Um sonho chamado
Portugal
Bernardo
Theotónio-Pereira
Novembro 30, 2015 /
Sábado
Tenho 30 anos. Dois
Filhos. Casado. Jurista, gestor e estudante. Nasci em 1985. Mais de
uma década depois do 25 de Abril de 1974.
Hoje, 41 anos depois
desse momento histórico da vida política portuguesa, continuamos
amarrados ao passado, com um Estado e um enredo político ancorado em
regras, princípios, testemunhos e argumentos de um tempo que já não
é o nosso. Muito menos o meu.
Não discuto a
relevância desse momento libertador, mas passou. É história. E
história que não vivi, como tantos outros episódios da
extraordinária História de Portugal.
Contudo, um episódio
histórico que, apesar de antigo, continua a ser vivido como se fosse
actual, através da continuada e quase perpétua permanência dos
actores políticos e personalidades da vida pública portuguesa que
se mantém activos e com responsabilidade directas ou indirectas
desde de então. Faz-me lembrar o filme para crianças À Noite no
Museu, que vi no outro dia com os meus filhos, onde algumas das
personagens da História mundial ganhavam vida nos dias de hoje.
Não faz sentido,
nem merecemos, enquanto democracia consolidada, continuarmos a viver
neste tipo de "monarquia absoluta" dos partidos políticos
e dos seus pares. Sempre iguais e sempre os mesmos.
Devido a esta
permanência abusiva na estrutura institucional do Estado, assistimos
a um descrédito na política, nos políticos e no próprio Estado,
frustrando o dever de servir a causa pública de forma isenta,
transparente e construtiva.
Servir a Pátria
deixou de ser a actividade mais nobre e de maior prestígio como foi
noutros tempos.
Sem um Estado e uma
classe política sã, despojada de interesses e negócios e focada em
servir, altruisticamente, a Pátria e os seus concidadãos por dever,
não poderemos evoluir, crescer e reassumir o nosso, sempre
relevante, papel no Mundo.
Este mesmo
descrédito também existe no sector empresarial e financeiro,
especialmente pela promiscuidade criada entre estes e os agentes do
Estado, porque, no fundo, são sempre os mesmos, trocando de lado de
ano para ano. Culminando nos inúmeros abusos existentes e na criação
de uma sociedade consumista, irreal, onde todos podem ter tudo mesmo
não tendo capacidade para tal; e onde o ter é a razão de ser e
objectivo de vida, esquecendo o importante: o valor das pessoas, das
famílias, do trabalho, das coisas e o saber-fazer.
Para além de tudo
isto, vivemos sem bússola, sem destino e sem aquilo que deveria ser
uma "Missão Estratégica Nacional" clara, objectiva, que
nos guie e defina. Uma missão com a qual todos nos revejamos e que
saibamos que Nação, Pátria e País somos e queremos ser. Uma
auto-definição essencial em qualquer organização de pessoas e
instituições – como é o próprio Estado – especialmente, num
mundo global, sem fronteiras e, violentamente, competitivo e
concorrencial como o nosso.
Por tudo isto, digo
que hoje somos um Estado velho, em processo de decomposição, e um
Estado vazio de estratégia, de ideias, de ideais, de líderes
genuínos, de princípios, de valores, de causas, de políticos
isentos e altruístas e de pessoas (somos cada vez menos pessoas).
Com a actual
conjuntura política, social e económica, não tenho dúvidas da
necessidade de mudança e de renovação. Precisamos que as novas
gerações se assumam, com coragem, e percebam o dever e a
responsabilidade que têm nesta mudança e na necessidade de servir
em prol do bem comum, do desenvolvimento real e de um futuro melhor.
E não nos venham
com o preconceito da idade ou da inexperiência. Se assim for
importará lembrar os inúmeros exemplos históricos de "jovens"
que ousaram e mudaram o mundo, construíram nações e incentivaram
os seus povos com cerca de 30 ou 40 anos, como: i) Jesus que morre
aos 33 anos deixando um testemunho e um legado à Humanidade que
ainda hoje é incomensurável, ii) D. Afonso Henriques, Rei de
Portugal com 34 anos, após vários desafios como a batalha de São
Mamede em 1128, com 19 anos; iii) Infante D. Henrique, que engendra a
primeira iniciativa dos "Descobrimentos Portugueses" com 20
anos; iv) Vasco da Gama que foi o Capitão-Mor na expedição até à
Índia com 28 anos – que resultou no Caminho Marítimo para Índia;
v) Pedro Alvares Cabral que liderou a expedição para a descoberta
do Brasil com 32 anos; vi) Fernando Pessoa que cria os heterónimos
Álvaro Campos, Ricardo Reis e Aberto Caeiro com 26 anos, depois de
ter ganho o prémio Rainha Vitória em Inglaterra com apenas 15 anos;
vii) O Professor Adriano Moreira, Ministro do Ultramar com 39 anos;
viii) General Ramalho Eanes que avança, sem mais, sem medo e sem
obrigação para reorganizar Portugal a 25 de Novembro de 1975, com
39 anos; ix) Jaime Gama que foi ministro da Administração Interna e
Ministro dos Negócios Estrangeiros com 31 e 33 anos,
respectivamente; e; x) Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do Mundo
da actualidade desde dos 23 anos; entre tantas outras referências
Portuguesas.
É por estas e
outras razões que precisamos de rasgar, mudar e de acreditar em
Portugal e nos portugueses. E sem medos, definir a "Nova Missão
Estratégica Nacional" nesta era do globalismo, como nos tem
lembrado tantas vezes o Senhor Professor Adriano Moreira.
Precisamos de
sonhar, de ousar com liberdade e de nos deixarmos levar pelo sonho,
que ainda hoje é, Portugal.
Basta querer.
Vamos a isso!
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Bernardo
Theotónio-Pereira é jurista e professor convidade da NOVA School of
Business & Economics
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