Manifestações anti - Islamitas na Córsega
Muçulmanos
de França tentam contrariar vaga de islamofobia
O
ano que agora termina, com os terríveis atentados terroristas de
Paris, atingiu “um pico” no número de actos islamófobos
PÚBLICO /
28-12-2015
“Fora os árabes!”
O slogan gritado por uma centena de manifestantes na Corséga neste
sábado é revelador de uma hostilidade crescente em França contra
os muçulmanos, depois dos atentados terroristas de Janeiro e
Novembro.
Locais de culto
vandalizados — como aconteceu sexta-feira na Córsega —, cabeças
de porco deixadas à porta das mesquitas, ou mesmo tiros disparados e
granadas lançadas contra edifícios frequentados por muçulmanos. Os
ataques contra locais de culto muçulmanos multiplicaram-se depois
dos ataques contra o jornal satírico Charlie Hebdo e contra um
supermercado no dia 7 de Janeiro.
Segundo o Conselho
Francês do Culto Muçulmano (CFCM), que representa os cinco a seis
milhões de muçulmanos em França, o número de actos islamófobos
atingiu “um pico” em 2015. Nos 12 dias que se seguiram ao ataque
contra o Charlie, a polícia registou 128 actos antimuçulmanos, um
número quase equivalente ao que foi registado em todo o ano de 2014,
segundo o Observatório contra a Islamofobia do CFCM.
A um ritmo médio,
os actos de vandalismo e os insultos dirigidos contra a maior
comunidade muçulmana da Europa continuaram a registar-se durante
todo o ano, marcado pela decapitação de um empresário pelo seu
empregado muçulmano em Junho e principalmente pela morte de 130
pessoas, alvejadas por jihadistas na noite de 13 de Novembro, em
Paris.
Estes acontecimentos
trágicos provocaram um aumento dos insultos racistas, principalmente
nas redes sociais. Um “ciberódio”, denunciado pelo Observatório
do CFCM que “apela aos cidadãos a não juntarem no mesmo saco a
grande maioria dos muçulmanos franceses, que vivem em paz, com a
ínfima minoria que apela à violência e mesmo à morte em nome da
religião”.
Outro sintoma: o
aumento de votos no partido de extrema-direita Frente Nacional,
sempre pronto a condenar a pressão migratória ou a presença dos
muçulmanos, que diz ser demasiado visível.
“Em nossa casa,
não vivemos com djellaba [túnica]”, lançou no início de
Dezembro Marion Maréchal-Le Pen, sobrinha da presidente da Frente
Nacional e que foi candidata numa região do Sul de França. “Não
somos uma terra do islão, e se os franceses podem ser de confissão
muçulmana é só na condição de se sujeitarem ao modo de vida que
a influência grecoromana e 16 séculos de cristianismo moldaram”,
martelou a jovem figura em ascensão da FN que recebeu 30% dos votos
nas eleições regionais de meados de Dezembro.
Face a estas
tensões, o Presidente François Hollande apelou à “solidariedade”
e a “fraternidade”. “É preciso optimismo, mesmo quando somos
atingidos por tragédias, porque aquilo que os nossos agressores
querem é dividir-nos e separar-nos”, disse o chefe de Estado.
O CFCM anunciou um
novo processo de “certificação” de imãs, esperando que isso
permita promover um “islão aberto” e combater a radicalização
jihadistas. E o Conselho também espera fazer renascer “o espírito
de 11 do Janeiro”. Nesse dia, milhões de franceses saíram à rua
para se manifestarem contra o terrorismo e denunciar as amálgamas
entre assassinos islamistas e os muçulmanos de França. Agora, os
responsáveis das mesquitas foram convidados a abrirem as suas portas
ao público nos dias 9 e 10 de Janeiro para um grande “chá da
fraternidade”.
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