Le
Pen derrotada nas regionais, mas com uma votação recorde
CLARA BARATA
13/12/2015 - 19:07 (actualizado às 22:32) PÚBLICO
A
Frente Nacional não ganhou em nenhuma região mas teve um número
recorde de votos. Tornou-se um partido de dimensão igual ao PS
francês.
Nem Marine Le Pen
nem Marion Maréchal-Le Pen conseguiram ser eleitas para a
presidência das regiões onde concorriam pela Frente Nacional na
segunda volta das eleições regionais em França. A "barreira
republicana" erguida pelos socialistas funcionou, e o aumento de
cerca de nove pontos na afluência às urnas foi suficiente para
conter a extrema-direita.
“A história
recordará que foi aqui que travámos a progressão da Frente
Nacional (FN)”, afirmou um emocionado Xavier Bertrand, do partido
de centro-direita Os Republicanos, eleito com 57,5% dos votos, contra
42,5% de Marine Le Pen na região Norte-Pas-de-Calais-Picardia,
graças à desistência do candidato do Partido Socialista.
No Sudeste, na
região Provence-Alpes-Côte d’Azur, Christian Estrosi, também do
partido de Nicholas Sarkozy, beneficiou da desistência da esquerda
para ganhar a Marion Maréchal-Le Pen: terá 54,5% dos votos, face a
45,5% da mais jovem Le Pen. Florian Philippot, estratega da Frente
Nacional, ficou-se pelos 36,6% na região de
Alsácia-Champagne-Ardenne-Lorena, contra 47,6% de Philippe Richert,
candidato do centro-direita.
"Um sucesso sem
alegria"
A estratégia
socialista resultou, embora tenha implicado o sacrifício dos seus
candidatos e da presença do partido nos órgãos regionais durante
este mandato. Por isso o tom geral não foi de regozijo. “Para o
PS, estes resultados constituem um sucesso sem alegria, porque a
abstenção ainda foi demasiado forte, e a extrema-direita
decididamente demasiado alta”, afirmou o primeiro-secretário do
PS, Jean-Christophe Cambadélis.
"Esta noite,
não há espaço para alívio ou triunfalismo", sublinhou o
primeiro-ministro socialista Manuel Valls. "O perigo que
representa a extrema-direita não desapareceu, muito pelo contrário”,
afirmou, numa declaração ao país, em que saudou a capacidade dos
eleitores em “responder ao apelo muito claro lançado pela esquerda
de fazer barreira contra a extrema-direita”.
Pelo menos nos
discursos, os responsáveis políticos da esquerda e da direita
sublinharam o facto de a abstenção continuar alta – 59% dos
eleitores foram votar, quando há uma semana, na primeira volta,
apenas 50% o fizeram, mas ainda assim 41% recusaram-se a ir às urnas
– e da necessidade de ouvir realmente os eleitores e ir ao encontro
das suas necessidades. “Aos que não foram votar e já não
acreditam”, disse o primeiro-ministro socialista, “devemos
provar-lhes que a política não vai voltar a ser como era”.
Marine Le Pen, no
discurso em que reconheceu a derrota, preferiu denunciar “o
sistema” e “as campanhas de calúnias e de difamação decididas
nos palácios dourados da República”. A verdadeira clivagem,
afirmou, já não é entre esquerda e direita, mas "entre os
patriotas e os adeptos da globalização".
O aumento da
afluência às urnas terá sido decisivo para esta reviravolta nos
resultados: 59% dos eleitores foram votar, quando há uma semana, na
primeira volta, apenas 50% o fizeram. Mas também a FN progrediu: na
primeira volta, quando chegou em primeiro lugar em seis regiões (ver
mapa em baixo), teve seis milhões de votos. Desta vez, com mais de
90% dos votos contados, ultrapassou 6,5 milhões e em percentagem
está praticamente empatada com o PS, em torno dos 28,5%.
O valor mais alto de
sempre da FN, atingido por Marine Le Pen na primeira volta das
presidenciais de 2012, tinha sido de 6,4 milhões de votos. “O
tecto de vidro não existe para a FN”, comentou a líder do partido
anti-imigração e anti-União Europeia.
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