segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Há 12 jihadistas de origem portuguesa na Síria e no Iraque


Há 12 jihadistas de origem portuguesa na Síria e no Iraque
São filhos de emigrantes, vivem na Europa e têm menos de 30 anos. Este é o perfil dos radicais luso-descendentes. Um deles cometeu um atentado suicida perto de Bagdad
Nuno Ribeiro / 2-9-2014 / PÚBLICO

Doze jihadistas de origem portuguesa, e com passaporte nacional, estão identificados como membros das brigadas de diversos países europeus que apoiam os vários grupos terroristas – Estado Islâmico (EI), Ahnaral-Sham e a Frente al-Nusra – que combatem na Síria e em território iraquiano. Estes elementos são oriundos, na sua grande maioria, de países europeus onde residem como membros das 2.ª e 3.ª gerações de emigração, o que leva os especialistas a situarem como “moderado” o risco de atentados em Portugal.
É admitida a existência de outros indivíduos de origem portuguesa em número que, contudo, não será significativo. Da dúzia de elementos referenciados, dez são homens e duas mulheres, todos com idades inferiores aos 30 anos, e não têm qualquer relacionamento com a comunidade muçulmana residente em Portugal. Existe ainda a possibilidade de estarem envolvidas outras mulheres que adquiriram a nacionalidade por casamento e têm passaporte de Portugal.
A esmagadora maioria dos portugueses identificados até agora saíram da Grã-Bretanha, França, Luxemburgo e Holanda, sendo descendentes de famílias de emigrantes sobretudo oriundas do Norte de Portugal. Há, no entanto, elementos com ascendência das ex-colónias, nomeadamente da Guiné-Bissau e Angola.
No caso dos que se encontram na Síria, chegaram àquele país através de duas vias: voos regulares para a Turquia e, depois, trajecto rodoviário até à fronteira turco-síria; ou através de um percurso mais longo, que os levou, primeiro, à Bulgária, para rumarem depois a território turco e, finalmente, à Síria. Este processo foi detectado em 2012 e, no ano passado, o Relatório Anual de Segurança Interna, do Sistema de Segurança Interna, referia-se-lhe de forma sucinta no âmbito da “radicalização e fenómeno dos combatentes estrangeiros”.
Esta é há muito uma preocupação da União Europeia (UE). Aliás, L Jinny, o ex- rapper de 24 anos, cujo verdadeiro nome é Abdel-Majed Abdel Bary, apontado como o autor da decapitação do jornalista norte-americano James Foley, é filho de um egípcio, extraditado do Reino Unido para os Estados Unidos, referenciado como um dos homens próximos de Osama Bin Laden. Jinny juntou-se ao EI.
Nenhum veio para Portugal
Em Portugal, os investigadores anotam especificidades aos jihadistas portugueses identificados. Vivem há longos anos em países estrangeiros e o seu doutrinamento e posterior recrutamento ocorreu nos locais de residência, nomeadamente na capital britânica e na Holanda. Há, porém, o caso identificado de um jovem que residia em França com os pais, naturais de Tondela, e que passou a integrar as fileiras dos jihadistas. A 22 de Maio, na área de Mashahada, nos arredores de Bagdad, no Iraque, cometeu um atentado suicida.
Outra fonte de recrutamento, tradicional para todos os integrantes dos denominados “combatentes estrangeiros”, é a Internet, onde abundam sítios de propaganda.
O PÚBLICO apurou que não há conhecimento de que algum dos 12 identificados tenha regressado de forma definitiva a Portugal. Desconhece-se qualquer vinculação destes à comunidade muçulmana nacional. Aliás, nas três mesquitas – Lisboa, Laranjeiro e Odivelas – e nos outros locais de culto muçulmano do país, de Coimbra a Faro ou do Porto a Viseu, não há registo de actividades de doutrinamento relacionadas com os jihadistas. “Quanto mais significativa é a minoria muçulmana, maior é o risco”, admite um especialista. A não radicalização da comunidade muçulmana em Portugal, composta sobretudo por comerciantes oriundos das ex-colónias, obsta a que os “combatentes estrangeiros” tenham um habitat favorável entre nós.
Diferente é a situação noutros países, como a Grã-Bretanha, França ou Bélgica. Na Grã-Bretanha, o efectivo de combatentes, já 500, segundo as autoridades, levou Londres a alterar o seu estado de alerta antiterrorista para “grave”, o segundo de cinco níveis. Em Marrocos, o ministro do Interior, Mahamend Hassad, reconheceu ter mais de 1200 concidadãos a combater na Síria e no Iraque, além de outros dois mil radicais de origem marroquina e nacionalidade francesa, belga ou de outros países da UE. Em Espanha, no final de Maio, as autoridades contabilizaram cerca de 50 jihadistas saídos do país desde 2011, para lutarem contra o regime sírio de Bashar el Assad. Uma actualização recente admite que cerca de cem se juntaram aos “combatentes estrangeiros”, beneficiando da porosidade dos enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla, em território marroquino.
Parte importante dos que estão na Síria foi para lá com o intuito de prestar ajuda humanitária. Mas as autoridades admitem que possam regressar com missões específicas: cometer atentados em território europeu, depois de terem adquirido conhecimentos na preparação de explosivos, treino militar ou experiência de combate.
Em Portugal, o facto de estes “combatentes estrangeiros” estarem identificados diminui a sua capacidade de infiltração. Para entrarem em Portugal sem serem detectados, teriam de recorrer a passaportes falsos, o que representa um risco e uma vulnerabilidade na sua capacidade operativa.
O primeiro-ministro britânico admitiu ontem a retenção de passaportes de suspeitos de pretenderem sair do país para se juntarem ao jihadistas. Uma medida que Paris não põe de lado. Na UE, a tradicional discrição que acompanha as questões de segurança e antiterrorismo deu lugar a uma nova estratégia: a ofensiva informativa. O objectivo é alertar os pais dos menores para o doutrinamento dos filhos via Internet.

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