Isabel dos Santos retira OPA
sobre a Portugal Telecom
JOSÉ MANUEL ROCHA
23/12/2014 – PÚBLICO
Empresária estava
obrigada a aumentar a contrapartida oferecida por acção para 1,90 euros.
A empresária
angolana Isabel dos Santos decidiu retirar a oferta pública de aquisição (OPA)
que tinha lançado sobre a Portugal Telecom SGPS, depois de a Comissão do
Mercado de
Valores
Mobiliários (CMVM) ter exigido que o valor da contrapartida oferecida (1,35
euros por acção) fosse aumentado. A indicação era a média ponderada dos últimos
seis meses, algo que Isabel dos Santos sempre contestou.
Em comunicado ao
mercado, a Terra Peregrin, sociedade veículo criada por Isabel dos Santos para
lançar, afirma que a decisão da CMVM "implica a não verificação de uma
condição de lançamento da oferta", pelo que "a oferente decide, após
cuidada ponderação, retirar a oferta". A sociedade defende que a OPA
"nunca pretendeu ser hostil e que fez todos os esforços ao seu alcance
para a fazer chegar ao mercado".
Apesar de Isabel
dos Santos só agora ter anunciado a suspensão da operação, no final da semana
passada já circulavam rumores de que tal estaria para acontecer. Isto porque a
CMVM recusara o pedido para a dispensar da obrigação de avançar com uma oferta
sobre 100% do capital da PT SGPS sem que a contrapartida subisse para o valor
da média ponderada de cotação nos últimos seis meses (1,90 euros).
O preço oferecido
pela Terra Peregrin valorizava a Portugal Telecom SGPS, que tem como principal
activo a participação na Oi, em 1200 milhões de euros. Na sessão desta
sexta-feira, os títulos da empresa portuguesa fecharam a valer 1,006 euros.
No comunicado que
divulgou através da CMVM, a sociedade controlada pela empresária angolana
sustenta que a proposta que apresentou para a compra da PT era
"equitativa" e que se encontrava "devidamente justificada".
E acrescenta que estava convicta de que o pedido de dispensa seria aceite
porque os argumentos que invocara tinham todos eles "cabimento
legal".
A Terra Peregrin
recorda que nos últimos seis meses foram divulgados factos
"excepcionais" que tiveram impacto na evolução bolsista da PT e chama
a atenção para três que considera fundamentais: o não cumprimento do reembolso
dos empréstimos à Rioforte (do grupo Espírito Santo), a alteração dos termos de
fusão com a OI (com o peso da portuguesa a reduzir-se de 39,7% do capital para
22,8%) e a decisão da justiça do Luxemburgo de não aceitar o pedido de gestão
controlada da Rio Forte (o que dificulta um reembolso).
"Os eventos
referidos, afirma a Terra Peregrin, seriam suficientes para fundamentar o
afastamento do critério do preço médio ponderado ou, caso assim não se
entendesse, para que (...) fosse nomeado um auditor independente para a fixação
da contrapartida da oferta".
Como tal não
aconteceu, a empresária que já detém importantes posições de capital na NOS,
nos bancos BPI e BIC e na Galp, optou por renunciar ao interesse em mais um
activo português.
Já depois da
divulgação do comunicado ao mercado, o porta-voz da Terra Peregrin
interrogava-se sobre “os interesses menos transparentes que levaram a
administração da PT SGPS a opor-se à chegada da OPA ao mercado, incluindo a
difusão de informação comprovadamente falsa. A história desvendará as
motivações da administração da PT SGPS”.
Fonte oficial da
PT reagiu, dizendo que a administração da companhia “nunca foi hostil à OPA nem nunca tomou
partido”. O que fez foi pronunciar-se sobre as condições da operação, como está
obrigada por lei, e que, “de facto, considerou que o preço oferecido era baixo”.
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