Hoje é "dia D" na
Grécia: ou há Presidente ou há eleições que o Syriza pode ganhar
MARIA JOÃO
GUIMARÃES 29/12/2014 - PÚBLICO
Primeiro-ministro Antonis Samaras faz novo apelo contra “aventuras”. Grécia
prepara-se para possíveis legislativas antecipadas após votação para Presidente.
Numa Grécia com
opiniões extremadas entre avisos de catástrofe iminente e apelos à mudança, o
Parlamento vota esta segunda-feira o candidato apontado pelo Governo de Antonis
Samaras (Nova Democracia, conservador) para a presidência. Se Stavros Dimas não
receber os votos de 180 dos 300 deputados, o Parlamento é imediatamente
dissolvido e serão marcadas eleições antecipadas, provavelmente para 25 de
Janeiro ou 1 de Fevereiro. E as sondagens continuam a dar a maioria ao Syriza,
partido que defende a renegociação da dívida e reversão de medidas de
austeridade.
Numa entrevista
sábado à televisão estatal grega, Antonis Samaras fez um último apelo: “O povo
grego não quer eleições antecipadas. O povo grego percebe onde esta aventura
pode ir”, disse. “Fiz, e farei tudo em meu poder para evitar eleições
antecipadas”, continuou.
Aproveitando o
facto de as sondagens dizerem que a maioria dos gregos não quer eleições
antecipadas, Samaras pressionou todos os partidos que já disseram que não vão
votar a favor do seu candidato: “Os que não votarem ficam com a
responsabilidade de levarem a Grécia para eleições que nenhum grego quer.”
A constituição
grega obriga à dissolução do Parlamento e a eleições caso o Presidente não seja
eleito.
Na imprensa,
fontes dos círculos governamentais pareciam conformadas de que não seria
possível convencer deputados suficientes para eleger o Presidente e que irá
mesmo haver legislativas no final de Janeiro. E analistas dizem que o tom de
Samaras era mais próximo de um discurso de campanha eleitoral, parecendo o
primeiro-ministro já resignado em não conseguir convencer os 12 deputados que
faltam – na última ronda, a segunda, Dimas teve 168 votos a favor (na primeira
foram 160).
O
primeiro-ministro disse ainda que não veria mal nenhum no candidato ser eleito
com votos de deputados do partido extremista Aurora Dourada, já que quando na
oposição se juntam os votos do Syriza e deste partido neonazi ninguém acha
problemático. “Mais uma razão para outros partidos votarem [a favor de Dimas]
para assegurar que a decisão não fica nas mãos deles [deputados do partido de
extrema-direita]”, comentou.
“As eleições
antecipadas beneficiam-me. Os eleitores gregos não vão deixar que aqueles que
fazem falsas promessas os levem para a beira do colapso de novo”, disse. “Se
houver eleições antecipadas, vamos ganhar. Sinto isso onde quer que vá. As
sondagens mostram o intervalo a diminuir”, continuou Samaras, referindo-se à
diferença atribuída pelas sondagens ao Syriza. As sondagens publicadas um dia
depois davam ao partido de esquerda radical com diferenças de mais de três
pontos percentuais: 27,2% contra 24,7% (instituto Kapa para o jornal To Vima),
28,3% contra 25% (Instituto Alko para o semanário Proto Thema).
No mesmo dia, o
ministro alemão das Finanças, Wolfgang Shäuble, veio dizer que “novas eleições
não mudam nada na dívida grega”, que é de 175% do PIB. “Cada novo Governo deve
respeitar os acordos feiros pelos seus antecessores.”
A Grécia tentava
sair do programa com a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo
Monetário Internacional) já no final de 2014, mas desentendimentos sobre as
reformas feitas levaram a uma extensão até Fevereiro de 2015. Ainda está a ser
feita uma avaliação pela troika que ditará a entrega da última tranche de 7 mil
milhões de euros do empréstimo.
O Ministério das
Finanças já avisou que o país poderá enfrentar problemas de liquidez a partir
de Março, quando o Governo terá de negociar um novo empréstimo de 22 mil milhões,
provavelmente na forma de uma linha de crédito, e a imprensa tem pintado um
quadro catastrofista em caso de vitória do Syriza – o diário Ta Nea ilustrou a
primeira página sobre as consequências de uma vitória do Syriza com um urso no
meio da neve evocando um possível “inverno russo”.
“Está em curso
uma operação de terror, de mentiras”, reagiu o líder do Syriza, Alexis Tsipras.
“Uma operação cujo objectivo é semear o terror entre os gregos e atirar o país
para uma situação de ainda maior pobreza.”
O diário
Kathimerini resume os dois sentimentos dominantes nas opções de voto dos gregos
em caso de eleições no final de Janeiro: medo e raiva
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