O Título deve ser ... 1940 - Exposição do Mundo Português
A exposição foi inaugurada em 23 de Junho de 1940 pelo Chefe
de Estado, Marechal Carmona, acompanhado pelo Presidente do Conselho, Oliveira
Salazar e pelo Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco.
Os responsáveis pelo evento foram Augusto de Castro
(Comissário-Geral), Sá e Melo (Comissário-Geral-Adjunto), José Leitão de Barros
(Secretário-Geral) e Cottinelli Telmo (Arquitecto-Chefe), que incluía pavilhões
temáticos relacionados com a história de Portugal, suas actividades económicas,
cultura, regiões e territórios ultramarinos. Incluía ainda um pavilhão do Brasil,
único país estrangeiro convidado.
O evento levou a uma completa renovação urbana da zona
ocidental de Lisboa. A sua praça central deu origem à Praça do Império, uma das
maiores daEuropa. A maioria das edificações da exposição foi demolida ao seu
término, restando apenas algumas como o actual Museu de Arte Popular e
oMonumento aos Descobrimentos (reconstrução com base no original de madeira). A
exposição levou também à construção de outras infraestruturas de apoio, como o
Aeroporto da Portela.
Situada entre a margem direita do rio Tejo e o Mosteiro dos
Jerónimos, ocupava cerca de 560 mil metros quadrados. Centrada no grande
quadrilátero da Praça do Império, esta era definida lateralmente por dois
grandes pavilhões, longitudinais e perpendiculares ao Mosteiro: o Pavilhão de
Honra e de Lisboa (de Luís Cristino da Silva), e do outro lado, o Pavilhão dos
Portugueses no Mundo (do próprio Cottinelli Telmo).
Perto do rio, atravessando-se a linha férrea através de uma
passarela monumental de colossais cruzados (a Porta da Fundação), encontrava-se
a Secção Histórica, (Pavilhão da Formação e Conquista, da Independência, Pav.
dos Descobrimentos e a Esfera dos Descobrimentos). Do outro lado, situava-se o
Pav. da Fundação, o Pav. do Brasil – país convidado para tal efeito, e o Pav.
da Colonização). Atravessando o Bairro Comercial e Industrial, chega-se perto
do Mosteiro dos Jerónimos, à entrada da Secção Colonial. No canto precisamente
oposto, um Parque de Atracções fazia a delícia dos mais novos. Descendo em
direcção ao rio, e para além do Pavilhão dos Portugueses no Mundo, a Secção de
Etnografia Metropolitana, com o seu Centro Regional, contendo representações
das Aldeias Portuguesas e os Pavilhões de Arte Popular. Por trás deste último
pavilhão, encontrava-se o Jardim dos Poetas e o Parque Infantil. À frente do
Tejo, com as suas docas, um Espelho de Água com um restaurante abria o caminho
para oPadrão dos Descobrimentos e para a Nau Portugal.
De todas estas obras, algumas se destacaram e perduram na
memória da actualidade. O Pavilhão da Honra e de Lisboa recebeu as melhores
opiniões da crítica. Com 150 metros de comprimento por 19 de altura, e com a
sua torre de 50 metros, este pavilhão demonstrava perfeitamente o ideal
arquitectónico que o Estado Novo tentava impor, tal como os outros regimes
totalitários impunham na Europa. Do Pavilhão dos Portugueses no Mundo, com um
risco “simples”, destacava-se sobretudo a possante estátua da Soberania,
esculpida por Leopoldo de Almeida – a imagem de uma severa mulher couraçada, segurando
a esfera armilar e apoiada num litor legendado com as partes do Mundo, em
caracteres góticos.
O Padrão dos Descobrimentos, vindo dos esforços de
Cottinelli e de Leopoldo de Almeida, mostrava a verdadeira importância dos
descobrimentos na História portuguesa. Constituído por diversas figuras
históricas, o Infante D. Henrique destacava-se na sua proa, como timoneiro de
todo o projecto expansionista português. De facto, o padrão original,
construído em estafe sobre um esqueleto de madeira, teve um triste fim – que
abordaremos mais adiante. É de notar que a figura ficou tão presente no
imaginário nacional, que o monumento foi reconstruído em 1965, mas desta vez em
pedra, e ainda hoje se mantém nas margens do Tejo.
A Nau Portugal mostrou também ser uma magnífica
reconstituição do passado. Um facto curioso é que apelidada de “nau”, esta
embarcação era na realidade a réplica de um galeão da carreira da Índia do
século XVII. Construída nos estaleiros de Aveiro, saiu a primeira vez com
destino a Lisboa em Julho – sendo a sua inauguração solene a 8 de Setembro. No
entanto, e por mau manuseamento da mesma, esta rapidamente se afundou minutos
após a partida – tombou para o lado. Voltando atrás, com grandes esforços para
se repor de pé a nau, acabou por ser pilotada até Lisboa por marinheiros
ingleses, sob a direcção do comandante Spencer.
Encerrada a 2 de Dezembro, a Exposição recebeu cerca de três
milhões de visitantes, constituindo o mais importante facto cultural do regime
– regime este que sofreria a sua primeira crise política passados quatro anos,
com o fim da Segunda Guerra Mundial e com a derrota dos regimes de Hitler e
deMussolini.
in Wikipedia.
Quem é Cottinelli Telmo?
por Miguel Vaz in Alameda Digital
Encontramo-lo quando passeamos por Belém, quando assistimos
à Canção de Lisboa. Deparamo-nos com ele na estação de Campolide, na prisão de
Alijó, na cidade universitária de Coimbra. Só para dar uns exemplos.
Mas afinal, quem é ele?
José Ângelo Cottinelli Telmo nasceu a 13 de Novembro de
1897. Foi arquitecto, cineasta, bailarino, autor de banda desenhada, fotógrafo,
ilustrador e músico. Foi num fundo um artista, no mais estrito sentido da
palavra. E por que razão se encontra votado ao mais absurdo e injusto
esquecimento? Talvez porque teve o azar de se notabilizar na época errada.
Filho de músicos, Cottinelli Telmo frequentou o Liceu Pedro
Nunes, em Lisboa, onde conheceu Leitão de Barros (de quem já se falou no nº3
desta revista) com quem viria a colaborar, através da Lusitânia-film, na
produção de Malmequer e Mal de Espanha, ambos de 1918. Durante a juventude,
colaborou com múltiplas publicações infantis e juvenis, destacando-se como
ilustrador, escritor e pedagogo. Foi o criador de Pirilau, um dos primeiros
heróis dos comics infantis portugueses. Durante o mesmo período, participou com
ilustrações e gravuras nos principais jornais e revistas nacionais.
Estudou arquitectura na Escola de Belas Artes de Lisboa,
curso que terminou em 1920 com a mais alta classificação.
Foi na arquitectura que Cottinelli Telmo mais se distinguiu
e onde deixou o seu legado mais visível. Pertence à primeira geração da
arquitectura modernista portuguesa, da qual se destacaram igualmente Profírio
Pardal Monteiro (1897-1957), Cassiano Viriato Branco (1897-1970) e Luís
Cristino da Silva (1896-1976). Não podemos considerar esta geração como um
verdadeiro movimento artístico, até porque nunca se verificou um contacto
organizado entre os diversos arquitectos (antes colaborações ocasionais). Sucintamente
pode dizer-se que a arquitectura modernista surgiu como um reflexo do progresso
da engenharia que, com a utilização do ferro e de novos materiais e técnicas,
colocava em causa as velhas fórmulas arquitectónicas usadas até aí. A
construção passou então a centrar-se no funcionalismo e na simplicidade das
formas, substituindo os complexos ornamentos que haviam formado o paradigma
arquitectónico durante grande parte do século XIX. Algumas fórmulas foram então
importadas pelos jovens arquitectos portugueses, embora a totalidade das bases
teóricas do modernismo nunca tenha chegado a ser interiorizada, o que embora
dote alguma fragilidade teórica forneceu à primeira vaga modernista portuguesa
um toque caracteristicamente nacional. A geração de Cottinelli Telmo não se
limitou a copiar modelos do que então se fazia na Europa, adaptou antes os
fundamentos modernistas à realidade portuguesa, num processo gradual de
aperfeiçoamento que teria como auge a Exposição do Mundo Português de 1940, que
marca também o ponto de inflexão da primeira vaga modernista em Portugal.
Cottinelli Telmo iniciou a sua carreira como arquitecto nos
Caminhos-de-Ferro (entre 1923 e 1943). Com o advento do Estado Novo, os
arquitectos passaram a assumir um papel de relevo no processo de construção
nacional desenvolvido nesse período. Milhares de obras públicas foram então
planeadas e executadas de Norte a Sul do país, desde cinemas a estações de
comboio, passando por estabelecimentos de ensino, tribunais, vias de
comunicação, prisões, num fervor construtivo apenas comparável ao ocorrido
durante o período da Regeneração cerca de cem anos antes, sob a batuta de
Fontes Pereira de Melo.
A verdade é que os arquitectos — em particular os jovens e
enérgicos modernistas — aderiram sem reservas ao novo regime, que retribuiu o
apoio concedendo-lhes um estatuto equivalente ao obtido através do ensino
superior e equiparando-os aos engenheiros, embora na actualidade a classe faça
os possíveis para esconder este facto.
Nos Caminhos-de-Ferro, Cottinelli Telmo notabilizou-se
imediatamente sendo o responsável, entre outros projectos, pelo arranjo da
estação do Rossio e pela nova estação do Sul e Sueste no Terreiro do Paço
(1931), edifício de passageiros para Tomar (1932-34) e Carregado (1933),
Colónia de Férias da CP na Praia das Maçãs (1943), Sanatório Ferroviário das
Penhas da Saúde (1945).
Nesta época realizou ainda os projectos para os pavilhões da
exposição do Rio de Janeiro (1922, com Carlos Ramos e Luís da Cunha) e de
Sevilha (1929). Em 1932 constrói os estúdios da Tóbis, ao Lumiar (projecto de
A.P. Richard), onde realizaria no ano seguinte A Canção de Lisboa, o primeiro
filme sonoro inteiramente produzido em Portugal e verdadeiro modelo do humor
cinematográfico português. Para além da realização, o argumento desta mítica
comédia portuguesa também é da autoria de Cottinelli Telmo, que sempre manteve
uma paixão viva pela sétima arte, demonstrada aliás pelas suas colaborações em
diversas revistas de cinema.
Em 1934 é chamado pelo notável engenheiro Duarte Pacheco,
então acumulando a pasta das Obras Públicas e Comunicações no governo com a
presidência da Câmara de Lisboa, para fazer parte da Comissão das Construções
Prisionais, o que o fez visitar inúmeros edifícios estrangeiros, sendo autor,
entre outras, das cadeias de Alijó, Castelo Branco e Alcoentre (1937-44).
O seu extraordinário currículo de obras públicas motivou o
convite para arquitecto-chefe, e como tal responsável, da monumental Exposição
do Mundo Português de 1940, onde para além do Plano Geral se responsabilizou
pelo pavilhão dos «Portugueses no Mundo», pelo monumento dos Descobrimentos (em
conjunto com o escultor Leopoldo de Almeida), pela Fonte e Praça do Império,
pela Porta da Fundação e pelo Pavilhão dos Caminhos-de-Ferro. Hoje esquecida e
ignorada pelo público em geral, a Exposição do Mundo Português foi o maior
evento internacional organizado por Portugal até à Expo’98, lamentavelmente
ofuscado pela eclosão da Segunda Guerra Mundial em pleno coração da Europa.
Apesar dos especialistas da actualidade teimarem em menorizar a Exposição,
considerando-a uma simples manobra propagandística do regime, é bom lembrar que
o evento contou com a participação entusiástica da totalidade da vanguarda
artística da época, juntando os melhores escultores, pintores, arquitectos e
artistas plásticos portugueses, num esforço que teve como objectivo divulgar a
grandeza do Império Português, numa época em que o colonialismo navegava ainda
a favor dos ventos da História.
Vencedor do concurso para o liceu de Lamego (1931), é o
autor do de D. João de Castro, em Lisboa, dos edifícios da faculdade de
Ciências de Coimbra (1943) e da Standart Eléctrica, na Junqueira, em Lisboa
(1945-48). De 1938 a
1942 foi director da revista Arquitectos, tendo também sido presidente do
Sindicato dos Arquitectos, onde foi responsável pela organização do I Congresso
da classe. Foi responsável pelo Plano de urbanização de Fátima, para além dos
planos da zona marginal de Belém (1941) e da cidade universitária de Coimbra
(1943-48), onde mantém o gosto pelos grandes espaços monumentais.
Cottinelli Telmo perderia a vida a 18 de Setembro de 1948,
num acidente marítimo em Cascais, interrompendo assim demasiado cedo uma
carreira brilhante.
Ao longo dos tempos uma cortina do esquecimento caiu sobre
Cottinelli Telmo. Olvidado pelos arquitectos que lhe sucederam, até as
informações que se encontram disponíveis sobre si na Internet são bastante
limitadas e inexactas, o que para uma das personalidades artísticas portuguesas
mais completas e versáteis do século XX é manifestamente injusto. No entanto, à
semelhança dos verdadeiros criadores, a sua obra mantém-se viva, sendo essa a
maior prova do seu génio artístico.
Cottinelli Telmo. O arquitecto da companhia
Por Rosa Ramos
publicado em 29 Ago 2013 in (jornal) i online
Desenhou o Padrão dos Descobrimentos e realizou o primeiro
filme sonoro em português, "A Canção de Lisboa". O nome de Cottinelli
Telmo ficou para sempre associado à arquitectura do Estado Novo e da CP
Era 1940, vivia-se o período áureo do Estado Novo e
assinalavam-se duas efemérides. Por um lado, os 800 anos sobre 1140, a data da fundação da
nacionalidade. Por outro, os três séculos da restauração da independência.
Salazar pôs a máquina da propaganda a trabalhar e organizou um evento a uma
escala nunca antes vista em Portugal: a Exposição do Mundo Português. À
inauguração, a 23 de Junho, acorreram as maiores figuras do regime: do próprio
Salazar ao cardeal Cerejeira, passando por Óscar Carmona ou Duarte Pacheco, na
altura ministro das Obras Públicas e presidente da Câmara de Lisboa. Até
Dezembro, os pavilhões construídos em Belém - para a posterioridade sobrou o
Padrão dos Descobrimentos - receberam três milhões de visitas. Por trás do
clímax da propaganda nacionalista estava o nome do arquitecto-chefe da
exposição: Cottinelli Telmo.
Filho de uma pianista italiana, José Angelo nunca mais conseguiu
descolar-se do rótulo de arquitecto do regime, até pelo número de projectos que
assinou ao serviço do Estado Novo. Em 1930, e depois de ter feito carreira na
CP - chamavam--lhe o "arquitecto da Companhia" -, recebeu a primeira
encomenda de Salazar: o projecto do novo liceu de Lamego. Cottinelli foi
seleccionado num concurso que acabaria por consagrar novos arquitectos e abrir
o gosto oficial pelo modernismo em Portugal. Mais tarde, o Ministério das Obras
Públicas encomenda-lhe os projectos de um conjunto de cadeias espalhadas por
todo o país. A década de 1940 é de ouro para o arquitecto: Cottinelli desenha
obras tão diversas como a Urbanização do Santuário de Fátima, a Cidade
Universitária de Coimbra, o edifício do Governo Militar ou a Standard Eléctrica
em Lisboa.
Mas a maior parte dos trabalhos foi mesmo ao serviço da CP.
O primeiro grande projecto que os caminhos-de-ferro lhe encomendaram foi um
imponente sanatório para ferroviários tuberculosos na serra da Estrela -
considerado, à época, um dos maiores edifícios de toda a Península Ibérica.
Muitas das antigas estações e apeadeiros de norte a sul foram idealizados por
Cottinelli Telmo e construídos nas décadas de 1920 e 1930, altura de
recuperação económica da Companhia dos Caminhos-de-Ferro e em que a
arquitectura ferroviária era dominada por um padrão assumidamente nacionalista.
No entanto, o percurso de Cottinelli Telmo não se esgotou na
arquitectura. Depois de ter passado pelo Liceu Pedro Nunes, entrou para a
Escola de Belas-Artes, onde foi actor e compositor nos espectáculos que os
alunos promoviam anualmente. Nessa altura integrou o grupo responsável pela
revista "Sphinx" - que revelava novos talentos nas artes - e
destacou-se nos bailados de Almada Negreiros e nas primeiras experiências cinematográficas
de Leitão de Barros. Em 1933 assina "A Canção de Lisboa", com Beatriz
Costa e Vasco Santana, o primeiro filme sonoro nacional e que inaugurou o
género da comédia portuguesa. Pelo meio, Cottinelli Telmo ainda trabalhou na
ilustração, em banda desenhada e como jornalista. A obra pode até ter sido
extensa e variada, mas Cottinelli Telmo morreu cedo, com apenas 52 anos, num
acidente de barco no Guincho. Dá nome a ruas em Lisboa, Sintra, Cascais,
Amadora e Entroncamento.
Sem comentários:
Enviar um comentário