Costa
garante integridade de todos os depósitos no Banif
MARIA LOPES
15/12/2015 - 21:26 (actualizado às 22:11) / PÚBLICO
Primeiro-ministro
admite que contribuintes poderão ser chamados a pagar nova factura
após reunião de mais duas horas com partidos políticos e o
governador do Banco de Portugal.
Em cinco minutos, o
primeiro-ministro repetiu a mesma mensagem seis
vezes: os depósitos
dos clientes do Banif estão integralmente protegidos,
independentemente do seu valor. Porém, também afirmou que não pode
dar as mesmas garantias em relação aos contribuintes, que poderão
ser chamados a pagar mais uma factura da banca cujo valor não quis
adiantar.
A garantia foi
deixada por António Costa à chegada ao jantar de Natal do grupo
parlamentar do PS, que se realiza esta noite de terça-feira na
Assembleia da República, depois de uma reunião de duas horas e meia
na residência oficial de São Bento, do outro lado do jardim, com os
líderes das bancadas dos partidos com assento parlamentar, com o
ministro das Finanças, Mário Centeno, e o governador do Banco de
Portugal, Carlos Costa. A garantia de confiança dada por António
Costa em relação ao Banif é em tudo semelhante à dada pelo então
primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, pouco antes da intervenção
no BES, que ocorreu no início de Agosto do ano passado.
“O que acho que é
muito importante transmitir, relativamente àqueles que têm as suas
economias e poupanças depositadas no Banif, quer no continente, quer
nas ilhas, quer nas comunidades portuguesas, é que,
independentemente do seu montante, estarão integralmente garantidos
os montantes dos depósitos. E isso está assegurado", afirmou
António Costa perante os jornalistas, acabando por repetir a mesma
ideia mais cinco vezes.
O primeiro-ministro
contou que na reunião estiveram, além do governador do Banco de
Portugal, alguns funcionários daquela instituição que explicaram
aos representantes dos grupos parlamentares a situação do banco,
tal como já tinham transmitido ao Governo. Ou seja, foi uma audição
de Carlos Costa e de técnicos com todos os partidos para, de certa
forma, vincular toda a gente ao mesmo nível de conhecimento da
situação.
Mas António Costa
admitiu que não pode deixar a mesma garantia de segurança em
relação aos contribuintes. "O Estado tem capitais públicos
muito elevados investidos no Banif. Espero que a solução que venha
a existir proteja o melhor possível o dinheiro dos contribuintes,
mas a garantia que eu posso dar aos contribuintes não é a mesma que
posso dar aos depositantes."
O primeiro-ministro
escusou-se, no entanto, a especificar quanto o Estado e os
contribuintes poderão perder no Banif, tal como também recusou
colocar responsabilidades pela situação no anterior Governo. "O
processo de venda está em curso, devemos aguardar serenamente que
ele se conclua sem precipitações e no final se fará a avaliação."
Questionado ainda
sobre a entrevista de José Sócrates à TVI em que o antigo
primeiro-ministro e líder do PS criticou a estratégia do partido
para as presidenciais, Costa limitou-se a responder que "felizmente
a crítica no PS é livre".
"Liquidez
confortável"
Durante o
fim-de-semana, António Costa já tinha efectuado um contacto
telefónico junto do presidente do Governo Regional da Madeira (onde
o banco teve origem), Miguel Albuquerque, para lhe garantir que o
processo de reestruturação do banco está a decorrer de forma
normal.
“O
primeiro-ministro telefonou-me pessoalmente no domingo, para garantir
que as notícias, que eu considero especulativas, que dão conta do
iminente colapso do banco não correspondem à realidade”, garantiu
o chefe do executivo madeirense.
Miguel Albuquerque
destacou que o objectivo do Governo é “a alienação do capital do
Banif” e “salvaguardar os depositantes, os accionistas e a
posição estratégica que o Banif tem junto da comunidade emigrante
madeirense".
Esta terça-feira de
manhã, um dia depois do Ministério das Finanças, foi a vez do
Banco de Portugal emitir um comunicado sobre o Banif, que não está
a conseguir cumprir as exigências de Bruxelas quanto ao reembolso da
última tranche de 125 milhões de euros do empréstimo de capital
contingente (Coco) feito pelo Estado.
Em três parágrafos,
o regulador disse estar “a acompanhar a situação do Banif,
garantindo, como é da sua competência, a estabilidade do sistema
financeiro, bem como a segurança dos depósitos”. “Tal como foi
revelado pelas autoridades nacionais, europeias e pelo conselho de
administração do Banif, o plano de reestruturação do Banif está
a ser analisado pela Comissão Europeia e, em paralelo, está a
decorrer um processo de venda internacional da instituição
financeira conduzido pelo conselho de administração”, constata o
Banco de Portugal.
Na segunda à noite,
o presidente executivo do Banif, Jorge Tomé, defendeu, em entrevista
à RTP-Madeira, que a instiuição financeira tem uma posição de
"liquidez confortável", e que "os depositantes e
contribuintes podem estar descansados".
Citado pela Lusa, o
gestor disse ainda que a venda da instituição está a "correr
muito bem", e que há seis investidores internacionais a
analisar a situação do banco, onde o Estado detém uma posição
maioritária após ali ter aplicado 700 milhões de euros (além do
capital contingente, o que perfaz um total de 825 milhões de euros
aplicados pelo Estado).
O banqueiro admitiu
ainda que a notícia de um eventual encerramento veio "perturbar
todo um processo estruturado que está em curso, em que a posição
do Estado está a ser vendida".
Já durante a manhã
desta terça-feira, a Lusa dava conta que o balcão da sede do Banif,
no Funchal, estava cheio de clientes à procura de esclarecimentos,
tal como sucedeu em outras agências da região.
Depois de as acções
do Banif terem perdido mais de 40% em bolsa na segunda-feira, esta
terça-feira subiram 25% para 0,001 euros. com Luís Villalobos,
Paulo Pena e São José Almeida
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