Há mais de 268.000 toneladas de
plástico a boiar nos oceanos
NICOLAU FERREIRA
11/12/2014 - PÚBLICO
Estudo global analisou a distribuição do plástico nos oceanos da Terra. A
quantidade estimada é equivalente a uma fila de autocarros articulados entre
Viseu e Lisboa.
Uma garrafa de
plástico enterrada na areia da praia, que surge na maré baixa, pode servir como
uma imagem simbólica do lixo esquecido nos oceanos. Mas não mostra a verdadeira
dimensão deste problema ambiental. Uma equipa de investigadores serviu-se de
centenas de medições nos oceanos e de um modelo de distribuição marinha do
plástico, e calculou que existem 5,25 milhões de milhões de pedaços de plástico
de diferentes dimensões a boiar na Terra. Ao todo, este lixo deverá pesar cerca
de 288.940 toneladas, segundo um estudo publicado na quarta-feira na revista
PLOS ONE.
“Há muito mais
poluição por plástico do que as estimativas mais recentes sugeriam”, disse
Marcus Eriksen, director científico do Instituto 5 Correntes (5 Gyres), em Los
Angeles, e líder do estudo, citado pela agência Reuters. “Encontra-se [nos
oceanos] tudo o que se pode imaginar feito de plástico”, adiantou o
investigador. “É como se [os centros comerciais] Walmart ou Target estivessem à
tona da água.”
Os plásticos acumulados
nos oceanos têm várias consequências ambientais. Os peixes, os mamíferos e
outros animais marinhos podem confundir os pedaços de plástico com alimentos e
acabam sufocados ao tentarem comê-los. As redes de pesca podem prender e
ameaçar a vida de mamíferos, aves e tartarugas, assim como de animais que vivem
no leito do oceano.
Por outro lado,
os plásticos que se vão acumulando no mar são uma fonte de substâncias químicas
tóxicas que podem matar a fauna marinha. As substâncias que compõem o plástico
acumulam-se ainda nos tecidos dos animais que os consomem e são assim
transferidas na cadeia trófica, de predador em predador, até chegarem aos
humanos.
O instituto de
Marcus Eriksen estuda o impacto do lixo nos oceanos e procura combatê-lo. Para
este trabalho, a equipa composta por cientistas de seis países usou os
resultados do trabalho de campo feito em 24 expedições oceanográficas entre
2007 e 2013.
Os cientistas
estiveram nos cinco principais sistemas de correntes marinhas subtropicais (no
Norte e no Sul do Atlântico, no Norte e no Sul do Pacífico e no Índico), na
costa da Austrália, no golfo de Bengala, junto à Índia, e no mar Mediterrânico
para recolher microplásticos com uma rede e para seguir o trajecto de plásticos
maiores. Estes dados integraram o modelo da movimentação dos plásticos nos
oceanos.
Os cientistas
dividiram os pedaços de plástico em quatro categorias de acordo com o seu
tamanho: os maiores, com mais de 20 centímetros; os médios, entre 20
centímetros e 4,75 milímetros; os pequenos, entre 4,75 e 1,01 milímetros; e os
muito pequenos, entre 1,01 milímetros e 0,33 milímetros.
As maiores
concentrações de plástico situam-se no meio dos grandes sistemas de correntes
subtropicais oceânicas, em algumas zonas costeiras da Ásia e do Sul da
Austrália, e no Mediterrânico, de acordo com os resultados da equipa. As
correntes no meio dos oceanos parecem fazer convergir estes pedaços de lixo
para o seu centro e conservarem-nos lá. Mas os cientistas descobriram que os
pedaços mais pequeninos de plástico chegam até regiões bem mais remotas, como
as massas de água junto aos dois pólos.
As duas
categorias de menor dimensão de plástico têm a maioria dos 5,25 milhões de
milhões pedaços. No entanto, os plásticos com mais de 20 centímetros são os
responsáveis por grande parte das 268.940 toneladas, que equivalem ao peso de
16.300 autocarros articulados. Outra forma de olhar para este lixo é imaginar
uma fila destes autocarros que começa em Viseu e termina em Lisboa, a mergulhar
no mar.
Apesar desta
quantidade de plástico ser impressionante, os cientistas acreditam que este
lixo é apenas uma fracção de todo o plástico que anda pelos oceanos. Estudos
anteriores já encontraram todo o tipo de lixo, incluindo plásticos, no leito
marinho. Anualmente, há 6,4 milhões de toneladas de todo o tipo de lixo a ir
parar ao mar e em 2012 foram produzidos 288 milhões de toneladas de plástico em
todo o mundo, de acordo com a organização comercial Plastics Europe.
Além destes dados
que sugerem a existência de muito plástico nos oceanos cujo destino final é
ainda desconhecido, no actual estudo os cientistas estimaram que há bastantes
menos pedacinhos de plástico com dimensões entre 1,01 milímetros e 0,33
milímetros do que o esperado. Ao longo do tempo, um pedaço maior de plástico dá
origem a vários pedaços mais pequenos. Nesse caso, teria de haver muitos mais
pedacinhos com dimensões entre 1,01 milímetros e 0,33 milímetros do que com
dimensões entre os 4,75 e 1,01 milímetros. Mas as experiências da equipa
mostraram que acontece o oposto.
Os investigadores
avançaram com várias explicações para terem encontrado uma proporção tão baixa
dos pedaços de plástico mais pequenos: a sua degradação devido a raios
ultravioleta; a sua biodegradação feita por microrganismos; a sua ingestão por
animais; uma diminuição da flutuabilidade destes pequenos fragmentos quando um
organismo se agarra a eles; o seu arrastamento por outros detritos; ou os pedacinhos
encalharem.
Qualquer que seja
a causa, a equipa defende que ainda não se sabe para onde foi todo o plástico
nos oceanos. “As nossas descobertas mostram que as acumulações de plástico no
meio das cinco correntes subtropicais não são os lugares de descanso final para
o lixo flutuante de plástico”, sublinha Marcus Eriksen. “Os microplásticos
interagem até ao fim com todos os ecossistemas do oceano.”
Por isso, os
autores defendem que a solução ambiental para o destino do plástico não se pode
obter nesta fase, já que não se sabe onde está esse plástico. Logo, as soluções
terão de surgir na fase da produção do plástico e logo a seguir ao seu consumo.
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