domingo, 21 de dezembro de 2014

“Mea Culpa” ? Too Late ! / "Já não sou um liberal. O Estado tem de ter força"

 ( ...) "enquanto pregava as virtudes de um ultraliberalismo tão cego quanto o destino das farpas que disparava em todos as direcções onde julgava descortinar um opositor".
“Os Actos Valem mais que as Palavras”
Um Ser não pertence ao domínio da linguagem, mas dos actos. ... e esses actos tiveram, e continuam a ter consequências !

"Já não sou um liberal. O Estado tem de ter força"
PAULO PENA e CRISTINA FERREIRA 21/12/2014 - PÚBLICO
Carlos Abreu Amorim, coordenador dos deputados do PSD na comissão de inquérito que investiga o fim do Grupo Espírito Santo e do BES, revela que mudou a forma como vê a economia, depois de tantas crises e falências.
A surpreendente entrevista ao deputado Carlos Abreu Amorim que hoje publicamos http://www.publico.pt/politica/noticia/ja-nao-sou-um-liberal-o-estado-tem-de-ter-forca-1680018
mostra como, às vezes, um choque de realidade pode mexer em convicções que se julgavam inabaláveis. Ele, um leitor e admirador de Friedman e de Hayek, um seguidor atento da escola de Chicago, autor de um livro intitulado “É Difícil Ser Um Liberal em Portugal”, confessa, “comovido”: “Já não sou um liberal.” Bastou-lhe um mês de presença assídua na comissão parlamentar de inquérito ao BES, na qual coordena a equipa de deputados do PSD. Figura polémica, para muitos “irritante” e “truculento”, este professor de Direito começou a ser conhecido nos meios políticos pelos seus comentários em jornais e televisões em que, durante anos, zurziu o Governo Sócrates, enquanto pregava as virtudes de um ultraliberalismo tão cego quanto o destino das farpas que disparava em todos as direcções onde julgava descortinar um opositor. Andou pelos caminhos da Nova Democracia, o defunto partido criado por Manuel Monteiro, mas a sua ascensão política só se dá verdadeiramente com o convite de Passos Coelho para encabeçar, como independente, a lista social-democrata pelo círculo de Viana do Castelo.

Hoje, o cargo de figura de proa da bancada "laranja" na comissão de inquérito ao BES é uma distinção assinalável para quem chegou há pouco. É à luz deste currículo que as suas palavras são tão inesperadas e tão reveladoras. “Neste momento, em Portugal, mais do que rótulos ideológicos, precisamos de aprender com a experiência. O Estado tem de ter força.” É de elogiar o desassombro e até a honestidade intelectual do deputado, mas há também aqui uma desilusão algo serôdia. Hayek e Friedman foram os inspiradores de Reagan e Thatcher nos anos 80 e os Chicago boys uma espécie de modernização das teses libertárias de Friedman sobre o mercado. A primeira-ministra britânica aplicou muito da sua receita na Grã-Bretanha e a influência desta escola na teoria económica ainda hoje tem seguidores. Até Clinton, o Presidente norte-americano mais incensado pela esquerda, se deixou seduzir pela desregulamentação do mercado, acabando por assinar o Graham-Leach-Bliley Act, que praticamente acabou com a separação entre a banca comercial e a de investimento, abrindo portas às operações de alto risco num sistema financeiro sem controlo. Estas teses floriram durante anos, alimentadas pelo estertor da ex-URSS e pela apressada declaração sobre o fim da História que celebrizou Fukuyama.

Enterrado o comunismo, os amanhãs cantavam agora a ode ao capitalismo, como se, subitamente, fosse possível apagar as contradições políticas, sociais e económicas das sociedades contemporâneas. A crise financeira de 2008 acabou com as ilusões e são cada vez mais as vozes de dentro do sistema a denunciar as políticas ultraliberais. Veja-se a sra. Lagarde ou Philippe Legrain, ex-conselheiro de Durão Barroso na Comissão Europeia. Abreu Amorim descobriu agora. Mais vale tarde…


Texto corrigido às 12h43 Carlos Abreu Amorim não é militante do PSD, mantendo-se como independente.

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