“O PSD que ontem se mostrou tem muito passado para discutir
e zero futuro para apresentar. Dez minutos depois, a TVI24 voltava-se para o
futebol. Ao menos aí sempre há um pouco mais de paixão. Pobre país.”
O pesadelo do PSD está quase a chegar
ao fim
Ao segundo debate na televisão,
Santana e Rio moderaram os truques mas exponenciaram a sua incapacidade para
discutir outra coisa que não seja o passado.
Manuel Carvalho
10 de Janeiro de 2018, 23:05
Se o primeiro debate televisivo entre os dois candidatos à
liderança do PSD foi comparado a um combate de boxe que acabou, de acordo com
boa parte dos analistas, numa vitória de Santana Lopes, o segundo round do
confronto mudou de modalidade e acabou num empate. Em vez de boxe houve uma
espécie de luta livre, onde o choque é menos violento, onde se ganha aos pontos
e onde há sempre menos margem para golpes baixos. Mas, chegados ao fim, há
muito pouco que se possa dizer que extravase a analogia do combate, o duelo
entre egos ou o braço-de-ferro entre passados.
Para muitos, a causa desta indigência com que o futuro do
país se resume a análises de carácter ou testes à coerência com um ligeiro
travo a Inquisição é culpa dos políticos. É-o, seguramente, em primeiro lugar.
É-o principalmente por se limitarem a apregoar lugares-comuns. Mas é-o também
porque quem conduz o debate deixa gastar 25 minutos com a biografia dos protagonistas
quando em discussão deviam estar visões para o futuro.
Rui Rio esteve melhor neste debate porque se preparou para
resistir aos truques de Santana Lopes e fez questão de levar para o confronto
os seus próprios passes de mágica com recortes de jornais. Santana Lopes é
ainda assim um político com outra inteligência táctica e com outro jogo de rins
para dizer o que disse, o que não disse ou o seu contrário. Rui Rio esforça-se
mais em falar de factos ou ideias com argumentação racional. Nos malabarismos
da luta livre, soube resistir à ofensiva dirigida à sua alegada incoerência na
avaliação do Governo de Santana ou à suposta oposição a Passos Coelho, mas foi
completamente anulado pelo seu oponente no campo em que melhor podia brilhar: o
da economia e das finanças públicas.
Lançados os dados na televisão, a imagem que sobra do
frente-a-frente é a de um vazio absoluto. Os dois candidatos criaram um
contexto banal e uma narrativa banal sobre o passado, o presente e o futuro do
país e acabaram por submergir nessa mesma banalidade. Para um militante, o que
ontem se viu na TVI só pode ser motivo de insónia, de incerteza e de
preocupação. O PSD que ontem se mostrou tem muito passado para discutir e zero
futuro para apresentar. Dez minutos depois, a TVI24 voltava-se para o futebol.
Ao menos aí sempre há um pouco mais de paixão. Pobre país.
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