quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

D. Sebastião e o Bloco Central

EDITORIAL/ Público
D. Sebastião e o Bloco Central
11/12/2013 -
Rui Rio está a remeter para as calendas quaisquer ambições a uma candidatura à liderança do PSD.

Não é uma surpresa. Seria impensável e suicida desafiar agora a liderança de Passos Coelho. Por enquanto, basta ao antigo autarca do Porto o papel de D. Sebastião em fase de projecto. Precisa apenas de palcos a partir dos quais possa ir construindo um discurso nacional.

A passagem, na segunda-feira à noite, pela Casa-Museu João Soares serviu-lhe para falar da importância dos acordos de regime e do problema da Justiça, por exemplo. Se precisa de palcos, Rio não terá problema em encontrar públicos: à direita e à esquerda está a ser visto como um salvador por todos os que gostariam de ver o PSD seguir um caminho diferente.

Rui Rio está a fazer no centro-direita um percurso muito semelhante ao de António Costa no centro-esquerda. É curioso serem um ex-autarca e um autarca a capitalizarem a frustração que inspiram a alguns as actuais lideranças dos dois principais partidos do regime.

Desde o dia da sua reeleição, António Costa vem produzindo um discurso nacional, assente, entre outros pilares, no papel das autarquias na reforma do Estado. Tem explorado os palcos ao seu dispor enquanto presidente da Câmara de Lisboa para expor um pensamento nacional, como fez, por exemplo, nas cerimónias do 1.º de Dezembro.

O guião é simples: há uma não muito discreta corrente de opinião que entende que Rio e Costa seriam a solução para os problemas do país, caso liderassem os respectivos partidos.

O problema é não se saber quando virá a manhã de nevoeiro. Exceptuando a hipótese de um tsunami político, Rio e Costa estão bloqueados dentro dos respectivos partidos e obrigados a esperar pelas eleições de 2015 – nas quais Costa assistirá presumivelmente à vitória eleitoral de Seguro e Rio herdará, se quiser, um PSD derrotado.

É essa, para já, a tragédia deste Bloco Central sebastianista.

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