MARISA SOARES
07/04/2014 - PÚBLICO
Versão final do polémico plano de pormenor vai ser votada pelo executivo a
28 de Abril. A assembleia municipal pronunciar-se-á em definitivo em Maio.
Adversários do projecto mantêm objecções.
A Câmara de
Cascais aprovou na reunião desta segunda-feira o relatório sobre as propostas
apresentadas durante a discussão pública do plano de pormenor para o litoral de
Carcavelos. Em sintonia com os vários grupos de cidadãos que têm protestado
contra a construção de uma urbanização na Quinta dos Ingleses, a oposição votou
em bloco contra o documento e pediu mais tempo para o discutir.
Ao fim de dois
meses de discussão pública, a Câmara de Cascais contabilizou um total de 91
contributos sobre o conteúdo do Plano de Pormenor do Espaço de Reestruturação
Urbanística de Carcavelos-Sul (PPERUCS). No relatório de ponderação aprovado
nesta segunda-feira e disponível na página do município, a autarquia responde a
algumas das críticas apresentadas, justificando as suas opções com diversos
estudos sobre o impacto ambiental e urbanístico dos projectos previstos para
aquela zona desde a década de 1960.
"Tentámos
melhorar o plano apresentado em 2001 [que previa 1450 fogos], que era muito
pior do que o que estamos a apresentar", disse o presidente da Câmara, Carlos
Carreiras. “Não sendo este um plano de sonho, este é o plano que permite evitar
um desastre e uma catástrofe naquela zona”, sublinhou.
A câmara aceitou
fazer algumas alterações ao plano que esteve em discussão pública. Entre essas
alterações avulta a redução do número de fogos para 906 (eram 939) e a recusa
de condomínios privados na urbanização - medidas estas que já têm o acordo dos
promotores, a imobiliária Alves Ribeiro e a St. Julian’s School Association. O
projecto inclui quatro edifícios de seis, sete e oito pisos, um hotel de cinco
pisos e espaços comerciais e de serviçois. De acordo cxom o PPERUCS, 40% do
terreno de 54 hectares
está reservado para parque urbano e áreas verdes. A construção deverá
estender-se ao longo de 20 anos.
"Introduzimos
melhorias do ponto de vista ambiental muito significativas", acrescentou
Carreiras, acusando alguns grupos de cidadãos de causarem "alarmismo"
dizendo que o projecto irá fazer desaparecer as ondas e a praia de Carcavelos,
famosa pelos seus "tubos perfeitos" para o surf.
Durante a
reunião, o autarca reforçou um dos argumentos que tem usado para justificar a
necessidade do plano. "Há um risco elevadíssimo de termos de pagar uma
indemnização de 264 milhões de euros, mais juros, e de dar cumprimento ao
alvará [aprovado pela câmara em 1979], que prevê uma carga construtiva muito
superior, com prédios de 14 andares apenas para habitação", argumentou. Existem
"direitos consignados em escritura pública assinada em 1985", que
atribuem aos promotores direitos de construção inalienáveis, assegurou
Carreiras.
"Se não
tivessemos nenhum condicionalismo não seria este o nosso plano, mas não
deixaríamos de criar uma nova centralidade em Carcavelos", admitiu.
Porém, os
argumentos não convencem a oposição. Os vereadores do PS, da CDU e a independente
Isabel Magalhães pediram o prolongamento do tempo da discussão pública,
argumentando que ficaram por esclarecer muitas questões. "Não é fazendo
jogos de lego, tirando uns andares de um lado e colocando-os noutro, que o
PPERUCS se torna aceitável", criticou a vereadora Teresa Gago, do PS.
A versão final do
PPERUCS, com as alterações agora aprovadas, será votada na Câmara de Cascais no
próximo dia 28, seguindo depois para votação na Assembleia Municipal, órgão que
em 2001 chumbou a anterior versão deste plano. Carreiras
acredita que desta vez será diferente.
Já o Forum por
Carcavelos, movimento de cidadãos que se tem oposto ao plano e apresentou
várias propostas de alteração do mesmo, promete levar a luta até à Assembleia
da República e ao Provedor de Justiça. "Há algo muito estranho neste
processo todo. Se os direitos adquiridos são retirados a toda a gente, como é
que não podem ser retirados a um promotor imobiliário", questionou
Anamaria Azevedo, porta-voz daquela organização. O Fórum por Carvavelos
promoveu no domingo passado um protesto contra o projecto que juntou várias
dezenas de pessoas na marginal de Cascais.
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