Portugueses
já deram 13 mil milhões para salvar bancos
22 DE DEZEMBRO DE
2015
Luís Reis Ribeiro
DN online
Desde 2007 a ajuda
pública ao setor financeiro equivale a 7,3% do PIB e a um ano de
receito do IVA
No pior cenário de
todos - que não é rejeitado pelo governo, nem pelo Banco de
Portugal, nem pela Comissão Europeia -, os contribuintes portugueses
podem perder de forma definitiva 2500 milhões de euros de ajudas
concedidas no resgate ao Banif, se tudo correr mal na venda dos
ativos de qualidade duvidosa que ficaram sob o manto do Estado
português.
A única parcela que
estará mais ou menos segura são os 489 milhões de euros agora
emprestados ao Fundo de Resolução (controlado pelos bancos
nacionais, que devem devolver o dinheiro com juros), embora até aqui
haja dúvidas.
Ou seja, 84% da
exposição total ao banco madeirense (total de três mil milhões de
euros, contando já com as ajudas de 2013 e 2014) é arriscada e pode
ficar no défice e na dívida para sempre. Somando isto aos dez mil
milhões de euros que já foram ao défice entre 2007 e 2014 em forma
de ajudas ao setor financeiro - BPN, BES, BPP, recapitalizações da
CGD, que teve de absorver perdas avultadas do BPN, etc., mais juros
sobre isto tudo - Portugal tem empatados até agora 13 mil milhões
de euros nos bancos. São 7,3% do produto interno bruto (PIB), quase
um ano inteiro de cobrança de IVA, por exemplo.
Nas Finanças há
algum amargo de boca. A venda foi feita tarde e a más horas e o
único comprador capaz de avançar, o Santander, impôs condições
duras para aceitar ficar com parte do Banif: pagou 150 milhões de
euros pelo negócio bom do Banif e terá ficado ainda com certas
responsabilidades (créditos imobiliários mais arriscados, valores
ligados a sucursais estrangeiras, algumas em zonas offshore).
Aqui, o Estado, além
da megainjeção de capital (2255 milhões de euros, 825 milhões vêm
do tempo do PSD-CDS), avançou com 745 milhões de euros em garantias
ao veículo que fica a gerir os ativos e ao próprio comprador. O seu
valor é anormalmente elevado porque os ativos duvidosos foram
assumidos com 75% de desconto (haircut). Uma condição da Europa.
Demora e inconclusão
Mário Centeno
culpou a "demora" e os "demasiados acontecimentos
inconclusivos" que ocorreram durante a gestão do anterior
governo e do Banco de Portugal, dizendo que esse arrastamento acabou
por "aumentar os custos finais" e muito. Os sucessivos
obstáculos da Direção-Geral da Concorrência, que nunca foi
partidária da entrada do Estado em 2013, também são vistos como
lesivos. Agora, "a minimização do custo [do caso Banif para o
Estado] depende muito da forma como se vai operar" a venda dos
ativos de qualidade duvidosa, explicou ontem Mário Centeno, ministro
das Finanças.
Mais défice, mais
dívida, etc.
Para já, o governo
sabe apenas que o défice público deste ano sobe para "cerca de
4%" do PIB, quando o limite do pacto orçamental europeu é 3%.
O auxílio ao Banif não vai contar para a meta oficial, acredita o
governo.
Retificativo de 2255
milhões
Mas numa lógica de
caixa (dinheiro que realmente sai e entra), o défice aumenta porque
a despesa deste ano sobe 2255 milhões de euros de uma assentada.
Será financiada com mais dívida. Para o fazer, as Finanças
enviaram ontem uma proposta de Orçamento Retificativo para 2015 em
que pedem essa autorização ao Parlamento. O diploma será debatido
e votado amanhã de manhã.
Para aguentar o
"custo muito elevado" (como disse António Costa) do
resgate ao Banif, o Tesouro tem de ir ao mercado buscar mais
dinheiro. Ou então, no limite, não vai e usa parte da almofada de
segurança dos depósitos. Será certamente desaconselhado a fazê-lo
por algumas das instituições da troika.
Se a dívida subir,
como se perfila, todos os portugueses vão pagar mais juros nos
próximos anos. O rácio da dívida pública está em 130% do PIB,
sendo um dos maiores da Europa e violando as regras do novo tratado
europeu.
Ontem, como no BES
ou BPN, houve desfile de números. Segundo Bruxelas, que deu luz
verde à solução final, "as autoridades portuguesas
notificaram a Comissão dos planos de concessão de 2255 milhões de
euros em medidas de auxílio destinadas apoiar a venda de ativos e
passivos do Banif ao comprador". Esta é a injeção de capital
propriamente dita. Os 489 milhões do Fundo de Resolução estão
incluídos.
Uma vez mais, este
fundo estava sem verba, os bancos que o suportam também,
aparentemente, pelo que é novamente o Estado a conceder-lhe um
empréstimo. Além disso, há um auxílio de 422 milhões de euros
"destinado à transferência de ativos para o veículo de
gestão". Quanto mais difícil for a recuperação dos ativos,
mais o Estado será chamado a pagar. A garantia vai sendo executada
com prejuízo para o contribuinte.
"É aprovada
também uma margem adicional de segurança sob a forma de uma
garantia do Estado para prever eventuais alterações recentes no
valor da parte adquirida pelo Santander Totta, o que eleva o total
das potenciais medidas de auxílio para quase três mil milhões de
euros." Esta segunda garantia vale 323 milhões.
Em janeiro de 2013,
o antigo ministro das Finanças Vítor Gaspar aprovou uma injeção
de capital de 700 milhões de euros, já dada como perdida. O Banif
beneficiou ainda de 400 milhões em capital híbrido (CoCos), mas não
pagou 125 milhões. Mais um peso morto.
Partidos decidem
voto hoje
Só hoje é que os
partidos vão dizer como votarão amanhã num plenário
extraordinário a proposta de Orçamento Retificativo, que o governo
entregou ontem no Parlamento. Na conferência de líderes
parlamentares foi agendada para amanhã de manhã a discussão e
votação no mesmo dia do documento, o que não é inédito.
Com Miguel Marujo
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