sábado, 6 de dezembro de 2014

Motorista de José Sócrates recusou esclarecer o juiz Carlos Alexandre / No Bairro da Boavista dizem que João Perna gostava de “boa vida” /O advogado que foi forcado e que partilha as teias empresariais de Santos Silva / Antes de ser preso, motorista de Sócrates quis despedir-se.

O motorista de José Sócrates foi várias vezes detido no bairro onde vivia em Lisboa  

Motorista de José Sócrates recusou esclarecer o juiz Carlos Alexandre
PEDRO SALES DIAS e ANA HENRIQUES 06/12/2014 - PÚBLICO
João Perna não falou sobre o alegado transporte de malas de dinheiro para Paris nem sobre actuação de Sócrates. É agora defendido por Ricardo Candeias, que criou uma plataforma usada por advogados durante o bloqueio do Citius.
 O motorista de José Sócrates foi várias vezes detido no bairro onde vivia em Lisboa

O motorista de José Sócrates, um dos detidos da Operação Marquês, não prestou qualquer esclarecimento ao juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal Carlos Alexandre sobre o seu alegado envolvimento no processo, nem sobre indícios que pudessem incriminar o ex-governante, adiantou fonte judicial. João Perna, de 45 anos, respondeu com silêncio às interrogações levantadas pela investigação iniciada já no ano passado.

No dia 21 de Novembro, quando foi presente ao juiz no Campus de Justiça, em Lisboa, João Perna estava acompanhado por Daniel Bento Alves, advogado do escritório de Proença de Carvalho, que representa Sócrates em vários processos contra órgãos de comunicação social em que o ex-governante é queixoso.

Entretanto, há cerca de uma semana o advogado renunciou à defesa de João Perna. O escritório de Daniel Proença de Carvalho assumiu a defesa do motorista apenas durante os interrogatórios. A conta pelos serviços jurídicos desses três dias terá sido assumida por Sócrates, noticiou o Expresso.

João Perna tem entretanto um novo advogado. Ricardo Marques Candeias, da sociedade Candeias Advogados, é o novo defensor do motorista, que é suspeito de branqueamento de capitais, fraude fiscal qualificada e ainda posse de arma proibida.

João Perna é um velho conhecido da polícia. Antes de começar a trabalhar para o ex-primeiro-ministro, há cerca de seis anos, foi várias vezes detido por posse de droga no Bairro da Boavista, na zona de Benfica, em Lisboa. Numa dessas vezes foi detido por factos mais graves: tráfico de droga e posse de arma proibida, crimes pelos quais terá sido condenado, adiantou fonte policial ao PÚBLICO. A PSP referenciava-o então pelas fortes ligações a consumidores e traficantes naquele bairro. O tráfico desenvolve-se essencialmente num café que já em Dezembro de 2009 foi visado pela PSP numa operação direccionada para os estupefacientes.

Desde que passou a trabalhar para Sócrates, João Perna terá mudado de vida e não mais foi referenciado pela polícia. Só recentemente, neste processo, voltou a cair nas malhas na justiça. Está agora preso preventivamente no estabelecimento prisional anexo às instalações da Judiciária, em Lisboa. O motorista iria periodicamente de automóvel a Paris entregar dinheiro vivo ao ex-primeiro-ministro, em quantias que atingiam as dezenas de milhares de euros.

“Foi a família de João Perna que [agora] nos contactou para o defendermos”, confirma Ricardo Marques Candeias. “Represento-o desde 26 de Novembro e já o visitei várias vezes. Está confiante de que as coisas se irão resolver da melhor forma, embora se encontre muito surpreendido com tudo isto”.

O advogado, que diz estar a trabalhar neste caso com outros dois colegas, garante que vai recorrer para o Tribunal da Relação de Lisboa da prisão preventiva. No meio judicial há quem considere o motorista o elo mais fraco do caso que envolve o ex-primeiro-ministro, precisamente por uma eventual confissão sua poder vir a incriminar o patrão.

Embora sem reputação firmada na justiça penal, a Candeias Advogados já representou arguidos de outros processos-crime mediáticos. Ricardo Marques Candeias dá como exemplos o caso Máfia da Noite, que envolvia homicídio, ofensas agravadas à integridade física, extorsão e burla, o caso do assassinato de um casal de ourives da Foz do Arouce, em Penacova, a burla de laboratórios farmacêuticos em Viseu e o abuso sexual de um menor por um agente da autoridade, em Lisboa.

Mas a razão pela qual a sociedade ganhou protagonismo recentemente foi por ter criado uma plataforma electrónica paga que permitia aos advogados ultrapassarem alguns dos problemas provocados pelo crash do sistema informático dos tribunais de primeira instância, o Citius.

Próximo do ex-bastonário Marinho e Pinto, Ricardo Marques Candeias demitiu-se em Setembro do cargo de presidente da Comissão Nacional de Avaliação da Ordem dos Advogados, em litígio com a actual bastonária, Elina Fraga. Esta comissão tem como missão zelar pelos processos de avaliação final dos advogados estagiários, competindo-lhe definir o conteúdo dos exames nacionais de avaliação e agregação.

Advogado desde 1994, o defensor de João Perna é especialista em questões contabilísticas e direito societário, tendo trabalhado para a Caixa Geral de Depósitos, a Ordem dos Médicos e a Estradas de Portugal. Um currículo que faz de alguma forma lembrar o do advogado de Sócrates, João Araújo, também mais conhecido pela sua experiência na área do direito comercial, bancário e cível do que no penal.

Presidente da  Associação Portuguesa dos Jovens Advogados entre 2001 e 2003, Ricardo Candeias pertenceu, entre 2010 e 2011, à Comissão para a Elaboração do Programa de Eficiência Operacional da Justiça criada pelo Governo. com Mariana Oliveira




No Bairro da Boavista dizem que João Perna gostava de “boa vida”
ROMANA BORJA-SANTOS 06/12/2014 - PÚBLICO
João Perna, o motorista de 45 anos de José Sócrates, é considerado uma peça-chave no processo que envolve o ex-primeiro-ministro. Cresceu num bairro social onde dizem que é "boa gente".

A detenção de José Sócrates aconteceu na noite do dia 21 de Novembro, uma sexta-feira. Hugo Marques só viu a notícia na manhã de sábado e a primeira reacção foi “ligar ao Perna”. O telemóvel do amigo estava desligado. “Ainda pensei que tivesse ido levar coisas lá para o tribunal”, conta ao PÚBLICO. Só horas mais tarde é que Hugo percebeu que João Pedro Perna, com quem cresceu no Bairro da Boavista, em Lisboa, tinha sido afinal o primeiro detido no âmbito da Operação Marquês. A detenção ocorreu às 21h38 de 20 de Novembro e Hugo ainda não conseguiu voltar a falar com o amigo “com quem tinha estado há umas duas ou três semanas numa discoteca” e que vinha frequentemente ao bairro, apesar de já morar no Samouco, concelho de Alcochete.

Aos 45 anos, João Perna é considerado uma peça-chave no processo que envolve o antigo governante. As escutas efectuadas pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal apontam, alegadamente, para viagens periódicas a Paris, onde supostamente entregaria dinheiro vivo a Sócrates, escondido em malas. Está indiciado por fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e detenção de arma proibida, tendo o Tribunal Central de Instrução Criminal determinado a medida de coacção de prisão preventiva. Ficou desde então no estabelecimento prisional anexo à Polícia Judiciária de Lisboa, num espaço partilhado com outro arguido, o empresário Carlos Santos Silva, amigo de infância de Sócrates. Foi representado pelo escritório de Proença de Carvalho, que entretanto deixou o caso após o interrogatório. O novo advogado é Ricardo Marques Candeias, da Candeias Advogados.

Desde 2011 que era motorista do ex-primeiro-ministro, mas Hugo garante que os “biscates” tanto para o PS como para Sócrates e a sua família começaram antes. Talvez há dez anos. “Sabia que ele ia levar a mãe do Sócrates e os miúdos aqui e ali”, explica. E viagens a Paris? “Sim, ele andava para lá muitas vezes e sei que levava coisas, mas nunca comentou que fosse o dinheiro que se anda para aí a dizer. Era um chavalo às direitas, não podem dizer o contrário, mas claro que nos últimos anos a vida dele melhorou”, remata Hugo. Antes, trabalhou ainda nas obras, para as quais também conseguiu arrastar Hugo e “teve a loja de malas, que fechou”.

A loja a que Hugo faz referência corresponde à empresa João Perna — Comércio de Marroquinaria, Unipessoal, Lda., constituída em 2003 e dissolvida em 2008 pelo agora motorista. De acordo com os registos consultados pelo PÚBLICO dedicava-se ao “comércio por grosso de bens de consumo, comércio a retalho de calçado, em estabelecimentos especializados, e comércio de outros veículos automóveis”.

A empresa tinha sede na Praceta Raul Proença, n.º 7, 3.º esquerdo, em Algueirão-Mem Martins, Sintra, onde Perna chegou a viver antes da mudança para a margem Sul. Ainda mantém a casa na Boavista, a de Algueirão e do Samouco — onde os vizinhos pouco sabem sobre ele. Nos cafés das redondezas diz-se que era calado, apesar de se comentar que “andava a trabalhar para o Sócrates”. Nas vivendas em frente ao rés-do-chão da Rua Gabriel Pedro, onde vivia e onde foi detido, deu-se pela mudança em 2011 para um Mercedes cinza-prateado, que contrastava com a roulotte que ainda mantém estacionada nessa rua.

Já no bairro social na zona de Benfica onde o motorista cresceu, muitos preferem não comentar o caso do “Perna” ou “Pernas” — como é conhecido. No café dos seus primos a boca não se abre. Outros vizinhos asseguram, sem se identificarem, que gostava da “boa vida”, mas que tanto ele como a família eram “boa gente”, ainda que se tenha “metido em algumas”. Antes de ser motorista de Sócrates, Perna foi detido várias vezes pela PSP, uma delas por tráfico de droga e posse de arma ilegal. Maria Odete e Maria Virgínia adiantam que o pai de Perna morreu cedo e que a mãe “ou morreu há pouco ou está para um lar”. Ao mesmo tempo apontam para onde vive o filho mais novo de Perna. Terá 23 anos. Tem também uma filha mais velha “noutro lado”, com 25 anos. Em ambos os casos foram fruto de relações pouco duradouras.

Maria Odete mostra ainda a rua onde a mãe de Perna “vendia pastéis dos muito bons” ao fim-de-semana. Era um complemento das limpezas que fazia no PS, diz, acrescentando que “a irmã também está para lá”, e que é tudo “gente honesta”. A irmã “muito certinha que até se formou” de quem Odete fala é Paula Cristina Perna Bernardino, funcionária do PS, partido pelo qual ocupou o último lugar na lista de suplentes para as eleições europeias de 2009. Foi também secretária pessoal de Rui António Ferreira Cunha, quando este tutelou diferentes secretarias de Estado no primeiro e segundo Governo de António Guterres.

Odete recorda “tropelias” próprias do bairro que envolvem Perna. Mas assegura que “mesmo que se venha a saber que fez o que se diz que fez” vai mantê-lo “no coração”. Solta finalmente o que não teve coragem de dizer ao início. “Ele e o meu filho andaram metidos na droga e foi o Pernas que o salvou numa overdose. Devo-lhe a vida do meu filho, que acabou por morrer pouco depois. Ao menos o Pernas saiu disso.” com Pedro Sales Dias




O advogado que foi forcado e que partilha as teias empresariais de Santos Silva
ROMANA BORJA-SANTOS 06/12/2014 - PÚBLICO
Gonçalo Trindade Ferreira foi o único arguido que não ficou em prisão preventiva. Foi o procurador da mãe de Sócrates e de Carlos Santos Silva na venda das casas de Maria Adelaide ao empresário.

Gonçalo Trindade Ferreira tem 38 anos e está inscrito na Ordem dos Advogados desde Janeiro de 2007. As noites de festa e o tempo dedicado ao grupo de forcados Aposento da Chamusca terão prolongado o curso de Direito na Universidade Católica. Estas são das poucas informações que os amigos e colegas confirmam ao PÚBLICO sobre o advogado benfiquista, filho de um médico e de uma antiga funcionária da secretaria de Estado da Cultura, que estudou no Colégio São João de Brito, e que foi detido às 2h15 de dia 21 de Novembro. Foi o terceiro a ser levado no âmbito da Operação Marquês, que culminou com a detenção de José Sócrates.

O Tribunal Central de Instrução Criminal imputou a Gonçalo Nuno Mendes da Trindade Ferreira os crimes de fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais – exactamente os mesmos do motorista João Perna, do empresário Carlos Santos Silva e do ex-primeiro-ministro, estando este último também indicado por corrupção. Trindade Ferreira foi o único que não ficou em prisão preventiva, mas está proibido de contactar com os outros arguidos e de se ausentar para o estrangeiro. Teve de entregar o passaporte e está também sujeito à obrigação de se apresentar bissemanalmente no Departamento Central de Investigação e Acção Penal.

Dos tempos de faculdade sabe-se, segundo a revista Sábado, que terá sido colega dos actuais secretários de Estado centristas Adolfo Mesquita Nunes e João Almeida e de António Castro Caldas, filho do ex-bastonário da Ordem dos Advogados. Só mais tarde surgiram ligações aos nomes do processo que envolve José Sócrates. Os documentos aproximam Trindade Ferreira do empresário Carlos Santos Silva, amigo de José Sócrates. A ligação mais directa é concretizada a 6 de Junho de 2011 – apenas um dia depois das eleições legislativas em que o ex-primeiro-ministro saiu derrotado.

Nessa data, como procurador, Trindade Ferreira intermediou a venda a Carlos Santos Silva de um dos apartamentos de Maria Adelaide de Carvalho Monteiro, no Cacém. De acordo com a escritura, a que o PÚBLICO teve acesso, a mãe de Sócrates vendeu por 100 mil euros um apartamento num prédio na Rua Dr. António José de Almeida, onde detinha um outro imóvel. O segundo apartamento é vendido um mês mais tarde, a 7 de Julho de 2011, também a Santos Silva, num negócio em que Trindade Ferreira surge de novo como procurador. Desta vez, valeu 75 mil euros.

Em qualquer dos casos, o valor é muito superior ao praticado para outras casas na mesma zona. Além do preço, as suspeitas terão sido avolumadas por os apartamentos estarem desde essa data sem nenhuma utilização aparente, tendo um deles uma inquilina antiga. Mais de um ano depois, Maria Adelaide vendeu também ao empresário através do mesmo advogado a casa na Rua Braamcamp, no edifício Heron Castilho, onde José Sócrates ainda tem um apartamento. O negócio foi concretizado por 600 mil euros – um valor que neste caso está de acordo com outros imóveis com as mesmas características, surgindo o alerta pelos envolvidos na venda.

Mas esta não foi a única vez em que o nome do advogado e do empresário se cruzaram. Carlos Santos Silva era, desde 2009, sócio da Belmontagro – Sociedade Agrícola, uma empresa com sede em Belmonte destinada à “exploração agrícola e compra e venda de imóveis”. Em 2012 há um aumento do capital e Gonçalo Trindade Ferreira entra como sócio. Carlos Santos Silva mantém-se no conselho de administração da Belmontagro até Julho de 2013, altura em que entra uma nova equipa liderada por um colega da Proengel, também detida por Santos Silva.

Nas escrituras das casas de Maria Adelaide o advogado indicou como morada a casa onde viveu com os pais. Mas na Belmontagro referiu um andar na Alameda Roentgen, na zona de Telheiras, Lisboa. Essa é também a mesma rua que surge associada a Trindade Ferreira no site da Ordem dos Advogados, apesar de a sociedade de que faz parte funcionar na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa. A morada na Alameda Roentgen coincide, porém, com a sede da Proengel, a empresa de projectos de engenharia e de arquitectura constituída em 1988 e que é detida por Santos Silva. Em Julho de 2013 é também Trindade Ferreira quem assina os contratos de adjudicação da construção e fiscalização da obra de um lar em Estremoz à Constrope, fundada por Santos Silva.

Trindade Ferreira surge, entre vários outros exemplos, também como sócio da Lulilartond, uma empresa dedicada ao sector da arquitectura e construção e que detém em conjunto com a Activadvisor, uma firma destinada à consultoria de arquitectura e engenharia e de que Trindade Ferreira é sócio e gestor em conjunto com Rui Mão de Ferro, que administra a empresa com a maior parte da SAD do Clube de Futebol os Belenenses, liderada por Rui Pedro Soares, que foi mencionado no processo Face Oculta. Estes nomes cruzam-se de novo na consultora Itineresanis, para a qual Trindade Ferreira entra em 2011 e que era gerida por Santos Silva e em que Mão de Ferro é sócio.

Na sua carreira, pelo caminho ainda tentou, através do Departamento de Acordos Internacionais de Segurança Social, concorrer em 2006 ao Programa de Estágios Profissionais na Administração Pública. Foi excluído por não ter mencionado a sua data de nascimento. Em Maio de 2008 também foi excluído do concurso para um estágio como inspector superior na Inspecção-Geral dos Serviços de Justiça. Neste caso o motivo de exclusão invocado foi a falta de informação curricular. Já no final do ano passado abriu, em Lisboa, com mais quatro sócios (três dos quais advogados), a loja de vinhos Portugal Wine Room.

Mais recentemente criou com um colega a sociedade de advogados Raposo Magalhães, Trindade Ferreira & Associados. O PÚBLICO tentou ouvir Raposo Magalhães que remeteu quaisquer declarações para a advogada que representa o sócio, Paula Lourenço. Os restantes advogados da sociedade também não se quiseram pronunciar. O site da sociedade descreve Gonçalo Trindade Ferreira como um sócio, com conhecimentos de inglês, francês e castelhano, e que tem como “áreas preferenciais” de trabalho o “direito administrativo, direito da contratação pública, direito tributário e direito do desporto”. Sobre a sociedade é explicado que “aborda os assuntos que lhe são confiados com rigor, profissionalismo e competência”.

Antes de ser preso, motorista de Sócrates quis despedir-se
 MARLENE CARRIÇO -  5/12/2014, OBSERVADOR
Pouco tempo antes de ser preso, João Perna já queria deixar de ser motorista do ex-primeiro-ministro José Sócrates. E chegou a responder a anúncios de emprego.

O motorista de José Sócrates, João Perna, andou à procura de outro emprego antes de ter sido detido, na noite do dia 20 de novembro, no âmbito da Operação Marquês, apurou o Observador junto de fonte próxima do motorista.

João Perna chegou mesmo a responder, recentemente, a um anúncio de emprego para motorista. Estava cansado das horas extra e dos fins de semana de trabalho. E até chegou a manifestá-lo numa página da rede social Facebook. Faltava-lhe tempo para a família.

João Perna era motorista do ex-primeiro-ministro, mas também da mãe do ex-governante e de amigos. O Observador sabe que o contrato de trabalho de Perna era abrangente e que previa que ele transportasse outros familiares e pessoas próximas do engenheiro José Sócrates.

Contratado pelo ex-primeiro-ministro após a sua saída do Governo, João Perna foi também motorista da mãe do ex-chefe de Governo. E, segundo o Expresso, esteve ao serviço do Partido Socialista em campanhas eleitorais. Terá sido por esta altur que travou amizade com o então motorista de Sócrates, que mais tarde o recomendou.

O motorista está preso preventivamente no estabelecimento prisional da Polícia Judiciária, em Lisboa, suspeito dos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e posse de arma proibida. Fonte próxima diz que ele tem uma grande “rede de apoio”. Nessa rede, incluem-se a a mulher e a irmã, Paula Perna, funcionária do PS na área das relações públicas.

De acordo com vários jornais, o motorista de José Sócrates – que também está preso preventivamente, mas na prisão de Évora – será a chave da investigação da Operação Marquês. O motorista levaria dinheiro vivo ao ex-primeiro-ministro em Paris, um esquema que terá sido abandonado nos últimos meses, mas que serviu de base à investigação do Ministério Público, depois de João Perna ter sido apanhado em escutas e ter sido seguido durante meses.

“Se não fazia ele ia para lá outro fazer”

No Samouco, vila onde João Perna reside, no concelho de Alcochete, os vizinhos traçam um perfil discreto do motorista. “O senhor vinha cá bebia café, tirava tabaco, e ia embora”, relatou Carlos Cruz, que explora o bar da Sociedade Filarmónica Progresso e Labor Samouquense, acrescentando que João Perna “era simpático e muito calado”. Carlos Cruz só soube do sucedido quando viu a fotografia do motorista no jornal e sem querer adiantar-se muito sobre o assunto apenas o defendeu dizendo que “se não fazia ele ia para lá outro fazer”.

Mesmo ao lado, na Papelaria Sandra, Sandra Costa retratou igualmente João Perna como uma pessoa “discreta e educada”. Em relação aos crimes de que agora está indiciado, Sandra Costa é da opinião de que “ele devia saber o que andava a fazer”, mas a verdade é que “se não era ele, era outro, e ele era despedido”.


Num outro café próximo da casa de João Perna, e que também costumava ser frequentado pelo motorista, nenhuma das pessoas presentes se chegou à frente para o incriminar. Afinal, “ele era só um serviçal”, repetiram.

Sem comentários: