Entrevista
a Paulo Morais, candidato a Presidente da República
“Se
não me candidatasse, emigrava”
ALEXANDRA SIMÕES DE ABREU
Texto
EXPRESSO online
Com a bandeira do
combate à corrupção bem levantada, o candidato que vive no Porto e
já militou no PSD não tem dúvidas de que vai conseguir um bom
resultado e chegará à segunda volta. Se isso não acontecer, votará
em branco. Crítico do atual Presidente da República, diz que será
muito fácil fazer melhor do que Cavaco e que exigirá o cumprimento
da Constituição.
Ainda é militante
do PSD?
Não. Fui militante
desde os 18 anos até há dois anos. Quando percebi que Passos Coelho
estava a fazer o contrário do que tinha prometido no seu programa,
quando percebi que este PSD já não tinha emenda, decidi sair. E não
vejo ninguém no PSD que possa restaurar a sua matriz
social-democrata original.
Quem simbolizava
essa matriz e quando é que ela se perdeu?
O distanciamento
começa-se a acelerar a partir do segundo mandato de Cavaco Silva. A
machadada final é dada por Passos Coelho. A minha saída da câmara
do Porto tem a ver com uma divergência do caminho do PSD,
nomeadamente quanto ao fim da dependência do financiamento
partidário dos promotores imobiliários, que eu defendia.
Porque escolheu a
via das presidenciais para se manter na vida política?
Onde é que se
combate a corrupção em Portugal? Na política. Depois de uma
profunda reflexão, em que falei com muita gente que tem informação
sobre esta matéria, concluí que o combate à corrupção, sendo um
combate transversal, que vai ao poder executivo, ao poder legislativo
e ao judicial, só pode ser feito na Presidência da República.
Como é que um PR
pode acabar com a corrupção?
Se for eleito, logo
no primeira dia convoco o Parlamento para definir uma estratégia
global de combate à corrupção. Criarei também uma unidade de
missão para avaliar todos os grandes negócios do Estado nos últimos
dez anos, em particular as Parcerias Público Privadas (PPP) de
Sócrates e as privatizações de Passos Coelho. Repondo a equidade
dos negócios, em alguns casos, serão os privados a pagar
indemnizações ao Estado. Se no Orçamento do Estado (OE) que me
chega às mãos em setembro de 2016 se mantiverem pagamentos ilegais
às PPP de milhares de milhões de euros, são vetados. Se mantiverem
isenções de IMI aos fundos de investimento imobiliários, que são
inconstitucionais, são vetados.
O acordo que levou à
formação deste Governo é sólido e aguentará quatro anos?
Se eu for PR e o PS,
o Bloco de Esquerda e o PCP cumprirem a Constituição e alterarem
toda a legislação inconstitucional, pela minha parte podem lá
estar o tempo todo.
Acredita mesmo que
vai chegar à Presidência da República?
Só me candidatei
porque achei que havia essa possibilidade. Acho que vou ter um
excelente resultado. Sou candidato ao serviço de um conjunto de
ideias. Não quero ser PR para ir viver para um palácio com a
família. Aliás, nunca iria. Os palácios, a pompa a circunstância,
a primeira dama, os banquetes são manifestações monárquicas
inaceitáveis num regime republicano. Comigo isso acaba.
Acaba também com as
viagens com comitivas de empresários?
As missões
empresariais promovidas pelo Estado não são mais do que tráfico de
influências que existem em Portugal, exportado. Para fazer negócio
internacional ninguém melhor que os próprios empresários. O Estado
não tem que se meter nessa matéria.
Se não conseguir
passar à segunda volta, votará em Marcelo ou noutro candidato?
Votaria em branco.
Ainda assim, com
qual ou quais dos candidatos sente maior afinidade?
O que tem uma
candidatura apesar de tudo menos hipotecada aos partidos é Henrique
Neto.
Insiste em fazer uma
campanha sem arruadas, jantaradas, bandeiras...
Há coisas que não
faço. Uma delas é contratar influenciadores da comunicação
social. Não tenho agências de comunicação. A minha campanha é de
combate de ideias, só faz sentido que existam instrumentos que
ajudem esse debate. Quero conquistar votos com ideias, não com
circo. Por isso, o meu orçamento final ficará abaixo dos 100 mil
euros.
Será um PR muito
mais interventivo do que Cavaco Silva?
(gargalhada) Não
quero ser indelicado, mas o seu mandato foi muito mau por isso será
muito fácil fazer melhor do que Cavaco. Serei um presidente
interventivo diariamente em duas questões: na defesa dos princípios
constitucionais e no combate aos privilégios que destroem a
sociedade portuguesa.
Corre o risco de ser
um foco de instabilidade...
Não há nada mais
estável do que um pântano. E a política portuguesa é um pântano.
Comigo a primeira figura da política portuguesa é o PR, que é o
que está definido em termos protocolares e na Constituição.
Como reagiu a sua
família quando decidiu candidatar-se?
Percebeu que estou
naquela fase em que só tenho duas hipóteses: ou ajudo a salvar o
país ou salvo-me eu do país e vou-me embora. Se eu não tivesse
feito isto, tinha emigrado para França. Portugal foi o país que, de
2000 a 2010, mais piorou a sua situação no mundo em termos de
transparência. Não quero assistir ao meu país a tornar-se a
Albânia da Europa.
Sem comentários:
Enviar um comentário