Queda
da economia brasileira é pior do que previsões
KATHLEEN GOMES (no
Rio de Janeiro) 02/12/2015 – PÚBLICO
Alguns
dos índices económicos são os piores em 20 anos. Inflação,
desemprego e crise política têm impacto negativo na economia.
A situação da
maior economia da América Latina é pior do que as previsões
apontavam para este ano, prometendo agravar o pessimismo que já
tomou conta das conversas no dia-a-dia dos brasileiros. O produto
interno bruto (PIB) brasileiro caiu 3,2% entre Janeiro e Setembro
deste ano, divulgou esta terça-feira o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (equivalente ao Instituto Nacional de
Estatística português). Trata-se da maior contracção consecutiva
registada num ano desde que aquela agência de estatística começou
a contabilizar esses dados, em 1996.
Os resultados
negativos do terceiro trimestre de 2015, que registou uma queda de
1,7% em relação aos três meses anteriores, são piores do que as
expectativas dos economistas, que esperavam uma retracção de 1,2%.
A contracção é ainda maior – um recuo de 4,5% do PIB – quando
se comparam os resultados do terceiro trimestre de 2015 com o mesmo
período do ano passado.
O Ministério das
Finanças brasileiro disse num comunicado que o resultado negativo
“veio abaixo do esperado”, referindo que o desempenho do PIB tem
sido afectado pela incerteza de natureza económica e não económica
que persiste há vários meses no Brasil”, além de factores como
“a queda dos preços das commodities” (matérias-primas) e o
“fraco nível da actividade económica mundial”.
A desaceleração da
economia brasileira é a mais acentuada entre 41 países que já
divulgaram os dados do PIB referentes ao terceiro trimestre de 2015.
O resultado é mais notório por acontecer num período em que boa
parte da economia mundial cresceu, nota o jornal Folha de S. Paulo:
dos 41 países, 35 tiveram um crescimento ou permaneceram estagnados
(caso de Portugal). No grupo de países cuja economia encolheu
encontram-se, além do Brasil, a Grécia, Dinamarca, Japão, Estónia
e Taiwan.
As perspectivas não
são auspiciosas. A taxa de inflação atingiu os 10% pela primeira
vez desde que o Partido dos Trabalhadores (PT) chegou ao governo, em
2003. O desemprego, que há muito estava em queda e que se manteve
abaixo dos 5% durante a maior parte de 2014, aumentou para 7,9% em
Outubro. As taxas de juro são elevadas, para controlar a inflação,
mas o crédito fica mais caro. Diante deste quadro, o consumo das
famílias brasileiras, que durante muito tempo impulsionou o
crescimento da economia e representa aproximadamente dois terços do
PIB, tem vindo a cair consecutivamente ao longo do ano. No terceiro
trimestre de 2015, os gastos dos brasileiros contraíram 4,5% em
relação ao mesmo período do ano passado. Entre o final de 2003 e
2014, o consumo das famílias brasileiras crescia sem parar.
Mesmo com a
desvalorização do real em relação ao dólar, o que em teoria
deveria beneficiar as exportações, estas caíram 1,1%. A
agricultura, que sempre compensou o desempenho negativo de outros
sectores, também caiu 2,4%.
O cenário no sector
da construção civil é ainda pior: no terceiro trimestre de 2015
recuou 6,3% em comparação com igual período do ano passado. A
crise neste sector está ligada à redução dos gastos do Governo e
às investigações da Operação Lava-Jato, que levaram à detenção
dos directores e donos das maiores empresas de construção do país,
acusados de subornar funcionários da empresa pública Petrobras.
A crise política no
Brasil também está a contribuir para a crise económica. A
Presidente Dilma Rousseff, debilitada por insistentes tentativas de
impeachment, tem tido dificuldades em conseguir que um Congresso
hostil aprove as medidas de austeridade fiscal que, segundo o seu
ministro da Economia, Joaquim Levy, servirão para meter as contas
públicas em ordem e relançar a economia.
Enquanto a maior
parte dos observadores fala de recessão, o diagnóstico do principal
analista do grupo Goldman Sachs para a América Latina, Alberto
Ramos, é de que o Brasil entrou numa depressão. “O que começou
como uma recessão fomentada pelas necessidades de ajustamento de uma
economia que acumulou grandes desequilíbrios macroeconómicos está
agora a transformar-se pura e simplesmente numa depressão”,
escreveu num relatório esta terça-feira, segundo a Bloomberg.
Sem comentários:
Enviar um comentário