Três pesticidas neonicotinóides estão proibidos para algumas
culturas na UE
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Pesticida que mata abelhas também faz mal aos humanos,
alerta agência europeia
RICARDO GARCIA 17/12/2013 – in Público
Organismo responsável pela segurança alimentar na UE
recomenda maior controlo sobre insecticidas neonicotinóides, que podem afectar
o desenvolvimento do cérebro.
Um dos pesticidas mais utilizados na agricultura e suspeito
de estar a matar abelhas pode afectar também o sistema nervoso humano e deve
ser alvo de controlo e limites mais rígidos. O alerta é da Agência Europeia de
Segurança Alimentar (AESA), num parecer divulgado esta terça-feira.
Os pesticidas em causa são da família dos neonicotinóides -
insecticidas que têm sido acusados de estarem a dizimar populações de abelhas.
Alguns estão sob uma proibição temporária na União Europeia, imposta por Bruxelas
desde o princípio deste mês.
O parecer da AESA resulta de um pedido da Comissão Europeia,
feito em Novembro de 2012, depois de um novo estudo ter sugerido riscos
daqueles pesticidas para o ser humano. Realizado por investigadores do
Instituto de Ciências Médicas de Tóquio e publicado na revista científica PLOS
One, o estudo avaliou o efeito dos insecticidas acetamiprida e imidaclopride em
células nervosas de ratos. A conclusão foi a de que ambos podem afectar o
desenvolvimento do cérebro, tal como a nicotina.
À luz dos novos dados, a AESA reavaliou toda a produção
científica existente e, embora haja muitas incertezas, chegou à mesma
conclusão. “Ambos os compostos podem afectar o desenvolvimento e a
funcionalidade dos neurónios”, sustenta a agência, no seu parecer, referindo-se
às células que são a base do sistema nervoso.
A AESA chama a atenção para uma série de limitações
metodológicas dos estudos existentes, dizendo que ainda é necessário mais
investigação com animais. Mas ainda assim a agência recomenda uma redução,
nalguns casos substancial, das doses aceitáveis de exposição aos pesticidas.
Para a acetamiprida, a dose de ingestão diária – que
significa o limite considerado seguro que pode ser consumido através da água ou
dos alimentos – deveria ser reduzida para um terço da actual. Para o
imidaclopride, o limite actual é considerado adequado, mas a dose de referência
aguda – o valor máximo a ingerir num único dia – deveria cair em 25%.
Mais, a AESA também recomenda que todos os processos de
autorização de novos pesticidas da classe dos neonicotinóides sejam precedidos
de estudos para avaliar a sua potencial toxicidade na fase de desenvolvimento
do sistema nervoso – ou seja, nos fetos e nas crianças.
O parecer da AESA é um novo sinal de alerta não só em
relação aos pesticidas, mas também à forma como estão a ser aprovados. Os
neonicotinóides surgiram no mercado na década de 1990. Em Portugal, a primeira
variedade comercial foi autorizada em 1997.
Desenvolvidos a partir da molécula da nicotina, foram
rapidamente adoptados por serem ao mesmo tempo eficientes como insecticidas e
menos tóxicos para o ser humano e outros animais do que outras gamas de
pesticidas criadas no passado. O imidaclopride é actualmente o insecticida mais
utilizado mundialmente na agricultura.
Ao mesmo tempo em que granjeavam sucesso, os neonicotinóides
transformaram-se em alvo de suspeita. Vários estudos sugerem que os pesticidas
estejam associados ao desaparecimento das abelhas das colmeias – um fenómeno
que se observa em vários países europeus e nos Estados Unidos. Uma das
hipóteses é a de que, uma vez absorvidos através do néctar e do pólen, os
neonicotinóides prejudicam a capacidade de navegação das abelhas.
Em Janeiro passado, a AESA já tinha sugerido que tais
pesticidas só deveriam ser utilizados em culturas onde as abelhas não se
alimentam. Quatro meses mais tarde, a Comissão Europeia decidiu proibir três
pesticidas – imidaclopride, tiametoxam e clotianidina – para determinados usos,
durante dois anos a partir de Dezembro.
As multinacionais Bayer e Syngenta – fabricantes de
insecticidas neonicotinóides – estão a tentar bloquear legalmente a moratória.
Em processos separados junto do Tribunal Europeu de Justiça, ambos os grupos
contestam a decisão da Comissão Europeia, dizendo que os pesticidas não
prejudicam as abelhas e criticando a avaliação da AESA.
Os fabricantes também dizem que a decisão foi tomada sem o
apoio unânime dos Estados-membros da UE. Na votação, em Abril de 2013, 15
países posicionaram-se a favor da moratória, oito contra – incluindo Portugal –
e quatro abstiveram-se. Sem uma maioria qualificada, a decisão ficou a cargo da
Comissão, que avançou com a proibição.
A nova opinião agora expressa pela AESA promete aquecer o
conflito entre Bruxelas e a indústria de pesticidas. A Comissão vai enviar
agora a opinião da AESA para os fabricantes, aguardando os seus comentários. A
redução dos limites aceitáveis de exposição aos pesticidas será possivelmente
avaliada em Março.
Dois terços do CO2 dos últimos 260 anos são de 90 empresas
Por Diogo Pombo
publicado em 18 Dez 2013 in (jornal) i online
Estudo avaliou em 914 mil milhões de toneladas a pegada das
maiores produtoras de combustíveis fósseis do planeta
A responsabilidade da pegada de carbono global é por norma
imputada aos países, mas Richard Heede quis desmitificar a ideia e traduzir em
números o papel das empresas na emissão de gases com efeito de estufa. Ou
melhor, a sua responsabilidade - que chega quase aos dois terços de todo o
dióxido de carbono (CO 2) ou metano (CH4) lançados para a atmosfera desde o
início da era industrial. O investigador americano concluiu que 63% das
emissões globais entre 1751 e 2010 podem ser atribuídas a apenas 90 empresas,
que "processam combustíveis fósseis e os transformam em produtos vendidos
em todas as partes do mundo".
As contas traçam o rasto de carbono deixado pelas 90
empresas, todas produtoras de petróleo, gás natural, carvão ou cimento. Só
desde 1854 - ano do histórico de emissões mais antigo - foram responsáveis pela
emissão de quase 914 mil milhões de toneladas de CO 2 e gases com efeitos
equivalentes, como metano, óxido nitroso e ozono.
Todas "partilham com os consumidores de combustíveis
fósseis a responsabilidade pela destabilização do clima", disse ao i o
director do Climate Mitigation Services. E quase metade destas 914 mil milhões
de toneladas foi emitida a partir de 1984. Entre as 90 empresas analisadas, 56
produzem crude e gás natural, 37 dedicam-se à extracção de carvão e as
restantes sete são produtoras de cimento. E várias até operam ou vendem os seus
produtos em Portugal: a britânica BP, quarta empresa mais poluidora entre 1854
e 2010, com cerca de 35 mil milhões de toneladas, é o caso mais notório.
Mais de um terço das entidades (31) da lista estão sedeadas
em países exteriores ao Anexo 1 da Convenção-Quadro da ONU para as Alterações
Climáticas. Ou seja, "uma parte substancial das emissões", lê-se no
estudo, tem origem fora dos estados desenvolvidos e tidos como mais capazes de
cortar nas suas emissões - casos da Venezuela, da Nigéria, de Angola, da
Malásia, da Líbia e do Kuwait.
A investigação desvenda números que talvez ajudem os produtores
de combustíveis fósseis a largar alguns argumentos mais comuns, que, diz
Richard Heede, utilizam para "desvalorizar" a sua pegada de carbono,
quando dizem que "fornecem um bem público valioso e a sua responsabilidade
termina na bomba de gasolina", exemplificou o investigador, que lembra
contudo que "os consumidores partilham alguma" da culpa.
Em Portugal não existe qualquer listagem que atribua a fatia
de emissões causada por cada empresa a operar no país. Em 2005, porém, o
governo de José Sócrates criou o Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas
(INERPA), hoje sob a tutela do Ministério do Ambiente, Ordenamento do
Território e Energia, que apenas calcula a fonte, em termos de sector, das
emissões de poluentes atmosféricos. De acordo com o relatório mais recente -
que compilou dados de 2011 -, a Energia, os Resíduos e a Agricultura são respectivamente
os sectores que mais CO 2 produziram. Nesse ano o país emitiu à volta de 70
milhões de toneladas de gases com efeito de estufa.
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