"É impossível. Isto só pode mesmo estourar !" |
Ainda é possível
arrendar casas a preços “normais” em Lisboa. Eles encontraram-nas
13 Janeiro
2018211
Tânia Pereirinha
Uma viu uma casa
sem sanita, outra um apartamento onde dava para estar na casa de banho a fazer
o jantar. No fim, tudo acabou bem. Que é como quem diz, em casas habitáveis,
com rendas ditas "normais".
Numa altura em
que ninguém estranha que um T0 com 60 metros quadrados em Campolide, Lisboa,
custe mil euros por mês, e em que os imóveis disponíveis no mercado de
arrendamento são tão poucos, tão caros e, em muitos casos, tão pouco
habitáveis, o que não falta é quem comece a achar que um utensílio higiénico
inventado há pelo menos três milénios é um luxo só acessível aos mais
privilegiados.
É o que diz a
descrição do apartamento referido no início deste artigo, a escassos metros da
Praça de Espanha, mobilado, com ar condicionado, lugar de garagem, aquecedor de
toalhas e, luxo dos luxos, banheira. E foi o que constatou L., de 23 anos, que
em 2015 começou à procura de casa para arrendar em Lisboa — para poder
finalmente sair do quarto “minúsculo” que alugava por 250 euros/mês, sem
recibo, numa casa sem sala de estar na zona de Benfica, onde morava há dois
anos com três desconhecidos.
"A casa mais
barata que vi foi um T0 de 25 metros quadrados perto da Ajuda. Não tinha base
de duche nem sanita e custava 400 euros. No anúncio dizia que a pessoa que
fosse para lá é que tinha de a instalar."
L., 23 anos,
arrendou um T3 no Alto de São João por 350 euros -- sem recibo
“Demorei um ano e
meio até encontrar casa, procurei em todas as plataformas que possa imaginar. A
mais barata que vi foi um T0 de 25 metros quadrados perto da Ajuda”, recorda ao
Observador. A renda era de 400 euros. Detalhe: a casa, um rés do chão com sala
e kitchenette, não tinha base de duche, só um orifício no chão de cimento
irregular a fazer as vezes de ralo, nem sanita. “No anúncio dizia que a pessoa
que fosse para lá é que tinha de a instalar. 400 euros por aquela porcaria,
imagine!”
Desde 2014,
altura em que o mercado de arrendamento na capital começou a recuperar, depois
das quebras registadas durante os anos da crise, o Índice de Rendas
Residenciais já subiu 44% em Lisboa (e 14% no Porto), segundo dados da
Confidencial Imobiliário, citados em outubro passado pela Sábado — e a
tendência para 2018 é para que a escalada continue, em média 5% em todo o país.
Também em Lisboa, o preço médio por quarto estacionou nos 355 euros/mês,
informou recentemente a Uniplaces, plataforma de alojamento universitário presente
em 36 cidades de 6 países. E, também desde 2014, em Portugal, o número de
estabelecimentos de alojamento local registados passou de 13 mil para mais de
55 mil — 10.611 deles ficam em Lisboa.
O crescimento tão
rápido que no passado dia 5 de janeiro, na Assembleia da República, foram
discutidos quatro projetos de alteração à lei atualmente em vigor — o mais
polémico de todos foi o proposto pelo PS, que quer fazer depender do aval dos
vizinhos as licenças para novas unidades de alojamento local. Sem consenso, os
deputados acabaram por passar as propostas à comissão de Ambiente,
Descentralização, Poder Local e Habitação, onde deverão ser avaliadas durante
os próximos 60 dias.
Dado o panorama,
o que começa a ser não apenas estranho, mas mesmo raro, são histórias de
arrendamentos a preços equilibrados. Mas que elas existem, existem. E L., que
pode até ter passado pela experiêcncia surreal de ver uma casa sem banheira nem
sanita, mas que desde outubro de 2016 vive num T3 mobilado na zona do Alto de
São João por 350 euros por mês (sem recibos, daí a inicial em vez do nome
completo), é apenas uma das pessoas que contaram a sua história ao Observador.
Para além da
renda baixa, todas têm uma outra coisa em comum: nenhuma conseguiu o
arrendamento pelos trâmites normais — é que as bagatelas ainda existem, mas
raramente chegam ao mercado. Mais: poucas se sentem à vontade para dar a cara a
falar sobre o assunto. Por um lado, assumem, têm receio de que os senhorios se
apercebam de que estão a cobrar abaixo dos valores de mercado e resolvam
atualizar as rendas. Por outro, não querem suscitar a inveja de quem não teve a
mesma sorte: “Pode pôr um olhinho para afastar o mau olhado no artigo?”, foi a
primeira coisa que uma delas disse assim que atendeu o telefone.
A renda custa 350
euros, mas um dos quartos fica para a mãe do senhorio
No caso de L. foi
pura sorte: pediu ajuda a uma amiga que arrendou um T2 “mesmo impecável” em
Xabregas por 500 euros, a amiga falou com a senhoria, que não tinha mais
apartamentos disponíveis, mas um dia reparou que os inquilinos que moravam na
porta em frente à sua, na zona do Alto de São João, estavam a fazer mudanças.
“Falou com o senhorio e pôs-me em contacto com ele. Estava a pedir 420 euros,
mas eu consegui baixar para os 350! Disse-lhe que estava a estudar, que o meu
trabalho não pagava muito e que era mais ou menos sazonal, que era uma pessoa
modesta e que lhe ia pagar sempre certinho, que não precisava de recibo se ele
preferisse assim, e ele aceitou.”
“Avisou-me logo
que podia acontecer que a mãe tivesse de vir a Lisboa e de ficar cá em casa. O
ano passado ficou cá duas vezes, esteve a fazer uns tratamentos no hospital,
mas quase nem a via, ela ia à cozinha, tratava de fazer o almoço ou o jantar e
voltava para o quarto."
L., 23 anos,
arrendou um T3 no Alto de São João por 350 euros (sem recibo)
O único senão do
contrato, que segundo L. nem é assim tão mau quanto isso: um dos três quartos
da casa está ocupado com as tralhas da mãe do senhorio, que entretanto se
reformou e foi morar para Grândola, e só pode ser utilizado por ela. “Avisou-me
logo que podia acontecer que a mãe tivesse de vir a Lisboa e de ficar cá em
casa. O ano passado ficou cá duas vezes, esteve a fazer uns tratamentos no
hospital, mas quase nem a via, ela ia à cozinha, tratava de fazer o almoço ou o
jantar e voltava para o quarto. É muito querida, no final ainda fez questão de
me dar 50 euros para ajudar nas contas”, conta a videógrafa e fotógrafa
freelancer. Que garante que as cerejas e as travessas de arroz-doce que a
vizinha da frente (a senhoria da amiga) lhe leva de vez em quando, a juntar à
vista que tem sobre o Tejo, naquele edifício com elevador e porteira, são prós
suficientes para anular o contra do quarto fechado.
A procura de Inês
Ferreira, 32 anos, foi ainda mais demorada: ao todo, antes de arrendar o T1 com
varanda onde hoje mora, em Alvalade, entre a Avenida de Roma e a dos Estados
Unidos da América, visitou 20 casas. Quase assinou contrato numa delas, um T1
de 75 metros quadrados por 475 euros, em Sete Rios; chegou mesmo a mudar-se
para outra. Garante que nunca visitou apartamentos com rendas muito caras,
exatamente porque essa era uma das condições a que se impôs: “Tinha de ser num
sítio seguro, com renda não muito alta e com contrato, para poder pedir dístico
da EMEL”.
“A casa não só
não era nada de especial como ainda tinha uma puxada de eletricidade para um
barracão com o telhado todo podre no quintal, onde estava a máquina de lavar
roupa. Um perigo."
Inês Ferreira, 32
anos, arrendou um T1 em Alvalade por 425 euros
Da primeira vez,
o negócio acabou por ruir de véspera, a escassas horas da assinatura, depois de
o senhorio lhe ter enviado uma cópia do contrato: “A casa era dos anos 80 e
tinha a cozinha equipada com eletrodomésticos da mesma altura. O contrato tinha
uma cláusula a dizer que, se algum deles se avariasse, os encargos seriam
assegurados por mim. E outra a dizer que só poderia rescindir nos 15 dias
anteriores à renovação — e o contrato era de 4 anos”, recorda Inês, que
trabalha no departamento de relações públicas de uma grande empresa nacional.
Ainda pediu para que essas duas alíneas fossem alteradas, mas o
ex-futuro-senhorio não gostou: “Ameaçou-me por escrito, deu a entender que
arranjava forma de me despedir”.
À segunda, não só
chegou a mudar-se como pagou à cabeça um mês de renda e outro de caução — 400
euros por um T1, também na zona de Alvalade, mas sem contrato. Apenas para se
vir embora no fim do primeiro dia de limpezas, depois de ter apanhado um choque
elétrico no frigorífico. “A casa não só não era nada de especial, como ainda
tinha uma puxada de eletricidade para um barracão com o telhado todo podre no
quintal, onde estava a máquina de lavar roupa. Um perigo. O choque que apanhei
foi só a gota de água”, recorda.
A pessoa que
tratava do arrendamento não só se recusou a devolver-lhe a caução, quando Inês
se veio embora, como antes de chegarem a esse ponto a acusou várias vezes de
querer mais do que aquilo que pagava. “Dizia-me coisas do estilo ‘Não sabes o
que custa a vida, a casa perfeita não existe, pagas pouco não podes pôr
defeitos’.”
"Postei o
anúncio às 19h00, passei a hora de jantar a atender telefonemas. O rapaz que lá
está agora ligou-me passados 10 minutos, andava à procura de casa há 7 meses.
Lembro-me de uma senhora que era mãe e que queria um apartamento para o filho;
já se notava um certo desespero, dizia que era funcionária pública e que o
marido era militar, que o IRS deles era assim e assado...”
Helena Gouveia,
41 anos, proprietária de um T2 em Benfica, que arrenda por 700 euros
Depois de tantos
percalços, quando a tia lhe ligou a dizer que tinha acabado de ver um letreiro
numa casa em Alvalade ainda hesitou antes de telefonar. Assim que viu o
apartamento, de um quarto, disse que ficava com ele: “Era 475 euros, ofereci
400, ficou por 425. A senhoria tem várias casas em Lisboa e até quer ver-se
livre delas, mas já me disse que só vende a minha quando eu sair. E também
nunca aumentou a renda — estou lá há três anos. Fui com o meu pai, tenho ar de
quem não parte nada, trabalho numa boa empresa, acho que tudo isso conta”.
Confiança e
estabilidade — o que conta para os senhorios que mantêm as rendas baixas
Conta mesmo,
garante ao Observador Helena Gouveia, 41 anos, proprietária de um T2 em Benfica.
Quando em junho passado as inquilinas que tinha há anos saíram e teve de pôr
novamente a casa a alugar, vários mediadores imobiliários lhe disseram que
podia pedir “tranquilamente” 800 euros ou mais por mês. Podia, mas preferiu não
o fazer: “Chateia-me um bocado contribuir para a especulação do mercado. E
quero ter uma pessoa de confiança na casa. Até podia pedir mais, mas se esse
aumento fizesse com que a casa demorasse um ou dois meses a alugar não
compensava, ia demorar um ano a recuperar esse dinheiro. Já para não dizer que,
se aumentares muito as rendas, crias uma situação em que a pessoa à primeira
oportunidade que tiver vai sair. E eu queria um arrendamento longo, não de
curta duração. Não queria ter chatices a pôr anúncios, mostrar a casa, tratar de
contratos”.
Costumava cobrar
600 euros, em junho pôs um anúncio no OLX a pedir 675 por mês. Percebeu
rapidamente o estado caótico sete-cães-a-um-osso do mercado de arrendamento em
Lisboa: “Postei o anúncio às 19h00, passei a hora de jantar a atender telefonemas.
O rapaz que lá está agora ligou-me passados 10 minutos, andava à procura de
casa há sete meses. Lembro-me de uma senhora que era mãe e queria um
apartamento para o filho; já se notava um certo desespero, dizia que era
funcionária pública e que o marido era militar, que o IRS deles era assim e
assado…”.
“Não o faço por
solidariedade, mas porque não quero ter as chatices associadas a esta
maluqueira que aí vem - sim, porque já todos vimos este filme, este tipo de
mercado simplesmente não é sustentável e a determinada altura vai rebentar e
ficar tudo baratíssimo."
Anónima,
proprietária de um T1 com garagem em S. João, que arrenda por 450 euros
A necessidade de
arranjar uma casa é tão grande que, em vez de ter tentado regatear o preço, o
novo candidato a inquilino ofereceu-se para lhe pagar ainda mais: 700 euros por
mês. “O rapaz não era português, trabalhava a recibos verdes e não tinha
fiador. Aceitei, foi uma espécie de compensação, mas a proposta por cima
surpreendeu-me completamente, não estava nada à espera”, diz Helena. Que também
garante que, apesar de ter decidido não alinhar no jogo da escalada de rendas,
isso não quer dizer que nunca o fará no futuro: “Não sou nenhuma militante da
justiça, não sou investidora, também moro numa casa arrendada. Se o meu
senhorio para o ano me aumentar a renda, vou ter de fazer o mesmo”.
O caso de uma
outra senhoria, que prefere manter-se no anonimato, é ainda mais extremo: é a
própria inquilina que, com medo de ser trocada por outro que pague mais, lhe
pede para subir a renda. “A rapariga que lá está em casa, amiga de um amigo, já
me ligou várias vezes a pedir para lhe aumentar a renda. Arrendei-lhe o
apartamento, um T1 mobilado e equipado na freguesia de São João, com garagem,
há um ano e meio, por 450 euros. Não ganho nada, é o valor do empréstimo mais o
do condomínio”, explica ao Observador. “Não o faço por solidariedade, mas
porque não quero ter as chatices associadas a esta maluqueira que aí vem — sim,
porque já todos vimos este filme, este tipo de mercado simplesmente não é
sustentável e a determinada altura vai rebentar e ficar tudo baratíssimo.
Sobretudo esses T1 e T2 que estão a ser feitos de propósito, e que daqui a uns
anos vão estar a ser arrendados por 15 euros por noite”, completa.
No mesmo prédio,
onde todas as casas são de igual dimensão e tipologia, diz que tem vizinhos a
alugarem os mesmos apartamentos de um quarto por 650 e 700 euros e pelo menos
um deles a cobrar à noite, no Airbnb. “Tenho consciência de que podia estar a
fazer mais dinheiro, mas para isso também ia ter mais chatices. Quando cobras
preços disparatados entras num clima de risco: ou alugas a turistas e tens de
pôr uma empresa a tratar do assunto, ou arriscas-te a que não te paguem — ou
que te dêem cabo das coisas. Prefiro assim. O meu marido, que também tem a casa
de solteiro a alugar, faz o mesmo: tem lá uma pessoa que lhe paga pouco, mas em
quem ele confia. Não tirou nada do apartamento: deixou lá mobília, livros,
CD’s, tudo. Até peças do [escultor João] Cutileiro lá tem”, explica.
Um T4 em Arroios
por 600 euros? Sim, é possível. E não são 600 euros por pessoa
Foi depois de
passar dois anos a dividir uma sala de estar por 240 euros por mês mais
despesas; de viver outros tantos num quarto esconso que só tinha espaço para
uma cama, uma mesa de cabeceira e um cubo do Ikea, “para pôr camisolas”; e de
ter pelo menos cinco visitas canceladas trinta minutos antes da hora prevista,
porque entretanto as casas já tinham sido arrendadas; que M., jornalista, 24
anos, decidiu juntar-se a outras duas amigas na procura por um T3 no centro de
Lisboa. “Sozinha estava a ser muito difícil, e entretanto elas, que estavam à
procura juntas, perceberam que havia mais T3 disponíveis do que T2. Na altura,
em setembro de 2015, nenhuma de nós estava numa situação de urgência, portanto
fomos só vendo”, recorda.
"A senhoria
disse-nos logo que a renda ia ser de 600 euros. E nós perguntámos: ‘Mas o quê?!
600 euros a cada uma?!’ Disse-nos que não, que era a casa toda e fartou-se de
rir, tem mais casas, vive disto, diz que opta por ter pessoas de confiança a
cobrar muito."
M., 24 anos,
arrenda um T4 em Arroios por 600 euros/mês
Por indicação de
um conhecido, acabaram a visitar um apartamento ligeiramente maior, um T8, na
zona de Arroios. “Estava em obras, tinha muitas divisões, muito pequeninas. Foi
a própria senhoria que nos mostrou a casa e nos explicou as alterações que ia
fazer e onde ia abrir paredes, para ficar com quatro quartos. Na altura
disse-nos logo que a renda ia ser de 600 euros. E nós perguntámos: ‘Mas o quê?!
600 euros a cada uma?!’ Disse-nos que não, que era a casa toda e fartou-se de
rir, tem mais casas, vive disto, diz que opta por ter pessoas de confiança a
cobrar muito”, conta M. Que, juntamente com as amigas, se apressou a fechar
negócio, claro: “Há casas do mesmo género por 2.500 euros, foi mesmo um achado.
Hoje em dia tudo aquilo que vês com um mínimo de qualidade ou são Airbnb’s ou
quartos com casa de banho na Baixa por 650 euros. Cheguei a ver quartos com
beliches onde o senhorio cobrava 250 euros por cama. E uma das pessoas que vive
comigo viu marquises pelo mesmo preço”.
Ana Geraldo,
engenheira zootécnica, 35 anos, também tem histórias parecidas para contar.
Durante cinco meses, em 2016, andou à procura de casa para arrendar no centro
de Lisboa: “Todos os dias me assustava. Acho que o pior que vi foi um anúncio
de um apartamento onde conseguias estar sentada na sanita a mexer a comida no
fogão — custava 400 euros por mês. E também me lembro muito bem de um T0 + 1 na
Graça, em que o mais um era um cubículo onde cabia um guarda-fatos e mais nada,
por 500”.
Ao fim de algum
tempo, descobriu que a irmã de uma amiga também andava à procura de casa e propôs-lhe
que arrendassem juntas. Quando ela lhe respondeu que queria ir viver sozinha,
não desanimou. “Pensei mesmo: ‘Dá-lhe uns meses’. E foi o que aconteceu, em
agosto telefonou-me e começámos a procurar casa para as duas. No final de
setembro uma amiga dela disse-lhe que ia sair da casa onde vivia há seis anos
com o namorado, na Penha de França. Tinham tido um bebé e decidido comprar”.
"A senhoria
é emigrante em França, tem 40 e poucos anos e herdou a casa. O que nos explicou
foi que era mais importante para ela não ficar sem inquilinos durante alguns
meses e arrendar a pessoas de confiança do que aproveitar para subir o preço.
Até porque diz que aquele é o valor que considera justo pela casa."
Ana Geraldo, 36
anos, arrenda um T4 na Penha de França por 600 euros
Assim que entrou
no apartamento, da década de 50, com pé direito alto, quatro quartos, duas
casas de banho, cozinha com open space e uma vista sobre Lisboa e não só que
vai do Cristo-Rei ao Monte Agudo, passando pela Ponte 25 de Abril, pela
Almirante Reis e pelas Amoreiras, a engenheira zootécnica diz que se apaixonou.
Quando ouviu o preço, então, soube que era para a vida toda: 600 euros por mês,
a dividir pelas duas. “Não faço ideia de quantos metros quadrados tem, mas
demos uma festa onde estiveram 40 pessoas na sala, dá para ter mais ou menos
uma ideia do tamanho. A senhoria é emigrante em França, tem 40 e poucos anos e
herdou a casa. O que nos explicou foi que era mais importante para ela não
ficar sem inquilinos durante alguns meses e arrendar a pessoas de confiança do
que aproveitar para subir o preço. Até porque diz que aquele é o valor que
considera justo pela casa”, justifica Ana Geraldo.
O objetivo de
outra proprietária ouvida pelo Observador é que o negócio seja sustentável:
“Parece-me obsceno o caminho que isto está a tomar. E não é só no mercado de
arrendamento. Este ano, ofereceram-nos o dobro do que pagámos pela nossa casa,
na Ajuda, há apenas três anos. Custou-nos 105 mil euros, quiseram comprá-la por
210 mil. O meu marido ficou todo entusiasmado, mas onde em Lisboa é que hoje
vou conseguir comprar um T2 com arrecadação e vista de rio por 210 mil euros?! É
impossível. Isto só pode mesmo estourar.
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