EDITORIAL
Os
avisos do PCP
DIRECÇÃO EDITORIAL
15/12/2015 - PÚBLICO
Manter
o Governo sob pressão para obter ganhos de causa.
Se dúvidas
houvesse, António Costa já deve ter percebido por esta altura que
não vai ser nada fácil gerir o tipo de relação que acordou com o
PCP. Entre juramentos de fidelidade ao documento assinado com os
socialistas e avisos sobre até onde poder ir o máximo denominador
comum da “convergência” e do “compromisso” estabelecido
entre ambas as partes, quase não há dia em que os comunistas não
venham a terreiro lembrar que não desejam ser propriamente incluídos
no rol de apoiantes do actual Governo. Sempre com o cuidado de
desdramatizar as “divergências” e garantindo que, se tal
acontecer, não estará “em causa a solução governativa
encontrada”. O PCP ainda não percebeu que, nesta altura do
campeonato, essa é uma responsabilidade que já não está em
condições de descartar, mas insiste em prevenir qualquer acusação
futura sobre o destino mais ou menos adverso do executivo minoritário
do PS. Foi isto que Jerónimo de Sousa fez, mais uma vez, este
fim-de-semana, no final da reunião do comité central, quando frisou
que a reposição integral dos salários na função pública é uma
questão “sagrada” e “de princípio”.
O guião seguido
pelo PCP é sempre o mesmo: primeiro a reivindicação, depois o
aviso e logo a seguir a desdramatização do permanente equilíbrio
instável em que vive o Governo de António Costa. Ora, é impossível
que iniciativas legislativas como a reversão da concessão dos
transportes suburbanos de Lisboa e Porto a privados, a subida do
salário mínimo para 600 euros ou a abolição das portagens em
várias ex-Scut não tenham um significado político para além do
mero sinal de prova de vida por parte de um partido acossado pelo
inesperado sucesso do juvenil Bloco de Esquerda. Pelo contrário,
depois de ter arriscado a entrada por território desconhecido, o PCP
sabe que a sua sobrevivência depende da boa gestão de uma relação
que tem de durar o tempo suficiente para justificar a saída da sua
zona de conforto. E isso significa obter o máximo de ganhos de
causa.
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