quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Ao fundo : As insondáveis, obscuras e profundas "águas" no caso dos SUBMARINOS ...


Submarinos: DCIAP investiga comissões de 40 milhões quando Portas era ministro da Defesa

SOL | 02/10/2014

As ‘luvas’ pagas no âmbito do caso dos submarinos chegam aos 40 milhões de euros, avança a edição desta quinta-feira do Correio da Manhã.

No caso dos Pandur, ‘as luvas’ são de 10 milhões e foram colocados em paraísos fiscais. Quanto aos submarinos, as comissões chegam aos 30 milhões e foram pagos à Escom
Esse valor corresponde a comissões de 3% e 5% pelas aquisições de submarinos e dos blindados Pandur, realizado quando o actual vice-primeiro-ministro Paulo Portas era ministra da Defesa em 2004 e 2005.

O Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) está a investigar todo este processo por suspeita de corrupção, burla e participação económica em negócios.

No caso dos Pandur, ‘as luvas’ são de 10 milhões e foram colocados em paraísos fiscais. Quanto aos submarinos, as comissões chegam aos 30 milhões e foram pagos à Escom.

O jornal i noticiou ontem que a família Espírito Santo também estaria envolvida na comissão pela compra dos submarinos mas desconhece-se se tiveram alguma participação nos blindados.

Os submarinos comprados ao German Submarine Consortium, em 2004, e os 260 Pandur adquiridos à empresa austríaca Steyr, em 2005, custaram cerca de 1,1 mil milhões de euros, sem juros. Os submarinos custaram 769 milhões de euros – a comprar mais cara de sempre – e os Pandur 344 milhões.

SOL / http://www.sol.pt/noticia/116011

A maioria considera que nada mais há para descobrir. A oposição não.“Verdadeiramente começa hoje uma nova fase da descoberta da verdade”, anunciou Magalhães. Seja através do novo inquérito ao Grupo Espírito Santo, seja através de contactos com entidades judiciais, em Portugal e na Alemanha, PS, PCP e BE “assumem o compromisso de continuar a envidar todos os esforços para que tal venha a ocorrer o mais depressa possível”.

Caso dos submarinos: “Mas que história é esta que não tem um grande final?”*
PAULO PENA 08/10/2014 – PÚBLICO

A oposição uniu-se numa inédita declaração de voto conjunta, mas o relatório foi aprovado pela maioria. Houve tensão, humor, acusações várias. Até houve metáforas com o ébola. E uma promessa: a questão dos submarinos não está, apesar de tudo, encerrada.

No final da reunião, bem perto das 15 horas desta quarta-feira, os deputados jejuavam e o debate sobre o relatório da deputada Mónica Ferro, PSD, já somava várias tiradas emotivas. A própria relatora aproveitou a última ronda de intervenções para denunciar algumas das críticas que ouviu: “Ataques pessoais e à minha reputação.”

O relatório estava aprovado, apenas com os votos favoráveis da maioria, PSD e CDS. A comissão de inquérito chegou ao fim, apesar das críticas da oposição, PS, PCP e BE. Além do relatório propriamente dito, a comissão produziu ainda uma declaração conjunta (anunciada como “inédita” pelos seus autores) dos partidos de esquerda, que ficará como anexo dos trabalhos. Isto, além de quatro declarações de voto escritas. E muitas acusações, trocadas entre todos os intervenientes.

A relatora, o presidente (Telmo Correia), a oposição, a maioria, todos foram recebendo reparos, críticas.

Às 9h30 da manhã, os três coordenadores dos partidos da oposição juntaram-se à mesma mesa para, em conferência de imprensa, apresentarem a sua declaração conjunta: “Relatório viciado, inquérito inacabado.” Nesse documento, http://static.publico.pt/DOCS/politica/submarinos1.pdf PS, PCP e BE acusam o relatório de Mónica Ferro de “branqueamento”, “vontade de abafar o debate”, “selecção tendenciosa de depoimentos” (“o ébola do doutor [Bernardo] Carnall”, ironizou Magalhães, quanto ao ex-secretário-geral da Defesa, no tempo de Portas, cuja argumentação foi seguida pela relator), “tentativas de encobrimento” e “dúvidas graves” que ficaram a pairar sobre o tema porque “os trabalhos foram interrompidos”.

A maioria, também numa declaração conjunta, haveria, às 17 horas, de rejeitar, ponto a ponto essas críticas, denunciando “35 erros e falsidades do documento apresentado pelo PS, PCP E Bloco”. Os factos que uns e outros apresentam foram tratados em quase cinco horas de reunião e podem ser lidos, na íntegra na página online do PÚBLICO.

Quando os deputados se sentaram para discutir e aprovar o relatório, restavam poucas dúvidas quanto ao desfecho. Uma delas era o destino das alterações propostas pelo PS ao documento. Os socialistas, apesar de terem subscrito a declaração conjunta com o PCP e o BE não prescindiram de apresentar sugestões de mudança. Mónica Ferro, e a maioria, aprovaram uma parte significativa das alterações que José Magalhães expôs, “porque melhoram o relatório”, anunciou, logo, a relatora.

O PS ficou, assim, numa posição delicada, ao contribuir para um relatório que acusava de ser “viciado”. PCP e BE não apresentaram qualquer alteração e esperaram, em silêncio, enquanto durou a longa exposição e a leitura, por Telmo Correia, da lista de pontos aceites e rejeitados.

No final, o relatório acabou por ser modificado em mais de uma dezena de pontos, mas foi votado, com confiança tácita, uma vez que não chegou a ser apresentada uma versão final, corrigida após as mudanças.

E se algumas dessas alterações são simples - trocar “comissão” por “spread”, por exemplo - outra são bem mais complexas… É o caso da aceitação, pela maioria, de uma alteração a um cálculo dos juros pagos pelo Estado, que envolve uma pesquisa sobre a evolução da taxa Euribor e a sua confrontação com uma previsão forward da taxa de juro no momento da aquisição. Simplificando: a maioria queria aprovar as propostas do PS que não pusessem em causa, de forma evidente, o “tom” do relatório.

As alterações propostas pelo PSD e CDS (as “auto-emendas”, como lhes chamou Magalhães), foram, naturalmente, todas aceites. Apesar das reservas do PS: “Às vezes é pior a emenda que o soneto. E o soneto da senhora deputada relatora, sem desprimor, tinha menos erros que a emenda.”

A fronteira que separava os deputados não era, como todos sabiam, a dos detalhes, ou a dos males menores. Era a conclusão política destes quase cinco meses de investigação, traduzidos em 48 audições, com 51 depoentes,126 documentos pedidos, dos quais 119 foram recebidos. Apesar do nome pomposo e comprido, esta era a “comissão dos submarinos”, e era essa a polémica em causa.

“Se a maioria quis abafar rapidamente e em força um inquérito incómodo, não conseguiu”, concluiu José Magalhães. “Este é um relatório pré-fabricado para ilibar as responsabilidades políticas do PSD e do CDS”, acrescentou Jorge Machado, do PCP. “Proteger Durão Barroso e Paulo Portas foi o objectivo único do PSD e do CDS”, prosseguiu João Semedo.

“Este relatório foi feito com seriedade”, retorquiu Mónica Ferro, PSD. “Este inquérito revelou aquilo que o PS não quer que se perceba: foram Governos do PS os responsáveis por grande parte deste processo”, concluiu Filipe Lobo d’Ávila, CDS. “Os senhores deputados continuam a lançar um conjunto de insinuações porque a informação recolhida não confirma a vossa agenda”, acusou António Prôa, PSD.

Os documentos estão, quase todos, disponíveis. Os deputados da oposição pretendem, até, desclassificar os que têm o cunho de “reservados”. O PS já criou um site (submarinos2014.wordpress.com), mas quer que o Parlamento constitua uma edição online do acervo da comissão. O juízo sobre os factos pode, então, prosseguir. A maioria considera que nada mais há para descobrir. A oposição não.“Verdadeiramente começa hoje uma nova fase da descoberta da verdade”, anunciou Magalhães. Seja através do novo inquérito ao Grupo Espírito Santo, seja através de contactos com entidades judiciais, em Portugal e na Alemanha, PS, PCP e BE “assumem o compromisso de continuar a envidar todos os esforços para que tal venha a ocorrer o mais depressa possível”.


 *Pergunta do deputado José Magalhães, PS, durante a comissão de inquérito


As 16 verdades de Portas sobre os submarinos
HELENA PEREIRA - 17/9/2014, OBSERVADOR

A maioria PSD-CDS chumbou um pedido do PS para ouvir de novo no Parlamento Paulo Portas sobre a compra dos submarinos. CDS publicou no seu site as 16 respostas principais do ex-ministro da Defesa.
A maioria PSD-CDS chumbou um pedido do PS para ouvir de novo no Parlamento Paulo Portas sobre a compra dos submarinos na comissão parlamentar de inquérito a sete contratos de equipamento militar.

O pedido tinha sido feito pelo PS e teve o apoio dos restantes partidos da oposição, mas os partidos que apoiam o Governo recusaram a proposta, alegando que não havia factos novos que o justificassem. O CDS, aliás, já publicou no seu site 16 vídeos sobre as respostas de Portas quando foi pela primeira vez à comissão, em julho, sob o título “Os principais momentos de Paulo Portas na comissão de inquérito à aquisição de equipamentos militares”.

“Os factos não são novos e constavam do acervo documental desta comissão. O Dr. Paulo Portas esteve cá longas horas a responder a todas as perguntas de todos os partidos políticos. O tal mistério do Guincho, sabemos hoje, que foi uma reunião que teve a ver com a garantia exigida e até o sr. Muhlenbeck disse que saiu de lá muito desagradado”, contrapôs o deputado do CDS-PP Filipe Lobo d’Ávila.

O requerimento apresentado pelo PS justificava nova deslocação de Portas ao Parlamento devido a factos apurados em audições posteriores à sua, por exemplo o alegado encontro “num forte do Guincho” com um representante do consórcio alemão dos submarinos ou a alteração de um “spread” por parte do consórcio financeiro que incluía o BES e que viria a vencer o leilão bancário efetuado pelo Estado português.

O parlamentar centrista referiu já terem sido ouvidas “mais de 50 pessoas” e acusou os socialistas de terem falhado o seu “objetivo central na comissão, ao fim de 133 dias de trabalho”, pois “procuraram atingir uma pessoa (Portas) e, do ponto de vista da honorabilidade, não o conseguiram”.

“A maioria continua a bloquear audições de outros grupos parlamentares, constiuindo-se como uma força de bloqueio”, condenou o deputado comunista Jorge Machado, enquanto o bloquista João Semedo considerou “vulgar nas comissões de inquérito ouvir alguns depoentes segunda vez porque há factos novos”.

O socialista José Magalhães recusou acusação de que “a ideia é arrastar” os trabalhos da comissão de inquérito e prometeu que “as questões serão colocadas” nesta “ou noutra sede”, classificando a posição da maioria como “métodos de gazua ou martelo”.

“Acham banal que (Portas) se encontre com um dos concorrentes, algures no Guincho, num restaurante ou na residência oficial e, aí, antes ainda da adjudicação, discuta a garantia bancária? Acham normal? Não acham que o visado tem direito a esclarecer isto?”, reforçou.

O deputado do PSD António Prôa considerou “desnecessária” a volta do vice-primeiro-ministro às inquirições dos parlamentares e refutou também as acusações sobre bloqueio por parte da maioria.

“Tivemos ocasião de o ouvir (Portas) longamente e de colocar todas as questões que todos os grupos parlamentares entenderam. Já foram ouvidas, pelas minhas contas, 58 personalidades, 35 propostas pelo BE, 13 pelo PCP, 15 pelo CDS, 16 pelo PS e 15 pelo PSD”, justificou.

As explicações de Portas

No site do CDS, os pontos principais das explicações dadas por Portas em julho são 16. http://www.cds.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=3479

 Isto é o que os centristas entendem que se deve reter da intervenção do ex-ministro da Defesa e atual vice-primeiro-ministro no processo de compra de dois submarinos alemães em 2004:

1 – Datas e factos sobre o concurso de aquisição dos submarinos (o que o PS faz por esquecer)

2 – “Corria-se o risco [em 2002] de desaparecimento de capacidade militar por absoluta vetustez dos equipamentos”

3 – Consenso em 2003 na aprovação da Lei de Programação Militar

4 – Paulo Portas lembra que em 2002 a situação das indústrias de defesa era catastrófica

5 – Portas: “Governo PSD/CDS reduziu os contratos de leasing e poupou cerca de mil milhões de euros”

6 – “Considero altamente recomendável que manutenção seja incluída no contrato de fornecimento”

7 – Quem tomou a decisão de reduzir de três para dois submarinos?

8 – Portas: “Contrapartidas dos submarinos foram deficientes desde o início”

9 – Paulo Portas: “Só falta acusarem-me por ter defendido contrapartidas para estaleiro do Estado e não para empresa privada”

10 – Paulo Portas: “Mandei executar garantias dadas ao Estado português”

11 – Contrapartidas: Governos socialistas exigiram 10%, Governos centro-direita exigiram 25%

12 – Portas espera que concessão dos Estaleiros de Viana dê oportunidade à construção militar naval

13 – Processo da escolha do financiamento foi pela primeira vez objeto de um leilão

14 – Portas destaca critérios que justificaram escolha da proposta alemã na compra dos submarinos

15 – “Todos os ministros foram favoráveis à capacidade submarina; a mim coube-me decidir” – Paulo Portas

16 – Portas defende direito ao bom nome de funcionários do CDS absolvidos no processo Portucale

Submarinos ao fundo
Uma história submersa
O Tridente, que ainda está na "garantia" e o Arpão, que nem sequer chegou, foram sendo pagos, em 13 prestações, ao fabricante alemão. Custaram mais 300 milhões do que poderiam ter custado. Agora, é a banca que reclama o dinheiro adiantado. E mais 200 milhões. De juros...



Artigo publicado na Revista VISÃO nº 926 de 2 de Dezembro de 2010
Texto: Paulo Pena e Francisco Galope; Infografia: Francisco Rodrigues
11:55 Sexta feira, 10 de Dezembro de 2010


José Sócrates responsabilizou-os pelo buraco no défice. Teixeira dos Santos falou deles, diversas vezes, no preâmbulo do Orçamento do Estado, agora aprovado. Os submarinos entraram, de rompante, nas contas públicas. Com muitos zeros à direita. Mas onde esta história deveria entrar era num manual de defesa dos contribuintes. Que pagaram mais, por menos. E que são o elo mais fraco de uma negociação entre um gigante (o German Submarine Consortium, GSC), assessorado por advogados experientes e banqueiros argutos, e um Estado que, seguramente, podia ter feito mais para precaver os interesses de quem, no fim, custeia a nova coqueluche da Marinha portuguesa.
Tudo começou a 25 de novembro de 2003 O Governo, liderado por Durão Barroso, aprovou a proposta alemã, do GSC, de dois submarinos por 844 milhões. Depois, Paulo Portas, o ministro de Estado e da Defesa,  negociou uma descida no preço, para 769, 3 milhões, prescindindo de parte do equipamento proposto. Esse foi o valor contratualizado. Mas só vigoraria até ao dia 1 de janeiro de 2004. No dia 21 de abril desse ano foi fechado o negócio. Já não pelos 769 324 800 euros, mas por um preço "actualizado" através de um mecanismo contratual. Quando Portas assinou o contrato, já custavam 820,7 milhões. Os dois submarinos U209PN fornecidos pelos alemães da MAN/Ferrostaal, Thyssen e estaleiros HDW, juntos no consórcio GSC, sofreram uma "atualização" diária do preço, mediante uma taxa de 3,5% anuais, sensivelmente 230 mil euros por dia, até que o acordo entrasse, de facto, em vigor. Só entrou no dia 24 de setembro. Cinco meses e 64 milhões de euros depois de ser assinado. Para se ter um termo de comparação: um hospital novo, de raiz, como o de Cascais, custou 100 milhões de euros.
Estranhamente, não havia no extenso contrato nenhuma cláusula que penalizasse, da mesma forma, o consórcio GSC. Nomeadamente uma norma que fizesse depender o pagamento dos submarinos do cumprimento das contrapartidas (no valor de 1 210 milhões de euros) que os alemães garantiram gerar, em Portugal, decorrentes da encomenda dos submarinos.
Há uma curiosidade. No dia 24 de setembro, quando o contrato entrou em vigor, o preço já estava nos 832 milhões, graças às "atualizações" previstas no anexo 14 do contrato. Muito perto do preço original, pedido pelos alemães - mas sem os "extras" que eram oferecidos, à partida...
A fórmula e o 'spread'
Um outro anexo, o 15, demora sete folhas e 12 fórmulas matemáticas para calcular o "preço final global" dos submarinos. Para se ter uma ideia, uma das fórmulas é esta: B1i=[Mi x (Dai - Di)/ 360 x (EuriborDi (Dai - Di) - 0,125%] x  [1 + (Euriborj - 0,125%) x (Dj+l - Dj)/ 360].
E não se explica em poucas linhas. Digamos, apenas, que se trata de um dos muitos ajustamentos previstos ao preço final dos submarinos.
Complicado? Seguramente. As autoridades tiveram de recorrer à ajuda de quadros do sistema financeiro para decifrar estas fórmulas.
Já não estamos a falar, somente, de transparência legislativa ou de "juridiquês". Estamos a falar de um contrato que o Estado terá, na opinião de um conhecedor do processo, "muita dificuldade em monitorizar".
Para não falar do pagamento...
Quando quis comprar submarinos, o Estado português fez o que faria um jovem casal à procura da primeira casa. Foi ao banco. Contraiu uma espécie de empréstimo (chamado swap sintético). Os juros foram indexados à Euribor a seis meses com um spread (lucro bancário) normalmente praticado (à data, em 2004) para o crédito à habitação: 0,25 por cento.

A única diferença entre o Estado e um qualquer casal reside na aparente facilidade com que o banco aumenta o spread acordado sem que o caso vá parar à Deco.
Foi o que se passou, quando o concurso para o financiamento terminou. À data da apresentação de propostas, o Deutsche Bank pediu um spread de 0,26%, enquanto a proposta do Crédit Suisse First Boston International associado ao Banco Espírito Santo se ficava por 0,196 por cento. Ganhou a mais baixa. Mas uma "renegociação" posterior permitiu à aliança do CSFBI/BES um lucro real de 0,25%, na operação.
Este consórcio bancário garante aos portugueses do BES 25% da operação. E é a estes dois bancos, e não aos alemães do GSC, que o Estado português deve, agora, segundo o ministro Augusto Santos Silva, uma verba "ligeiramente acima dos €1000 milhões".
Logo em setembro de 2004, os submarinos começaram a ser pagos. A primeira tranche (ou "meta de progresso", como vem definida no contrato), foi de 197 232 604 euros.
Semestralmente, os bancos pagaram aos alemães, ao sabor das (grandes) oscilações da Euribor (cujos juros começaram pouco acima dos 2%, chegaram aos 5% e agora voltaram a descer para pouco mais de 1 por cento). Hoje, falta pagar uma pequena parcela de 19,2 milhões.
O que foi contratado, garante o atual ministro da Defesa, Santos Silva, "determinou que o pagamento dos submarinos ao consórcio fornecedor se verificasse ao longo do processo de construção". Agora, "com a entrega do segundo submarino", prevista para o primeiro trimestre de 2011, o Estado terá "que ressarcir o consórcio bancário dos pagamentos efetuados ao consórcio fornecedor, valor esse a que acresceriam os juros contratualizados".
Contas feitas, os juros (e o spread) representam cerca de 200 milhões de euros. Um valor próximo daquele que o Estado poupou ao cortar o abono de família a mais de um milhão de portugueses.

As 'armadilhas' dos contratos
1-Independentemente dos danos causados pelo incumprimento das contrapartidas, o consórcio alemão nunca pagará mais do que 10% do valor contratualizado. Esse limite de 10% está previsto mesmo que o incumprimento seja "por dolo ou negligência". Quer dizer que os alemães podem simplesmente decidir não executar as contrapartidas e só pagam 10% de penalização.
2 - Ao exigir a assinatura de um contrato de contrapartidas associado ao contrato de aquisição dos submarinos, o Estado português assumiu um aumento do preço final que pode ir até 15 por cento. Ora, com a cláusula penal de 10%, o valor que o consórcio pagaria pelo incumprimento seria sempre inferior ao aumento de preço que o Estado acordou em troca das contrapartidas.
3 - Está implícito nos contratos que o Estado Português pague a totalidade dos submarinos, mesmo antes de o contrato de contrapartidas ter sido executado integralmente.
4 - O contrato não inclui os custos de manutenção dos submarinos, ao longo do período de vida útil deste equipamento (cerca de 40 anos), o que, segundo especialistas, pode ascender a duas vezes a verba neles investida.
O Governo abdicou de recorrer aos tribunais em caso de litígio, aceitando que conflitos num negócio desta ordem de grandeza sejam dirimidos por simples arbitragem.
 5 - O Governo abdicou de recorrer aos tribunais em caso de litígio, aceitando que conflitos num negócio desta ordem de grandeza sejam dirimidos por simples arbitragem.
O atraso milionário
Esta foi a primeira grande compra feita através de um "swap sintético". E por que razão? Uma, de peso: atrasar a entrada do custo nas contas do Estado. Em 2004, o Governo liderado por Durão Barroso, cuja ministra das Finanças era Manuela Ferreira Leite, escolheu a única opção que o Eurostat reconhecia válida para remeter esta despesa para o longínquo ano de... 2010.
Entre 2004 e 2010, o Estado autorizou o pagamento de 12 prestações (a última das quais em setembro passado) ao GSC, apesar do reconhecido incumprimento das contrapartidas acordadas. Apesar dos processos judiciais que envolvem altos dirigentes da Ferrostaal, na Alemanha. Apesar dos dois inquéritos que correm no Departamento Central de Investigação e Acção Penal sobre a compra dos submarinos e a alegada fraude na concretização das contrapartidas.
Augusto Santos Silva justifica a aparente inércia de quatro ministros da Defesa (Paulo Portas e os seus sucessores no cargo, os socialistas Luís Amado, Severiano Teixeira e o próprio Santos Silva): "Face ao modelo contratual adotado em 2004, o Estado Português tem o dever de cumprir na íntegra as obrigações contratualmente assumidas naquela data."
De facto, como vimos, não há nenhuma cláusula no contrato que assegure ao Estado português o direito de renúncia ao pagamento.
Santos Silva afirma que "o atual Governo garantirá, através de todos os mecanismos que lhe assistem, que o consórcio fornecedor cumpra igualmente as obrigações que assumiu, quer no contrato de aquisição quer no contrato de contrapartidas".
No entanto, não se pronuncia sobre um dos principais enigmas deste negócio.
Por que razão Paulo Portas assinou, em abril de 2004, um contrato que só seria homologado no dia 5 de agosto pela resolução 122/2004 do Conselho de Ministros? E por que motivo o fez, sabendo que, por cada dia, o Estado pagaria aos alemães da GSC mais de 230 mil euros?
O ex-ministro respondeu a um conjunto de perguntas da VISÃO, pedindo mais tempo para fundamentar as suas respostas. Como o prazo do líder do CDS não coincidia com o fecho da revista, adiantámos a nossa disponibilidade para, na próxima edição, publicar as suas respostas.
No passado, confrontado com esta "atualização" do preço dos submarinos, Paulo Portas justificou que se devia a um atraso de "largos meses" no processo de vistoria obrigatória do Tribunal de Contas (Correio da Manhã, 3 de abril de 2010).
Todavia, o Tribunal (TC), à VISÃO, esclarece que "o referido contrato deu entrada em 22 de junho de 2004 e foi devolvido ao Ministério da Defesa, para esclarecimentos, em 6 de julho, 29 de julho e 12 de agosto de 2004, tendo sido visado a 25 de agosto do mesmo ano".
O Tribunal demorou tanto tempo a visar o contrato como o ministro a enviar a documentação. Dois meses. Assinado em abril, só foi enviado ao TC em final de junho, e saiu, visado, em final de agosto. Demoraria mais um mês a entrar em vigor.
Começaria, então, a construção do Tridente e do Arpão. Um negócio que o advogado José Miguel Júdice considera ser "um caso exemplar de como as coisas não devem ser feitas". Júdice, que representou o consórcio francês derrotado na escolha do Governo, não se alonga muito mais sobre o assunto.
Hubert Kogel, porta-voz da Ferrostaal, recusa-se, mesmo, a prestar esclarecimentos: "Para já muito obrigado pelas suas perguntas. Mas peço-lhe que compreenda que em relação a isso não damos quaisquer indicações." O mesmo faz o BES, que alega "sigilo bancário".
No meio de tantos silêncios, documentos desaparecidos do Ministério da Defesa, fórmulas matemáticas rebuscadas e investigações judiciais, resta uma certeza. Os mais de mil milhões de euros que vão ser gastos no próximo ano.

Alemães ganham 64 milhões em nove meses
25 de novembro de 2003
Governo decide adjudicar contrato dos submarinos aos alemães. A proposta é de 844 milhões de euros por dois submarinos. Segue--se um processo negocial em que se reduz o preço para 769 milhões, mas retirando uns "extras" ao equipamento
1 de janeiro de 2004
O preço de referência é de 769 milhões de euros  e a partir desse dia começa a ser aplicada a fórmula do anexo 14 do contrato que atualiza diariamente o preço dos submarinos a uma taxa de 3,5% anuais, até à entrada em vigor do contrato
24 de abril de 2004
É assinado o contrato de aquisição e o de contrapartidas. Nessa data, mediante a aplicação da fórmula do anexo 14, o valor dos submarinos já atinge os 820 milhões.
24 de setembro de 2004
Entra em vigor o contrato. O preço final dos submarinos é fixado em 833 milhões de euros. Em nove meses, o preço dos submarinos sofre um aumento superior a 8%, quase 64 milhões de euros. Nesse período, o aumento diário médio foi de 230 mil euros.

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