sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Incêndios em pensões com refugiados fazem 12 feridos na Alemanha


Incêndios em pensões com refugiados fazem 12 feridos na Alemanha
SOFIA LORENA 24/12/2015 - PÚBLICO

O semanário Dei Zeit contabilizou 222 ataques violentos contra lugares que acolhem refugiados. Só houve condenações ou acusações em 5% destes crimes.

Doze pessoas, incluindo sete adolescentes, ficaram feridas sem gravidade quando dois incêndios deflagraram em duas pensões que recebem refugiados na cidade bávara de Wasserstein, no Sul da Alemanha. “Fogos postos e ataques contra pessoas sem defesa merecem o nosso despeito e devem ser punidos”, afirmou o Presidente alemão, Joachim Gauck, que dedicou a sua mensagem de Natal à vaga de refugiados e imigrantes que este ano chegou ao seu país, mais de um milhão.

A maioria dos recém-chegados à Alemanha começa por passar algum tempo precisamente na Baviera. Dos que entraram em 2014 no país, 40% vieram dos Balcãs, principalmente da Albânia e do Kosovo; a maioria dos restantes 60% são sírios, iraquianos e afegãos que fogem das guerras nos seus países.

Gauck também quis congratular-se pela resposta dos alemães a esta crise. “Mostrámos do que somos capazes, com profissionalismo e boa intenção, mas também com a arte de improvisar.”

Em 2014, segundo dados ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e da Organização Internacional das Migrações, entraram na União Europeia 1.005.504 requerentes de asilo e migrantes. Os dados da Comissão Europeia são bem mais altos e indicam que, entre Janeiro e Novembro, entraram por via irregular na UE 1,5 milhões de pessoas. De acordo com o ACNUR, são perto de 80% os que reúnem as condições para pedir asilo.

747 crimes
A semana passada, a chanceler Angela Merkel anunciou que vai “diminuir de forma significativa o número de refugiados” que entram na Alemanha, em resposta a críticas do seu partido de centro-direita, a CDU. E na terça-feira, o primeiro-ministro checo, Bohuslav Sobotka, acusou no Twitter Merkel de enviar “um sinal” ao Médio Oriente e África, “estimulando a imigração ilegal para a Europa”.

Em Setembro, Merkel prometeu que os responsáveis por ataques a refugiados seriam perseguidos “com todos os meios disponíveis”. Uma equipa de jornalistas do semanário Die Zeit e da redacção do site Zeit Online investigou 222 ataques violentos contra centros e pensões que acolhem refugiados na Alemanha e concluiu que a esmagadora maioria continua por resolver.

Os jornalistas começaram por analisar uma lista de 747 crimes puníveis pela lei contra estes locais que encontraram nas estatísticas da Polícia Criminal Federal. Mas escolheram deixar de fora insultos verbais ou graffiti e concentrar-se nos incidentes mais sérios.

Todos os 222 ataques “deixaram feridos ou foram de uma intensidade que poderia ter causado ferimentos”, escrevem os jornalistas alemães. Dos 93 foram fogos postos, que “aumentarem de forma dramática entre Janeiro e Novembro” (o período investigado), metade visaram edifícios habitados.

104 feridos
Os atacantes “preocupam-se pouco em saber se as pessoas podem ficar feridas ou morrer”. “Só por pura sorte ainda nenhum refugiado perdeu a vida”, concluiu o jornal. Até Novembro havia 104 feridos nestes ataques.

Na Alemanha, mais de metade dos casos graves de fogo posto são resolvidos. Mas quando as vítimas são refugiadas, os números têm sido bem diferentes: dos 222 ataques violentos, só houve quatro processos em que os tribunais condenaram algum atacante; e outros oito em que já foram feitas acusações, o que corresponde a 5% dos casos. Apenas em um quarto dos casos foram identificados suspeitos e 11% das investigações já foram arquivadas.

O maior número de ataques acontece na Saxónia (64), o estado federal que inclui a Baviera. Também se registam muitos em Baden-Württemberg (17), o estado a ocidente da Saxónia, que faz fronteira com a França e a Suíça: aqui, nenhum dos ataques graves contra refugiados ao longo de 2014 foi resolvido.

Os fogos postos, bem como outros ataques, acontecem habitualmente de noite e visam edifícios situados longe dos centros das cidades e das áreas residenciais, o que diminui a possibilidade de testemunhas. No caso dos incêndios, o próprio fogo ajuda a destruir eventuais provas. Mas o Die Zeit também refere que o número de agentes da polícia criminal tem vindo a diminuir, principalmente no Leste da Alemanha, onde se concentram estes ataques.


Os procuradores estatais, escreve o semanário, queixam-se da falta de peritos em fogo posto, o que torna estas investigações mais complicadas. “Uma coisa é clara”, concluiu o jornal: “Se o Governo realmente quer perseguir os criminosos por trás destes ataques ‘com todos os meios disponíveis’, tem de fazer muito mais do que faz hoje.”

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