UE
recusa ceder em “princípios fundamentais” para manter Londres
Sondagem
dá maioria aos britânicos que apoiam saída da União, o que
aumenta a pressão sobre David Cameron para conseguir bons resultados
nas negociações com os parceiros
Ana Gomes Ferreira /
18-12-2015 / PÚBLICO
O número de
britânicos que defende a saída do Reino Unido da União Europeia
(UE) já é superior aos que querem ficar. Numa sondagem que o jornal
The Telegraph publicou ontem, 47% dos 20 mil inquiridos disseram ser
a favor do Brexit e 38% contra; há 14% de indecisos.
O líder britânico
chegou a Bruxelas dizendo-se pronto a “lutar” por um bom acordo
Estes resultados são
um revés para o primeiro-ministro, David Cameron, que vai aproveitar
a cimeira de Bruxelas para renegociar a participação do seu país
na União. Na agenda do encontro que hoje termina estão ainda a
crise de refugiados e a luta ao terrorismo, com o debate de medidas
que visam aumentar o controlo das fronteiras externas da União.
À chegada a
Bruxelas, ontem, o líder britânico afirmou-se pronto a “lutar”
por um bom acordo, mas vários parceiros consideram “inaceitáveis”
algumas das suas exigências. A chanceler alemã, Angela Merkel,
recusa “renunciar aos princípios da UE para manter Londres na
União”, disse antes do arranque do encontro. O Presidente francês,
François Hollande, declarou igualmente que “é inaceitável rever
a base dos compromissos europeus”.
Cameron está há
meses a promover uma reforma na Europa e uma agenda que favoreça o
Reino Unido, tendo-se comprometido com os eleitores a fazer um
referendo sobre a continuação do país na União. No topo da sua
agenda está um compromisso que alivie a pressão da imigração no
Reino Unido, propondo uma redução substancial das ajudas públicas
(dos programas sociais) aos imigrantes, sejam eles de fora ou de
dentro da UE. A ideia é criar uma moratória de quatro anos até que
os imigrantes possam ter direito a pedir apoios.
“Queremos um
acordo equilibrado com o Reino Unido, mas isso deve funcionar para os
outros 27” Estados-membros, avisou o presidente da Comissão
Europeia, JeanClaude Juncker.
O plano de Cameron
esbarra na vontade da maior parte dos líderes da UE, incluindo o
português António Costa, que o considera discriminatório, em
especial no ponto mais controverso de limitar os direitos dos
cidadãos. As propostas de Cameron não se adequam aos tratados,
apesar de o primeiro-ministro britânico dizer que quer fazer
mudanças sem mexer neles.
Já em Bruxelas, o
primeiro-ministro português disse que “seria absolutamente
inaceitável que trabalhadores tivessem um tratamento discriminatório
por serem estrangeiros ou residirem há menos tempo”, e lembrou que
o que está em causa é a “liberdade fundamental de circulação”.
Uma possibilidade
que tem sido comentada é que Londres crie uma moratória não para
imigrantes mas para todos os trabalhadores — os jovens que entram
no mercado laboral ou os que regressam ao país depois de anos no
estrangeiro. Mas a opção é polémica e o Governo britânico é
mais favorável a que seja Bruxelas a apresentar uma contraproposta.
“Pusemos as nossas
exigências na mesa e ouvimos as reacções preocupadas dos nossos
parceiros europeus. Mas, até agora, não recebemos contrapropostas,
não recebemos uma sugestão alternativa que tenha o mesmo efeito”,
disse esta semana o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros,
Philip Hammond.
Entre as outras
propostas do primeiro-ministro britânico está a salvaguarda dos
interesses dos países que não aderiram à moeda única (Bruxelas
quer caminhar para uma maior integração na zona euro), o
alargamento do mercado livre (reduzindo os regulamentos) e um travão
na cada vez maior integração (deixando aos governos autonomia em
muitas matérias). Fontes do Governo disseram ao
The Telegraph que
não esperavam avanços nesta cimeira. Mas referiam que Cameron
chegou a Bruxelas decidido a seguir o exemplo de Margaret Thatcher,
que em 1984 conseguiu aprovar uma série de condições especiais
para o Reino Unido.
Tudo ou nada
Se o plano inicial
de Cameron era arrancar compromissos de fundo, a sua agenda está,
agora, mais modesta. Ainda assim, dizem os observadores, chegar a um
consenso será muito difícil — por isso, alguns analistas
escreveram que nesta cimeira Cameron começa um período de “tudo
ou nada” ( Le Monde).
O primeiro-ministro
(que é favorável à permanência; o Partido Conservador tem uma
forte ala eurocéptica) chegou a considerar realizar a consulta sobre
a permanência já em 2016, quando esperava fechar as negociações
com Bruxelas em Fevereiro. Esse prazo é irreal e, disseram as fontes
do The Telegraph, as conversações deverão prolongar-se até Abril.
A sondagem agora
divulgada, realizada pelo instituto de Lord Ashcroft, diz que os
cidadãos votarão pela saída da UE se Cameron não conseguir
convencer a opinião pública de que conseguiu resultados muito
favoráveis nas suas negociações com Bruxelas. O estudo de opinião
também mostra que 35% dos eleitores podem considerar votar a favor
da permanência se o líder do Governo conseguir bons resultados.
“Os eleitores
conservadores têm a chave do resultado do referendo”, disse Lord
Ashcroft, comentando a sondagem. “Mais de metade dos que votaram
nos conservadores [nas legislativas] de Maio estão do lado da
‘saída’ e, neste momento, consideram que ‘ficar’ representa
um risco maior” para o país. “Mas se [Cameron vencer as
negociações] poderão responder de outra maneira”.
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