LUÍS MIGUEL
QUEIRÓS 27/12/2014 - PÚBLICO
Depois de O Mapa e o Território (2010), o mais polémico ficcionista francês
regressa em Janeiro com o romance Soumission, no qual antecipa a vitória de um
partido muçulmano nas eleições presidenciais francesas de 2022.
Soumission, o
próximo romance de Michel Houellebecq, com saída anunciada para o dia 7 de
Janeiro, está já a causar polémica em França. Parece, de resto, ter sido
concebido com essa intenção. O ponto de partida do livro é a eleição em França,
em 2022, de um presidente da República muçulmano, eleito por uma coligação que
inclui os socialistas e os centristas da UMP, menos receosos do candidato da
(imaginária) Fraternidade Muçulmana do que de uma eventual vitória da
extrema-direita populista da Frente Nacional.
Ficiconista,
poeta, ensaísta, realizador, argumentista, Houellebecq é um dos mais traduzidos
autores franceses contemporâneos, e também um dos mais controversos. Muitos o
acusam, de resto, de lançar provocações – quer de viva voz, quer através das
suas personagens – com o calculado propósito de alimentar controvérsias que
chamem a atenção para os seus livros e para si próprio.
Depois de o seu
premiado segundo romance, As Partículas Elementares (1998), ter desancado
a a geração que fez o Maio de 68,
Houellebecq propõe agora uma espécie de romance de antecipação social,
imaginando a sociedade francesa a submeter-se – o título do livro evoca um dos
sentidos da palavra Islão, traduzível por “submissão” ou “obediência” – a um
poder de inspiração muçulmana.
Alguns críticos
já leram a obra, e sínteses do respectivo enredo têm surgido em diversas
publicações ao longo dos últimos dias. A acção decorre em 2022, quando chega ao
fim o segundo mandato do presidente François Hollande. Se parece um pouco
forçado imaginar-se o PS francês a aliar-se à UMP de Sarkozy para eleger como
sucessor de De Gaulle ou Mitterrand um certo Mohammed Ben Abbes, candidato de
um partido de muçulmanos franceses, a própria sugestão de que Hollande irá ser
reeleito não é provavelmente a menos inverosímil das profecias deste livro.
Houellebecq
imagina Hollande a perder na primeira volta tanto para o candidato da Frente
Nacional (FN) como para o representante da Fraternidade Muçulmana, que acabará
por bater na segunda volta, com apoios que vão da esquerda ao centro-direita, o
seu rival da FN.
Entre outras
acusações, Houllebecq tem sido rotulado de xenófobo e racista. E se é
admissível que algumas destas críticas decorram de interpretações demasiado
literais de passagens dos seus livros, já a sua antipatia pelo Islão tem sido
confirmada em várias ocasiões, como numa entrevista que deu em 2001 à revista
Lire, na qual afirma que “o Islão é a mais estúpida das religiões”.
Houellebecq foi
então processado por insultar os muçulmanos e por incitar ao ódio racial, mas
acabou absolvido. O escritor afirmou em tribunal que não desprezava os
muçulmanos, mas apenas a sua religião, porque, argumentou, tal como o
cristianismo e o judaísmo, se baseia em “textos de ódio”. No entanto, na entrevista
à Lire, distinguiu a “beleza” da Bíblia, defendendo que “o imenso talento
literário dos judeus” os tornava merecedores de que muito lhes fosse perdoado.
Houellebecq
começou por publicar livros de poemas, estreou-se relativamente tarde como
romancista e costuma precisar de quatro ou cinco anos para escrever cada
romance. O último que publicou, O Mapa e o Território, em que ele próprio é uma
das personagens centrais, saiu já em 2010, cinco anos após o anterior, A
Possibilidade de Uma Ilha (2005).
Como os romances
anteriores, Soumission, cujo narrador é um professor de literatura que recorre
frequentemente aos serviços de prostitutas e que se sente atraído por mulheres
consideravelmente mais novas do que ele, vai provavelmente provocar polémica e
vender-se bastante bem. A ministra
francesa da Cultura, Fleur Pellerin, já anunciou que tenciona ler o livro,
lembrando que Houellebecq foi sempre “um romancista provocador”, com “um
sentido de humor estranho”.
Michel Houellebecq provokes France with story of Muslim
president
Soumission
(Submission) is the latest work from provocative French author who considers
Islam ‘cretinous’
Kim Willsher in Paris
Tuesday 16 December 2014 / http://www.theguardian.com/books/2014/dec/16/michel-houllebecq-france-submission-soumission-muslim-islam-president
Award-winning French novelist Michel
Houellebecq has sparked an outcry after it emerged that his new novel tells of France being
run by a Muslim president.
In 2022, with the help of the French
Socialist party and the centrists, Mohammed Ben Abbes defeats the far-right
Front National and takes up residence at the Elysée Palace .
The country is in turmoil.
Soumission (Submission), which will be
published in the new year, will confirm Houellebecq’s reputation as one of France ’s most
provocative writers.
Even the title has been described as
provocative, suggesting a translation of the word “Islam”, which in Arabic
means submission to the will of Allah.
The narrator of the plot, described as a
typical Houellebecq antihero, is a 44-year-old literary professor, who
occasionally frequents prostitutes and is attracted by women half his age.
The novel suggests that despite record
unpopularity, France ’s
Socialist president, François Hollande, clings on to power until 2022, but is
eliminated in the first round of the presidential elections by a far-right
Front National candidate and by Ben Abbes, representing the imaginary Muslim
Fraternity party. With the support of the left, centre and the centre-right UMP
party led by former president Nicolas Sarkozy, Abbes wins the election.
Les Inrockuptibles magazine said the plot
“completely overturns society”.
Houellebecq, 56, whose real name is Michel
Thomas, caused a row with his book Les Particules élémentaires (Atomised in
English) in which he suggested the hippies of the May 1968 student movement had
created the “serial killers of the 1990s”.
In an 2001 interview with the review Lire
he attacked Islam describing it as “the most stupid religion”.
“I say to myself that the fact of believing
in a single god is the behaviour of a cretin, I can’t find another word. And
the stupidest religion is, let’s face it, Islam … the Bible, at least, is
beautiful because the Jews have a huge literary talent … and for that they can
be forgiven much.”
Afterwards, four Muslim organisations took
legal action against him claiming he was “insulting a group of people because
of their religious beliefs” and was “complicit in inciting racial hatred”.
Houellebecq told the court he did not
despise Muslims, but held contempt for their religion adding that like
Christianity and Judaism it was based on “texts of hate”. The court dismissed
the case against him.
Soumission is Houellebecq’s first novel
since 2010 when he published La Carte et le Territoire (The Map and the
Territory), which featured as its main character the “celebrated novelist
Michel Houllebecq”. The novel won the Prix Goncourt, France ’s top literary award.
Houllebecq is the most translated, and
hence internationally renowned, of all France ’s contemporary writers, but
has been accused of racism, xenophobia and playing up to the media.
Soumission will be his sixth novel.
On Tuesday, France ’s culture minister, Fleur
Pellerin, told French radio she would certainly read it, adding that
Houellebecq had always been a “provocative novelist” who had a “strange sense
of humour.”
France24 television said the 300-page book
risked “inflaming passions”.“We all know the writer’s taste for provocation and
soundbite declarations,” it said.
In the 2011 Lire interview, Houellebecq,
who admitted he was “always on the side of the Jews” directed his bile not only
at Islam but other “monotheisms” for which he said he felt a “total rejection”.
In an interview in August he told French journalists he found “the figure of
Christ to be very unpleasant”.
Soumission is published by Flammarion on 7
January.
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