domingo, 28 de dezembro de 2014

Como estaremos quando estalar a próxima crise na Europa? / 8 Reasons Why A New Global Financial Crisis Could Be On The Way.


Como estaremos quando estalar a próxima crise na Europa?
PAULO TRIGO PEREIRA 27/12/2014 - PÚBLICO

1. Haverá decerto um momento de crise europeia em 2015 ou 2016 de causa económica ou política.

Tudo indica que teremos novidades políticas no primeiro semestre do novo ano resultante das eleições legislativas no Reino Unido e na Grécia (caso o Presidente não seja eleito na terceira volta) e no segundo semestre em Espanha e Portugal. O mapa político europeu alterar-se-á. Por mais jogo de cintura da Comissão, do Conselho ou do ECOFIN, será muito difícil lidar com países que dizem que não cumprem nem com o Tratado Orçamental (intergovernamental) flexibilizado, nem com o Pacto de Estabilidade e Crescimento (com maior força jurídica).

Quando chegar a próxima crise o essencial é saber como estará Portugal, não apenas nas variáveis que representam os fundamentos económicos e sociais do país, mas na capacidade de diálogo interna, e nas alianças europeias externas para lidar com os problemas que temos entre mãos. A dívida pública é um deles, e deveria constituir motivo de diálogo construtivo, no diagnóstico e na solução, o oposto do que se verifica entre nós.

2. Aquilo que me surpreendeu no debate político na Assembleia da República, foi lidar-se com este problema como todos os outros, ou seja como “arma de arremesso” para daí tirar dividendos políticos no período de pré-campanha. Maria Luis Albuquerque referiu no debate que “existem essencialmente duas opções: prosseguir o esforço disciplinado que já está a dar frutos, ou admitir soluções extremas com repercussões graves para o país. "Parece-me que existe uma terceira opção, mas antes de a explorar, vejamos estas duas opções.

3. Comecemos pelas visões extremas, que têm o mérito de reconhecer a gravidade da situação, algo que o governo subestima, mas que são radicais. Há sobretudo duas, uma política e outra técnica. A avançada pelo PCP, insere-se numa estratégia de clara ruptura com o Tratado Orçamental, o Pacto de Estabilidade e Crescimento e assumidamente de saída do euro e de desintegração “desta Europa”.

Há várias questões que convém colocar a quem defende a saída do euro. Que impacto teria nos salários reais dos portugueses e nas pensões uma desvalorização cambial da ordem dos 30% e consequente inflação importada, que o “novo escudo” teria relativamente ao euro? Será que as desigualdades sociais, algo que deve preocupar a esquerda, seriam reduzidas ou agravadas, tendo em conta que os mais informados e mais ricos seriam os primeiros a colocar as suas poupanças em boas aplicações imunes a esta desvalorização? Como se resolveria o problema das necessidades de capital das empresas públicas com elevado passivo e que têm contribuído, e contribuirão, para o aumento da dívida?

Uma outra proposta, esta técnica, mas também radical, porque unilateral e envolve uma considerável recapitalização da banca, é a apresentada por Ricardo Cabral, E. Pires, F. Louçã, e P.N. Santos. Tem o mérito de ser bem fundamentada e de discutir as alternativas, nomeadamente o Plano Draghi. A vontade não é sair do euro mas forçar uma reestruturação das dívidas, pública e externa, se possível no euro. Porém, não se compreende como é que um avanço unilateral de reestruturação da dívida não teria essa consequência.

4. A ideia do Governo de “prosseguir o esforço disciplinado” sem nenhum tipo de medidas adicionais, é aquilo que designei na Assembleia da República como solução teórica, para a sustentabilidade da dívida pública. Em teoria, é possível ter um saldo orçamental, sem juros, excedentário da ordem dos 4% do PIB já em 2017, e mantê-lo excedentário nas próximas décadas.

O problema é que para lá chegar, seria necessário um acordo político alargado e draconiano em torno de medidas de promoção do crescimento, cortes salariais na função pública, de cortes de pensões ou de aumentos de impostos. Por fim, acordos com sindicatos para o saneamento financeiro de cada uma das empresas públicas. Nas condições políticas actuais, internas e externas, a dívida não é sustentável. Basta entender que em 2015, a consolidação orçamental (medida pelo saldo estrutural) será inexistente.

5. São necessárias medidas adicionais, convencionais ou não, para reduzir o peso da dívida e os seus encargos e Portugal deve participar activamente nesse debate. Se conseguirmos reduzir um ponto percentual do PIB nos encargos com a dívida (cerca de 1700 milhões) isto significa que o saldo primário necessário baixa dos 4% para os 3%, o que facilitaria um acordo.

As condições atuais de mercado (2,7% nas obrigações a 10 anos) sugere que poderíamos começar a liquidar a dívida junto do FMI, que é a mais cara da troika, com novas emissões. O Plano Draghi de compra de títulos da dívida pública também dará a sua ajuda para reduzir os encargos. O BCE compra dívida pública no mercado secundário com emissão monetária pelo que receberá os yields (“juros”) correspondentes. Isto fará aumentar o balanço e os dividendos do BCE, que os transferirá (80%) para os bancos centrais nacionais, que por sua vez os transferirão para os Orçamentos de Estado. Com esta operação o BCE atinge vários objectivos, combate a deflação na zona euro, promove crescimento e alivia os orçamentos nacionais.

Há, porém, várias incógnitas, desde o montante, à forma de rateio, e que serão objecto de negociação política no BCE. A forma mais provável é a quota de capital de cada país: Portugal detém 2,49% do capital dos países da área euro (hipótese I que representaria compra de 11,2% do stock da nossa dívida). Porém, o BCE ganharia mais com a compra das obrigações com “juros” mais elevados, isto é dos países periféricos. Uma segunda forma de rateio, seria a compra na base da proporção da dívida excessiva de cada país (hipótese II, ou 15,2% da nossa dívida). Comportaria um risco acrescido para o BCE, logo os bancos centrais nacionais teriam de dar algumas garantias colaterais ao BCE, sem as quais esta possibilidade não ganhará apoio maioritário no BCE. Seria o que nos beneficiaria mais assim como à Grécia, à Itália e à Irlanda. Finalmente, o rateio poderia ser proporcional à divida de cada país (hipótese III) o que seria, para nós a pior solução (10,5% da dívida).

A combinação da amortização progressiva de dívida ao FMI e o “Plano Draghi” teriam um efeito de redução dos juros que rondaria os 0,5% do PIB. Não resolvendo o problema, alivia o fardo da dívida e facilita a consolidação orçamental nos países periféricos do euro. São um passo para a solução que poderá passar, quando chegar o momento da crise, por transformar parte da dívida em perpétua, como sugerida pelo plano MADRE de Wyplosz e Pâris.

6. Ao contrário de 2007, em que éramos, a seguir à Grécia, o país menos preparado para uma crise financeira, não devemos chegar à próxima crise europeia na linha da frente da dívida e do défice e na linha de trás do crescimento. Não acreditamos em acordos draconianos (políticos e sociais) para a dívida, mas pugnamos pela sustentada consolidação orçamental e por acordos políticos e sociais razoáveis  que só serão possíveis com a facilitação europeia para uma solução multilateral para o crescimento e a dívida.

Instituto de Políticas Públicas Thomas Jefferson – Correia da Serra. Professor no ISEG

8 Reasons Why A New Global Financial Crisis Could Be On The Way

By IMD Professor Arturo Bris

We are now in a post-crisis period. Yet, looking back to between 1945 and 2008, we see that the frequency of financial crises and recessions is quite high: on average, there is one crisis every 58 months (using data from the US National Bureau of Economic Research). In other words, statistically speaking we should expect the beginning of the next crisis in April 2015, which would end by March 2016. So are we in a post- or a pre-crisis period?

I do not want to be the bearer of ill tidings, but I think we should always wonder what the cause of the next crisis will be. There is no single episode of financial panic in the last 50 years that could not have been prevented. This time, let us look ahead, not react after the crisis.

The world economy is now more interconnected than ever. Financial markets are heavily regulated while capital markets are expanding in Asia, Africa and Latin America. The banking sector is going through a concentration process with fewer and fewer players left. Mexico, Indonesia, Nigeria and Turkey (the MINT countries) are coming into focus after Brazil, Russia, India, China and South Africa (the BRICS) have disappointed. Europe seems to be back in the game, with Germany leading the recovery of the continent. The US is still the world's most competitive economy, according to the IMD World Com­petitiveness Ranking . The process of deleveraging the balance sheets of governments and com­panies is under way. Interest rat­es and government bond yields are at historical lows and stock markets have recovered to pre-crisis levels.

So what is there to worry about? There are eight possible scenarios that could cause the next crisis, none more important or likely than the others. For some, prevention is straightforward. For others, I am not sure there is much we can do. Some of them represent imminent threats. A few are more long-term, less dramatic sources of instability.

Stock market bubble

Between June 2013 and June 2014, world stock markets returned 18 per cent on average. Of course, performance was uneven, not unlike a "normal" year: the market return was 30 per cent in India, and a meager 8 per cent in China. However, most companies that announced results during 2014 disappointed markets, and for most large corporations, stock markets have reacted negatively to annual earnings. The reason is that, driven by excess liquidity and a lack of alternative opportunities, a lot of money has flown in to equity markets. The Yale University economist and Nobel Prize winner Robert Shiller has shown that the gap between stock prices and corporate earnings is now larger than it was in the previous pre-crisis periods: 2000 and 2007. If markets were to return to their normal earning levels, the average stock market in the world should fall by about 30 per cent.

Chinese banking system

Shadow banking (lending by anything other than a bank or outside the control of financial regulators) now represents more than 100 per cent of GDP in the US, and about 70 per cent in China. This is more of a problem in China than in the US, for two reasons. First, in China the banking sector is protected from foreign competition - only local banks are allowed to operate independently in the country. As a result, without any threat in a huge market, the biggest banks in the world are now Chinese. They are truly too big to fail.

The second reason is that a big part of Ch­inese shadow lending goes to central government and provincial governments. Banking regulation in China is considered to be very stringent, but we know what happens when regulators become self-interested. Without a doubt, the next banking crisis will be triggered by a Chinese bank.

Energy crisis

An energy crisis now would not be caused by the scarcity of energy sources - quite the opposite. The development of fracking techniques and growing supply of gas in the US have turned shale gas into a potent geopolitical weapon. If the US Congress were to allow energy exports, energy prices in the world would fall significantly. This would be great for companies, but would trigger geopolitical problems in Russia and West Asia. These countries rely on energy demand from western Europe and China, where energy costs are currently hurting competitiveness and where a cheaper alternative would be welcomed with open arms.

New real estate bubble

The conditions in 2005-07 that led to a real estate bubble are back: low interest rates, growing demand, and increasing real estate prices in some markets. With respect to the demand factor, in current market conditions, the only attractive investments for institutional investors are real estate and equities. As a result, prices are increasing.

The Bank for International Settlements has recently released data on real estate prices in several markets from 2013. Between the end of 2007 and the end of 2013, residential property prices increased by more than 80 per cent in Brazil, 60 per cent in China, and 15 per cent in Canada.

There are also fears of a bubble in other countries such as Switzerland and the United Arab Emirates. Like any other bubble, it will only become one once it bursts. What is different in 2014 is that now central banks have a great tool to prevent real estate bubbles: Basel III and its countercyclical capital buffer.

Corporate failures

The norm for companies is now to be BBB-rated. In the US, there are only three firms that still are AAA-rated: Johnson & Johnson, Exxon Mobil and Microsoft. There were 61 in 1982. Since interest rates are low, companies see the benefits in debt financing. But this means that firms are also more sensitive to changes in interest rates. Typically a BBB rating is associated with a probability of default of about 4 per cent in five years. Therefore, we should expect that in the next five years, about 16 companies in the S&P500 index will go bankrupt. One of them could be the new Enron.

Geopolitical crisis

From Nigeria to Ukraine, and from Syria to Venezuela, the world risk map shows too many hot areas where geopolitical events could trigger a world crisis. Why should anyone care about Uk­raine or Syria? Because fi­nancial markets tend to overreact to political events. And because, given the financial linkages among countries, negative sentiment in China will trigger a market collapse in the US and vice versa. Let us not forget the lessons of the Great War (we are now commemorating the 100-year anniversary): the butterfly effect can be deadly in politics.

Poverty crisis

Over the last few decades the world has become richer and more prosperous. While the percentage of the population in absolute poverty is today at its lowest level ever, the absolute number of poor people continues to grow. In this context income inequality is one of the social battles that we need to fight. But the problem with fighting income inequality is that the usual solutions (typically taxes) hinder the competitiveness of nations. This is one of the long-term crises that will require smart leadership to avoid inefficient solutions.

Cash crisis

There is too much money out there. It is the result of quantitative easing policies that central banks have followed. The excess liquidity in the system is concentrated among financial and non-financial firms. Citigroup has more than $487 billion in cash; Apple about $150 billion. It is paradoxical that, in some cases, banks and firms are so rich that they could buy entire countries (if one takes into account the total GDP minus government debt). If the corporate sector were to unload such massive financial resources (as is their moral obligation) on to society, they would create hyperinflation and hence financial crisis. But otherwise we are in a situation in which central banks print money that they will have to take out of the system later. We know how quantitative easing works, but we do not know how to exit from it.

While we can already see these eight sources of a new coming crisis, the problem is that many obvious solutions that governments can implement would be detrimental to world competitiveness and could hinder local economies. More taxes, more regulation and more protectionism all create a more hostile environment to economic growth and competitiveness.

Politicians and corporate executives should now look to diversify, to seek varied geographical presence, to be flexible, resilient and to manage risk. They should cultivate and reward talent and improve their credibility in society. To boost their nations' competitiveness and their chances of inclusive economic success, leaders need to invest internationally and make acquisitions in order to make their countries attractive to foreign capital. In order to avert the next crisis and others after that, global leaders should be making employment, sustainability and social cohesion the top priorities of their nations.


Arturo Bris is a professor of finance at IMD and directs the IMD World Competitiveness Center . He will present on the fundamentals of finance and on competitiveness at IMD's Orchestrating Winning Performance program in Singapore from November 17-22.

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