segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Houellebecq imagina a França governada por um muçulmano / PÚBLICO. Michel Houellebecq provokes France with story of Muslim president / GUARDIAN.


Houellebecq imagina a França governada por um muçulmano
LUÍS MIGUEL QUEIRÓS 27/12/2014 - PÚBLICO

Depois de O Mapa e o Território (2010), o mais polémico ficcionista francês regressa em Janeiro com o romance Soumission, no qual antecipa a vitória de um partido muçulmano nas eleições presidenciais francesas de 2022.

Soumission, o próximo romance de Michel Houellebecq, com saída anunciada para o dia 7 de Janeiro, está já a causar polémica em França. Parece, de resto, ter sido concebido com essa intenção. O ponto de partida do livro é a eleição em França, em 2022, de um presidente da República muçulmano, eleito por uma coligação que inclui os socialistas e os centristas da UMP, menos receosos do candidato da (imaginária) Fraternidade Muçulmana do que de uma eventual vitória da extrema-direita populista da Frente Nacional.

Ficiconista, poeta, ensaísta, realizador, argumentista, Houellebecq é um dos mais traduzidos autores franceses contemporâneos, e também um dos mais controversos. Muitos o acusam, de resto, de lançar provocações – quer de viva voz, quer através das suas personagens – com o calculado propósito de alimentar controvérsias que chamem a atenção para os seus livros e para si próprio.

Depois de o seu premiado segundo romance, As Partículas Elementares (1998), ter desancado a  a geração que fez o Maio de 68, Houellebecq propõe agora uma espécie de romance de antecipação social, imaginando a sociedade francesa a submeter-se – o título do livro evoca um dos sentidos da palavra Islão, traduzível por “submissão” ou “obediência” – a um poder de inspiração muçulmana.

Alguns críticos já leram a obra, e sínteses do respectivo enredo têm surgido em diversas publicações ao longo dos últimos dias. A acção decorre em 2022, quando chega ao fim o segundo mandato do presidente François Hollande. Se parece um pouco forçado imaginar-se o PS francês a aliar-se à UMP de Sarkozy para eleger como sucessor de De Gaulle ou Mitterrand um certo Mohammed Ben Abbes, candidato de um partido de muçulmanos franceses, a própria sugestão de que Hollande irá ser reeleito não é provavelmente a menos inverosímil das profecias deste livro.

Houellebecq imagina Hollande a perder na primeira volta tanto para o candidato da Frente Nacional (FN) como para o representante da Fraternidade Muçulmana, que acabará por bater na segunda volta, com apoios que vão da esquerda ao centro-direita, o seu rival da FN.

Entre outras acusações, Houllebecq tem sido rotulado de xenófobo e racista. E se é admissível que algumas destas críticas decorram de interpretações demasiado literais de passagens dos seus livros, já a sua antipatia pelo Islão tem sido confirmada em várias ocasiões, como numa entrevista que deu em 2001 à revista Lire, na qual afirma que “o Islão é a mais estúpida das religiões”.

Houellebecq foi então processado por insultar os muçulmanos e por incitar ao ódio racial, mas acabou absolvido. O escritor afirmou em tribunal que não desprezava os muçulmanos, mas apenas a sua religião, porque, argumentou, tal como o cristianismo e o judaísmo, se baseia em “textos de ódio”. No entanto, na entrevista à Lire, distinguiu a “beleza” da Bíblia, defendendo que “o imenso talento literário dos judeus” os tornava merecedores de que muito lhes fosse perdoado.

Houellebecq começou por publicar livros de poemas, estreou-se relativamente tarde como romancista e costuma precisar de quatro ou cinco anos para escrever cada romance. O último que publicou, O Mapa e o Território, em que ele próprio é uma das personagens centrais, saiu já em 2010, cinco anos após o anterior, A Possibilidade de Uma Ilha (2005).


Como os romances anteriores, Soumission, cujo narrador é um professor de literatura que recorre frequentemente aos serviços de prostitutas e que se sente atraído por mulheres consideravelmente mais novas do que ele, vai provavelmente provocar polémica e vender-se bastante bem. A  ministra francesa da Cultura, Fleur Pellerin, já anunciou que tenciona ler o livro, lembrando que Houellebecq foi sempre “um romancista provocador”, com “um sentido de humor estranho”.

Michel Houellebecq provokes France with story of Muslim president
Soumission (Submission) is the latest work from provocative French author who considers Islam ‘cretinous’

Kim Willsher in Paris

Award-winning French novelist Michel Houellebecq has sparked an outcry after it emerged that his new novel tells of France being run by a Muslim president.

In 2022, with the help of the French Socialist party and the centrists, Mohammed Ben Abbes defeats the far-right Front National and takes up residence at the Elysée Palace. The country is in turmoil.

Soumission (Submission), which will be published in the new year, will confirm Houellebecq’s reputation as one of France’s most provocative writers.

Even the title has been described as provocative, suggesting a translation of the word “Islam”, which in Arabic means submission to the will of Allah.

The narrator of the plot, described as a typical Houellebecq antihero, is a 44-year-old literary professor, who occasionally frequents prostitutes and is attracted by women half his age.

The novel suggests that despite record unpopularity, France’s Socialist president, François Hollande, clings on to power until 2022, but is eliminated in the first round of the presidential elections by a far-right Front National candidate and by Ben Abbes, representing the imaginary Muslim Fraternity party. With the support of the left, centre and the centre-right UMP party led by former president Nicolas Sarkozy, Abbes wins the election.

Les Inrockuptibles magazine said the plot “completely overturns society”.

Houellebecq, 56, whose real name is Michel Thomas, caused a row with his book Les Particules élémentaires (Atomised in English) in which he suggested the hippies of the May 1968 student movement had created the “serial killers of the 1990s”.

In an 2001 interview with the review Lire he attacked Islam describing it as “the most stupid religion”.

“I say to myself that the fact of believing in a single god is the behaviour of a cretin, I can’t find another word. And the stupidest religion is, let’s face it, Islam … the Bible, at least, is beautiful because the Jews have a huge literary talent … and for that they can be forgiven much.”

Afterwards, four Muslim organisations took legal action against him claiming he was “insulting a group of people because of their religious beliefs” and was “complicit in inciting racial hatred”.

Houellebecq told the court he did not despise Muslims, but held contempt for their religion adding that like Christianity and Judaism it was based on “texts of hate”. The court dismissed the case against him.

Soumission is Houellebecq’s first novel since 2010 when he published La Carte et le Territoire (The Map and the Territory), which featured as its main character the “celebrated novelist Michel Houllebecq”. The novel won the Prix Goncourt, France’s top literary award.

Houllebecq is the most translated, and hence internationally renowned, of all France’s contemporary writers, but has been accused of racism, xenophobia and playing up to the media.

Soumission will be his sixth novel.

On Tuesday, France’s culture minister, Fleur Pellerin, told French radio she would certainly read it, adding that Houellebecq had always been a “provocative novelist” who had a “strange sense of humour.”

France24 television said the 300-page book risked “inflaming passions”.“We all know the writer’s taste for provocation and soundbite declarations,” it said.

In the 2011 Lire interview, Houellebecq, who admitted he was “always on the side of the Jews” directed his bile not only at Islam but other “monotheisms” for which he said he felt a “total rejection”. In an interview in August he told French journalists he found “the figure of Christ to be very unpleasant”.

Soumission is published by Flammarion on 7 January.

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