Como estaremos quando estalar a
próxima crise na Europa?
PAULO TRIGO
PEREIRA 27/12/2014 - PÚBLICO
1. Haverá decerto
um momento de crise europeia em 2015 ou 2016 de causa económica ou política.
Tudo indica que
teremos novidades políticas no primeiro semestre do novo ano resultante das
eleições legislativas no Reino Unido e na Grécia (caso o Presidente não seja
eleito na terceira volta) e no segundo semestre em Espanha e Portugal. O mapa
político europeu alterar-se-á. Por mais jogo de cintura da Comissão, do
Conselho ou do ECOFIN, será muito difícil lidar com países que dizem que não
cumprem nem com o Tratado Orçamental (intergovernamental) flexibilizado, nem
com o Pacto de Estabilidade e Crescimento (com maior força jurídica).
Quando chegar a
próxima crise o essencial é saber como estará Portugal, não apenas nas variáveis
que representam os fundamentos económicos e sociais do país, mas na capacidade
de diálogo interna, e nas alianças europeias externas para lidar com os
problemas que temos entre mãos. A dívida pública é um deles, e deveria
constituir motivo de diálogo construtivo, no diagnóstico e na solução, o oposto
do que se verifica entre nós.
2. Aquilo que me
surpreendeu no debate político na Assembleia da República, foi lidar-se com
este problema como todos os outros, ou seja como “arma de arremesso” para daí
tirar dividendos políticos no período de pré-campanha. Maria Luis Albuquerque
referiu no debate que “existem essencialmente duas opções: prosseguir o esforço
disciplinado que já está a dar frutos, ou admitir soluções extremas com
repercussões graves para o país. "Parece-me que existe uma terceira opção,
mas antes de a explorar, vejamos estas duas opções.
3. Comecemos
pelas visões extremas, que têm o mérito de reconhecer a gravidade da situação,
algo que o governo subestima, mas que são radicais. Há sobretudo duas, uma
política e outra técnica. A avançada pelo PCP, insere-se numa estratégia de
clara ruptura com o Tratado Orçamental, o Pacto de Estabilidade e Crescimento e
assumidamente de saída do euro e de desintegração “desta Europa”.
Há várias
questões que convém colocar a quem defende a saída do euro. Que impacto teria
nos salários reais dos portugueses e nas pensões uma desvalorização cambial da
ordem dos 30% e consequente inflação importada, que o “novo escudo” teria
relativamente ao euro? Será que as desigualdades sociais, algo que deve
preocupar a esquerda, seriam reduzidas ou agravadas, tendo em conta que os mais
informados e mais ricos seriam os primeiros a colocar as suas poupanças em boas
aplicações imunes a esta desvalorização? Como se resolveria o problema das
necessidades de capital das empresas públicas com elevado passivo e que têm
contribuído, e contribuirão, para o aumento da dívida?
Uma outra
proposta, esta técnica, mas também radical, porque unilateral e envolve uma considerável
recapitalização da banca, é a apresentada por Ricardo Cabral, E. Pires, F.
Louçã, e P.N. Santos. Tem o mérito de ser bem fundamentada e de discutir as
alternativas, nomeadamente o Plano Draghi. A vontade não é sair do euro mas
forçar uma reestruturação das dívidas, pública e externa, se possível no euro. Porém,
não se compreende como é que um avanço unilateral de reestruturação da dívida
não teria essa consequência.
O problema é que
para lá chegar, seria necessário um acordo político alargado e draconiano em
torno de medidas de promoção do crescimento, cortes salariais na função
pública, de cortes de pensões ou de aumentos de impostos. Por fim, acordos com
sindicatos para o saneamento financeiro de cada uma das empresas públicas. Nas
condições políticas actuais, internas e externas, a dívida não é sustentável. Basta
entender que em 2015, a
consolidação orçamental (medida pelo saldo estrutural) será inexistente.
5. São
necessárias medidas adicionais, convencionais ou não, para reduzir o peso da
dívida e os seus encargos e Portugal deve participar activamente nesse debate. Se
conseguirmos reduzir um ponto percentual do PIB nos encargos com a dívida
(cerca de 1700 milhões) isto significa que o saldo primário necessário baixa
dos 4% para os 3%, o que facilitaria um acordo.
As condições
atuais de mercado (2,7% nas obrigações a 10 anos) sugere que poderíamos começar
a liquidar a dívida junto do FMI, que é a mais cara da troika, com novas
emissões. O Plano Draghi de compra de títulos da dívida pública também dará a
sua ajuda para reduzir os encargos. O BCE compra dívida pública no mercado
secundário com emissão monetária pelo que receberá os yields (“juros”)
correspondentes. Isto fará aumentar o balanço e os dividendos do BCE, que os
transferirá (80%) para os bancos centrais nacionais, que por sua vez os
transferirão para os Orçamentos de Estado. Com esta operação o BCE atinge
vários objectivos, combate a deflação na zona euro, promove crescimento e
alivia os orçamentos nacionais.
Há, porém, várias
incógnitas, desde o montante, à forma de rateio, e que serão objecto de
negociação política no BCE. A forma mais provável é a quota de capital de cada
país: Portugal detém 2,49% do capital dos países da área euro (hipótese I que
representaria compra de 11,2% do stock da nossa dívida). Porém, o BCE ganharia
mais com a compra das obrigações com “juros” mais elevados, isto é dos países
periféricos. Uma segunda forma de rateio, seria a compra na base da proporção
da dívida excessiva de cada país (hipótese II, ou 15,2% da nossa dívida). Comportaria
um risco acrescido para o BCE, logo os bancos centrais nacionais teriam de dar
algumas garantias colaterais ao BCE, sem as quais esta possibilidade não
ganhará apoio maioritário no BCE. Seria o que nos beneficiaria mais assim como
à Grécia, à Itália e à Irlanda. Finalmente, o rateio poderia ser proporcional à
divida de cada país (hipótese III) o que seria, para nós a pior solução (10,5%
da dívida).
A combinação da
amortização progressiva de dívida ao FMI e o “Plano Draghi” teriam um efeito de
redução dos juros que rondaria os 0,5% do PIB. Não resolvendo o problema,
alivia o fardo da dívida e facilita a consolidação orçamental nos países
periféricos do euro. São um passo para a solução que poderá passar, quando
chegar o momento da crise, por transformar parte da dívida em perpétua, como
sugerida pelo plano MADRE de Wyplosz e Pâris.
6. Ao contrário
de 2007, em que éramos, a seguir à Grécia, o país menos preparado para uma
crise financeira, não devemos chegar à próxima crise europeia na linha da
frente da dívida e do défice e na linha de trás do crescimento. Não acreditamos
em acordos draconianos (políticos e sociais) para a dívida, mas pugnamos pela
sustentada consolidação orçamental e por acordos políticos e sociais
razoáveis que só serão possíveis com a
facilitação europeia para uma solução multilateral para o crescimento e a dívida.
Instituto de
Políticas Públicas Thomas Jefferson – Correia da Serra. Professor no ISEG
8 Reasons Why A New Global Financial Crisis Could Be
On The Way
By SeekingAlpha, August 23, 2014, http://www.nasdaq.com/article/8-reasons-why-a-new-global-financial-crisis-could-be-on-the-way-cm383267
By IMD Professor Arturo Bris
We are now in a post-crisis period. Yet,
looking back to between 1945 and 2008, we see that the frequency of financial
crises and recessions is quite high: on average, there is one crisis every 58
months (using data from the US National Bureau of Economic Research). In other
words, statistically speaking we should expect the beginning of the next crisis
in April 2015, which would end by March 2016. So are we in a post- or a
pre-crisis period?
I do not want to be the bearer of ill tidings,
but I think we should always wonder what the cause of the next crisis will be.
There is no single episode of financial panic in the last 50 years that could
not have been prevented. This time, let us look ahead, not react after the
crisis.
The world economy is now more
interconnected than ever. Financial markets are heavily regulated while capital
markets are expanding in Asia, Africa and Latin America .
The banking sector is going through a concentration process with fewer and
fewer players left. Mexico , Indonesia , Nigeria
and Turkey (the MINT
countries) are coming into focus after Brazil ,
Russia , India , China
and South Africa
(the BRICS) have disappointed. Europe seems to be back in the game, with Germany leading
the recovery of the continent. The US is still the world's most
competitive economy, according to the IMD World Competitiveness Ranking . The
process of deleveraging the balance sheets of governments and companies is
under way. Interest rates and government bond yields are at historical lows
and stock markets have recovered to pre-crisis levels.
So what is there to worry about? There are
eight possible scenarios that could cause the next crisis, none more important
or likely than the others. For some, prevention is straightforward. For others,
I am not sure there is much we can do. Some of them represent imminent threats.
A few are more long-term, less dramatic sources of instability.
Stock market bubble
Between June 2013 and June 2014, world
stock markets returned 18 per cent on average. Of course, performance was
uneven, not unlike a "normal" year: the market return was 30 per cent
in India , and a meager 8 per
cent in China .
However, most companies that announced results during 2014 disappointed
markets, and for most large corporations, stock markets have reacted negatively
to annual earnings. The reason is that, driven by excess liquidity and a lack
of alternative opportunities, a lot of money has flown in to equity markets.
The Yale University economist and Nobel Prize winner Robert Shiller has shown
that the gap between stock prices and corporate earnings is now larger than it
was in the previous pre-crisis periods: 2000 and 2007. If markets were to
return to their normal earning levels, the average stock market in the world
should fall by about 30 per cent.
Chinese banking system
Shadow banking (lending by anything other
than a bank or outside the control of financial regulators) now represents more
than 100 per cent of GDP in the US ,
and about 70 per cent in China .
This is more of a problem in China
than in the US ,
for two reasons. First, in China
the banking sector is protected from foreign competition - only local banks are
allowed to operate independently in the country. As a result, without any
threat in a huge market, the biggest banks in the world are now Chinese. They
are truly too big to fail.
The second reason is that a big part of
Chinese shadow lending goes to central government and provincial governments.
Banking regulation in China
is considered to be very stringent, but we know what happens when regulators
become self-interested. Without a doubt, the next banking crisis will be
triggered by a Chinese bank.
Energy crisis
An energy crisis now would not be caused by
the scarcity of energy sources - quite the opposite. The development of
fracking techniques and growing supply of gas in the US have turned shale gas into a
potent geopolitical weapon. If the US Congress were to allow energy exports,
energy prices in the world would fall significantly. This would be great for
companies, but would trigger geopolitical problems in Russia and West Asia .
These countries rely on energy demand from western Europe and China , where
energy costs are currently hurting competitiveness and where a cheaper
alternative would be welcomed with open arms.
New real estate bubble
The conditions in 2005-07 that led to a
real estate bubble are back: low interest rates, growing demand, and increasing
real estate prices in some markets. With respect to the demand factor, in
current market conditions, the only attractive investments for institutional
investors are real estate and equities. As a result, prices are increasing.
The Bank for International Settlements has
recently released data on real estate prices in several markets from 2013.
Between the end of 2007 and the end of 2013, residential property prices
increased by more than 80 per cent in Brazil ,
60 per cent in China , and 15
per cent in Canada .
There are also fears of a bubble in other
countries such as Switzerland
and the United Arab Emirates .
Like any other bubble, it will only become one once it bursts. What is
different in 2014 is that now central banks have a great tool to prevent real
estate bubbles: Basel III and its countercyclical capital buffer.
Corporate failures
The norm for companies is now to be
BBB-rated. In the US ,
there are only three firms that still are AAA-rated: Johnson & Johnson,
Exxon Mobil and Microsoft. There were 61 in 1982. Since interest rates are low,
companies see the benefits in debt financing. But this means that firms are
also more sensitive to changes in interest rates. Typically a BBB rating is
associated with a probability of default of about 4 per cent in five years.
Therefore, we should expect that in the next five years, about 16 companies in
the S&P500 index will go bankrupt. One of them could be the new Enron.
Geopolitical crisis
From Nigeria
to Ukraine , and from Syria to Venezuela , the world risk map shows
too many hot areas where geopolitical events could trigger a world crisis. Why
should anyone care about Ukraine
or Syria ?
Because financial markets tend to overreact to political events. And because,
given the financial linkages among countries, negative sentiment in China will trigger a market collapse in the US and vice
versa. Let us not forget the lessons of the Great War (we are now commemorating
the 100-year anniversary): the butterfly effect can be deadly in politics.
Poverty crisis
Over the last few decades the world has
become richer and more prosperous. While the percentage of the population in
absolute poverty is today at its lowest level ever, the absolute number of poor
people continues to grow. In this context income inequality is one of the
social battles that we need to fight. But the problem with fighting income
inequality is that the usual solutions (typically taxes) hinder the
competitiveness of nations. This is one of the long-term crises that will
require smart leadership to avoid inefficient solutions.
Cash crisis
There is too much money out there. It is
the result of quantitative easing policies that central banks have followed.
The excess liquidity in the system is concentrated among financial and
non-financial firms. Citigroup has more than $487 billion in cash; Apple about
$150 billion. It is paradoxical that, in some cases, banks and firms are so
rich that they could buy entire countries (if one takes into account the total
GDP minus government debt). If the corporate sector were to unload such massive
financial resources (as is their moral obligation) on to society, they would
create hyperinflation and hence financial crisis. But otherwise we are in a
situation in which central banks print money that they will have to take out of
the system later. We know how quantitative easing works, but we do not know how
to exit from it.
While we can already see these eight
sources of a new coming crisis, the problem is that many obvious solutions that
governments can implement would be detrimental to world competitiveness and
could hinder local economies. More taxes, more regulation and more
protectionism all create a more hostile environment to economic growth and
competitiveness.
Politicians and corporate executives should
now look to diversify, to seek varied geographical presence, to be flexible,
resilient and to manage risk. They should cultivate and reward talent and
improve their credibility in society. To boost their nations' competitiveness
and their chances of inclusive economic success, leaders need to invest
internationally and make acquisitions in order to make their countries
attractive to foreign capital. In order to avert the next crisis and others
after that, global leaders should be making employment, sustainability and
social cohesion the top priorities of their nations.
Arturo Bris is a professor of finance at
IMD and directs the IMD
World Competitiveness
Center . He will present
on the fundamentals of finance and on competitiveness at IMD's Orchestrating
Winning Performance program in Singapore
from November 17-22.
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