Krugman
aconselha cuidado a Portugal na subida do salário mínimo
SÉRGIO ANÍBAL
14/12/2015 - PÚBLICO
O
economista norte-americano disse que já é tarde para voltar atrás,
pelo que o melhor é “reparar o euro”. A Portugal, neste cenário,
sugere cuidado na aplicação de medidas como o aumento do salário
mínimo.
Uma vez que não vai
nem deve sair do euro, Portugal deve ser cuidadoso nas políticas
económicas que aplica, como por exemplo o aumento do salário
mínimo, num cenário em que o projecto da moeda única continua a
apresentar falhas graves que precisam de ser resolvidas ao nível da
zona euro. A mensagem foi deixada esta segunda-feira por Paul Krugman
na conferência de homenagem a José da Silva Lopes organizada em
Lisboa pelo Banco de Portugal.
O economista
norte-americano, que nos anos setenta do século passado esteve com
outros alunos do MIT em Portugal a convite do antigo governador do
Banco de Portugal, lembrou uma frase que Silva Lopes usava com
frequência quando ouvia recomendações de política económica que
não considerava viáveis politicamente: “É uma boa ideia, mas
isso seria impossível”.
O mesmo tipo de
resposta dá agora Krugman quando colocado perante a hipótese de
alguns países da zona euro poderem ter vantagens em sair do euro.
“Imaginemos que decidimos que vários países deveriam sair do
euro, o que é que fazíamos com os bancos, com os depósitos
bancários? As pessoas odeiam a austeridade, mas adoram o euro e
nunca querem ver a sua moeda a desvalorizar”, afirma o prémio
Nobel da Economia.
Por isso, apesar de
considerar que “o ideal seria não se ter tomado a decisão de
entrar na moeda única”, Krugman considera que, em geral e
especificamente para o caso português, “não é produtivo” estar
a pensar numa saída, porque, “como diria Silva Lopes, isso é
impossível”.
O economista prefere
pensar antes “no que pode ser feito que não é impossível” e
que pode servir para “reparar o euro”.
Paul Krugman deixou
na sua intervenção na conferência três principais sugestões. A
primeira é que a zona euro deve avançar definitivamente para “uma
verdadeira união bancária”. Recentemente, a zona euro avançou
para a criação de um supervisor bancário comum e para a aplicação
de regras de resolução únicas. No entanto, ainda não existe um
fundo comum para a resolução de bancos ou um seguro de depósito
único. Para Krugman, avançar rapidamente nestas áreas é “algo
que é óbvio que se deve fazer”. ”Fazer com que salvar os bancos
seja uma responsabilidade nacional é uma loucura”, afirma.
A segunda sugestão
do prémio Nobel para a zona euro é uma maior integração
orçamental. No entanto, Paul Krugman fez questão de esclarecer que
quando fala de integração orçamental não é com o mesmo sentido
de muito políticos europeus, que pedem o cumprimento dos limites do
défice por todos os países “o que que às vezes até tem efeitos
negativos”. O que o economista quer dizer com integração é antes
a situação em que as pessoas dos vários países pagam um imposto
comum, que depois financia programas de despesa comuns. Por exemplo,
a criação de uma rede de segurança europeia a nível social.
Em terceiro lugar,
Krugman considera essencial a aplicação de uma política monetária
na zona euro que faça com que a inflação não seja tão baixa,
porque isso tornaria os ganhos de competitividade menos difíceis de
alcançar.
Ao centrar-se nestas
soluções a nível europeu numa tentativa de “reparar o euro”,
Paul Krugman deixou muito poucas soluções concretas para Portugal.
O economista diz que
o país vive “uma situação muito difícil”, com “desemprego
muito alto e que ainda seria maior se não fossem as pessoas que
emigraram”, para além de um ritmo de crescimento baixo.
Ainda assim, disse,
Portugal está longe do caso extremo que é a Grécia e, por isso,
uma saída do país do euro não é sugerida. “Para a Europa, é
muito melhor reparar o euro, do que deixar um país entrar numa
situação de desespero, em que acabe por sair”, disse.
Isso significa que,
entretanto, Portugal tem de adaptar as suas políticas económicas à
realidade de se manter numa união monetária, sem possibilidade de
desvalorização da divisa como aconteceu nos anos 70.
Questionado sobre
políticas como a subida do salário mínimo em Portugal, Paul
Krugman começou por lembrar que é “um grande apoiante da subida
do salário mínimo” no seu país, mas assinalou que os EUA têm
uma moeda própria. Para Portugal, adoptar a mesma política “é
problemático”. “É preciso ter cuidado. Uma vez que não se vai
sair do euro, é preciso ter cuidado com as políticas que são
seguidas”, defendeu.
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