terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Obras estão quase prontas, mas a CML ainda não sabe o que fazer com o Capitólio


Obras estão quase prontas, mas a CML ainda não sabe o que fazer com o Capitólio

JOSÉ ANTÓNIO CEREJO 15/12/2015 – PÚBLICO

Seis anos depois do início dos trabalhos, ainda não está definido o modelo de gestão nem de programação do teatro. Salgado anunciou o fim da obra para este mês, mas o concurso para o mobiliário e equipamentos ainda não foi aberto.

A poucas semanas da data anunciada para a conclusão das obras do Teatro Capitólio, e seis anos depois do prazo inicialmente previsto para a reconstrução do imóvel, a Câmara de Lisboa ainda não decidiu como é que ele vai ser gerido, nem aquilo que lá vai ser feito. E nem sequer foi lançado o concurso para o fornecimento dos equipamentos e mobiliário.

No Parque Mayer, a vida parece estar a voltar. As emblemáticas colunas que marcam a entrada do recinto estão a ser recuperadas; o parque de estacionamento que a EMEL ali vai instalar — no terreno do recentemente demolido e há muito encerrado Teatro ABC — está quase pronto; e o Capitólio está praticamente reconstruído.

Já o arruinado Teatro Variedades, cuja recuperação António Costa prometeu em Março de 2013 para o final desse mesmo ano, tem finalmente as obras a concurso desde o dia 9 deste mês. E o Maria Vitória, o único que se mantém em actividade, está de cara lavada.
Sinal de que o fim está perto, as icónicas letras que compõem o nome do Capitólio e se desenvolviam na vertical a meio da fachada do teatro projectado em 1925 pelo arquitecto Luis Cristino da Silva já foram recolocadas no seu lugar. A parte de construção civil da obra de reabilitação concebida pelos arquitectos Manuel Aires Mateus e Alberto de Souza Oliveira — na sequência de um concurso de ideias lançado pela câmara em 2008 — está quase pronta.

Porém, aquisição e montagem do mobiliário e dos equipamentos, designadamente de som e de iluminação, ainda não foi adjudicada. Melhor dizendo: os respectivos concursos ainda nem foram lançados, segundo confirmou ao PÚBLICO, nesta segunda-feira, o Departamento de Comunicação da câmara.

Apesar disso, vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, anunciou no dia 10 do mês passado, na Assembleia Municipal de Lisboa, que tudo estaria pronto até ao fim deste ano. Afinal era só mais uma promessa para esquecer. Uma das muitas que aos longo dos últimos 20 anos têm marcado a atribulada história do Parque Mayer e dos sucessivos projectos que para li têm sido anunciados e aprovados.

Na semana passada, a câmara confirmou-o por escrito, através da sua Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC). Em resposta ao PÚBLICO informou que o espaço ficará pronto “no início de 2016”. Mais do que a indefinição temporal desta fórmula, que desmente Manuel Salgado, a resposta da autarquia mostra que continua a não haver qualquer prazo credível para a devolução do Capitólio à cidade.

“No início de 2016, o espaço Capitólio ficará pronto, estando a Câmara Municipal de Lisboa a definir o respectivo modelo de gestão e programação, que oportunamente anunciará”, diz a EGEAC. Esta foi a única resposta dada a várias perguntas relacionadas com a concessão ou não da exploração da sala, com a eventual entrega da sua gestão à própria EGEAC, com a data da sua abertura, ou com a realização, ou não, de um concurso público para o lugar de director do futuro teatro municipal.

Completamente a zero, quanto a informações sobre o futuro de uma sala cuja recuperação foi iniciada há quase sete anos e deverá custar perto de 10 milhões de euros (não se conhecem os números finais) estão também a Junta de Freguesia de Santo António — em cujo território se situa o teatro — e vários profisssionais de teatro contactados pelo PÚBLICO. “Está tudo no segredo dos deuses”, diz Vasco Morgado, o presidente da junta, que é também neto do empresário homónimo que durante anos explorou a sala nos tempos áureos do Parque Mayer.

Mas sabe alguma coisa sobre a forma como a casa vai ser gerida, sobre a utilização que lhe vai ser dada? “É um assunto tabu”, insiste o autarca, lamentando que a câmara nada diga sobre os seus projectos para o Capitólio. “Se eu fosse presidente da Câmara de Lisboa, o Parque Mayer estaria nas minhas mãos. É um espaço demasiado importante para a cidade de Lisboa para estar disperso por vários vereadores”, acrescenta.

No início deste ano, Vasco Morgado defendeu uma solução para o Parque Mayer que passaria pela criação de uma “aldeia cultural” onde seriam instalados os museus do Teatro e do Brinquedo e as escolas de Música, Dança, Teatro e Cinema. A ideia, no entanto, não encontrou qualquer eco no Paços do Concelho. Quanto ao Capitólio, as dúvidas do autarca são conhecidas há muito e prendem-se com a viabilidade da exploração comercial de uma sala com poucas centenas de lugares. Por agora diz apenas que está à espera de ver o que é que a câmara lá vai fazer.

Igualmente a Leste de tudo o que poderá vir a ser o futuro do Capitólio mostra-se Jorge Silva Melo, o encenador do Teatro da Politécnica. Instalado há vários anos no perímetro da antiga Faculdade de Ciências e do Jardim Botánico, espaços e entidades cuja articulação com o Parque Mayer é uma das linhas de orientação do plano Manuel de Mateus, o Teatro da Politécnica poderia ter a chave dos segredos que a câmara não quer desvendar — ou que nem sequer tem. Mas não. “Não sei de nada!”, exclama Silva Melo.

Aqui há uns dois anos, recorda, ouviu dizer que ia ser lançado um concurso para a gestão da sala, mas nunca mais se falou nisso. Em todo o caso, a solução também não lhe parece fácil. “Aquilo será incomportável até em termos de custos de manutenção”, observa, referindo-se ao reduzido número de lugares e à natureza dos equipamentos a instalar.


Por parte da câmara, o pouco que se adianta são seis linhas. “A sala do Capitólio permite o acolhimento de todos os espectáculos na área das artes performativas. Está em causa um espaço polivalente, com a possibilidade de quase total abertura para o exterior. A plateia, com uma capacidade para 400 lugares sentados, tem como característica singular ser amovível. O Capitólio tem ainda um terraço ao ar livre de 350 lugares que contempla um palco preparado para acolher teatro, cinema ao ar livre e cafés-concerto.”

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