( ...) "enquanto pregava as virtudes de um ultraliberalismo tão cego quanto o destino das farpas que disparava em todos as direcções onde julgava descortinar um opositor".
“Os Actos Valem mais que as
Palavras”
Um Ser não
pertence ao domínio da linguagem, mas dos actos. ... e esses actos tiveram, e
continuam a ter consequências !
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"Já não sou um liberal. O
Estado tem de ter força"
PAULO PENA e CRISTINA
FERREIRA 21/12/2014 - PÚBLICO
Carlos Abreu Amorim, coordenador dos deputados do PSD na comissão de
inquérito que investiga o fim do Grupo Espírito Santo e do BES, revela que
mudou a forma como vê a economia, depois de tantas crises e falências.
A surpreendente
entrevista ao deputado Carlos Abreu Amorim que hoje publicamos http://www.publico.pt/politica/noticia/ja-nao-sou-um-liberal-o-estado-tem-de-ter-forca-1680018
mostra como, às
vezes, um choque de realidade pode mexer em convicções que se julgavam
inabaláveis. Ele, um leitor e admirador de Friedman e de Hayek, um seguidor
atento da escola de Chicago, autor de um livro intitulado “É Difícil Ser Um
Liberal em Portugal”, confessa, “comovido”: “Já não sou um liberal.” Bastou-lhe
um mês de presença assídua na comissão parlamentar de inquérito ao BES, na qual
coordena a equipa de deputados do PSD. Figura polémica, para muitos “irritante”
e “truculento”, este professor de Direito começou a ser conhecido nos meios
políticos pelos seus comentários em jornais e televisões em que, durante anos,
zurziu o Governo Sócrates, enquanto pregava as virtudes de um ultraliberalismo
tão cego quanto o destino das farpas que disparava em todos as direcções onde
julgava descortinar um opositor. Andou pelos caminhos da Nova Democracia, o
defunto partido criado por Manuel Monteiro, mas a sua ascensão política só se
dá verdadeiramente com o convite de Passos Coelho para encabeçar, como
independente, a lista social-democrata pelo círculo de Viana do Castelo.
Hoje, o cargo de
figura de proa da bancada "laranja" na comissão de inquérito ao BES é
uma distinção assinalável para quem chegou há pouco. É à luz deste currículo
que as suas palavras são tão inesperadas e tão reveladoras. “Neste momento, em
Portugal, mais do que rótulos ideológicos, precisamos de aprender com a
experiência. O Estado tem de ter força.” É de elogiar o desassombro e até a
honestidade intelectual do deputado, mas há também aqui uma desilusão algo
serôdia. Hayek e Friedman foram os inspiradores de Reagan e Thatcher nos anos
80 e os Chicago boys uma espécie de modernização das teses libertárias de
Friedman sobre o mercado. A primeira-ministra britânica aplicou muito da sua
receita na Grã-Bretanha e a influência desta escola na teoria económica ainda
hoje tem seguidores. Até Clinton, o Presidente norte-americano mais incensado
pela esquerda, se deixou seduzir pela desregulamentação do mercado, acabando
por assinar o Graham-Leach-Bliley Act, que praticamente acabou com a separação
entre a banca comercial e a de investimento, abrindo portas às operações de
alto risco num sistema financeiro sem controlo. Estas teses floriram durante
anos, alimentadas pelo estertor da ex-URSS e pela apressada declaração sobre o
fim da História que celebrizou Fukuyama.
Enterrado o
comunismo, os amanhãs cantavam agora a ode ao capitalismo, como se,
subitamente, fosse possível apagar as contradições políticas, sociais e
económicas das sociedades contemporâneas. A crise financeira de 2008 acabou com
as ilusões e são cada vez mais as vozes de dentro do sistema a denunciar as
políticas ultraliberais. Veja-se a sra. Lagarde ou Philippe Legrain,
ex-conselheiro de Durão Barroso na Comissão Europeia. Abreu
Amorim descobriu agora. Mais vale tarde…
Texto corrigido
às 12h43 Carlos Abreu Amorim não é militante do PSD, mantendo-se como
independente.
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