"Um país de turismo é um país sem valor acrescentado."
Francisco Louçã /
Economista
"Não estamos a
aprender as lições e estamos a repetir o imobiliário. Há uma novidade: o
turismo."
João César das
Neves /Economista
Em que é que
Louçã e César das Neves concordam? Que há riscos de colapso evidentes
Margarida Peixoto
Ontem
Os dois
economistas, de pensamento ideológico bastante distinto, concordam que há
riscos evidentes de um novo colapso. Mas isso não quer dizer que estejam de
acordo em tudo.
Em que é que
César das Neves e Francisco Louçã, dois economistas de ideologias completamente
divergentes, estão de acordo? Que os riscos de um colapso económico são
evidentes. Mas isto não implica que coincidam em cada um destes riscos. Esta
terça-feira, na 2ª Conferência na Caixa – A crise financeira e a economia
portuguesa: aprendemos as lições?, os dois economistas deixaram alertas para a
economia nacional.
“As coisas estão
tão más que estamos de acordo, tirando a heresia final”, ironizou João César
das Neves, depois da intervenção de Francisco Louçã, que tinha terminado com a
“heresia” de se achar sempre que “Deus escreve direito por linhas tortas.”
Os dois
economistas destacaram a insuficiência do investimento, público e privado,
atual que não chega, tampouco, para repor o capital que vai sendo amortizado.
Ambos notaram fragilidades estruturais na economia nacional, mas divergiram no
valor que atribuem a alguns dos desenvolvimentos recentes, como é o caso do
boom do turismo. Se César das Neves aponta o crescimento deste setor como um
dos poucos elementos diferenciadores, em termos estruturais, do crescimento
português face ao período pré-crise, Francisco Louçã desconfia da sua
capacidade para melhorar definitivamente as condições do país.
Não estamos a
aprender as lições e estamos a repetir o imobiliário. Há uma novidade: o
turismo.
João César das
Neves
Economista
“Não estamos a
aprender as lições e estamos a repetir o imobiliário. Há uma novidade: o
turismo, que não estava cá e que parece relativamente sólida”, defendeu César
das Neves. “Um país de turismo é um país sem valor acrescentado”, contrapôs,
pouco depois, Francisco Louçã.
César das Neves
argumentou também que o crescimento do PIB ainda fica aquém do que seria de
esperar, dada a dimensão da recessão, que as finanças públicas estão frágeis
(com uma herança pesadíssima da dívida) e que a produtividade e a competitividade
estão aquém do necessário.
Um país de
turismo é um país sem valor acrescentado.
Francisco Louçã
Economista
Já Francisco
Louçã deu mais ênfase aos riscos internacionais por si mesmos e à forma como
podem comprometer a economia portuguesa, nomeadamente o risco de uma bolha
financeira internacional. “Temos todos os riscos para uma crise”, alertou o
ex-líder do Bloco de Esquerda.
E enunciou-os: “O
aumento das dívidas públicas, aumento dos balanços dos bancos centrais, a
redução dos preços, em função da longa recessão que nos deixou muito próximos
do perigo da deflação” e ainda “a não correspondência entre a disponibilização
de liquidez e a disponibilidade para a concessão de crédito”.
Francisco Louçã
defendeu que o euro é ele mesmo um risco, bem como a política monetária e o
esgotamento da sua margem de manobra. “O euro é um dos fatores de risco para a
nossa economia”, disse. “A política de liberalização da circulação de capitais
é ela própria um fator de risco”, frisou.
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