O
buraco tem sempre cobertura quando o Estado paga a factura
Luís Villalobos /
24-12-2015 / PÚBLICO
O caso da morte do
Banif tem ainda contornos por explicar, mas uma coisa é certa: quem
beneficia com este triste episódio é o Santander Totta. É muito
difícil, senão impossível, aceitar que o processo não podia ter
tido outro desfecho, menos penalizador para os contribuintes. Depois
do tempo que o anterior Governo e o Banco de Portugal deixaram passar
sem encontrar uma solução para o Banif, a saída foi fazer tudo a
correr. Ora, como diz a sabedoria popular, “depressa e bem, não há
quem”. Agora, podia-se criar outro provérbio, impopular: “Um
buraco tem sempre cobertura quando o Estado paga a factura”. Aqui
vale a pena parar um pouco, respirar fundo e fazer contas. Porque,
apesar de serem volumosas, estão ainda mal explicadas, e, no final,
vão ser pagas por todos nós.
Pelo que se percebe,
as perdas do Estado são de 2591 milhões de euros, compostas por 825
milhões que estavam aplicados, mais 1766 milhões (via Orçamento do
Estado rectificativo) agora injectados no Banif para o Santander
fechar o negócio (uma operação apelidada de “défice de
financiamento” na resolução do Banif ). Abatendo os 150 milhões
pagos pelo Santander, o valor a pagar neste momento pelos
contribuintes fixa-se nos 2441 milhões.
Depois, há um
acréscimo de 489 milhões injectados no Banif para o Santander
fechar o negócio, mas que são da responsabilidade do Fundo de
Resolução. Ora, apesar de este organismo estar na esfera do Estado
em termos de contas públicas, o valor em causa é da
responsabilidade do sistema financeiro. De acordo com os seus
estatutos, a fonte de financiamento do Fundo de Resolução são as
contribuições das instituições financeiras e, apenas
“excepcionalmente, empréstimos ou garantias do Estado”.
Há ainda mais 422
milhões da responsabilidade do Fundo de Resolução, respeitante a
activos do Banif que passaram para um veículo na esfera deste
organismo. Embora haja uma garantia pública, este valor é da
responsabilidade do Fundo de Resolução/sistema financeiro. Assim,
entre perda efectiva e potencial, o Fundo de Resolução/sistema
financeiro tem responsabilidades de 911 milhões. Há um risco para
os contribuintes, mas a factura é do Fundo de Resolução.
Voltando ao Estado,
há ainda a garantia, directa, de 323 milhões para cobrir o risco da
carteira de crédito do Banif junto do Santander. Sendo uma possível
contingência futura, a factura total do Estado, num cenário 100%
pessimista, subiria para 2764 milhões (2441+323).
Não esquecendo
ainda as perdas dos accionistas privados e de alguns obrigacionistas,
resta olhar para quem ganha: o Santander Totta.
O banco, que já
demonstrara vontade de crescer através de uma aquisição em
Portugal (esteve na corrida ao Novo Banco), passa a ser o segundo
maior entre os privados. Isto, por 150 milhões, um valor que é
inferior aos lucros dos primeiros nove meses do ano e apenas seis
vezes o valor das obras de expansão da sua sede em Portugal.
Sem comentários:
Enviar um comentário