domingo, 20 de dezembro de 2015

“Se não me candidatasse, emigrava” / Entrevista a Paulo Morais, candidato a Presidente da República


Entrevista a Paulo Morais, candidato a Presidente da República

Se não me candidatasse, emigrava”

ALEXANDRA SIMÕES DE ABREU
Texto
EXPRESSO online

Com a bandeira do combate à corrupção bem levantada, o candidato que vive no Porto e já militou no PSD não tem dúvidas de que vai conseguir um bom resultado e chegará à segunda volta. Se isso não acontecer, votará em branco. Crítico do atual Presidente da República, diz que será muito fácil fazer melhor do que Cavaco e que exigirá o cumprimento da Constituição.

Ainda é militante do PSD?
Não. Fui militante desde os 18 anos até há dois anos. Quando percebi que Passos Coelho estava a fazer o contrário do que tinha prometido no seu programa, quando percebi que este PSD já não tinha emenda, decidi sair. E não vejo ninguém no PSD que possa restaurar a sua matriz social-democrata original.

Quem simbolizava essa matriz e quando é que ela se perdeu?
O distanciamento começa-se a acelerar a partir do segundo mandato de Cavaco Silva. A machadada final é dada por Passos Coelho. A minha saída da câmara do Porto tem a ver com uma divergência do caminho do PSD, nomeadamente quanto ao fim da dependência do financiamento partidário dos promotores imobiliários, que eu defendia.

Porque escolheu a via das presidenciais para se manter na vida política?
Onde é que se combate a corrupção em Portugal? Na política. Depois de uma profunda reflexão, em que falei com muita gente que tem informação sobre esta matéria, concluí que o combate à corrupção, sendo um combate transversal, que vai ao poder executivo, ao poder legislativo e ao judicial, só pode ser feito na Presidência da República.

Como é que um PR pode acabar com a corrupção?
Se for eleito, logo no primeira dia convoco o Parlamento para definir uma estratégia global de combate à corrupção. Criarei também uma unidade de missão para avaliar todos os grandes negócios do Estado nos últimos dez anos, em particular as Parcerias Público Privadas (PPP) de Sócrates e as privatizações de Passos Coelho. Repondo a equidade dos negócios, em alguns casos, serão os privados a pagar indemnizações ao Estado. Se no Orçamento do Estado (OE) que me chega às mãos em setembro de 2016 se mantiverem pagamentos ilegais às PPP de milhares de milhões de euros, são vetados. Se mantiverem isenções de IMI aos fundos de investimento imobiliários, que são inconstitucionais, são vetados.

O acordo que levou à formação deste Governo é sólido e aguentará quatro anos?
Se eu for PR e o PS, o Bloco de Esquerda e o PCP cumprirem a Constituição e alterarem toda a legislação inconstitucional, pela minha parte podem lá estar o tempo todo.

Acredita mesmo que vai chegar à Presidência da República?
Só me candidatei porque achei que havia essa possibilidade. Acho que vou ter um excelente resultado. Sou candidato ao serviço de um conjunto de ideias. Não quero ser PR para ir viver para um palácio com a família. Aliás, nunca iria. Os palácios, a pompa a circunstância, a primeira dama, os banquetes são manifestações monárquicas inaceitáveis num regime republicano. Comigo isso acaba.

Acaba também com as viagens com comitivas de empresários?
As missões empresariais promovidas pelo Estado não são mais do que tráfico de influências que existem em Portugal, exportado. Para fazer negócio internacional ninguém melhor que os próprios empresários. O Estado não tem que se meter nessa matéria.

Se não conseguir passar à segunda volta, votará em Marcelo ou noutro candidato?
Votaria em branco.

Ainda assim, com qual ou quais dos candidatos sente maior afinidade?
O que tem uma candidatura apesar de tudo menos hipotecada aos partidos é Henrique Neto.

Insiste em fazer uma campanha sem arruadas, jantaradas, bandeiras...
Há coisas que não faço. Uma delas é contratar influenciadores da comunicação social. Não tenho agências de comunicação. A minha campanha é de combate de ideias, só faz sentido que existam instrumentos que ajudem esse debate. Quero conquistar votos com ideias, não com circo. Por isso, o meu orçamento final ficará abaixo dos 100 mil euros.

Será um PR muito mais interventivo do que Cavaco Silva?
(gargalhada) Não quero ser indelicado, mas o seu mandato foi muito mau por isso será muito fácil fazer melhor do que Cavaco. Serei um presidente interventivo diariamente em duas questões: na defesa dos princípios constitucionais e no combate aos privilégios que destroem a sociedade portuguesa.

Corre o risco de ser um foco de instabilidade...
Não há nada mais estável do que um pântano. E a política portuguesa é um pântano. Comigo a primeira figura da política portuguesa é o PR, que é o que está definido em termos protocolares e na Constituição.

Como reagiu a sua família quando decidiu candidatar-se?

Percebeu que estou naquela fase em que só tenho duas hipóteses: ou ajudo a salvar o país ou salvo-me eu do país e vou-me embora. Se eu não tivesse feito isto, tinha emigrado para França. Portugal foi o país que, de 2000 a 2010, mais piorou a sua situação no mundo em termos de transparência. Não quero assistir ao meu país a tornar-se a Albânia da Europa.

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