo tranquilo: António Costa.

Santana, o killer, encostou Rui Rio às cordas
Se quiserem um killer político, os “laranjinhas" indecisos podem ter esclarecido o seu sentido de voto. A sessão de socos de Santana Lopes deixou Rui Rio à defesa. No essencial, estão de acordo. Divergência notória: Rio não diz “jamais” a um Bloco Central
ÂNGELA SILVA

Em alguns momentos (que foram longos minutos para um debate de uma hora), o primeiro frente a frente entre Rui Rio e Pedro Santana Lopes pareceu um monólogo, com o ex-presidente da Câmara do Porto calado e aparentemente embaraçado para responder à sessão de socos em que Santana tentou transformar este debate.

Preparado para um combate de boxe e munido de toda a roupa suja que encontrou em anos de jornais, Santana deixou Rui Rio – que não quis ou não soube entrar no jogo – à defesa em quase todo o confronto televisivo na RTP. Foi Rio, aliás, a assumir, logo a abrir, que a principal diferença entre ambos é terem "personalidades completamente diferentes".-

Na parte substantiva do que cada um dos candidatos à liderança do PSD pensa do partido e do país, as diferenças foram escassas. Estão de acordo na necessidade de mudar o modelo de política económica para puxar pela competitividade, no desígnio que encontram na descentralização do país como forma de reformar o Estado, nas críticas a uma Justiça que permite julgamentos na praça pública, na necessidade de baixar a carga fiscal às empresas, na escolha do CDS como parceiro natural para uma coligação pós eleitoral.

Divergem ligeiramente no financiamento dos partidos, Rio (munido da experiência de ex-secretário-geral do PSD) mais pelos dinheiros públicos e prevenido contra "os empreiteiros", Santana adepto de que se confie na bondade humana, "as pessoas desonestas são a exceção". A maior divergência passa por um eventual Bloco Central com o PS: Rio não diz "jamais" e admite este cenário em "circunstâncias extraordinárias", comparáveis a um novo resgate.

Mas a parte substantiva do que cada um pensa acabou por ser resolvida à pressa numa quase nota de rodapé neste debate, que resultou dominado pelas estratégias de destruição do adversário que cada um levava no bolso. Santana Lopes foi quem marcou o ritmo, apostado em colar Rui Rio à imagem de traidor dos valores do partido (a foto que levava de Rio ao lado de Vasco Lourenço na Associação 25 de Abril foi agitada com requintes de malvadez: "Não é bonita?"). E Rio apostado em destruir a credibilidade de Santana como primeiro-ministro, cujas "trapalhadas" assumiu, chegando a dar razão a Jorge Sampaio por o ter demitido: "O Pedro já teve uma experiência que correu mal e escolher quem está em piores condições é dar um passo atrás".

A parte das trapalhadas não correu bem a Rui Rio. "Então e eras meu vice-presidente no partido e nunca me disseste nada?", atirou-lhe Santana Lopes. "Eu estive do lado do interesse do partido e também do país", respondeu Rio. "Mas olha que se há coisa que os militantes acham é que o dr. Jorge Sampaio foi na altura um grande adversário do partido". Rio tentou virar a agulha: "O que estamos a escolher é um candidato a primeiro-ministro e contigo houve as trapalhadas todas que nós sabemos". Santana foi buscar as munições seguintes: "Tu e António Costa foram quase siameses, um Dupond e Dupont. Eu nunca assinei cartas com ele".

Rui Rio outra vez obrigado a defender-se, explica que a carta que coassinaram foi como ex-presidentes das Câmaras de Lisboa e Porto em defesa da descentralização. E consegue passar ao ataque: "Eu nunca fui nomeado por António Costa para nada, nada". O ex-provedor da Misericórdia de Lisboa nomeado por Costa não desarma: "Os teus sinais são todos equívocos relativamente ao Bloco Central". Rio acabaria a assumir que não lhe diz "jamais".

E lá veio a foto do ex-autarca com Vasco Lourenço, somada à ida de Pacheco Pereira à sessão das esquerdas na Aula Magna. Santana de novo ao ataque: "O teu compagnon de route é o Pacheco. E a Manuela Ferreira Leite, essa tua maravilha, que teve nas legislativas contra Sócrates só mais 0,2% do que eu". Rui Rio já se mostrava farto da roupa suja: "Tu inventas umas coisas ...".

No minuto final, Rio recuperou. Pedro Santana Lopes propôs-se construir uma alternativa "moderada" ao António Costa "apoiado por comunistas e bloquistas". E foi a vez de Rio lhe espetar o ferrete: "O que está aqui em causa é escolher quem está em melhores condições para chegar a primeiro-ministro. O Pedro Santana Lopes já teve uma experiência governativa que correu mal, eu proponho-me dar um passo em frente e escolher quem está em piores condições é dar um passo atrás".


As diretas são dia 13. Azar?

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