CP quer alugar pela primeira vez comboios de longo curso a Espanha |
CP
quer alugar pela primeira vez comboios de longo curso a Espanha
As
actuais dez composições que a companhia ferroviária possui não
chegam para responder ao aumento da procura nos pendulares, que
prestam serviço no eixo Braga-Faro. Solução é recorrer ao aluguer
Solução
da CP ainda terá de ser aceite pelo Governo. Procura pelos
pendulares cresceu 4,5% entre 2013 e 2015
Carlos Cipriano /
26-12-2015 / PÚBLICO
O aluguer de
comboios S-120 à Renfe é a medida proposta pela CP para fazer face
à crescente procura do longo curso que tem vindo a ter nos últimos
anos e para a qual a frota dos pendulares começa a revelar-se
escassa.
A transportadora
pública possui dez comboios pendulares que prestam serviço no eixo
Braga-Faro. Em condições normais de exploração, um deverá estar
em oficina para manutenção, mas cada vez mais a CP recorre à
totalidade da frota para fazer face aos picos de procura dos
fins-de-semana e nos períodos de ponta do Verão.
A situação vai
agravar-se quando, a partir de Março, tiver início a revisão de
meia vida dos pendulares, que prevê, para além da substituição de
peças e componentes (estes comboios datam de 1998), uma profunda
alteração no seu layout, com novos assentos, novas cores e um
interiorismo diferente do actual. Contudo, isso implica que nos
próximos dois anos haja pelo menos uma composição em oficina
durante uns meses.
Com nove comboios, a
CP ainda consegue assegurar a sua oferta regular, mas basta um
pequeno incidente que imobilize uma das composições para que a
empresa tenha de suprimir serviços ou assegurá-los com outro tipo
de material circulante de categoria inferior.
A solução passa
por alugar quatro ou cinco comboios de alta velocidade ao país
vizinho. Trata-se dos S-120, construídos pela CAF e Alstom em 2005,
capazes de circular a 250 Km/ hora e dotados de bitensão, isto é,
podendo circular na rede electrificada portuguesa e espanhola. São
também comboios bibitola, o que significa que podem circular em
bitola ibérica e bitola europeia, se bem que, no caso português,
isso é indiferente, uma vez que em Portugal só há uma bitola. São
compostos por quatro carruagens, o que permite fazer composições de
oito veículos (os pendulares só têm seis carruagens). Estes
comboios funcionam actualmente em Espanha nos eixos
Gijón-Oviedo-Léon/Irún, Irún-Barcelona via Pamplona, Sevilha-Jaén
e Sevilha-Córdova.
A medida terá de
ser ainda aceite pelo novo Governo, a quem a CP terá de convencer
que, sem material novo, vai ter de fazer uma diminuição na sua
oferta de longo curso, utilizando material circulante menos moderno e
confortável. A seu favor tem os números dos últimos anos. Entre
2013 e 2015 a procura no longo curso subiu de 4,48 para 5,25 milhões
de passageiros (valor estimado, uma vez que só há registos até
Novembro deste ano), o que representa um crescimento de 17,2%. Neste
período, o serviço que mais cresceu percentualmente foi o Alfa
Pendular, com 21,6%, tendo os Intercidades crescido 14,8%.
Num negócio muito
sujeito à sazonalidade, é entre Maio e Outubro que os comboios de
longo curso registam mais procura (todos com mais de 400 mil
passageiros por mês) com picos de meio milhão em Julho e Agosto.
Segundo a CP, o
melhor mês de sempre do Alfa Pendular foi o de Julho deste ano, com
194 mil passageiros transportados (num daqueles dias em que as
oficinas de manutenção ficaram vazias porque toda a frota esteve a
circular). E o máximo diário foi atingido em 25 de Setembro de 2015
com os pendulares a transportarem 7540 passageiros.
“O material é o
que é. A infra-estrutura é que a é. Por isso estamos a tentar o
limite com a frota que temos, manipulando a única variável que
temos à disposição, que é a captação de mais passageiros”,
diz o presidente da CP, Manuel Queiró.
O recurso aos
comboios espanhóis não é inédito, uma vez que a CP desde 2010 que
paga cinco milhões de euros por ano pelo aluguer de automotoras a
diesel para o serviço regional. Uma solução que começou por ser
provisória, enquanto não se electrificam as linhas, mas que tende a
tornar-se definitiva face ao adiamento desses investimentos por parte
da Infraestruturas de Portugal.
Três anos de
atraso
A revisão da meia
vida dos pendulares deveria ter começado em 2012, mas tem vindo a
ser sucessivamente adiada. Em Abril de 2014, Manuel Queiró dizia:
“Vamos iniciar, no final deste ano, o processo de revisão de meia
vida desses comboios e ao longo de 2015 tê-los-emos todos
modificados”. E acrescentava: “Será uma revisão profunda que
implica alterações no próprio habitáculo e no aspecto exterior.
Na percepção do público será quase como um novo comboio”.
O processo de
privatização da EMEF veio, porém, emperrar o projecto. O Tribunal
de Contas não aceitou o contrato feito entre a CP e a sua empresa
afiliada que iria mudar de mãos. Só quando o Governo desistiu da
privatização da EMEF é que a CP voltou a ter autorização para
fechar o negócio com a empresa de que é, simultaneamente,
accionista e cliente. Segundo Manuel Queiró, a revisão da meia vida
dos pendulares custará 19 milhões de euros e terá início em
Março.
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