Incêndios
em pensões com refugiados fazem 12 feridos na Alemanha
SOFIA LORENA
24/12/2015 - PÚBLICO
O
semanário Dei Zeit contabilizou 222 ataques violentos contra lugares
que acolhem refugiados. Só houve condenações ou acusações em 5%
destes crimes.
Doze pessoas,
incluindo sete adolescentes, ficaram feridas sem gravidade quando
dois incêndios deflagraram em duas pensões que recebem refugiados
na cidade bávara de Wasserstein, no Sul da Alemanha. “Fogos postos
e ataques contra pessoas sem defesa merecem o nosso despeito e devem
ser punidos”, afirmou o Presidente alemão, Joachim Gauck, que
dedicou a sua mensagem de Natal à vaga de refugiados e imigrantes
que este ano chegou ao seu país, mais de um milhão.
A maioria dos
recém-chegados à Alemanha começa por passar algum tempo
precisamente na Baviera. Dos que entraram em 2014 no país, 40%
vieram dos Balcãs, principalmente da Albânia e do Kosovo; a maioria
dos restantes 60% são sírios, iraquianos e afegãos que fogem das
guerras nos seus países.
Gauck também quis
congratular-se pela resposta dos alemães a esta crise. “Mostrámos
do que somos capazes, com profissionalismo e boa intenção, mas
também com a arte de improvisar.”
Em 2014, segundo
dados ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
(ACNUR) e da Organização Internacional das Migrações, entraram na
União Europeia 1.005.504 requerentes de asilo e migrantes. Os dados
da Comissão Europeia são bem mais altos e indicam que, entre
Janeiro e Novembro, entraram por via irregular na UE 1,5 milhões de
pessoas. De acordo com o ACNUR, são perto de 80% os que reúnem as
condições para pedir asilo.
747 crimes
A semana passada, a
chanceler Angela Merkel anunciou que vai “diminuir de forma
significativa o número de refugiados” que entram na Alemanha, em
resposta a críticas do seu partido de centro-direita, a CDU. E na
terça-feira, o primeiro-ministro checo, Bohuslav Sobotka, acusou no
Twitter Merkel de enviar “um sinal” ao Médio Oriente e África,
“estimulando a imigração ilegal para a Europa”.
Em Setembro, Merkel
prometeu que os responsáveis por ataques a refugiados seriam
perseguidos “com todos os meios disponíveis”. Uma equipa de
jornalistas do semanário Die Zeit e da redacção do site Zeit
Online investigou 222 ataques violentos contra centros e pensões que
acolhem refugiados na Alemanha e concluiu que a esmagadora maioria
continua por resolver.
Os jornalistas
começaram por analisar uma lista de 747 crimes puníveis pela lei
contra estes locais que encontraram nas estatísticas da Polícia
Criminal Federal. Mas escolheram deixar de fora insultos verbais ou
graffiti e concentrar-se nos incidentes mais sérios.
Todos os 222 ataques
“deixaram feridos ou foram de uma intensidade que poderia ter
causado ferimentos”, escrevem os jornalistas alemães. Dos 93 foram
fogos postos, que “aumentarem de forma dramática entre Janeiro e
Novembro” (o período investigado), metade visaram edifícios
habitados.
104 feridos
Os atacantes
“preocupam-se pouco em saber se as pessoas podem ficar feridas ou
morrer”. “Só por pura sorte ainda nenhum refugiado perdeu a
vida”, concluiu o jornal. Até Novembro havia 104 feridos nestes
ataques.
Na Alemanha, mais de
metade dos casos graves de fogo posto são resolvidos. Mas quando as
vítimas são refugiadas, os números têm sido bem diferentes: dos
222 ataques violentos, só houve quatro processos em que os tribunais
condenaram algum atacante; e outros oito em que já foram feitas
acusações, o que corresponde a 5% dos casos. Apenas em um quarto
dos casos foram identificados suspeitos e 11% das investigações já
foram arquivadas.
O maior número de
ataques acontece na Saxónia (64), o estado federal que inclui a
Baviera. Também se registam muitos em Baden-Württemberg (17), o
estado a ocidente da Saxónia, que faz fronteira com a França e a
Suíça: aqui, nenhum dos ataques graves contra refugiados ao longo
de 2014 foi resolvido.
Os fogos postos, bem
como outros ataques, acontecem habitualmente de noite e visam
edifícios situados longe dos centros das cidades e das áreas
residenciais, o que diminui a possibilidade de testemunhas. No caso
dos incêndios, o próprio fogo ajuda a destruir eventuais provas.
Mas o Die Zeit também refere que o número de agentes da polícia
criminal tem vindo a diminuir, principalmente no Leste da Alemanha,
onde se concentram estes ataques.
Os procuradores
estatais, escreve o semanário, queixam-se da falta de peritos em
fogo posto, o que torna estas investigações mais complicadas. “Uma
coisa é clara”, concluiu o jornal: “Se o Governo realmente quer
perseguir os criminosos por trás destes ataques ‘com todos os
meios disponíveis’, tem de fazer muito mais do que faz hoje.”
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