Passos
Coelho tem de se explicar
JOÃO MIGUEL TAVARES
22/12/2015 / PÚBLICO
Se ainda é muito
cedo para avaliar o mérito ou a inevitabilidade da solução
encontrada pelo governo para o Banif, já vai sendo tarde para Pedro
Passos Coelho, Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque apresentarem
justificações cabais para as gravíssimas acusações que lhes
foram feitas por António Costa e Mário Centeno. As declarações do
primeiro-ministro e do ministro das Finanças não permitem segundas
interpretações: eles garantiram que o anterior governo sabia há
mais de um ano da necessidade de resolver em definitivo o problema do
Banif, preferindo arrastar os pés, por razões que se supõem
eleitoralistas, o que fez aumentar significativamente o custo da
operação.
A serem verdadeiras
tais acusações, nem Passos Coelho, nem Paulo Portas, nem Maria Luís
Albuquerque deveriam voltar a ser ministros – é tão simples
quanto isso. Uma intervenção que pode chegar aos 3 mil milhões de
euros num banco do tamanho do Banif é uma absoluta obscenidade, bem
mais grave, em termos proporcionais, do que a intervenção no BES.
Convém recordar que a 16 de Outubro, numa entrevista à TVI que
gerou um mar de críticas, António Costa afirmou: “Em cada
encontro que tivemos [nas negociações com a coligação PaF] foram
deixando cair uma nova surpresa desagradável, que se vai tornar
pública um dia.” Costa não quis esclarecer que surpresa era essa,
mas quando o jornalista lhe perguntou se se tratava de algo de
“grande gravidade económica”, António Costa respondeu que sim.
Disse também, noutra frase que deu brado, que havia “um limite
para a capacidade do Governo omitir e esconder ao país dados sobre a
situação efectiva e real em que nos encontramos.”
Logo no dia
seguinte, Assunção Cristas foi à TVI lançar fortíssimas críticas
sobre António Costa, acusando-o de “falta de seriedade e
honestidade intelectual”. Afirmou não saber de que “surpresas
desagradáveis” António Costa estava a falar, garantindo que as
contas do governo a que pertenceu “são transparentes, auditadas”.
Disse ainda: “Talvez António Costa esteja a lembrar-se dos
governos de que fez parte e que escondiam, à boa moda socialista,
contas e dívidas debaixo do tapete. Mas não vai encontrar nada
disso.” E depois de tantas, tão bonitas e tão indignadas
garantias, eis que nas vésperas de Natal os contribuintes
portugueses são informados de que há uma nova conta de 2,255 mil
milhões de euros para pagar. Diante disto, diria que a expressão
“surpresa desagradável” peca apenas pela excessiva modéstia.
Poderá ser isto
apenas um passa-culpas do PS para o governo anterior, sem qualquer
sustentação factual? Tenho as maiores dúvidas, até porque as
primeiras reacções do PSD e do CDS não me descansaram nem um
bocadinho. Bem pelo contrário. O deputado do PSD António Leitão
Amaro, numa atrapalhada intervenção, afirmou que falta ao partido
“informação relevante” para opinar sobre a venda do Banif, um
caso de amnésia selectiva digno de investigação médica tendo em
conta que até há três semanas era o seu partido a liderar o
processo. E o deputado do CDS Nuno Magalhães, que só falou porque
não podia ficar calado, remeteu uma posição do partido para a
comissão de inquérito. Tamanha prudência dos dois partidos da
oposição perante um caso tão grave não augura nada de bom. Será
que Passos Coelho e Maria Luís fizeram o melhor possível na gestão
do caso BES para acabarem a fazer o pior possível na gestão do caso
Banif? Demasiado triste para ser verdade.
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