Ana Gomes recorre do arquivamento
do processo dos submarinos e conclui que "foi o Ministério Defesa que foi
contratado pela Escom"
19 Dezembro 2014,
16:25 por Lusa
A eurodeputada Ana Gomes disse
hoje à Lusa que vai recorrer da decisão de arquivamento do processo dos
submarinos, considerando que o teor do despacho revela que, "afinal, foi o
Ministério da Defesa que foi contratado pela Escom".
Em declarações à
Lusa, após já ter sido notificada da decisão do Ministério Público de arquivar
o processo em torno da aquisição de submarinos em 2004, Ana Gomes disse que,
após uma primeira leitura das mais de 300 páginas de despacho dos procuradores,
que a levará "certamente a reagir na Justiça", pois,
"naturalmente", vai interpor recurso, tem de fazer uma segunda
correção ao que antes dissera.
"Quando eu
fui declarar perante a comissão de inquérito parlamentar, eu não tive problemas
em admitir um erro, e apresentei mesmo desculpas, por ter dito, nas queixas que
fiz à Comissão Europeia, que a Escom [antiga empresa do Grupo Espírito Santo]
tinha sido contratada pelo Ministério da Defesa. Mas agora tenho de fazer uma
outra correcção: é que, de facto, não foi a Escom que foi contratada pelo
Ministério da Defesa, foi o Ministério da Defesa e o [então] ministro da Defesa
[Paulo Portas] que foram contratados pela Escom, porque estiveram ao serviço da
Escom e do BES", declarou.
Sublinhando que
esta é a conclusão que tira face ao que já leu do despacho, Ana Gomes disse
preferir não fazer, para já mais comentários, a não ser prestar "homenagem
ao grande trabalho feito pelos procuradores, em condições extremamente
difíceis, nos primeiros e últimos anos, porque a investigação esteve
praticamente parada entre 2010 e 2013".
A aquisição por
Portugal de dois submarinos alemães disponibilizou aos quatro arguidos e a
membros do Grupo Espírito Santo 27 milhões de euros, mas o Ministério Público
não conseguiu obter provas sobre os fluxos financeiros e arquivou o caso.
"No
inquérito concluiu-se que a GSC [German Submarine Consortium] pagou à Escom UK
30.063.265,17 de euros e que (...) terão ficado na disponibilidade dos arguidos
e de membros do Grupo Espírito Santo cerca de 27 milhões de euros", lê-se
numa nota do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) sobre o
arquivamento do caso, divulgada quinta-feira.
O inquérito, em
investigação desde 2006, teve como arguidos Miguel Nuno Horta e Costa, Luiz
Miguel Horta e Costa, Pedro Manuel de Castro Simões Ferreira Neto e Hélder José
Bataglia dos Santos, suspeitos de fraude fiscal qualificada, branqueamento e
corrupção.
O Ministério
Público considerou, contudo, "inviável, face à impossibilidade de
reconstituição de todos os fluxos financeiros, recolher prova documental quanto
ao destino de todas as quantias na medida em que não foi obtida resposta,
nomeadamente, de carta rogatória enviada para a Bahamas".
O contrato da
compra dos dois submarinos por mil milhões ocorreu em 2004, quando o
primeiro-ministro era Durão Barroso e ministro da Defesa era Paulo Portas,
tendo este último sido ouvido este ano pelo MP, como testemunha no âmbito deste
processo.
Na nota de quatro
páginas sobre o arquivamento do inquérito são feitas ainda referências às
condenações nos tribunais germânicos, tendo os investigadores portugueses
lamentado que "as autoridades judiciárias alemãs nunca tenham facultado a
documentação" que lhes foi pedida e que "era indispensável à
reconstituição dos circuitos financeiros dos eventuais pagamentos de
'luvas'".
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