O fim dos protestos de Hong Kong
não significa o fim do movimento pró-democracia
ANA GOMES
FERREIRA 10/12/2014 - PÚBLICO
"Não posso dizer que o movimento acaba com uma vitória, mas também não
creio que tenha sido um fracasso. Vamos voltar", disse o líder estudantil
Alex Chow.
Gostem ou não os
organizadores do Occupy, quem melhor definiu o que se passou durante 75 dias em
Hong Kong foi o chefe do governo local, Leung Chun-ying, quando disse que se
assistira a um “movimento social sem precedentes”. O protesto pró-democracia
foi encerrado nesta quinta-feira pela polícia que deteve algumas dezenas de
pessoas e pelos funcionários do lixo que levantaram o que restava dos
acampamentos.
O trânsito em
Admiralty — o bairro onde estão situados os edifícios governamentais — voltou a
circular depois de uma operação que durou sete horas, diz o jornal de Hong Kong
South China Morning Post, acrescentando que não houve violência, como foi
testemunhado pelos cerca de 200 jornalista, locais e estrangeiros, no local.
Os líderes
estudantis resignaram-se — até porque, nas últimas semanas, o número de
manifestantes nas ruas e nos acampamentos diminuiu significativamente. Mas
prometeram o regresso do protesto — sem data marcada, mas em breve. “Não posso
dizer que nos retiramos de uma forma esplendida ou que o movimento acaba com
uma vitória, mas também não creio que tenha sido um fracasso. Vamos voltar. O
Occupy acaba temporariamente, mas no próximo meio ano deveremos assistir à
segunda fase”, disse o líder estudantil Alex Chow Yong-kang, antes de ser
detido.
Além de líderes
estudantis (nove membros da Federação de Estudantes) e de algumas pessoas que
recusaram obedecer à ordem para se irem embora e se sentaram na estrada, foram
detidos Martin Lee Chu-ming, do Partido Democrático e a estrela pop Ho Wan-see.
E ainda o cidadão Au Yeung Siu-hung, destacado pela imprensa local, por ter 67
anos e por ter estado na rua os 75 dias que durou o protesto por eleições
democráticas na região em 2017.
O movimento
pró-democrático afectou toda a gente em Hong Kong — dai as palavras de Leung. Dos
taxistas aos vendedores de legumes, como explicava no South China Stephanie
Cheung, que participou no movimento estudantil dos anos de 1970. “Esta revolta
acordou a cidade para um interesse que vai mais além da luta pela sobrevivência
ou por um padrão de vida. (...) Este novo espírito está cheio de novos ideais e
de novas ambições”.
O movimento
juntou uma mistura de universitários, professores, juristas, cidadãos e alguns
antigos activistas que participaram nos protestos da Praça de Tiananmen, em
1989, ou ajudaram manifestantes a fugirem de Pequim e a refugiar-se em Hong
Kong. O protesto cresceu durante algum tempo mas acabou dividido sobre os
métodos de protesto, ao mesmo tempo que algumas acções mais violentas, como as
tentativas para ocupar edifícios públicos, iam custando o apoio dos
comerciantes e de parte da população.
A unir todos os
grupos esteve sempre a exigência de que a China cumpra o que prometeu em 1997,
quando disse que seria a população a escolher o chefe do governo regional. Em
Agosto, quando foi aprovada a reforma eleitoral, os habitantes ficaram a saber
que os seus votos vão contar mas que só poderão escolher entre alguns
candidatos seleccionados por Pequim.
“Voltaremos”,
diziam os cartazes que, em inglês e em cantonês, os manifestantes deixaram nas
ruas, em Admiralty e em Causeway Bay, onde também restavam algumas tendas. “Podem
desmanchar um acampamento, mas não podem destruir uma ideia”, dizia uma
inscrição a giz no asfalto. A promessa de regresso da segunda fase dos
protestos nos próximos seis meses tem uma razão de ser — vai começar a segunda
fase da consulta pública sobre a reforma eleitoral.
Objectivamente,
os estudantes não conseguiram nada. O Governo de Pequim não cedeu em qualquer
frente: não recuou quanto à forma como serão feitas as eleições em 2017, não
houve negociações entre os manifestantes e o governo local (chegaram a ser
anunciadas, com alguns analista a dizerem que a intenção não passou de uma
manobra para ganhar tempo), não perdeu a face recorrendo à violência, optando
antes por deixar passar o tempo até os protestos enfraquecerem. E enfraqueceram
tanto que, relatam os jornais de Hong Kong, no levantamento do que restava dos
acampamentos os homens do lixo estiveram mais activos do que os polícias
mobilizados.
Mas o que se
passou em Hong Kong durante 75 dias não teve precedentes e, por isso, não pode
ser avaliado a preto e branco — não é mera matéria de vencedores e vencidos. Como
disse o director do Centro Politécnico da Universidade de Hong Kong, Chung
Kim-wah, apesar de a ocupação das ruas ter acabado, o governo local perdeu
apoios essenciais junto da opinião pública e que, por isso, a governação da
cidade será, a partir de agora, mais difícil. Este
movimento, disse Chung, “abalou totalmente esta sociedade”.
Davis , like many other residents, sees it as an awakening for Hong Kong – though not all sudden upsurges in political
action result in long-term shifts.
Beijing seems determined to make itself felt – but each such move sparks a
backlash, in particular among the younger generation, who are more likely to
identify as “Hong Kong people” than “Chinese”.
We’ll be back, vow defiant Hong
Kong democrats as main protest is broken up
Struggle for
voting rights will continue, say analysts, as crackdown unites opposition and
erodes trust in Beijing
Tania Branigan in Beijing
The Guardian, Thursday 11 December 2014 / http://www.theguardian.com/world/2014/dec/11/we-will-back-vow-hong-kong-democrats-as-main-protest-broken-up
There was no danger of missing the parting
message from Hong Kong ’s protesters on
Thursday. It was chanted as they awaited arrest, spelt out in gold balloons,
chalked on to the road and formed in giant letters made from their discarded
tents: “We’ll be back.”
The dismantling of the main protest zone at
Admiralty on Thursday has concluded the first phase of a pro-democracy movement
that astonished even its most enthusiastic advocates, at one stage drawing tens
of thousands into unprecedented mass civil disobedience.
But while the occupation is over – bar the
handful of participants left at a small site in Causeway Bay
– no one believes the clearance has finished off the campaign for genuine
elections.
Carrie Lam, chief secretary of Hong Kong , said earlier that the government was not
“naive” enough to think removing demonstrators from Admiralty would mark the
end of the movement.
Long before the barricades fell and the
tents were dragged away, activists had begun debating their next course of
action. Behind closed doors, authorities are also pondering their options.
Ho-fung Hung, of Johns
Hopkins University
in the US , grew up in Hong Kong and follows its politics. He said: “If Beijing signals a little
bit of willingness, they think it will give the wrong signal to people to come
out again, so for now I think the hard line will prevail.
“There will be arrests and the situation
will turn for the worst, but the young people’s anger is still here ... This
could erupt any time.”
The authorities would crack down to warn
people off further protests, he said, through means including prosecutions and
restrictions on travel to the mainland. Yet such measures are likely to further
antagonise people.
In the short term there is likely to be
more street activism – probably “shopping trips” by protesters, who roam the
busy pavements of areas such as Mong Kok shouting slogans, and perhaps
boycotts, sit-ins and other measures. Small clusters of protesters still milled
around Admiralty and a secondary, minor site at Causeway Bay on Thursday night,
while a few had moved their tents to a park in Wanchai.
On the government side, there will be a
second public consultation on the plans for the election of the next chief
executive in 2017. Protesters say Beijing
has in effect reneged on its promise of universal suffrage by making clear that
candidates will be tightly controlled by a committee stacked with pro-Beijing
figures. That is merely “fake” or “Iranian-style” democracy, they say.
Pan-democrats, as the opposition in Hong
Kong politics are known, have vowed to veto the proposals if they come before
the Legislative Council in their current form, and no one believes that China
will back down by allowing open nominations. But Hung said Beijing could give a token concession – for
example, by tweaking the make-up of the nominating committee – giving cover to
a handful of democratic legislators to vote for the bill.
Some think that China
can afford to let the bill fall: it can say it has done its part by offering
universal suffrage to Hong Kong , only for the
offer to be rejected.
Hung disagrees: “Beijing wants to get it
passed, because once it has passed the whole issue that defines the democratic
camp looks like it’s over: the issue of universal suffrage is settled.
“It keeps the democratic movement going if
they veto it ... It still gives people hope that Beijing will eventually give another [better]
proposal.”
Polls show that as the occupation dragged
on, it lost much of the public sympathy it had garnered in its early stages.
Yet the underlying demand for greater democratic rights is still evident.
Michael Davis, of the Chinese
University of Hong
Kong , said: “The government may be inclined to think it won when
they cleared the streets tonight, but that would be wrong … The government has
lost the public’s trust. [And] they have made the world very conscious of
what’s going on here.
“The democrats haven’t lost anything
because they didn’t have anything. The whole process has united them in a way
they haven’t been for years; being in permanent opposition had meant a lot of
fissures in the democratic camp.”
It will take decades for the real struggle
to play out. Though the protests were sparked by the electoral reform
proposals, they were fuelled by concern that the existing freedoms and rights
enjoyed by residents under the “one country, two systems” framework are
imperilled by Beijing’s tightening grip, and that migration and closer
integration with the mainland are wearing away its culture.
Even those who do not care greatly about
gaining the ability to choose the chief executive may value the independence of
their courts, for instance. Yet this summer a white paper from Beijing said that local judges should be
“patriotic”, alarming many in the territory.
When the former British colony was handed
back in 1997, few anticipated how much the region’s identity would change – and
how little the mainland would shift politically. That has created an apparently
irreconcilable tension.
“A hard line on Hong
Kong might eventually be able to keep the middle and upper class
in line,” predicted Hung, “but it can never contain the resistance of the younger
generation.”
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