Submarinos: DCIAP investiga
comissões de 40 milhões quando Portas era ministro da Defesa
SOL | 02/10/2014
As ‘luvas’ pagas no âmbito do
caso dos submarinos chegam aos 40 milhões de euros, avança a edição desta
quinta-feira do Correio da Manhã.
No caso dos
Pandur, ‘as luvas’ são de 10 milhões e foram colocados em paraísos fiscais. Quanto
aos submarinos, as comissões chegam aos 30 milhões e foram pagos à Escom
Esse valor
corresponde a comissões de 3% e 5% pelas aquisições de submarinos e dos
blindados Pandur, realizado quando o actual vice-primeiro-ministro Paulo Portas
era ministra da Defesa em 2004 e 2005.
O Departamento
Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) está a investigar todo este
processo por suspeita de corrupção, burla e participação económica em negócios.
No caso dos
Pandur, ‘as luvas’ são de 10 milhões e foram colocados em paraísos fiscais. Quanto
aos submarinos, as comissões chegam aos 30 milhões e foram pagos à Escom.
O jornal i
noticiou ontem que a família Espírito Santo também estaria envolvida na
comissão pela compra dos submarinos mas desconhece-se se tiveram alguma
participação nos blindados.
Os submarinos
comprados ao German Submarine Consortium, em 2004, e os 260 Pandur adquiridos à
empresa austríaca Steyr, em 2005, custaram cerca de 1,1 mil milhões de euros,
sem juros. Os submarinos custaram 769 milhões de euros – a comprar mais cara de
sempre – e os Pandur 344 milhões.
DOSSIER SUBMARINOS : http://www.tretas.org/DossierSubmarinos
A maioria considera que nada mais há para
descobrir. A oposição não.“Verdadeiramente começa hoje uma nova fase da
descoberta da verdade”, anunciou Magalhães. Seja através do novo inquérito ao
Grupo Espírito Santo, seja através de contactos com entidades judiciais, em
Portugal e na Alemanha, PS, PCP e BE “assumem o compromisso de continuar a
envidar todos os esforços para que tal venha a ocorrer o mais depressa
possível”. |
Caso dos submarinos: “Mas que
história é esta que não tem um grande final?”*
PAULO PENA
08/10/2014 – PÚBLICO
A oposição uniu-se numa inédita declaração de voto conjunta, mas o
relatório foi aprovado pela maioria. Houve tensão, humor, acusações várias. Até
houve metáforas com o ébola. E uma promessa: a questão dos submarinos não está,
apesar de tudo, encerrada.
No final da
reunião, bem perto das 15 horas desta quarta-feira, os deputados jejuavam e o
debate sobre o relatório da deputada Mónica Ferro, PSD, já somava várias
tiradas emotivas. A própria relatora aproveitou a última ronda de intervenções
para denunciar algumas das críticas que ouviu: “Ataques pessoais e à minha
reputação.”
O relatório
estava aprovado, apenas com os votos favoráveis da maioria, PSD e CDS. A
comissão de inquérito chegou ao fim, apesar das críticas da oposição, PS, PCP e
BE. Além do relatório propriamente dito, a comissão produziu ainda uma
declaração conjunta (anunciada como “inédita” pelos seus autores) dos partidos
de esquerda, que ficará como anexo dos trabalhos. Isto, além de quatro declarações
de voto escritas. E muitas acusações, trocadas entre todos os intervenientes.
A relatora, o
presidente (Telmo Correia), a oposição, a maioria, todos foram recebendo
reparos, críticas.
Às 9h30 da manhã,
os três coordenadores dos partidos da oposição juntaram-se à mesma mesa para,
em conferência de imprensa, apresentarem a sua declaração conjunta: “Relatório
viciado, inquérito inacabado.” Nesse documento, http://static.publico.pt/DOCS/politica/submarinos1.pdf
PS, PCP e BE acusam o relatório de Mónica Ferro de “branqueamento”, “vontade de
abafar o debate”, “selecção tendenciosa de depoimentos” (“o ébola do doutor
[Bernardo] Carnall”, ironizou Magalhães, quanto ao ex-secretário-geral da
Defesa, no tempo de Portas, cuja argumentação foi seguida pela relator),
“tentativas de encobrimento” e “dúvidas graves” que ficaram a pairar sobre o
tema porque “os trabalhos foram interrompidos”.
A maioria, também
numa declaração conjunta, haveria, às 17 horas, de rejeitar, ponto a ponto
essas críticas, denunciando “35 erros e falsidades do documento apresentado
pelo PS, PCP E Bloco”. Os factos que uns e outros apresentam foram tratados em
quase cinco horas de reunião e podem ser lidos, na íntegra na página online do
PÚBLICO.
Quando os
deputados se sentaram para discutir e aprovar o relatório, restavam poucas
dúvidas quanto ao desfecho. Uma delas era o destino das alterações propostas
pelo PS ao documento. Os socialistas, apesar de terem subscrito a declaração
conjunta com o PCP e o BE não prescindiram de apresentar sugestões de mudança. Mónica
Ferro, e a maioria, aprovaram uma parte significativa das alterações que José
Magalhães expôs, “porque melhoram o relatório”, anunciou, logo, a relatora.
O PS ficou,
assim, numa posição delicada, ao contribuir para um relatório que acusava de
ser “viciado”. PCP e BE não apresentaram qualquer alteração e esperaram, em
silêncio, enquanto durou a longa exposição e a leitura, por Telmo Correia, da
lista de pontos aceites e rejeitados.
No final, o
relatório acabou por ser modificado em mais de uma dezena de pontos, mas foi
votado, com confiança tácita, uma vez que não chegou a ser apresentada uma
versão final, corrigida após as mudanças.
E se algumas
dessas alterações são simples - trocar “comissão” por “spread”, por exemplo -
outra são bem mais complexas… É o caso da aceitação, pela maioria, de uma
alteração a um cálculo dos juros pagos pelo Estado, que envolve uma pesquisa
sobre a evolução da taxa Euribor e a sua confrontação com uma previsão forward
da taxa de juro no momento da aquisição. Simplificando: a maioria queria
aprovar as propostas do PS que não pusessem em causa, de forma evidente, o
“tom” do relatório.
As alterações
propostas pelo PSD e CDS (as “auto-emendas”, como lhes chamou Magalhães),
foram, naturalmente, todas aceites. Apesar das reservas do PS: “Às vezes é pior
a emenda que o soneto. E o soneto da senhora deputada relatora, sem desprimor,
tinha menos erros que a emenda.”
A fronteira que
separava os deputados não era, como todos sabiam, a dos detalhes, ou a dos
males menores. Era a conclusão política destes quase cinco meses de
investigação, traduzidos em 48 audições, com 51 depoentes,126 documentos
pedidos, dos quais 119 foram recebidos. Apesar do nome pomposo e comprido, esta
era a “comissão dos submarinos”, e era essa a polémica em causa.
“Se a maioria
quis abafar rapidamente e em força um inquérito incómodo, não conseguiu”,
concluiu José Magalhães. “Este é um relatório pré-fabricado para ilibar as
responsabilidades políticas do PSD e do CDS”, acrescentou Jorge Machado, do
PCP. “Proteger Durão Barroso e Paulo Portas foi o objectivo único do PSD e do
CDS”, prosseguiu João Semedo.
“Este relatório
foi feito com seriedade”, retorquiu Mónica Ferro, PSD. “Este inquérito revelou
aquilo que o PS não quer que se perceba: foram Governos do PS os responsáveis
por grande parte deste processo”, concluiu Filipe Lobo d’Ávila, CDS. “Os
senhores deputados continuam a lançar um conjunto de insinuações porque a
informação recolhida não confirma a vossa agenda”, acusou António Prôa, PSD.
Os documentos
estão, quase todos, disponíveis. Os deputados da oposição pretendem, até,
desclassificar os que têm o cunho de “reservados”. O PS já criou um site
(submarinos2014.wordpress.com), mas quer que o Parlamento constitua uma edição
online do acervo da comissão. O juízo sobre os factos pode, então, prosseguir.
A maioria considera que nada mais há para descobrir. A oposição
não.“Verdadeiramente começa hoje uma nova fase da descoberta da verdade”,
anunciou Magalhães. Seja através do novo inquérito ao Grupo Espírito Santo,
seja através de contactos com entidades judiciais, em Portugal e na Alemanha,
PS, PCP e BE “assumem o compromisso de continuar a envidar todos os esforços
para que tal venha a ocorrer o mais depressa possível”.
*Pergunta do deputado José Magalhães, PS,
durante a comissão de inquérito
As 16 verdades de Portas sobre os
submarinos
HELENA PEREIRA - 17/9/2014,
OBSERVADOR
A maioria PSD-CDS
chumbou um pedido do PS para ouvir de novo no Parlamento Paulo Portas sobre a
compra dos submarinos. CDS publicou no seu site as 16 respostas principais do
ex-ministro da Defesa.
A maioria PSD-CDS
chumbou um pedido do PS para ouvir de novo no Parlamento Paulo Portas sobre a
compra dos submarinos na comissão parlamentar de inquérito a sete contratos de
equipamento militar.
O pedido tinha
sido feito pelo PS e teve o apoio dos restantes partidos da oposição, mas os
partidos que apoiam o Governo recusaram a proposta, alegando que não havia
factos novos que o justificassem. O CDS, aliás, já publicou no seu site 16
vídeos sobre as respostas de Portas quando foi pela primeira vez à comissão, em
julho, sob o título “Os principais momentos de Paulo Portas na comissão de
inquérito à aquisição de equipamentos militares”.
“Os factos não
são novos e constavam do acervo documental desta comissão. O Dr. Paulo Portas
esteve cá longas horas a responder a todas as perguntas de todos os partidos
políticos. O tal mistério do Guincho, sabemos hoje, que foi uma reunião que
teve a ver com a garantia exigida e até o sr. Muhlenbeck disse que saiu de lá
muito desagradado”, contrapôs o deputado do CDS-PP Filipe Lobo d’Ávila.
O requerimento
apresentado pelo PS justificava nova deslocação de Portas ao Parlamento devido
a factos apurados em audições posteriores à sua, por exemplo o alegado encontro
“num forte do Guincho” com um representante do consórcio alemão dos submarinos
ou a alteração de um “spread” por parte do consórcio financeiro que incluía o
BES e que viria a vencer o leilão bancário efetuado pelo Estado português.
O parlamentar
centrista referiu já terem sido ouvidas “mais de 50 pessoas” e acusou os
socialistas de terem falhado o seu “objetivo central na comissão, ao fim de 133
dias de trabalho”, pois “procuraram atingir uma pessoa (Portas) e, do ponto de
vista da honorabilidade, não o conseguiram”.
“A maioria
continua a bloquear audições de outros grupos parlamentares, constiuindo-se
como uma força de bloqueio”, condenou o deputado comunista Jorge Machado,
enquanto o bloquista João Semedo considerou “vulgar nas comissões de inquérito
ouvir alguns depoentes segunda vez porque há factos novos”.
O socialista José
Magalhães recusou acusação de que “a ideia é arrastar” os trabalhos da comissão
de inquérito e prometeu que “as questões serão colocadas” nesta “ou noutra
sede”, classificando a posição da maioria como “métodos de gazua ou martelo”.
“Acham banal que
(Portas) se encontre com um dos concorrentes, algures no Guincho, num
restaurante ou na residência oficial e, aí, antes ainda da adjudicação, discuta
a garantia bancária? Acham normal? Não acham que o visado tem direito a
esclarecer isto?”, reforçou.
O deputado do PSD
António Prôa considerou “desnecessária” a volta do vice-primeiro-ministro às
inquirições dos parlamentares e refutou também as acusações sobre bloqueio por
parte da maioria.
“Tivemos ocasião
de o ouvir (Portas) longamente e de colocar todas as questões que todos os
grupos parlamentares entenderam. Já foram ouvidas, pelas minhas contas, 58
personalidades, 35 propostas pelo BE, 13 pelo PCP, 15 pelo CDS, 16 pelo PS e 15
pelo PSD”, justificou.
As explicações de
Portas
No site do CDS,
os pontos principais das explicações dadas por Portas em julho são 16. http://www.cds.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=3479
Isto é o que os centristas entendem que se deve reter da intervenção do
ex-ministro da Defesa e atual vice-primeiro-ministro no processo de compra de
dois submarinos alemães em 2004:
1 – Datas e
factos sobre o concurso de aquisição dos submarinos (o que o PS faz por
esquecer)
2 – “Corria-se o
risco [em 2002] de desaparecimento de capacidade militar por absoluta vetustez
dos equipamentos”
3 – Consenso em
2003 na aprovação da Lei de Programação Militar
4 – Paulo Portas
lembra que em 2002 a
situação das indústrias de defesa era catastrófica
5 – Portas:
“Governo PSD/CDS reduziu os contratos de leasing e poupou cerca de mil milhões de
euros”
6 – “Considero
altamente recomendável que manutenção seja incluída no contrato de
fornecimento”
7 – Quem tomou a
decisão de reduzir de três para dois submarinos?
8 – Portas:
“Contrapartidas dos submarinos foram deficientes desde o início”
9 – Paulo Portas:
“Só falta acusarem-me por ter defendido contrapartidas para estaleiro do Estado
e não para empresa privada”
10 – Paulo
Portas: “Mandei executar garantias dadas ao Estado português”
11 –
Contrapartidas: Governos socialistas exigiram 10%, Governos centro-direita
exigiram 25%
12 – Portas
espera que concessão dos Estaleiros de Viana dê oportunidade à construção
militar naval
13 – Processo da
escolha do financiamento foi pela primeira vez objeto de um leilão
14 – Portas
destaca critérios que justificaram escolha da proposta alemã na compra dos
submarinos
15 – “Todos os
ministros foram favoráveis à capacidade submarina; a mim coube-me decidir” –
Paulo Portas
16 – Portas
defende direito ao bom nome de funcionários do CDS absolvidos no processo
Portucale
Sem comentários:
Enviar um comentário