quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O fim dos protestos de Hong Kong não significa o fim do movimento pró-democracia / We’ll be back, vow defiant Hong Kong democrats as main protest is broken up / Guardian.


O fim dos protestos de Hong Kong não significa o fim do movimento pró-democracia
ANA GOMES FERREIRA 10/12/2014 - PÚBLICO

"Não posso dizer que o movimento acaba com uma vitória, mas também não creio que tenha sido um fracasso. Vamos voltar", disse o líder estudantil Alex Chow.

Gostem ou não os organizadores do Occupy, quem melhor definiu o que se passou durante 75 dias em Hong Kong foi o chefe do governo local, Leung Chun-ying, quando disse que se assistira a um “movimento social sem precedentes”. O protesto pró-democracia foi encerrado nesta quinta-feira pela polícia que deteve algumas dezenas de pessoas e pelos funcionários do lixo que levantaram o que restava dos acampamentos.

O trânsito em Admiralty — o bairro onde estão situados os edifícios governamentais — voltou a circular depois de uma operação que durou sete horas, diz o jornal de Hong Kong South China Morning Post, acrescentando que não houve violência, como foi testemunhado pelos cerca de 200 jornalista, locais e estrangeiros, no local.

Os líderes estudantis resignaram-se — até porque, nas últimas semanas, o número de manifestantes nas ruas e nos acampamentos diminuiu significativamente. Mas prometeram o regresso do protesto — sem data marcada, mas em breve. “Não posso dizer que nos retiramos de uma forma esplendida ou que o movimento acaba com uma vitória, mas também não creio que tenha sido um fracasso. Vamos voltar. O Occupy acaba temporariamente, mas no próximo meio ano deveremos assistir à segunda fase”, disse o líder estudantil Alex Chow Yong-kang, antes de ser detido.

Além de líderes estudantis (nove membros da Federação de Estudantes) e de algumas pessoas que recusaram obedecer à ordem para se irem embora e se sentaram na estrada, foram detidos Martin Lee Chu-ming, do Partido Democrático e a estrela pop Ho Wan-see. E ainda o cidadão Au Yeung Siu-hung, destacado pela imprensa local, por ter 67 anos e por ter estado na rua os 75 dias que durou o protesto por eleições democráticas na região em 2017.

O movimento pró-democrático afectou toda a gente em Hong Kong — dai as palavras de Leung. Dos taxistas aos vendedores de legumes, como explicava no South China Stephanie Cheung, que participou no movimento estudantil dos anos de 1970. “Esta revolta acordou a cidade para um interesse que vai mais além da luta pela sobrevivência ou por um padrão de vida. (...) Este novo espírito está cheio de novos ideais e de novas ambições”.

O movimento juntou uma mistura de universitários, professores, juristas, cidadãos e alguns antigos activistas que participaram nos protestos da Praça de Tiananmen, em 1989, ou ajudaram manifestantes a fugirem de Pequim e a refugiar-se em Hong Kong. O protesto cresceu durante algum tempo mas acabou dividido sobre os métodos de protesto, ao mesmo tempo que algumas acções mais violentas, como as tentativas para ocupar edifícios públicos, iam custando o apoio dos comerciantes e de parte da população.

A unir todos os grupos esteve sempre a exigência de que a China cumpra o que prometeu em 1997, quando disse que seria a população a escolher o chefe do governo regional. Em Agosto, quando foi aprovada a reforma eleitoral, os habitantes ficaram a saber que os seus votos vão contar mas que só poderão escolher entre alguns candidatos seleccionados por Pequim.

“Voltaremos”, diziam os cartazes que, em inglês e em cantonês, os manifestantes deixaram nas ruas, em Admiralty e em Causeway Bay, onde também restavam algumas tendas. “Podem desmanchar um acampamento, mas não podem destruir uma ideia”, dizia uma inscrição a giz no asfalto. A promessa de regresso da segunda fase dos protestos nos próximos seis meses tem uma razão de ser — vai começar a segunda fase da consulta pública sobre a reforma eleitoral.

Objectivamente, os estudantes não conseguiram nada. O Governo de Pequim não cedeu em qualquer frente: não recuou quanto à forma como serão feitas as eleições em 2017, não houve negociações entre os manifestantes e o governo local (chegaram a ser anunciadas, com alguns analista a dizerem que a intenção não passou de uma manobra para ganhar tempo), não perdeu a face recorrendo à violência, optando antes por deixar passar o tempo até os protestos enfraquecerem. E enfraqueceram tanto que, relatam os jornais de Hong Kong, no levantamento do que restava dos acampamentos os homens do lixo estiveram mais activos do que os polícias mobilizados.


Mas o que se passou em Hong Kong durante 75 dias não teve precedentes e, por isso, não pode ser avaliado a preto e branco — não é mera matéria de vencedores e vencidos. Como disse o director do Centro Politécnico da Universidade de Hong Kong, Chung Kim-wah, apesar de a ocupação das ruas ter acabado, o governo local perdeu apoios essenciais junto da opinião pública e que, por isso, a governação da cidade será, a partir de agora, mais difícil. Este movimento, disse Chung, “abalou totalmente esta sociedade”.

We’ll be back, vow defiant Hong Kong democrats as main protest is broken up
Struggle for voting rights will continue, say analysts, as crackdown unites opposition and erodes trust in Beijing

Tania Branigan in Beijing

There was no danger of missing the parting message from Hong Kong’s protesters on Thursday. It was chanted as they awaited arrest, spelt out in gold balloons, chalked on to the road and formed in giant letters made from their discarded tents: “We’ll be back.”

The dismantling of the main protest zone at Admiralty on Thursday has concluded the first phase of a pro-democracy movement that astonished even its most enthusiastic advocates, at one stage drawing tens of thousands into unprecedented mass civil disobedience.

But while the occupation is over – bar the handful of participants left at a small site in Causeway Bay – no one believes the clearance has finished off the campaign for genuine elections.

Carrie Lam, chief secretary of Hong Kong, said earlier that the government was not “naive” enough to think removing demonstrators from Admiralty would mark the end of the movement.

Long before the barricades fell and the tents were dragged away, activists had begun debating their next course of action. Behind closed doors, authorities are also pondering their options.

Ho-fung Hung, of Johns Hopkins University in the US, grew up in Hong Kong and follows its politics. He said: “If Beijing signals a little bit of willingness, they think it will give the wrong signal to people to come out again, so for now I think the hard line will prevail.

“There will be arrests and the situation will turn for the worst, but the young people’s anger is still here ... This could erupt any time.”

The authorities would crack down to warn people off further protests, he said, through means including prosecutions and restrictions on travel to the mainland. Yet such measures are likely to further antagonise people.

In the short term there is likely to be more street activism – probably “shopping trips” by protesters, who roam the busy pavements of areas such as Mong Kok shouting slogans, and perhaps boycotts, sit-ins and other measures. Small clusters of protesters still milled around Admiralty and a secondary, minor site at Causeway Bay on Thursday night, while a few had moved their tents to a park in Wanchai.

On the government side, there will be a second public consultation on the plans for the election of the next chief executive in 2017. Protesters say Beijing has in effect reneged on its promise of universal suffrage by making clear that candidates will be tightly controlled by a committee stacked with pro-Beijing figures. That is merely “fake” or “Iranian-style” democracy, they say.

Pan-democrats, as the opposition in Hong Kong politics are known, have vowed to veto the proposals if they come before the Legislative Council in their current form, and no one believes that China will back down by allowing open nominations. But Hung said Beijing could give a token concession – for example, by tweaking the make-up of the nominating committee – giving cover to a handful of democratic legislators to vote for the bill.

Some think that China can afford to let the bill fall: it can say it has done its part by offering universal suffrage to Hong Kong, only for the offer to be rejected.

Hung disagrees: “Beijing wants to get it passed, because once it has passed the whole issue that defines the democratic camp looks like it’s over: the issue of universal suffrage is settled.

“It keeps the democratic movement going if they veto it ... It still gives people hope that Beijing will eventually give another [better] proposal.”

Polls show that as the occupation dragged on, it lost much of the public sympathy it had garnered in its early stages. Yet the underlying demand for greater democratic rights is still evident.

Michael Davis, of the Chinese University of Hong Kong, said: “The government may be inclined to think it won when they cleared the streets tonight, but that would be wrong … The government has lost the public’s trust. [And] they have made the world very conscious of what’s going on here.

“The democrats haven’t lost anything because they didn’t have anything. The whole process has united them in a way they haven’t been for years; being in permanent opposition had meant a lot of fissures in the democratic camp.”

Davis, like many other residents, sees it as an awakening for Hong Kong – though not all sudden upsurges in political action result in long-term shifts.

It will take decades for the real struggle to play out. Though the protests were sparked by the electoral reform proposals, they were fuelled by concern that the existing freedoms and rights enjoyed by residents under the “one country, two systems” framework are imperilled by Beijing’s tightening grip, and that migration and closer integration with the mainland are wearing away its culture.

Even those who do not care greatly about gaining the ability to choose the chief executive may value the independence of their courts, for instance. Yet this summer a white paper from Beijing said that local judges should be “patriotic”, alarming many in the territory.

Beijing seems determined to make itself felt – but each such move sparks a backlash, in particular among the younger generation, who are more likely to identify as “Hong Kong people” than “Chinese”.

When the former British colony was handed back in 1997, few anticipated how much the region’s identity would change – and how little the mainland would shift politically. That has created an apparently irreconcilable tension.


“A hard line on Hong Kong might eventually be able to keep the middle and upper class in line,” predicted Hung, “but it can never contain the resistance of the younger generation.”

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