OPINIÃO
Vem
aí um novo resgate?
JOÃO MIGUEL TAVARES
24/12/2015 - PÚBLICO
O país tem dinheiro
para pagar tudo isto? Ou temos um segundo resgate à vista?
Durante anos,
venderam-nos que o grande problema de Portugal – e a grande razão
para a intervenção da troika – era a dimensão desmesurada da
dívida pública e da dívida privada, e não a falta de solidez do
sistema bancário. A falta de solidez do sistema bancário era o
problema da Irlanda e da Espanha. A dimensão da dívida era o
problema de Portugal e da Grécia. Só que, de repente, a gente olha
à volta e percebe o quão profunda é a nossa miséria: afinal, o
problema do país é tudo. É a dívida pública. É a dívida
privada. E é a falta de solidez do sistema bancário.
João Duque escreveu
há dois dias no DN que nós estamos “a pagar pela reputação do
sistema financeiro”. Mas qual reputação, por amor de Deus? O BPN
foi ao fundo e passámos um cheque de cinco mil milhões para salvar
a reputação do sistema financeiro. O BES foi ao fundo e passámos
mais um cheque de três mil milhões para salvar a reputação do
sistema financeiro. O Banif vai ao fundo e passamos outro cheque de
três mil milhões para salvar a reputação do sistema financeiro. E
eu pergunto: quanto mais é preciso pagar para salvar a reputação
do sistema financeiro? Não será preferível admitir de uma vez por
todas que a reputação do sistema financeiro português está ao
nível da reputação nocturna das esquinas do Técnico e partir
dessa triste, mas muito simples, constatação para tentar encontrar
uma solução definitiva para o problema, como fizeram os irlandeses
e os espanhóis?
Se bem se recordam,
aquando do resgate de 2011, no pacote dos 78 mil milhões de euros
que a troika entregou a Portugal estavam previstos 12 mil milhões
para a recapitalização dos bancos nacionais. Ao mesmo tempo que em
Espanha se injectavam mais de 40 mil milhões nos bancos, com a
possibilidade de chegar aos 100 mil milhões, em Portugal só metade
do pacote financeiro disponível foi então utilizado. A banca
parecia sólida, o BES dispensou ajuda para evitar que o FMI metesse
o nariz nas suas contas, o país celebrou uma “saída limpa”, e o
resultado é o que se está a ver: a troika partiu, a linha dos 12
mil milhões foi entretanto extinta, e subitamente as necessidades de
capitalização dos bancos não param de aumentar.
Recordo que há 10
dias o economista João César das Neves já afirmava que o buraco do
Banif poderia ser demasiado grande para as actuais capacidades do
sistema financeiro português. “É possível que tenhamos de pedir
ajuda internacional”, dizia ele. Eu sei que nestas coisas é
preciso ter cuidado com os alarmismos – mas não me parece que até
agora as práticas não-alarmistas tenham sido particularmente
eficazes. Aquilo que estamos a assistir no Banif é a uma nova falha
da regulação, a uma nova ocultação da dimensão do problema e a
uma nova nacionalização de dívidas privadas, sem que, mais uma
vez, haja tempo para discutir o que quer que seja.
Mas há mais. O
buraco no Banif é astronómico, o último Expresso anunciava que a
Caixa reclama 400 milhões de euros, toda a gente fala nas
necessidades de capitalização do Novo Banco e de como esse número
pode ser assustador, quase ninguém fala nas necessidades de
capitalização do Montepio para que o país não morra de susto;
junte-se a Caixa ao Banif, o Banif ao Novo Banco, o Novo Banco ao
Montepio, e há uma pergunta que tem obrigatoriamente de ser feita: o
país tem dinheiro para pagar tudo isto? Ou temos um segundo resgate
à vista? Não me alarmem – mas digam-me, por favor, que eu gostava
de saber.
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