sábado, 19 de dezembro de 2015

Portugal teve sete ondas de calor em 2015, o sétimo ano mais quente


Portugal teve sete ondas de calor em 2015, o sétimo ano mais quente

Desde 1931, ano em que começam as séries meteorológicas no nosso país, só houve seis anos mais quentes. A nível mundial, 2015 está próximo de se sagrar o ano mais quente do último século e meio

Ricardo Garcia / 19-12-2015 / PÚBLICO

Portugal teve sete ondas de calor em 2015, mas não será este o seu ano mais quente. De 1 de Janeiro até 16 de Dezembro, a temperatura média no território continental foi de 16ºC, a sétima maior desde 1931, quando começam as séries meteorológicas nacionais. Ainda há dez dias para o fim do ano, mas a previsão é de mais frio, e não mais calor.

Foi um ano de contrastes meteorológicos. Começou com uma onda de frio e chegou perto do fim com uma onda de calor. Houve meses anormalmente gélidos e outros extremamente quentes. Durante metade do ano viveu-se em seca, mas na outra metade não. Num mês em que choveu pouco, Novembro, houve cheias devastadoras. “Este ano é interessante do ponto de vista da variabilidade climática”, afirma Fátima Espírito Santo, da Divisão de Clima e Alterações Climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
A nível mundial, 2015 está próximo de se sagrar o ano mais quente do último século e meio, desde que há registos sistemáticos, segundo a Organização Meteorológica Mundial. Em grande parte, a responsabilidade cabe à conjugação do aquecimento global com um intenso El Niño, um fenómeno natural no qual o Pacífico aquece junto à costa Oeste da América do Sul, com efeitos diversos em várias partes do mundo.
O recorde mundial não se reflecte, porém, em Portugal. “Nestas latitudes, o El Niño não tem grande impacto”, explica Fátima Espírito Santo. Ainda assim, 2015 deverá ficar entre os dez anos mais quentes dos últimos 85 anos no país. O recorde cabe a 1997, com 16,6ºC de temperatura média até 16 de Dezembro.
Na primeira semana do ano, no entanto, os portugueses tiritaram de frio, embora com bom tempo. Em três estações meteorológicas — Setúbal, Alvalade e Alcácer do Sal — ocorreu uma onda de frio, com temperaturas pelo menos 5ºC abaixo da média por pelo menos seis dias consecutivos, segundo dados do IPMA. No dia 7 de Janeiro, Lisboa acordou com 1,1ºC e os termómetros não chegaram a ultrapassar os 5ºC ao longo do dia.
Fevereiro alinhou pelo mesmo diapasão: frio e seco. Mas a partir de Março, o tempo aqueceu. Em Castro Marim, registou-se uma máxima de 29ºC.
Abril teve início com a primeira onda de calor do ano. Em Maio, as temperaturas apertaram ainda mais e bateram-se alguns recordes. A média da temperatura máxima esteve 4,5ºC acima do que seria habitual, um valor inédito. E pela primeira vez, os termómetros chegaram aos 40ºC num mês de Maio. Foi em Beja.
Novamente em Beja, as máximas chegaram a 43ºC em Junho — o quinto mais quente nas últimas oito décadas, segundo o IPMA. Nesse mês, houve duas ondas de calor.
Depois de Julho também quente, com mais uma onda de calor, Agosto esteve próximo da média. Mas nessa altura já se sentiam os efeitos da pouca chuva ao longo de vários meses. A precipitação acumulada desde Outubro de 2014 — início do chamado ano hidrológico — estava abaixo do normal na generalidade do país, nalguns pontos com uma redução de 50%.
Nessa altura, três quartos do território continental estavam sob seca meteorológica “severa” ou “extrema”. Agosto concentrou a maior fatia dos incêndios florestais do ano, que deixariam 61 mil hectares de área ardida até ao final do Verão.
O tempo, porém, mudou e Setembro, que tende ainda a ser quente e seco, foi frio e chuvoso. Em Lamas de Mouro, os termómetros quase chegaram a zero graus. Choveu forte a norte do Mondego.
Outubro foi também marcado pelas chuvas, em particular no dia 17, quando o mau tempo destelhou casas, derrubou árvores e fez um petroleiro encalhar em Cascais. No cabo da Roca, houve rajadas de 169 quilómetros por hora. A seca, que antes preocupava, agora já tinha desaparecido. Novembro foi um mês de grandes contrastes. Apesar de ter chovido apenas metade do que a média, o mês ficou marcado pelas cheias no Algarve, fruto de forte precipitação num único dia. Também, sem que ninguém o percebesse, houve uma onda de calor — com os termómetros mais de 5ºC acima da média. “Não é muito relevante em termos de impactos na saúde, mas é importante do ponto de vista climatológico”, afirma Fátima Espírito Santo.


Dezembro chegou com temperaturas quase de Primavera. Mas, segundo a previsão do IPMA, os termómetros poderão baixar quatro a cinco graus na próxima semana.

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