“Do falso e efémero ídolo do pseudo
desenvolvimento económico através da dependência total do Turismo.”
Dependência total e pseudo
“desenvolvimento económico” deste ‘maná’ diário que cai do céu para este povo Lusitano, ‘perdido no
deserto’.
Não é só Portugal físico que está a
secar através da alteração do clima e da lenta subida do norte de África a
‘trepar’ pelo Sul de Portugal. A seca através deste “Bezerro de Ouro” do
Turismo está a instalar-se nas referências culturais, na Autenticidade, na
Identidade, no Património, e irá destruir todas as características que
originalmente motivaram a vinda do Turismo. A crescente e galopante “bolha”
Imobiliária irá fatalmente rebentar .
O “estoiro” terá então um efeito de
cadeia e o cataclismo social terá proporções épicas.
Dançem então. Continuem a dançar e a
festejar em volta do Bezerro de Ouro. Do falso e efémero ídolo do pseudo
desenvolvimento económico através da dependência total do Turismo.
Não haverá Terra Prometida. Apenas
uma escravatura e uma dependência típica dos Povos que perderam a Identidade e
a Auto estima. Emigrados de si próprios e Imigrantes servis no seu próprio
País.
OVOODOCORVO
Criação de posto de turismo no Largo
do Chafariz de Dentro está a dividir Alfama
POR SAMUEL ALEMÃO • 8 JANEIRO, 2018
A Junta de Freguesia
de Santa Maria Maior vai instalar um posto de informação turística no meio do
Largo do Chafariz de Dentro, em Alfama. O projecto faz parte do plano de
actividades da autarquia para o próximo mandato e foi falado com a população,
segundo o presidente da junta, Miguel Coelho (PS). Mas Fábio Salgado, eleito
pelo Bloco de Esquerda para a Assembleia de Freguesia, garante que o tema não
chegou a ser levado a discussão pública. O que considera “muito grave”, uma vez
que se trata de uma intervenção que terá um impacto urbanístico num largo
histórico. Os moradores estão descontentes e não consideram o quiosque uma
prioridade. “Não precisamos aqui de um mono a estragar um espaço de vivência
local”, queixa-se um. Já o comércio local aplaude a ideia. Estão “cansados” de
servirem de posto de informação, dizem.
Texto: Sofia Cristino
O Largo do Chafariz
de Dentro, em Alfama, é um dos pontos de paragem obrigatórios para as excursões
de visitantes que rumam a Lisboa, todas as semanas. É, por isso, habitual
encontrarmos muitos grupos de turistas a passarem por ali, ao longo do dia.
Enquanto uns ouvem a guia turística a contar a história do chafariz do século
XIII – que dá nome ao largo -, outros vão desenhando diferentes trajectórias a
bordo de segways. A compor a paisagem estão, também, alguns dos moradores de
Alfama, a maioria de mais idade, dispersos pelos três bancos localizados no
largo. Os mais jovens ocupam as esplanadas dos cafés, muitos com imagem
renovada, numa adaptação ao crescimento acelerado da procura turística que se
fez sentir em Lisboa nos últimos quatro anos. Enquanto comentam banalidades do
dia-a-dia, observam a cenografia de um espaço que, outrora, só suscitava o
interesse dos que lá viviam, que se chegavam a banhar nas águas do chafariz.
Depois da recente
recuperação do chafariz, em outubro de 2017, uma obra que há muito se ansiava,
a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior quer instalar um posto de informação
turística no meio do largo histórico. A decisão parece não ser do conhecimento
de todos e as opiniões quanto ao avanço da mesma dividem-se, como pôde
verificar O Corvo.
Pedro Rodrigues, 42 anos, morador na Rua do Terreiro do
Trigo, não vê qualquer utilidade na instalação do posto informativo. “Não vejo
qual é a necessidade de se colocar aqui um quiosque. Não concordo que o
instalem no meio do largo, porque é um sítio de encontro e de passagem. Já tem
turistas a mais e já chegam aqui com a informação toda que precisam.
Provavelmente, estará fechado durante grande parte do tempo útil deste largo.
Não precisamos aqui de um mono a estragar”, diz, enquanto toma um café, uma das
suas rotinas depois de almoço, no bairro onde vive há oito anos. “Chateia-me
que o turismo domine a vivência da nossa freguesia. Não há um equilíbrio.
Alfama ainda é uma zona de vivência local”, queixa-se.
Ana Pereira, moradora
na Rua dos Remédios, também não concorda com a proposta da Junta de Freguesia
de Santa Maria Maior. “É um equipamento que não serve a população. Já falei com
muita gente e ninguém sabia disto, o que também não está certo. Os habitantes
deviam ter sido consultados. Por outro lado, a Junta tem espaços vazios nas
imediações e, por isso, não se compreende bem porque é que quer construir um
novo volume bem no meio do largo que já está, na minha opinião, bastante
saturado de actividades turísticas”, considera.
Alessandro Signorini,
morador na Rua do Vigário, também partilha a mesma opinião de Ana. “Parece-me
uma forma do bairro ficar, ainda mais, virado para o turismo. Não me parece uma
prioridade e vai retirar o charme do largo”, observa.
Já Alexandra Godinho,
proprietária do café Má Fama, defende que é necessário criar mais postos de
turismo na freguesia, mas, ressalva, “no meio do largo, não faz sentido”. “Faz
falta um posto de informação em Alfama, porque os turistas pedem-nos muitas
indicações e são mesmo muitos os que passam por aqui todos os dias. Mas, no
meio do largo, não me parece bem, por causa das actividades que são realizadas
aqui, como feiras e eventos, e porque também iria dificultar a passagem das
ambulâncias”, explica.
Os comerciantes da
Rua dos Remédios concordam com Alexandra Godinho. Magda Costa, proprietária da
loja Maria Mesa, que vende loiça e outros utensílios, diz que também não tinha
conhecimento da estrutura pensada para o Largo de Chafariz de Dentro, mas que
considera a ideia “fenomenal”. “Acho muito bem, porque eu sou o posto de
turismo da zona. Quando as papelarias fecham, então, vêm todos aqui pedir
informações. Perguntam-me onde há um supermercado, onde é a caixa multibanco, a
farmácia, enfim, uma série de coisas. É de mais”, desabafa.
Alexandra Rebelo, de
51 anos, queixa-se do mesmo. “Penso que um posto de turismo fazia mesmo muita
falta, porque acabo por fazer de posto de turismo muitas vezes. Dezenas de
pessoas pedem-me informações, todos os dias”, explica. A comprová-lo, surge um
turista à porta a perguntar onde é o multibanco mais próximo. “Isto é o meu
dia-a-dia”, diz a O Corvo, encolhendo os ombros. “Perguntam-me por
restaurantes, se as ruas são tranquilas, se os autocarros são seguros, ou se
podem passear à noite. Quando digo que o autocarro é completamente seguro, que
só têm de ter atenção às carteiras, ficam muito surpreendidos”, conta.
Alexandra Rebelo, que
estudou Línguas e Literaturas Modernas, pinta quadros sobre Lisboa inteira.
Alguns deles vende-os na sua loja, juntamente com outros artefactos, como
carteiras feitas à mão. Queixa-se, também, da alegada falta de cuidado da junta
em informar os habitantes e comerciantes dos projectos que tem em vista para
Alfama. “A junta não nos informa de nada, não existe um pensar do bairro no seu
todo. O presidente da junta fala mais com as pessoas idosas e, a maioria delas,
têm pouca escolaridade, não têm cultura suficiente para perceberem o que é
fundamental para o bairro. O comércio é das coisas mais importantes, não pode
estar a pôr-nos de parte”, alerta, ainda.
A instalação do Posto
de Informação Turístico no Largo do Chafariz de Dentro, em frente ao Museu do
Fado, consta no documento “Opções do Plano para 2018”, no qual se resumem as
actividades da Junta de Freguesia para próximo ano. Segundo Fábio Salgado,
eleito pelo Bloco de Esquerda para a Assembleia de Freguesia, a decisão não foi
a discussão pública e muitos habitantes não têm conhecimento da mesma. “Não
houve nenhum tipo de audição pública pela Junta de Freguesia de Santa Maria
Maior, nem tentaram perceber o que a população pretende para este largo em
específico. É muito grave, porque descaracteriza o bairro”, denuncia, em
declarações a O Corvo.
“Ainda surgiu a
hipótese de ser instalado numa das lojas da Câmara Municipal de Lisboa ou da
freguesia, junto ao largo. É uma alteração urbanística relevante, que não pode
ser tratada com superficialidade. Tem de ser debatido com a população e têm de
ser dadas alternativas para ser um debate honesto. Há formas de não ter um impacto
visual, que afastaria o próprio turismo”, acrescenta.
O presidente da Junta
de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), desmente as acusações.
“A escolha deste largo para acolher este equipamento resulta, precisamente, de
vários apelos recebidos da população de Alfama em sucessivas reuniões que
fizemos com a população, argumentando que na origem, este Largo, teve um
quiosque instalado no sítio onde agora o queremos colocar”, diz, em depoimento
escrito a O Corvo.
“Pode dizer que falou
com muita gente, mas, senão o fez publicamente, não vale de nada”, reage Fábio
Salgado. “O presidente ainda puxa pelo saudosismo, dizendo que o largo já teve
um quiosque. Não faz sentido nenhum fazer essa comparação, porque o quiosque
que existiu aqui, há mais de 30 anos, servia os locais, numa altura em que não
havia estes cafés todos. É um erro político dedicar um equipamento destes
apenas ao turismo”, considera, ainda.
Na primeira
Assembleia de Freguesia deste mandato, altura em que são aprovados o plano de
actividades e o orçamento da Junta, Fábio Salgado diz ter ficado surpreendido
por não se ter falado no posto de turismo. “Tendo em conta o processo de
gentrificação e turistificação que Alfama está a sofrer, questionei o
presidente da junta sobre o formato deste posto. A resposta foi clara: vai ser
um quiosque no meio do largo. Confrontei-o, ainda, com o facto de não ter
colocado este assunto no seu programa eleitoral, de não ter feito consulta
pública sobre uma alteração urbanística de tal nível e, portanto, de não ter
legitimidade para o fazer. O projecto pode não ser novo, mas não foi debatido.
Até mesmo durante a sua aprovação, só foi debatido porque o Bloco de Esquerda
questionou”, informa.
Miguel Coelho, por
seu turno, explica que a proposta já vem do mandato anterior, quando se
candidatou pela primeira vez à Junta de Freguesia de Santa Maria Maior. “A
instalação do quiosque para informações úteis aos visitantes da freguesia em
Alfama, no Largo Chafariz de Dentro, resulta de um compromisso eleitoral
assumido há quatro anos. A sua implementação não foi feita durante o anterior
mandato, como aliás constou dos Planos de Atividade, que foram aprovados em
reuniões das Assembleia de Freguesia de então, porque, entretanto, a CML
iniciou as obras de recuperação do Chafariz, o que, considerámos então
prioritário”, diz.
Para além do
interesse urbanístico em recuperar para o Largo “um elemento arquitectónico que
o marcou durante anos”, Miguel Coelho diz que o objetivo da instalação deste
quiosque “é poder apoiar os pequenos comerciantes, os pequenos empreendedores
turísticos do bairro, como será o caso dos ‘mediadores turísticos de bairro’,
que podem, assim, preparar visitas locais com conhecimento de causa, e também a
divulgação de inúmeras iniciativas culturais que são promovidas por associações
e coletividades locais”, explica. “São razões que, em nosso entender, mais do
que justificam este projeto”, reforça.
Fábio Salgado, por
outro lado, diz que “é uma falácia dizer que um posto de turismo ajuda os
pequenos comerciantes”. “Os pequenos comerciantes nem têm capacidade para fazer
folhetos. Os postos de turismo, por definição, são depósitos de mapas e
folhetos de grandes empresas turísticas. Pode ser importante, mas não serve o
pequeno comércio”, argumenta. Além disso, refere, “a freguesia já tem vários
postos de turismo, como os do Terreiro do Paço, Restauradores, Martim Moniz e
Santa Apolónia”. “O Museu de Fado também serve de posto de turismo, tem
actividade prática de posto de turismo”, afirma.
Segundo Miguel Coelho, o custo da instalação do quiosque
deverá rondar os cinquenta mil euros. Quanto aos postos de trabalho que o posto
de turismo poderá vir a criar, disse que “ainda é prematuro indicar quantas
pessoas ficarão afectas a esta estrutura”.
Para o eleito pelo BE
na Assembleia de Freguesia, “Alfama está a ser despida de equipamentos que
sirvam quem cá mora (como os bancos, talhos ou cafés) e não deve ser a
autarquia a criar mais equipamentos exclusivos para o turismo”.
“Numa zona que está a
sofrer um processo de grande turistificação, é um equipamento que vem promover
ainda mais essa turistificação, vem dar ainda mais ar de Disneyland a Alfama,
numa das principais entradas de Alfama. Com um quiosque, a população vê-se impedida
de usufruir do largo, que deveria ser para as pessoas. Um largo tem de ser um
largo, por isso é que se chama largo. Com as esplanadas que já existem e com a
quantidade abundante de gente que ali passa, não há espaço para um quiosque”,
considera, em declarações a O Corvo.
Fábio Salgado alerta,
ainda, para a quantidade de eventos que decorrem no Largo de Chafariz de
Dentro, como o Caixa Alfama, de concertos de fado, festivais de folclore,
feiras, entre outros, que, segundo o deputado eleito pelo BE, deixarão de se
realizar nas mesmas condições com o quiosque ali instalado. “A dinâmica do
largo mudou muito. É um largo de passagem de milhares de pessoas, é um largo de
festivais de folclore, sessões de fado, feiras regionais, etc. O quiosque pode
impossibilitar tudo isto”, conclui.
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