ISCTE
quer ter uma das 20 melhores escolas de turismo do mundo
INÊS BOAVENTURA
23/12/2015 - PÚBLICO
O
projecto, que inclui a construção de dois hotéis na Cidade
Universitária, em Lisboa, é contestado pelo PCP, que entende que o
ensino não deve ser colocado "ao serviço da hotelaria".
Também dentro do ISCTE há vozes contra.
Depois de vários
adiamentos, o Pedido de Informação Prévia do ISCTE para a
construção de dois hotéis na Avenida das Forças Armadas foi
aprovado nesta quarta-feira pela Câmara de Lisboa, com a oposição
do PCP. A ambição deste projecto, que não é consensual dentro do
Instituto Universitário de Lisboa, é criar em Portugal uma “escola
universitária de referência mundial” na área do turismo.
Isso mesmo é dito
numa informação escrita que o reitor do ISCTE enviou à câmara,
depois de se terem feito ouvir na praça pública várias vozes
contra a operação urbanística proposta. Além de duas unidades
hoteleiras, uma de três e outra de cinco estrelas, o projecto
contempla a construção de um edifício destinado a “investigação
e formação”, “equipado com laboratórios e cozinhas de topo”.
Tudo isto no terreno onde está hoje instalada a sede do Instituto da
Mobilidade e dos Transportes (IMT).
Nessa informação,
à qual o PÚBLICO teve acesso, o reitor aponta o turismo como “um
dos sectores nevrálgicos da nossa economia” e sublinha que “o
ensino nesta área é quase na sua totalidade desenvolvido em escolas
profissionais e politécnicas, não tendo Portugal nenhuma escola
universitária de referência mundial”.
“Não há nenhuma
razão inteligível para que Portugal não tenha uma escola nesta
área que se afirme entre as principais escolas mundiais na formação
pós-graduada”, acrescenta Luís Reto. Para o reitor, a dimensão
do sector do turismo e os recursos universitários existentes “exigem
que tenhamos uma escola entre as 20 escolas mundiais neste sector,
atraindo estudantes internacionais e, em particular, dos países de
expressão portuguesa”.
Além disso, Luís
Reto diz que na gastronomia, uma “área complementar à gestão de
hotelaria”, “Portugal ainda apresenta mais carências de formação
do que na área do Turismo”. Por isso, justifica, o projecto
apresentado pelo instituto “prevê a formação em gastronomia, a
nível internacional, tendo o ISCTE já registado a marca Lisbon
Culinary Center para esse efeito”.
Quanto aos hotéis,
o reitor explica que eles permitirão um “treino intensivo dos
alunos” e acrescenta que um deles (o de três estrelas, que é
referido no projecto como hotel/residência de estudantes) terá
“preços acessíveis para professores e investigadores, visitantes,
alunos Erasmus e para a formação de executivos internacionais”.
Segundo Luís Reto, estes equipamentos serão entregues, por
“contratualização”, a um “grupo hoteleiro que ganhar o
concurso público internacional”.
Lembrando que o
terreno actualmente ocupado pelo IMT foi adquirido há quatro anos
“com receita própria” do ISCTE, o reitor admite que este “não
tem qualquer possibilidade financeira para construir o novo edifício
[o de “investigação e formação”] com meios próprios, pelo
que irá alienar parte do património adquirido por permuta de
construção do novo edifício escolar”.
Os argumentos de
Luís Reto parecem ter convencido a maior parte dos eleitos da
câmara. Entre eles o vereador António Prôa, que há duas semanas
tinha dito ao PÚBLICO que via como “muito estranha” a ideia de
uma instituição de ensino superior querer dedicar-se ao negócio da
hotelaria.
Esta quarta-feira,
depois de se ter reunido com o reitor do ISCTE e de ter analisado as
informações por ele enviadas, o autarca do PSD estava já rendido
ao projecto. “Parece-nos uma boa iniciativa, que qualifica a
cidade, e um bom contributo para o país e para elevar a sua oferta
turística”, sustenta António Prôa, considerando que está em
causa “um projecto de excelência na área da hotelaria”.
Quem não ficou
convencido foi o vereador Carlos Moura. “Não achamos que o ensino
deva ser colocado ao serviço da hotelaria”, diz o autarca do PCP,
manifestando-se também contra o facto de os novos hotéis irem
surgir “dentro da Cidade Universitária, um espaço que deve ser
dedicado ao ensino superior”.
No próprio ISCTE
este projecto não é pacífico, como se percebe nos artigos de
opinião de Rui Pena Pires, professor, e de Nuno David e Margarida
Santos, membros do Conselho Geral do instituto, que foram divulgados
pelo PÚBLICO nas últimas semanas.
Na informação
enviada à câmara por Luís Reto refere-se que a “construção das
instalações da nova Escola de Hotelaria” foi aprovada em três
órgãos do instituto universitário: no Senado (com 34 votos a favor
e cinco abstenções”, no Conselho Geral (com 16 votos a favor,
quatro contra e quatro abstenções) e no Conselho de Curadores (onde
foi aprovado por unanimidade).
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