Recusa de portugueses sem-abrigo
em albergues do Luxemburgo "é discriminatória"
Por Jornal i
publicado em 23
Dez 2014 in
(jornal) i online
Com capacidade
para 65 pessoas, o Foyer Ulysse é um dos dois albergues para sem-abrigo na
capital luxemburguesa
A Associação de
Apoio aos Trabalhadores Imigrantes (ASTI) defendeu hoje que a recusa de acolher
emigrantes há menos de cinco anos no país, incluindo portugueses, em albergues
para sem-abrigo no Luxemburgo, é "discriminatória" e viola princípios
europeus.
"Os cidadãos
europeus não podem ser discriminados em relação aos luxemburgueses. A partir do
momento em que tenham um certificado de residência no país têm direito a ser
acolhidos [em instituições para sem-abrigo]", afirmou a presidente da
ASTI, Laura Zuccoli, para quem o caso pode configurar também uma "violação
do princípio da liberdade de circulação" na União Europeia (UE).
A Caritas
denunciou a 21 de dezembro casos de sem-abrigo portugueses recusados no Foyer
Ulysse, um albergue para sem-abrigo gerido por aquela organização católica, por
estarem há menos de cinco anos no país, afirmando tratar-se de uma directiva do
Ministério da Família.
Questionada pela
agência Lusa sobre o caso, a ministra da Família, Corinne Cahen, negou ter dado
"instruções" nesse sentido, afirmando que a directiva emanou do
Governo anterior, chefiado pelo actual presidente da Comissão, Jean-Claude
Juncker.
Certo é que a
ordem para recusar sem-abrigo com menos de cinco anos de residência no país tem
vindo a ser aplicada no Foyer Ulysse "pelo menos desde Janeiro"
passado, disse a presidente da ASTI, que soube dos primeiros casos "no
início deste ano, através de uma voluntária que trabalhou no Foyer
Ulysse".
Em junho passado,
a ASTI pediu esclarecimentos à Caritas sobre os critérios de admissão naquele
albergue para sem-abrigo.
Na resposta
assinada pela directora do Foyer, Martine Drauden, e por Ute Heinz, da direcção
da Caritas Acolhimento e Solidariedade, datada de 18 de julho, e a que a Lusa
teve acesso, as duas responsáveis dizem que a instituição só pode admitir
pessoas "com cartão de residência permanente", abrindo excepções
apenas "por uma noite ou no fim de semana e feriados".
A presidente da
ASTI desconhece se as instruções foram dadas pela actual ministra da Família ou
pelo Governo anterior, mas disse "estranhar" que a Fundação Caritas,
a associação de cúpula da organização católica, presidida por Marie-Josée
Jacobs, ministra da Família no anterior Governo, não tenha denunciado a
situação.
A Lusa tentou
ouvir a ex-ministra da Família, que deixou o cargo em abril de 2013, mas o
gabinete da Caritas informou que a presidente está ausente do país até Janeiro.
O director da
Caritas Acolhimento e Solidariedade, que gere a estruturas para sem-abrigo da
organização católica, disse hoje à Lusa que até agora não recebeu novas ordens
da ministra e que vai "aguardar instruções do Ministério", esperando
que a decisão seja revogada.
Com capacidade
para 65 pessoas, o Foyer Ulysse é um dos dois albergues para sem-abrigo na
capital luxemburguesa, além do centro Abrigado, destinado exclusivamente a
pessoas com problemas de toxicodependência.
O edifício foi
cedido à Caritas pelo Ministério da Família, que também paga "as despesas
de funcionamento" e os salários do pessoal, disse à Lusa o gabinete da
ministra.
No ano passado,
as subvenções acordadas pelo Estado e as autarquias à Caritas Acolhimento e
Solidariedade, a associação da Caritas Luxemburgo que gere o Foyer Ulysse,
ultrapassaram os 4,7 milhões de euros, correspondendo a 81,3 por cento do custo
dos serviços prestados pela instituição, de acordo com o relatório do revisor
oficial de contas a que a Lusa teve acesso.
O custo total dos
serviços prestados pelas quatro associações que compõem a Caritas Luxemburgo
ultrapassou em 2013 os 50 milhões de euros, a maioria financiados pelo Estado
luxemburguês, segundo o relatório da organização.
Lusa
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