Rússia classifica NATO como
principal ameaça à segurança nacional
RITA SIZA
26/12/2014 - PÚBLICO
Nova versão da doutrina militar do Kremlin foi aprovada pelo Presidente
Vladimir Putin.
A expansão das capacidades militares da NATO representa a maior ameaça à
segurança nacional da Rússia, apesar da “reduzida probabilidade” de uma guerra
aberta e de “larga escala” contra o país, diz uma nova versão, actualizada, da
doutrina militar do Kremlin que foi aprovada esta sexta-feira pelo Presidente
Vladimir Putin.
A revisão da
doutrina militar, originalmente definida por Putin em 2010, foi justificada com
a necessidade de prever as respostas aos novos desafios externos representados
pelo crescimento do bloco da NATO, pelo rescaldo da chamada Primavera Árabe, os
conflitos na Síria e Iraque e ainda a “desestabilização de várias regiões” nas
fronteiras da Rússia. Segundo o Kremlin, a revisão também veio incorporar novos
riscos internos para a segurança, como por exemplo ataques tecnológicos e
informáticos, terrorismo e até mesmo a corrupção.
A revisão surge
depois de meses de tensão e braço-de-ferro entre a Rússia e a NATO, em
sequência da crise na Ucrânia: a anexação da Crimeia pelo Presidente Putin, em
Março, e o apoio aos rebeldes separatistas das regiões de Lugansk e Donetsk,
acabaram por reeditar o antigo confronto da Guerra Fria. Aliás, o Kremlin
alertou o bloco atlântico para a possibilidade de uma crise sem retorno, e
ameaçou um corte definitivo de relações com Kiev, se a Ucrânia avançar com uma
candidatura formal para a adesão à NATO.
O ministro dos
Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, referiu-se à renúncia do estatuto
de neutralidade aprovado pelo Parlamento ucraniano esta semana como “um perigo”
para a segurança europeia e “uma provocação” fomentada pelos aliados
ocidentais, que “querem prolongar a crise na Ucrânia e promover a confrontação
entre a Rússia e a Ucrânia”, especulou.
As manobras
recentes dos Estados Unidos e dos aliados, que movimentaram tropas nos
territórios contíguos à fronteira russa, violam os princípios da legislação
internacional, declara o documento assinado por Putin. A principal preocupação
de Moscovo diz respeito ao desenvolvimento de um sistema balístico anti-míssil
estratégico, que os aliados vêm discutindo, e cuja instalação, segundo o
Kremlin, “põe em causa a estabilidade global e o equilíbrio de poder em termos
de capacidades nucleares (…) ou do recurso a armas convencionais estratégicas e
de precisão”.
O Kremlin também assinala um novo nível de
ameaça que tem a ver com a “emergência de redutos de tensão inter-étnica ou
inter-religiosa, as operações de grupos estrangeiros de radicais armados ou de
companhias militares privadas em áreas adjacentes às fronteiras da Federação
Russa e dos seus aliados, bem como da existência de contradições territoriais e
do aumento do separatismo e extremismo em diferentes regiões do mundo”.
Mas a revisão
mantém inalterado o carácter puramente defensivo da doutrina militar russa,
designada a proteger os interesses nacionais do país. O grosso do antigo
documento continua válido (por exemplo no que diz respeito à definição das
regras de combate das Forças Armadas, ou do uso de armamento nuclear apenas em
caso de “risco existencial”), mas as actualizações indicam um claro
endurecimento da postura de Moscovo perante os seus “inimigos”, assinalam os
analistas – a nova doutrina contempla uma nova noção de “detenção não-nuclear”,
que implica um grau elevado de alerta militar.
Sem comentários:
Enviar um comentário