quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Ambientalistas denunciam remoção de árvores saudáveis na obra da Torre de Picoas


Ambientalistas denunciam remoção de árvores saudáveis na obra da Torre de Picoas

São novamente pedidos esclarecimentos à Câmara de Lisboa em relação à obra da Torre de Picoas, desta vez por causa da remoção de árvores na zona

MARIA WILTON 15 de Janeiro de 2018, 21:36

A Plataforma em Defesa das Árvores denunciou na semana passada, na sua página de Facebook, a remoção “indevida” de árvores de médio e grande porte na Av. 5 de Outubro por causa das obras da Torre de Picoas. O grupo pediu esclarecimentos da situação à Câmara Municipal de Lisboa (CML) por meio de uma carta aberta, no seguimento de uma publicação online da Junta de Freguesia das Avenidas Novas que dava conta das intervenções que seriam feitas no arvoredo.

O transplante, autorizado pela câmara, foi divulgado na página da junta no dia 28 de Dezembro e os motivos pelos quais foi aprovado noticiados no mesmo meio há cerca de uma semana. Ficou assim a saber-se que 15 árvores (12 jacarandás e três pseudo-plátanos) serão removidas do local onde se encontram na sequência da construção da Torre de Picoas. “A apropriação por um particular destas árvores” é uma das razões de indignação dos membros da plataforma, que questionam a câmara e o vereador do urbanismo, Manuel Salgado, sobre o assunto.

Em resposta ao PÚBLICO, a câmara defende que na zona haverá uma requalificação do espaço público. Além disso, foi realizada uma vistoria pela Direcção Municipal de Estrutura Verde, Ambiente e Energia (DMEVAE), onde se avaliou “minuciosamente” o estado das árvores existentes no local da futura praça que nascerá entre a Maternidade Alfredo da Costa, a Rua Pinheiro Chagas e a Rua Latino Coelho, integrando a Casa Museu Doutor Anastácio Gonçalves e estendendo-se até à avenida Fontes Pereira de Melo.

Com vista “à preservação e incremento dos exemplares arbóreos existentes no local”, acrescenta a autarquia, foi determinado o abate de sete árvores, por mau estado fitossanitário, e o transplante de 15 outros exemplares. A câmara contrapõe ainda que está prevista para a área a plantação de cerca de 60 árvores novas.

Quando questionada acerca do destino das árvores transplantadas, a autarquia esclarece que apenas pode ter certeza dessa informação quando se iniciar o transplante.

A Torre da Cidade — S.A., conhecida por Torre de Picoas, é um novo edifício de escritórios e comércio já em construção num gaveto entre a Av. Fontes Pereira de Melo e Av. 5 de Outubro. O projecto foi apresentado em 2014, na sequência de um concurso de ideias lançado pela Câmara Municipal de Lisboa.

O edifício tem sido alvo de muitas polémicas, desde as críticas à sua volumetria até à colocação ilegal, em 2016, de estacas em terreno municipal pelo promotor da obra. Este processo acabou por ser arquivado em 2017.

O projecto prevê, além da construção de uma torre, a intervenção no espaço envolvente onde será criada uma praça que se pretende “um espaço de estar e lazer”, ladeada a Norte por um bosque com “plantação luxuriante” e diversa. O novo espaço verde acolherá um conjunto de espécimes de folha caduca e perene que pretende “reforçar a estrutura ecológica municipal”.

Face a esta intenção, a Plataforma em Defesa das Árvores salienta a incongruência dos pedidos de autorização de transplante de árvores já que a convivência das existentes com as novas deveria ser não só “possível como desejável”.

A missão da plataforma passa por denunciar a “onda de intervenções radicais e devastadoras que as árvores de Lisboa têm sofrido”, a que acrescem as que são derrubadas em obras. Por isso, os activistas crticam o processo de discussão pública de projectos, que dizem “não prever ou dar a conhecer” a priori a situação da flora circundante às obras.

A denúncia já tinha sido feita no grupo do Facebook de “Vizinhos das Avenidas Novas”, que acrescentavam outras preocupações em relação à nova torre, nomeadamente ao nível do trânsito.


Texto editado por Ana Fernandes

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