“A ideia de
instalar um hotel em Santa Apolónia já é antiga, mas começou a ganhar nova
força em meados de 2015, quando o vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de
Lisboa, Manuel Salgado, sugeriu o encerramento da estação ferroviária e a
criação de um espaço verde no local onde agora são as linhas de comboio. No
início de 2016, a IP rejeitou essa solução, mas abriu caminho à instalação do
hotel.”
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OVOODOCORVO
Seis candidatos podem apresentar
propostas para hotel em Santa Apolónia
A Infra-Estruturas de Portugal quer
um hotel de quatro ou mais estrelas, com pelo menos 120 quartos, na estação.
Ainda não há previsão de quando o processo estará concluído.
João Pedro Pincha
JOÃO PEDRO PINCHA 10 de Janeiro de 2018, 15:45
Seis das dez empresas que manifestaram interesse em explorar
um hotel na estação de Santa Apolónia, em Lisboa, passaram à segunda fase do
concurso e têm agora dois meses para apresentar propostas. A Infra-Estruturas
de Portugal (IP) diz que é “ainda muito precipitado” adiantar uma data para a
conclusão do processo.
Do lote de candidatos que, em Novembro, se apresentaram à
subconcessão de parte do edifício histórico da estação, os seis que ficaram são
The House Ribeira Hotel (grupo Sonae, dono do PÚBLICO), o consórcio entre
Visabeira e Montebelo, Pestana, os grupos Hoti-Star, Barceló e Salvor.
Estas empresas terão de apresentar propostas até 15 de
Março. A IP, que promove este projecto através da subsidiária IP Património,
quer pôr a funcionar um hotel de quatro ou mais estrelas, com pelo menos 120
quartos, na parte da estação virada ao Tejo. O programa prevê a concessão do
espaço por 35 anos e o vencedor terá de realizar “determinadas obras de
renovação” da estação, inaugurada no século XIX.
PCP contra
A ideia de instalar um hotel em Santa Apolónia já é antiga,
mas começou a ganhar nova força em meados de 2015, quando o vereador do
Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa, Manuel Salgado, sugeriu o encerramento
da estação ferroviária e a criação de um espaço verde no local onde agora são
as linhas de comboio. No início de 2016, a IP rejeitou essa solução, mas abriu
caminho à instalação do hotel.
Em resposta ao PÚBLICO nesta quarta-feira, uma fonte oficial
da IP não quis adiantar quando poderá ser feita a adjudicação, lembrando que o
processo ainda tem várias fases depois de apresentadas as propostas: uma
primeira avaliação, negociações, apresentação de versões finais e, por fim, uma
decisão.
O PCP é, para já, o único partido político que está contra
esta operação. Os deputados no Parlamento, os vereadores na câmara de Lisboa e
os deputados na assembleia municipal apresentaram várias moções e questões ao
Governo sobre o assunto. Os comunistas consideram que “em Lisboa sobram hotéis,
mas é confrangedora a falta de resposta dos serviços públicos de transportes”.
Temem ainda que este seja um primeiro passo para o
encerramento da estação, pelo que, numa recente moção levada à assembleia
municipal, os deputados pediam mesmo ao executivo de Fernando Medina para não
licenciar o futuro hotel. Este ponto do documento foi chumbado.
Santa Apolónia, que Manuel Salgado
quer fechar, é a terceira estação do país
Vereador da Câmara de Lisboa, Manuel
Salgado, defende o encerramento da estação para dar lugar a um espaço verde com
ligação ao Tejo.
CARLOS CIPRIANO 23 de Junho de 2015, 8:41
Há uma década, a
Refer conseguiu travar um plano de urbanização que já previa o fecho da estação
Todos os dias chegam e partem de Santa Apolónia, em Lisboa,
150 comboios de várias tipologias: de longo curso, regionais e suburbanos. O
número de passageiros que diariamente chegam e/ou partem daquela estação ronda
os 8200, o que perfaz três milhões por ano.
Estes números fazem de Santa Apolónia a terceira estação da
rede ferroviária portuguesa com mais movimento, sendo os primeiros lugares
ocupados pelo Oriente, em Lisboa, e Campanhã, no Porto.
Mas “numa visão de futuro”, o vereador Manuel Salgado,
responsável pelo Urbanismo na Câmara de Lisboa, entende que esta é “uma área
com enorme potencial” para acolher um espaço verde num contexto em que as
actividades portuárias de Santa Apolónia e Xabregas seriam deslocalizadas para
o putativo porto de contentores do Barreiro.
O vereador fez estas declarações à agência Lusa durante uma
convenção autárquica do PS Lisboa que juntou no domingo militantes e
simpatizantes daquele partido no Parque das Nações.
Salgado referiu que o encerramento de Santa Apolónia seria
“uma oportunidade única para fazer a ligação dos vales de Santo António e de
Chelas ao rio” e acrescentou que não faz sentido que a estação esteja no centro
da cidade, já que grande parte dos passageiros que chegam a Lisboa saem na gare
do Oriente. Esta afirmação carece de fundamento, sobretudo no que diz respeito
ao tráfego suburbano, uma vez que a chegada do Metro a Santa Apolónia potenciou
a ligação entre os dois modos de transporte, tendo aumentado a utilização dos
comboios da linha da Azambuja.
O vereador disse ainda que aquela estação era mais usada
para “estacionar e lavar os comboios”, embora ela seja utilizada por três
milhões de passageiros anuais, que fazem dela a terceira maior estação da CP.
Esta empresa, bem como a Refer (agora fundida com a Estradas
de Portugal e designada Infrastruturas de Portugal), não quis comentar as
declarações do vereador, mas todos os quadros ferroviários contactadas pelo
PÚBLICO são unânimes em considerar estas declarações de Manuel Salgado
desprovidas de sentido. O mesmo fizeram já vereadores do PSD, CDS e da CDU na
Câmara de Lisboa.
Encerrar Santa Apolónia, salientam os técnicos ouvidos,
seria impedir um acesso directo do modo ferroviário de longo curso ao centro de
Lisboa e contrariaria as boas práticas utilizadas na maior parte das cidades
europeias em que se potencia o transporte público em detrimento do transporte
individual.
Por outro lado, mais do que uma estação de passageiros,
Santa Apolónia é também um terminal ferroviário que, a ser encerrado, teria de
ser deslocado para outra estação. A do Oriente não tem espaço para mais linhas,
o que levantaria problemas técnicos de operação pois as composições teriam que
se deslocar em vazio durante alguns quilómetros (até ser encontrado um local
suficientemente espaçoso na periferia de Lisboa para ali se construir o
terminal) a fim de estacionarem e serem limpas. Estas viagens de ida e volta
iriam, porém, colidir com o tráfego ferroviário comercial num dos pontos mais
saturados da rede. Para alguns técnicos contactados pelo PÚBLICO isto iria
encarecer a operação e tornar o modo ferroviário um transporte bem mais
complicado.
Em declarações ao Diário de Notícias de segunda-feira,
Manuel Salgado afirmou também que a principal estação de Lisboa é a de
Entrecampos (na verdade é a terceira, a seguir ao Oriente e a Santa Apolónia) e
que “a tendência no futuro é reforçar o seu papel como estação central”. O
autarca referiu ainda que o edifício da estação de Santa Apolónia está muito
desocupado e tem valor histórico.
Na primeira década deste século chegou a ser apresentado uma
projecto imobiliário para a frente ribeirinha na zona de Santa Apolónia que
implicava desafectar daquele local a operação ferroviária. No entanto, o
conselho de administração da Refer opôs-se e provou que a penetração do
caminho-de-ferro até ao centro da cidade era uma mais-valia para Lisboa. A
urbanização de vastos espaços da área compreendida entre o Parque das Nações e
Marvila, no troço Gare do Oriente-Santa Apolónia, foi projectada por Manuel
Salgado, antes de se tornar vereador, e pelo atelier que é propriedade da
primeira mulher e dos filhos para fundos imobiliários do Grupo Espírito Santo.
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